O bem transforma o mal
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Na questão 511 d’O Livro dos Espíritos, somos informados de que, se temos um
Espírito protetor, que nos induz ao bem, também sofremos a influência de
Espíritos maus, que procuram desviar-nos do caminho do bem. Nosso
livre-arbítrio fará a escolha e vencerá aquele por quem nos deixemos
influenciar.
Com base em nossas tendências negativas
ou positivas, podemos aproveitar as influências espirituais de modos bastante
característicos. Aos espíritas, vale a pena refletir sobre o alerta do discurso
de Allan Kardec em Lyon, publicado na Revista
Espírita de outubro de 1860:
Há, senhores, três categorias de
adeptos: os que se limitam a acreditar na realidade das manifestações e que,
antes de mais nada, buscam os fenômenos. Para eles, o Espiritismo é uma série
de fatos mais ou menos interessantes.
Os segundos veem algo mais do que
fatos. Compreendem o seu alcance filosófico; admiram a moral que dele resulta,
mas não a praticam. Para eles, a caridade moral é uma bela máxima, e eis tudo.
Os terceiros, enfim, não se contentam
em admirar a moral: praticam-na e aceitam todas as suas consequências. Bem
convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de
aproveitar esses curtos instantes para marchar na senda do progresso que lhes
traçam os Espíritos, esforçando-se por fazer o bem e reprimir suas inclinações
más. Suas relações são sempre seguras, porque suas convicções os afastam de
todo pensamento do mal. Em tudo a caridade lhes é regra de conduta. São estes
os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas
cristãos.
Na primeira categoria, os crentes
curiosos, sempre em busca de fenômenos, ainda estão adormecidos sobre a
necessidade de autorreforma para o bem. Na segunda categoria, estão os
admiradores acomodados da moral, para quem o bem é algo que se aplica a outrem,
mas em relação a si nada há que modificar. Na mais alta categoria estão aqueles
que Kardec denomina, com justiça, de espíritas
cristãos, por esforçarem-se cotidianamente em praticar o bem e melhorar
suas tendências negativas.
Essa transformação moral inicia-se no
pensamento. Disse Kardec: “Por sua vontade, pode o homem livrar-se sempre do
jugo dos Espíritos imperfeitos, porque, em virtude de seu livre-arbítrio, tem a
escolha entre o bem e o mal. Se o constrangimento chegou a ponto de paralisar a
vontade, e se a fascinação é bastante grande para obliterar a razão, a vontade
de outra pessoa pode substituí-la” (In: Revista
Espírita, out. 1858).
Mas o antídoto do mal é o bem. Repetindo a
conclusão a que cheguei em outro artigo, na composição da palavra servir
encontramos dois verbos: "ser" e "vir". Ao trocarmos as
posições das sílabas dessa palavra e as ligarmos com a preposição "a"
teremos "vir (a) ser". É o devenir,
devir (fr.) ou vir a ser:
transformação incessante e permanente, consequência natural de quem deseja
sinceramente evoluir, mas que requer sua vontade e determinação.
Como não basta deixar de praticar o
mal, mas “fazer o bem no limite de suas forças”1, quem deseje
alcançar a felicidade dos bons precisa servir ao bem, de modo incondicional, em
seu eterno vir a ser a caminho da evolução.
A música e a poesia de cunho elevado
nos auxilia a enxergar o belo literário quando voltado para o culto ao bem,
melhor do que as manifestações artísticas de mentes doentias. Pensando assim,
elaboramos o seguinte poema, intitulado Bem-Viver:
Amar o próximo, dar-lhe atenção,
É agir com caridade a cada dia
E devotar-se ao bem como cristão.
No seu fazer e agir sempre no bem
Com devoção e com simplicidade
Vive-se bem aqui e mais além.
Amar, assim, a humanidade inteira,
Requer de nós postura de humildade,
Amor ao bem de forma verdadeira.
A teoria em nós é só metade
Do bem que o bom Jesus nos ensinou,
Nosso Caminho e Vida de Verdade.
Quem busca aqui na Terra a santidade,
Recomendada há mais de dois mil anos,
Eleva sua espiritualidade.
Não posterguemos a bondade, pois
Ser bom agora é viver na luz,
Ser bom agora é não sofrer depois.
Ser bom é nunca desprezar ninguém.
Segue sereno os passos de Jesus,
Só vence o mal quem vive para o bem.
Decorre do exposto que o ser sempre
ocupado na caridade serve não somente quando pensa e fala, mas quando age em
favor do próximo, como nos recomenda Jesus. Serve incondicionalmente em seu
incessante vir a ser melhor hoje que ontem, amanhã melhor que hoje, seguindo os
passos de Nosso Senhor, que caminha adiante em nossa condução ao EU SOU2,
Supremo Criador de todos nós, nosso Pai, Inteligência Suprema que nos legou uma
só coisa para nossa felicidade: servir ao bem.
Quando aprendermos o verdadeiro
significado de servir, sem qualquer intenção, mesmo oculta, de retribuição ao
benefício que façamos, mas por amor ao próprio bem, como o Senhor nos ensinou,
estaremos modificando nosso Espírito sempre para melhor, nesse eterno vir a
ser. E nossa alma resplandecerá na luz, não pelo que de bom falamos, mas sobretudo
pelo bem que fazemos.
Como todos nós teremos de colher conforme
semeamos, quanto mais nos colocarmos no lugar do próximo, e nos
conscientizarmos de que o nosso bem é resultante do bem daquele, mais teremos
contribuído com a felicidade do nosso ser. Podemos começar pela lembrança
permanente da regra áurea recomendada por Jesus e parafraseada em latim: Quod tibi non vis alteri ne facias. Ou
seja: “Não faças a outrem o que não queres para ti”.
1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93. ed. Tradução
de Guillon Ribeiro. Brasília: FEB, 2013 (ed. histórica), q. 642.
2 Em Êxodo, cap. 3, v. 14, Deus é
representado pela expressão EU SOU, ou seja, somente Ele desfruta desse eterno Ser,
ao contrário de nós, que estamos num eterno “vir a ser” resultante de nossas
ações.
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