O apego aos bens materiais é um equívoco
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De Londrina-PR
A
doutrina espírita, pela voz de seus inúmeros autores encarnados e
desencarnados, é bem clara quando trata do tema propriedade.
De
que somos realmente proprietários no mundo em que vivemos?
Pascal
(Espírito) a isso se refere numa mensagem publicada por Allan Kardec no cap.
XVI, item 9, de seu livro O Evangelho
segundo o Espiritismo.
Diz
Pascal:
“O homem só possui em
plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao
chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que
é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas,
simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do
corpo; tudo o que é de uso da alma: a
inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e
leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais
utilidade no outro mundo do que neste. Depende dele ser mais rico ao partir do
que ao chegar, visto como, do que tiver adquirido em bem, resultará a sua
posição futura.” Pascal. (Genebra, 1860.) (Grifamos.)
A
compreensão do ensinamento acima teria grande influência nas relações
interpessoais e no progresso individual e coletivo, se essa ideia fosse
assimilada e aceita pelas criaturas humanas.
A
busca incessante da riqueza e o uso de meios ilícitos para obtê-la não mais
teriam razão de existir, porque todos entenderiam qual é, em verdade, o
propósito de nossa passagem pela experiência reencarnatória.
Inteligência,
conhecimentos, qualidades morais – eis o que, segundo a visão espírita,
constitui a nossa real propriedade, a bagagem que, por conseguinte, poderemos
levar para a chamada pátria espiritual e as futuras existências corporais que
nos aguardam.
A
experiência de Zaqueu narrada pelo evangelista Lucas é, nesse sentido,
expressiva.
Recordemos
o caso:
“Jesus entrou em
Jericó e ia atravessando a cidade.
Havia aí um homem
muito rico chamado Zaqueu, chefe dos recebedores de impostos. Ele procurava ver
quem era Jesus, mas não o conseguia por causa da multidão, porque era de baixa
estatura. Ele correu adiante, subiu a um sicômoro para o ver, quando ele
passasse por ali.
Chegando Jesus àquele
lugar e levantando os olhos, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque
é preciso que eu fique hoje em tua casa. Ele desceu a toda pressa e recebeu-o
alegremente.
Vendo isto, todos
murmuravam e diziam: Ele vai hospedar-se em casa de um pecador... Zaqueu,
entretanto, de pé diante do Senhor, disse-lhe: Senhor, vou dar a metade dos
meus bens aos pobres e, se tiver defraudado alguém, restituirei o quádruplo.
Disse-lhe Jesus: Hoje
entrou a salvação nesta casa, porquanto também este é filho de Abraão. Pois o
Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.” (Lucas, 19:1-10.)
Por
que, ante a decisão de Zaqueu, Jesus declarou: “Hoje entrou a salvação nesta
casa”?
Não
é difícil entender a frase dita por Jesus. Zaqueu, um homem abastado, dava
naquele momento um sinal claríssimo de desapego, entendendo finalmente que os
bens que Deus nos concede a título de usufruto não podem servir tão somente a
nós e à nossa prole, mas devem servir a todos.
Se
vieram às nossas mãos, cabe-nos o dever de bem utilizá-los, certos de que do
emprego que lhes dermos teremos de prestar contas e que, no retorno à pátria
espiritual, levaremos somente os bens que realmente nos pertencem – inteligência,
conhecimentos, qualidades morais –, fato que por si só demonstra que o apego
aos bens materiais é um equívoco e um obstáculo real ao nosso progresso.
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