A bala não resolve, mas o amor comove e converte
JORGE LEITE DE
OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Em
belo texto de sua obra intitulada Nas Pegadas do Mestre, Pedro de Camargo,
ou, se preferirem, Vinícius, diz
o seguinte:
O homem é conversível.
Jesus veio promover sua conversão anunciando o Evangelho antes que existisse
qualquer livro ou manuscrito com essa designação. O Evangelho é uma mensagem
que convida os homens para o Reino de Deus. Para alcançá-lo, porém, é mister
uma condição: converter-se. Converter significa mudar de vida, deixar o caminho
velho e tomar rota nova, pois o homem tem vivido no reino da carne, da mentira
e do egoísmo; e o Reino de Deus é precisamente o oposto, isto é, o reino do
espírito, da verdade e do amor (cap. Os verdadeiros cristãos).
Há
algum tempo, citei aqui a história de um taxista, que nos transportou do
aeroporto para o hotel de Copacabana. Ali nos hospedamos por uns dias. Relembremos
a história. Antônio (nome fictício) demonstrava imensa paciência no trânsito
carioca, coisa rara em quem passa o dia rodando nas ruas do Rio de Janeiro. Inquirido sobre o que lhe
proporcionava toda aquela sua calma, na agitação daquelas ruas movimentadas,
ele contou-me um pouco de sua vida.
— No passado — falou-me — eu era frequentador de boates, beberrão e
brigão. Não aceitava levar desaforos para casa, e isso custou-me arranhões e
prisões diversas vezes. Consumia drogas, aprontava “barracos” por qualquer
insignificância, dormia com mulheres que mal conhecera e que se aproveitavam de
minha embriaguez para me furtar, enfim, minha vida era um inferno. Até que um
dia, a convite de amigo evangélico, resolvi assistir a um culto na igreja de
sua frequência assídua. A partir daquele dia, aceitei Jesus e converti-me.
Na
fala mansa e espiritualizada daquele homem simples, vibrava a sinceridade de
suas resoluções, como a de nunca mais beber ou consumir qualquer droga. Não
havia como não perceber, ali, a excelência da mensagem transformadora do
Cristo, como ocorre quando nos convertemos ao seu Evangelho. E isso depende
mais de nós do que da religião que adotamos, pois em todas a mensagem divina
está presente.
Afirmou-me
Antônio que não tinha qualquer receio de entrar numa comunidade pobre de
inúmeras favelas da cidade, quando chamado para o serviço de táxi. E, embora já
houvesse sabido de diversas ocorrências de assaltos aos seus colegas de
trabalho, jamais fora assaltado.
— É a proteção de
Deus — eu disse-lhe.
Quando nos sintonizamos em faixas espirituais elevadas, nada nos acontece, se
tivermos merecimento, pois a proteção do Alto sempre nos acompanhará.
Esse
caso veio-nos novamente à memória ao relermos a mensagem do Espírito Bispo de
Argel, n’O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 11 do cap. 13, que nos
assegura ser preciso nos ocupemos unicamente com a promoção da felicidade
alheia, para assegurarmos, nesta existência, a própria felicidade, além de
encontrarmos um sentido para a vida. O que Deus quer de nós é que cultivemos,
dia a dia, o amor ao próximo.
Quando
as pessoas responsáveis pela administração das sociedades se convencerem de que
não se combate a violência com violência e, sim, com investimento em educação
moral e intelectual, a sociedade será melhor. Pois ao invés de mandarmos para o
cemitério milhares de almas revoltadas, investiremos no reino prometido por
Jesus aos justos. Somente o amor, fruto do esclarecimento, do oferecimento de
oportunidades igualitárias a todos, sem deixar de proporcionar a cada um o que
lhe é devido, construirá uma sociedade melhor.
Só
a água espiritual, do poço das virtudes, prometida por Jesus à samaritana, administrada
em doses certas, promoverá a conversão dos revoltados e equivocados da Terra. Mas
é preciso que os que nisso acreditam, por sua vez se convertam e se tornem um
novo ser em Cristo, que nada deixou escrito, mas separou o tempo em antes e
depois dele.
É
preciso que, desde criança, o ser humano aprenda a viver com morigeração, sob a
orientação de programas educativos. É urgente que se invista em segurança, não
para matar o criminoso, mas para educá-lo em trabalhos de colônias prisionais
agrícolas. Segurança para impedir a entrada, seja por terra, pela água ou pelo
ar, e seu cultivo em solo pátrio, das drogas devastadoras, que incentivam o ser
humano a destruir e se destruir. Segurança no oferecimento de dois turnos
escolares para nossas crianças e jovens, com recreação e boa alimentação
acrescidos à instrução de boa qualidade. Criação de escolas, enfim, que eduquem
para a prática do amor, em contraposição ao egoísmo, da humildade, em vez do
orgulho. Geração de empregos bem remunerados, enfim, que se invista na
conversão do ser equivocado, caminho real de transformação de cada um de nós,
de cada família, de cada comunidade, até que toda a Terra esteja convertida ao
bem.
Nossa
certeza baseia-se nestas palavras de Jesus: amai-vos. E isso não se consegue
com falsas promessas, nem com repressão por bala, pois a transformação social se
sustenta primacialmente no amor, que comove e converte.
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