A morte e os
seus mistérios
Ernesto Bozzano
Parte 13
Continuamos o estudo do clássico A morte e os seus mistérios, de Ernesto Bozzano,
conforme tradução de Francisco Klörs Werneck. O estudo será aqui apresentado em 24 partes. Nossa
expectativa é que ele sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos
chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto abaixo.
Questões preliminares
A. O Caso V apresenta dois pormenores interessantes. Quais
são eles?
B. Que características apresentam as manifestações que
compõem o Caso VI?
C. Um Espírito pode ir pessoalmente comunicar a uma pessoa
amiga a notícia do seu próprio falecimento?
Texto para
leitura
187. Aludindo ainda ao Caso V, diz Bozzano que na magnífica
fototipia da impressão, publicada pela revista Luce e Ombra, a mão aparece nitidamente gravada na madeira com o
traço característico das falanges extremas de cada dedo, que ficaram
profundamente gravadas na madeira queimada pelo contato da mão da morta.
188. Esse detalhe reveste um interesse considerável, do
ponto de vista probatório, porque não se poderia obter um resultado semelhante
aplicando-se contra o batente da porta uma mão aberta, em ferro em brasa. Em
outros termos, teria sido preciso que a suposta mão de ferro fosse feita com as
cinco falanges extremas numa posição dobrada; neste caso não se teria podido
obter a impressão inteira dos dedos e da mão.
189. Notarei, além disto, que, na produção do fenômeno em
questão, mister se faz não só considerar-se o fato de a defunta ter-se
exprimido em "voz direta" e com um timbre vocal que foi reconhecido,
mas também esta outra circunstância: que o fantasma se manifestou no meio de
uma nuvem de ectoplasma, que a Irmã tomou por uma "densa fumaça".
190. Nas experiências de materializações mediúnicas tem-se
observado que uma nuvenzinha de ectoplasma precede sempre ou quase sempre a
manifestação do fantasma objetivo. Ora, como a vidente ignorava inteiramente
essas coisas, resulta daí que sua alusão a uma pequena nuvem de "densa
fumaça", que precedeu a visão do fantasma da morta, reveste grande valor
probatório em favor da realidade supranormal do fenômeno.
191. Caso VI -
Este caso, no qual a mão de um fantasma ficou gravada na face da percipiente, é
suscetível de ser interpretado pela hipótese dos "estigmas por
autossugestão emotiva". O caso foi recolhido e examinado por Frank Podmore,
extraindo-o eu dos Proceedings of Society
for Psychical Research (vol. X, pág.
304).
192. A Srta. M. P., em data de 16 de fevereiro de 1890,
escreveu nos seguintes termos à direção dessa Sociedade: "Minha irmã e eu
dormíamos no mesmo quarto do último andar da casa, em pequenos leitos que
estavam a uma distância de cerca de três pés um do outro. Há três anos (eu
tinha então 20 anos e minha irmã 18), acordei em sobressalto com a horrível
sensação de que havia alguém no aposento. Fiquei muda por alguns instantes,
paralisada pelo terror, até que encontrei a força necessária para chamar minha
irmã. Esta, num fio de voz que exprimia um terror intenso, perguntou: ‘Quem
está no quarto? Há bom tempo que estou acordada, mas não tive coragem de
falar.’ Nesse momento, uma mão gelada pousou em minha face. Louca de horror,
tremendo, chamei desesperadamente por minha irmã, todavia sem dizer uma única
palavra do que estava me acontecendo. Um segundo depois, ela exclamou: ‘Uma mão
pousou em cima de mim.’ Presa de um terror indescritível, ocultamos ambas a
cabeça em baixo das cobertas, pedindo socorro com todas as forças dos pulmões.
Nosso irmão acorreu logo e nós lhe dissemos que alguém se introduzira no
quarto. Ele rebuscou todos os cantos, todos os móveis, mas inutilmente.
Enquanto isto, minha irmã se lastimava de violenta queimadura no rosto.
Acendeu-se o gás e vimos então que, num lado do rosto, aparecia um rubor vivo
que tinha a forma de uma impressão de mão, com os dedos abertos. Por duas vezes
ainda, em intervalos de cerca de um mês, acordamos, ambas, presas do mesmo
sentimento horrível da presença de um ser em nosso quarto: esse sentimento nos
paralisou o uso da fala durante certo tempo e certa vez percebemos o ente em
questão no espaço que separava os dois leitos."
193. O Sr. Podmore foi pessoalmente à casa das duas
percipientes para interrogá-las a respeito. Eis o que ele narrou a respeito do
assunto: "As manifestações se reproduziram quatro vezes, em intervalos de
duas ou três semanas. Na primeira manifestação, a Srta. P. nada viu. Na
segunda, as duas irmãs tiveram a impressão muito viva de uma presença no
quarto: acordaram sobressaltadas, presas de um vivo terror, mas nada
perceberam. Na terceira vez, a Srta. P. viu uma forma vaga, uma sombra toda
envolta. Finalmente, na quarta vez, foi a Srta. E. P. quem, por sua vez,
percebeu a sombra. As impressões dos dedos no rosto da Srta. P. eram muito
nítidas e, como se achavam no lado sobre o qual não dormira, não era possível
atribuí-las à compressão do rosto sobre o travesseiro da cama."
194. Os membros da "Comissão de recenseamento das
alucinações", de cujo Relatório extraio o caso em questão, explicam o
incidente da impressão de cada mão na face de uma das percipientes comparando-a
a outras impressões que ficaram gravadas no corpo humano, em consequência de
autossugestões emotivas. Pode-se, sem dúvida, admiti-la no caso,
considerando-se que a percipiente se achava presa de uma crise de terror,
embora se possa opor, no caso, outras impressões semelhantes, obtidas simultaneamente
em fazendas e outros objetos, como nos casos precedentes. Não se deveria ainda
esquecer a existência dos quatro casos análogos que relatei, nos quais nenhum
dos percipientes se encontrava com crises emotivas predisponentes a
autossugestões dessa espécie e nos quais nenhum dos perceptivos pensava na
possibilidade de fenômenos deste gênero. Esta consideração leva a supor que, na
realidade, mesmo no caso de que nos ocupamos, a hipótese dos
"estigmas" não serve para explicar a verdadeira causa do fenômeno.
195. Em todo caso, devemos assinalar uma circunstância
verdadeiramente embaraçosa, se se afastar a hipótese da autossugestão: é que a
primeira percipiente fora, por sua vez, tocada na face pela mesma mão
fantástica, sem experimentar nenhuma impressão de queimadura de carne e sem que
a mão ficasse gravada no seu rosto. Como explicar que, um momento após, a mesma
mão, pousando no rosto da irmã, tenha provocado uma sensação de queimadura, com
o fenômeno da impressão de uma mão de fogo na face? Que se acrescente que a
primeira percipiente fala de uma mão gelada que pousou no seu rosto, o que
explicaria por que a mão fantástica não provocou sensação de queimadura e não
deixou impressão, mas se assim é, como devemos considerar o que aconteceu, um
momento após, à outra irmã? É, pois, evidente que a hipótese dos "estigmas
por autossugestão emotiva" retoma seu lugar no caso em questão.
196. Uma vez declarado isto por um sentimento de justiça
científica na pesquisa das causas, repito que eu não acho, entretanto, que não
deva buscar nesta explicação a verdadeira causa do fenômeno. É possível, com
efeito, que as sensações opostas, que as duas percipientes experimentaram,
possam ser explicadas por uma mudança rápida da condensação ectoplásmica da mão
do fantasma, que seria produzida em consequência do seguimento de uma brusca
modificação da tonalidade vibratória de ectoplasma nas duas ocasiões em que a
mão em questão pousou nas pessoas das percipientes. Essa tonalidade vibratória
parece ser, em certas circunstâncias, muito mais intensa que a da substância
viva ou da matéria inanimada e por consequência deve destruir, como o faria o
fogo, os tecidos animais e vegetais vivos, o que daria lugar aos fenômenos das
"impressões de mãos de fogo". Aproveito a oportunidade para fazer
notar que a hipótese, que me reservo para desenvolver nas conclusões deste
estudo, está justamente baseada nesta última circunstância da intensidade
vibratória indubitável da substância ectoplásmica e fluídica: é graças a ela
que se poderiam explicar os fenômenos das "impressões supranormais de mão
de fogo".
197. Caso VII -
Resumo a narração de um caso muito conhecido na Inglaterra, ainda que nele se
encontrem detalhes de natureza a deixar-nos perplexos por causa das modalidades
insólitas com que foi produzido. O caso em questão foi publicado, pela primeira
vez, pelo Sr. T. M. Jarvis, na sua obra Accredited
Ghost Stories (Estórias verídicas de fantasmas), em 1823, tendo a
percipiente protagonista falecido pouco tempo antes.
198. A Sra. Crow, na sua obra The Nightsides of Nature (Os lados obscuros da natureza), pág. 196
da nova edição, a ele faz referência nos seguintes termos: "No que
concerne ao caso de Lady Beresford, estou em condições de assegurar que a
família da morta afirmou sempre a autenticidade dos fatos. Deve-se dizer outro
tanto da família de Lady Cobb que, como se sabe, quando Lady Beresford expirou,
foi quem cortou do seu pulso a fita que o envolvia, fita que a morta sempre
trouxera desde o dia em que Lord Tyrone lhe aparecera, e isto com o fim de
ocultar a impressão indelével que lhe deixara no pulso direito o contato da mão
do morto."
199. A narração dos fatos foi ditada pela própria Lady
Beresford. Mas vejamos primeiro as premissas do caso: Lord Tyrone e Lady
Beresford foram íntimos desde a tenra idade e educados na mais rígida ortodoxia
religiosa. Mais tarde, sentiram influências teológicas de natureza diversa e,
em consequência disto, concluíram entre si um pacto solene: aquele que morresse
primeiro, se Deus o permitisse, deveria aparecer ao que sobrevivesse, para
dizer-lhe da confissão religiosa que ao Ser Supremo agradasse mais. Chegada à
idade adulta, Lady Beresford casou-se e não teve mais ocasião de encontrar-se
com seu amigo de infância. Ora, certa noite, aconteceu que ela se levantou
sobressaltada e percebeu a seu lado Lord Tyrone que a informou ter falecido
subitamente, na véspera, às 4 horas. Predisse em seguida acontecimentos na vida
futura de Lady Beresford, os quais se realizaram totalmente.
200. Lady Beresford assim narrou esses fatos: "Eu lhe
disse: Amanhã de manhã, quando me levantar, como poderia ficar convencida de
não ter sonhado tudo isto?" Ele respondeu: "Receberás amanhã notícia
da minha morte. Esta prova não te basta?" - "Não, respondi eu, há
sonhos proféticos e eu acabarei por convencer-me de haver tido um sonho dessa
natureza. Dá-me uma prova material de tua presença!" Ele disse:
"Tê-la-ás." Então levantou a mão e logo as pesadas cortinas do leito,
feitas de veludo vermelho, foram projetadas com força através de um amplo
círculo de ferro que fazia parte da abóbada do leito. Logo em seguida observou:
"Ficarás amanhã convencida por esta prova, porque nenhum braço humano
poderia executar coisa semelhante." - "Sim, disse eu, no estado de
vigília não poderia realizar esta prova de força, mas dormindo adquirem-se, às
vezes, poderes excepcionais. Continuo a duvidar." - Ele então disse:
"Eis um caderno: vou lançar nele minha assinatura. Conheces bem a minha
letra." Com efeito pegou num lápis e fez no caderno sua assinatura. Eu
ainda observei: "Na estado de vigília não poderia imitar tua assinatura,
mas no de sonambulismo a coisa é possível. É o que concluirei sem dúvida amanhã
de manhã." - Ele exclamou: "És difícil de convencer! Que prova mais
poderia dar-te? Poderia tocar-te, mas um Espírito não tocaria uma pessoa viva
sem deixar na sua pele uma marca indelével." - "Se se tratasse de uma
marca limitada, disse eu, submeter-me-ia de boa vontade a essa prova." -
"És uma mulher corajosa, respondeu ele. Estende-me a tua mão." Eu o
fiz e ele me apertou o pulso. Sua mão estava gelada, todavia a pele se enrugou
no momento, as veias se encheram e os nervos ingurgitaram.''
201. Desde aquele dia Lady Beresford foi sempre vista com
uma fita preta em torno de seu pulso direito, pois o Espírito de Lord Tyrone
lhe dissera que o sinal deveria ficar oculto aos olhos dos vivos. Quando Lady
Beresford expirou, Lady Netty Cobb, sua amiga, cortou de seu pulso a misteriosa
fita e verificou a existência de uma impressão de queimadura, que a morta descrevera
na sua narrativa. Tal é o caso realmente notável que aconteceu com Lady
Beresford.
202. Como disse, parece bem autenticado; apenas se encontra
o episódio da longa conversa entre o Espírito do morto e a percipiente, o que
nos deixa um tanto surpresos relativamente à autenticidade de toda a narração,
porque nas manifestações habituais de fantasmas que falam observa-se que quase
sempre pronunciam apenas algumas frases, nada mais. De qualquer modo, deve-se
admitir que se conhecem alguns episódios raros, muitos bem documentados, nos
quais se encontram longas conversas entre os Espíritos desencarnados e os
percipientes, o que nos leva a refletir antes de resolvermos circunscrever os
limites das manifestações supranormais.
Respostas às
questões preliminares
A. O Caso V
apresenta dois pormenores interessantes. Quais são eles?
O primeiro é a impressão feita a fogo, em que a mão da
entidade desencarnada aparece nitidamente gravada na madeira, com o traço
característico das falanges extremas de cada dedo. O segundo é o fato de a
falecida ter-se exprimido em "voz direta" e com um timbre vocal que
foi reconhecido pelas pessoas. (A morte e
os seus mistérios, 2ª Monografia – Marcas e impressões supranormais de mãos
de fogo, Caso V.)
B. Que
características apresentam as manifestações que compõem o Caso VI?
Segundo o Sr. Podmore, que as investigou, as manifestações
se reproduziram quatro vezes, em intervalos de duas ou três semanas. Na
primeira manifestação, a Srta. P. nada viu. Na segunda, as duas irmãs tiveram a
impressão muito viva de uma presença no quarto: acordaram sobressaltadas,
presas de um vivo terror, mas nada perceberam. Na terceira vez, a Srta. P. viu
uma forma vaga, uma sombra toda envolta. Finalmente, na quarta vez, foi a Srta.
E. P. quem, por sua vez, percebeu a sombra. As impressões dos dedos no rosto da
Srta. P. eram muito nítidas e, como se achavam no lado sobre o qual não
dormira, não era possível atribuí-las à compressão do rosto sobre o travesseiro
da cama. (Obra citada, 2ª Monografia – Caso VI.)
C. Um Espírito
pode ir pessoalmente comunicar a uma pessoa amiga a notícia do seu próprio
falecimento?
Sim. O Caso VII apresenta exatamente um fato assim segundo
qual o Espírito foi à casa da percipiente, conversou longamente com ela e
deixou, por fim, uma impressão indelével no seu pulso direito, como prova de
que ali realmente estivera. Na conversa, comunicou à amiga que havia falecido e
avisou-a de que essa notícia ela receberia no dia seguinte, como de fato
ocorreu. (Obra citada, 2ª Monografia – Caso VII.)
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