O dom maior
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
O
Espírito Emmanuel, no derradeiro dia de sua presença no Mundo Espiritual, já
plenamente ciente do que lhe cabia fazer no futuro, em prol do trabalho
evangélico-espírita, foi transportado por Tomé a anfiteatro. Ali, se sentaram
em meio a multidão de Espíritos candidatos à exemplificação da Boa-Nova. Em
seguida, um mensageiro divino descerrou cortina que abriu espaço para o passado
e, em êxtase, assistiram à cena ocorrida nos anos trinta da Era Cristã.
Viram,
então, que, em sereno entardecer de outono, Jesus Cristo, seguido por multidão,
subiu ao monte do templo de Jerusalém. Dali, rodeado por seus apóstolos,
entristeceu-se com visão fratricida em nome de nosso Deus. Foi quando disse
esta frase, registrada por Mateus, 23: 37 e repetida por Lucas, 13: 34: “Jerusalém,
Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, quantas
vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha recolhe os seus pintinhos
debaixo das asas, e não o quiseste”.
Emmanuel
assistiu, lacrimejante, à cena e dobrou a cerviz. Foi quando Tadeu subiu ao palco do anfiteatro
e, dirigindo-se a todos os que ali estavam, lhes falou:
—
Irmãos, durante séculos, estivestes envolvidos em lutas sangrentas, em nome de
um Deus, que o Cristo nos ensinou ser Pai bom e amoroso, que faz nascer o sol e
derramar a bênção da chuva sobre justos e injustos. Mas também vos deu o
livre-arbítrio, sujeito às sanções de Sua Lei, que retribui “a cada um segundo
suas obras”.
Agora,
recebestes permissão do Alto para ensinar a verdadeira mensagem do Cristo, o
Evangelho de Amor, com sacrifício, não mais de sangue inocente, nem de vosso
próprio corpo. O martírio que se vos exige, por ora, é o do vosso amor
incompreendido, de vossa boa vontade menosprezada, de vosso perdão
incondicional. É, enfim, o penhor de vosso devotamento e abnegação durante
quase um século de existência no corpo físico.
Foi
então que Emmanuel se sentiu envolvido num foco de suavíssima luz, que o
conduzia a novo pavilhão, onde seria submetido à condensação de seu perispírito
para o retorno à Terra. Viria continuar sua missão de novo apóstolo de Jesus.
E,
no momento da concepção de sua mãe atual, ele registrava, em espírito, e
respondia, mentalmente, ao canto maravilhoso das vozes celestiais de seus
pares:
—
Aonde vais, ó bom semeador,
Que
tão lindas sementes, nesta vida,
Levas
em tuas mãos, alma querida,
Qual
caridoso anjo do Senhor?
—
Aonde vais, semeador da luz?
—
Vou clarear o escuro e torpe mundo,
Tirar
as almas do torpor profundo,
Iluminá-las
junto ao bom Jesus.
—
Aonde vais, semeador da paz?
—
Vou cultivar esperança e alegria
Nas
almas tristes no seu dia a dia,
Irmãos
amados de um mesmo Pai.
—
Aonde vais, semeador do bem?
—
Vou minorar toda miséria atroz,
Mover
montanhas e soltar a voz,
Multiplicar
a boa ação por cem.
—
Aonde vais, semeador do amor?
—
Vou ensinar aos crentes e aos ateus
Que
em nossa consciência mora Deus
Junto
da caridade, o dom maior.
Desse
modo, há dezessete anos, renasceria mais um enviado do Cristo com a missão de
falar do amor e exemplificá-lo, até o fim deste século, no “coração do mundo,
pátria do Evangelho”, o nosso querido Brasil.
No
anfiteatro, donde inda se ouvia o canto, também soavam as palavras do Cristo ao
povo da distante Jerusalém: “Pois eu vos digo: não me vereis mais até que
digais: Bendito aquele que vem em nome do
Senhor!” (Mateus, 23: 39; Lucas, 13: 35).
Obs.:
Excetuadas as citações aspadas, tudo o mais é ficção do cronista.
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