A influência da religião na economia de
uma nação
ASTOLFO
O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De
Londrina-PR
O
grau de religiosidade de um povo pode afetar a economia de uma nação?
Segundo
pesquisa feita, anos atrás, pelo Instituto Gallup em 114 países, a resposta é
sim. Existiria forte correlação entre a renda “per capita” de uma nação e seu
maior ou menor apego à religião. A leitura da pesquisa está resumida na
seguinte frase: Quanto mais religioso, mais pobre tende a ser um país.
A
exceção ficaria por conta dos Estados Unidos, a maior economia do mundo, onde
65% dos norte-americanos atribuem importância à religião em sua vida diária, um
índice bem superior à média dos países mais ricos, que é, conforme a pesquisa,
de 47%.
Não
se podem contestar os números apresentados pelo Gallup, mas é importante que se
diga que há quem faça dos resultados dessa pesquisa uma leitura diferente.
No
campo da Sociologia, por exemplo, tradicionalmente se tem dito que é a pobreza
que facilita a expansão da religião. Não seria a religião que determinaria a
penúria de um país, mas, sim, a penúria de um país que favoreceria a expansão
dos núcleos religiosos.
Esse
entendimento é de Ricardo Mariano, da PUC-RS. Eis o que ele declarou, na
ocasião, em entrevista à Folha de S.Paulo: "Em geral, as religiões ajudam seus adeptos a lidar com a
pobreza, explicam e justificam sua posição social, oferecem esperança,
satisfação emocional e soluções mágicas para enfrentar problemas imediatos do
cotidiano". "As religiões de salvação prometem ainda compensações
para os sofrimentos e insuficiências desta vida no outro mundo."
Outro
aspecto que se deve ressaltar na pesquisa do Gallup é a inegável diminuição do
fervor religioso nos países mais ricos, com a notável exceção da nação
americana.
Em
alguns desses países, como os que faziam parte do bloco liderado pela antiga
União Soviética, a restrição à liberdade religiosa e o ateísmo estatal
contribuíram para a baixa importância que a população atribui à religião, como
se dá na Estônia e na Rússia.
Na
Europa Ocidental, ainda segundo Ricardo Mariano, os motivos seriam outros. A
modernização, a laicização do Estado e o relativismo cultural é que teriam
erodido a religiosidade do povo.
Religiosos
diversos ouvidos oportunamente pela Folha
de S.Paulo entendem que a riqueza pode, de fato, reduzir o pendor das
pessoas à religiosidade.
Para
o padre jesuíta Eduardo Henriques, "a abertura a Deus é inversamente
proporcional à segurança oferecida pela estabilidade econômico-financeira, com
exceções, é claro. Espiritualmente falando, os pobres tornam-se sinais mais
eloquentes de que ninguém, pobre ou rico, basta a si mesmo. Por isso Jesus chamou
os pobres de bem-aventurados".
O
teólogo adventista Marcos Noleto não só apoia tal pensamento, mas chega a ser
até mais radical: "Há uma incompatibilidade da fé prática com a riqueza.
Assim como dois corpos não podem ocupar um mesmo lugar no espaço, na mente do
homem não há lugar para duas afeições totais. Veja que Deus escolheu um
carpinteiro e não um banqueiro para ser o pai de Jesus".
A
discussão, como se vê, envolve duas conhecidas provas a que os Espíritos não
podem fugir, se quiserem realmente progredir.
Segundo
o Espiritismo, Deus concede a uns a prova da riqueza, e a outros a da pobreza,
para experimentá-los de modos diferentes.
Tanto
uma quanto outra são provas muito difíceis, porque, se na pobreza o Espírito
pode ser tentado à revolta e à blasfêmia contra o Criador, na riqueza expõe-se
ele ao abuso dos bens que Deus lhe empresta, deturpando, com esse
comportamento, os objetivos pelos quais a riqueza lhe foi concedida.
A
pobreza é, para os que a sofrem, a prova da paciência e da resignação. A
riqueza é, para os que a usufruem, a prova da caridade e da abnegação.
É
preciso que todos lembremos e entendamos: a existência corpórea é curta e passageira
e a morte do corpo priva o homem de todos os recursos materiais de que
eventualmente disponha no plano terráqueo.
Com
a morte corpórea, pobres e ricos voltam à vida espiritual em idênticas
condições, o que mostra que a posição social do rico ou do pobre não passa de
expressão transitória e não tem a importância que a pesquisa do Gallup
aparentemente sugere.
Acreditemos
ou não, a vida continua e teremos – independentemente de nossas crenças – de voltar
ao cenário terrestre para reparar os danos que causamos e consertar as tolices cometidas.
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