Vivenciar o que
aprendemos, eis o grande desafio
O saudoso escritor e palestrante
Sérgio Lourenço entendia que devíamos sempre, antes de convidar algum
palestrante para falar nos eventos espíritas que promovemos, saber primeiro o
que ele tem feito, quais as suas obras, que contribuição tem dado para o
progresso de sua comunidade, e não apenas seu talento no campo da oratória. Em
síntese, se o palestrante realmente vivencia o que diz, o que ensina, o que
propõe em sua fala.
Vivenciar o que aprendemos nas lições
do Evangelho e na doutrina espírita é, em verdade, para todos nós, um grande
desafio.
A vida é repleta de situações em que,
conforme sabemos, enfrentamos dificuldades que já nos criaram problemas no
passado, em face de nossas próprias imperfeições.
No capítulo das tentações é conhecida
a explicação dada por Emmanuel no cap. 88 do seu livro Religião dos Espíritos: "Somos tentados nas nossas
imperfeições", frase que confirma o que Tiago escreveu em sua conhecida
epístola: "... cada um é tentado quando atraído e engodado pela sua
própria concupiscência" (Epístola de Tiago, 1:14).
A assertiva de Tiago recebeu de
Emmanuel o seguinte comentário:
"Examinemos particularmente ambos os substantivos
tentação e concupiscência. O primeiro exterioriza o segundo, que constitui o
fundo viciado e perverso da natureza humana primitivista. Ser tentado é ouvir a
malícia própria, é abrigar os inferiores alvitres de si mesmo, porquanto, ainda
que o mal venha do exterior, somente se concretiza e persevera se com ele
afinamos, na intimidade do coração". (Caminho,
Verdade e Vida, cap. CXXIX.)
Não foi outro o motivo que levou Allan
Kardec a dizer que a verdadeira pureza não está apenas nos atos. Ela está
também no pensamento, porquanto aquele que tem puro o coração nem sequer pensa
no mal. Foi o que Jesus quis dizer ao condenar o pecado mesmo em pensamento, ou
seja, ainda que não concretizado.
Não vivenciar o que lemos, estudamos
ou ensinamos constitui, assim, prova inequívoca de imperfeição de nossa alma, a
reclamar esforço especial para que a superemos e consigamos avançar no rumo da
perfeição que nos aguarda a todos.
As tendências que trazemos do passado
influenciam nossa conduta nos mais diferentes aspectos de nossa atuação no
mundo, e não apenas nas questões ligadas à lascívia ou à sensualidade.
A cupidez, a soberba, a preguiça, a
ira – termos que identificam na visão da Igreja alguns dos chamados sete
pecados capitais – são inimigos da alma, que é preciso enfrentar e vencer, o
que se torna factível à medida que avançamos
na vida espiritual, esclarecendo-nos e despojando-nos pouco a pouco de
nossas imperfeições, conforme a maior ou menor boa vontade que demonstremos no
exercício do nosso livre-arbítrio.
Lemos em uma das principais obras
espíritas:
“Todo pensamento mau resulta da imperfeição da alma; mas,
de acordo com o desejo que alimenta de depurar-se, mesmo esse mau pensamento se
lhe torna uma ocasião de adiantar-se, porque ela o repele com energia. É
indício de esforço por apagar uma mancha. Não cederá, se se apresentar
oportunidade de satisfazer a um mau desejo. Depois que haja resistido,
sentir-se-á mais forte e contente com a sua vitória.
Aquela que, ao contrário, não tomou boas resoluções,
procura ocasião de praticar o mau ato e, se não o leva a efeito, não é por
virtude da sua vontade, mas por falta de ensejo. É, pois, tão culpada quanto o
seria se o cometesse.
Em resumo, naquele que nem sequer concebe a ideia do mal,
já há progresso realizado; naquele a quem essa ideia acode, mas que a repele,
há progresso em vias de realizar-se; naquele, finalmente, que pensa no mal e
nesse pensamento se compraz, o mal ainda existe na plenitude da sua força. Num,
o trabalho está feito; no outro, está por fazer-se.
Deus, que é justo, leva em conta todas essas gradações na
responsabilidade dos atos e dos pensamentos do homem.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VIII, item 7.)
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