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domingo, 6 de maio de 2018




Intolerância é inaceitável sempre

Quando lançamos junto com nosso amigo José Carlos Munhoz Pinto a revista O Consolador, onze anos atrás, vivia-se no meio espírita brasileiro um momento conturbado que esperávamos se normalizasse com o passar dos anos.
Não foi o que aconteceu.
Há em nosso meio um acirramento de ânimos semelhante ao que se verifica no cenário político nacional.
Três fatos ocorridos nos últimos noventa dias, envolvendo personalidades de destaque no movimento espírita do Brasil, comprovam este pensamento. Mas o clima ruim, desagradável, incompatível com os ensinamentos espíritas, se instalou, em verdade, há mais tempo. Segundo alguns, poucos meses depois de Chico Xavier haver regressado à pátria espiritual.
O Espiritismo, desde que surgiu, teve de lidar com adversários implacáveis. As perseguições recebidas de todos os lados se assemelharam ao que ocorreu na fase que precedeu a Reforma protestante e nos anos que a ela se seguiram, tema do especial “A Reforma protestante e o Espiritismo”, de autoria do confrade André Luiz Alves Jr., um dos destaques da edição 562 d´O Consolador.
Só para lembrar, um dos precursores da Reforma, o sacerdote e professor Jan Huss (última reencarnação de Hippolyte Léon Denizard Rivail, antes de retornar como Allan Kardec), que lutou pela verdade cristã e contra a corrupção na Igreja, foi condenado à fogueira, dezesseis anos antes de Joana d’Arc ser queimada viva pelo simples motivo de “ouvir” os Espíritos.
Curiosamente, atenuadas as perseguições externas, os espíritas parece que decidiram digladiar entre si, em sintonia evidente com indivíduos que, estando ou não desencarnados, não querem que as ideias espíritas e o movimento que as representa cumpram seus objetivos.
O acirramento das posições ideológicas e a intolerância para com os que pensam de forma diferente não se coadunam com a proposta evangélica nem, evidentemente, com o pensamento e as recomendações de Allan Kardec, o codificador da doutrina espírita.
De Jesus, ninguém ignora este ensinamento anotado no cap. V do Evangelho segundo Mateus: “Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam”.
Quanto a Kardec, sua recomendação – expressamente colocada no cap. XXVIII, item 51, d´O Evangelho segundo o Espiritismo – é que devemos não apenas amar, mas também orar por eles, sem exclusão dos que se apresentam como inimigos do Espiritismo.
Nesse sentido, escreveu o codificador:

“De todas as liberdades, a mais inviolável é a de pensar, que abrange a de consciência. Lançar alguém anátema sobre os que não pensam como ele é reclamar para si essa liberdade e negá-la aos outros, é violar o primeiro mandamento de Jesus: a caridade e o amor do próximo. Perseguir os outros, por motivos de suas crenças, é atentar contra o mais sagrado direito que tem todo homem o de crer no que lhe convém e de adorar a Deus como o entenda. Constrangê-los a atos exteriores semelhantes aos nossos é mostrarmos que damos mais valor à forma do que ao fundo, mais às aparências, do que à convicção.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVIII, item 51.)

Na sequência dessas palavras, Kardec apresenta-nos um modelo ou sugestão da prece que nós, espíritas, devemos fazer pelos adversários e inimigos da doutrina que abraçamos.
Ora (alguém certamente dirá): Como ser tolerantes e afáveis com nossos inimigos e, ao mesmo tempo, intolerantes e inamistosos com os nossos próprios companheiros, apenas porque nesse ou naquele ponto pensamos de forma diferente?
Não haverá nisso um enorme contrassenso?




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