domingo, 8 de julho de 2018



Vivenciar o que aprendemos, eis o grande desafio

O saudoso escritor e palestrante Sérgio Lourenço entendia que devíamos sempre, antes de convidar algum palestrante para falar nos eventos espíritas que promovemos, saber primeiro o que ele tem feito, quais as suas obras, que contribuição tem dado para o progresso de sua comunidade, e não apenas seu talento no campo da oratória. Em síntese, se o palestrante realmente vivencia o que diz, o que ensina, o que propõe em sua fala.
Vivenciar o que aprendemos nas lições do Evangelho e na doutrina espírita é, em verdade, para todos nós, um grande desafio.
A vida é repleta de situações em que, conforme sabemos, enfrentamos dificuldades que já nos criaram problemas no passado, em face de nossas próprias imperfeições.
No capítulo das tentações é conhecida a explicação dada por Emmanuel no cap. 88 do seu livro Religião dos Espíritos: "Somos tentados nas nossas imperfeições", frase que confirma o que Tiago escreveu em sua conhecida epístola: "... cada um é tentado quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência" (Epístola de Tiago, 1:14).
A assertiva de Tiago recebeu de Emmanuel o seguinte comentário:
"Examinemos particularmente ambos os substantivos tentação e concupiscência. O primeiro exterioriza o segundo, que constitui o fundo viciado e perverso da natureza humana primitivista. Ser tentado é ouvir a malícia própria, é abrigar os inferiores alvitres de si mesmo, porquanto, ainda que o mal venha do exterior, somente se concretiza e persevera se com ele afinamos, na intimidade do coração". (Caminho, Verdade e Vida, cap. CXXIX.)
Não foi outro o motivo que levou Allan Kardec a dizer que a verdadeira pureza não está apenas nos atos. Ela está também no pensamento, porquanto aquele que tem puro o coração nem sequer pensa no mal. Foi o que Jesus quis dizer ao condenar o pecado mesmo em pensamento, ou seja, ainda que não concretizado.
Não vivenciar o que lemos, estudamos ou ensinamos constitui, assim, prova inequívoca de imperfeição de nossa alma, a reclamar esforço especial para que a superemos e consigamos avançar no rumo da perfeição que nos aguarda a todos.
As tendências que trazemos do passado influenciam nossa conduta nos mais diferentes aspectos de nossa atuação no mundo, e não apenas nas questões ligadas à lascívia ou à sensualidade.
A cupidez, a soberba, a preguiça, a ira – termos que identificam na visão da Igreja alguns dos chamados sete pecados capitais – são inimigos da alma, que é preciso enfrentar e vencer, o que se torna factível à medida que avançamos  na vida espiritual, esclarecendo-nos e despojando-nos pouco a pouco de nossas imperfeições, conforme a maior ou menor boa vontade que demonstremos no exercício do nosso livre-arbítrio.
Lemos em uma das principais obras espíritas:
“Todo pensamento mau resulta da imperfeição da alma; mas, de acordo com o desejo que alimenta de depurar-se, mesmo esse mau pensamento se lhe torna uma ocasião de adiantar-se, porque ela o repele com energia. É indício de esforço por apagar uma mancha. Não cederá, se se apresentar oportunidade de satisfazer a um mau desejo. Depois que haja resistido, sentir-se-á mais forte e contente com a sua vitória.
Aquela que, ao contrário, não tomou boas resoluções, procura ocasião de praticar o mau ato e, se não o leva a efeito, não é por virtude da sua vontade, mas por falta de ensejo. É, pois, tão culpada quanto o seria se o cometesse.
Em resumo, naquele que nem sequer concebe a ideia do mal, já há progresso realizado; naquele a quem essa ideia acode, mas que a repele, há progresso em vias de realizar-se; naquele, finalmente, que pensa no mal e nesse pensamento se compraz, o mal ainda existe na plenitude da sua força. Num, o trabalho está feito; no outro, está por fazer-se.
Deus, que é justo, leva em conta todas essas gradações na responsabilidade dos atos e dos pensamentos do homem.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VIII, item 7.)



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