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terça-feira, 17 de julho de 2018




A simplicidade volta a ser valiosa

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

Dia desses, recordei-me do que alguém, em sua sabedoria vivida, falou sorrindo: “É sempre vantagem viver mais, mesmo que no tempo mais avançado, as coisas inteiramente simples tornam-se bem mais desafiadoras”.
Recordei-me porque numa noite no supermercado – em meio à procura do que se precisa, de um preço mais adocicado e no menor tempo possível −, um pouco compenetrada na compra, mas ainda assim, vi passar um senhor aparentando uns noventa anos. Ele caminhava apoiado em um andador com rodinhas e guidão, no qual o senhor segurava e vagarosamente poderia seguir pelos amplos e longos corredores.
Parei de escolher os tomates para molho e fui seguindo com o olhar aquele vagaroso senhor; seu filho o acompanhava, porém não tão de perto – digo filho, pois ele deveria ser agora a cópia do pai quando mais jovem. Aquele momento de independência do senhor, penso que lhe fazia muito bem já que uma simples coisa realizada em algum tempo difícil passa a chamar-se conquista.
O senhor se foi e não pude mais acompanhá-lo de onde eu estava. Voltei a escolher os tomates e peguei o que precisava para a semana. Certa reflexão sobre o tempo foi inevitável.
Dirigi-me ao caixa – procurei atenta o de menor fila – e sem perceber estava ao lado do caixa no qual o senhor com o andador de rodinhas, seu filho e a provável esposa do senhor – vi só agora e parecia pouca coisa mais jovem, e muito disposta, no entanto, a probabilidade maior veio quando observei o mesmo desenho de aliança no dedo anular da mão esquerda tanto do senhor quanto da mulher – já estavam passando a compra.
Outra vez, o senhor prendeu-me a atenção. Era quase a minha vez no caixa e eu continuava atenta ao senhor que, àquele momento, com tanto cuidado e carinho, após registrar, colocou um pacote grande de salgadinho em cima de seu amparador de rodinhas. Aquele pacote era-lhe tão importante. Pagaram a conta e o menino-senhor foi para casa, talvez durante um programa ou filme preferido comesse o salgadinho em frente à TV.
O curso do tempo é felizmente inevitável, já que a vida é dinâmica. O que importará é como se vive, pois a partir daí serão os dias futuros.

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