O Espiritismo perante a Ciência
Gabriel Delanne
Parte 14
Continuamos o estudo do clássico O Espiritismo perante a Ciência, de
Gabriel Delanne, conforme tradução da obra francesa Le Spiritisme devant la Science.
Nosso objetivo é que este estudo possa
servir para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do
Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas
encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Nos primórdios do Espiritismo, três
vultos eminentes da América converteram-se às ideias espíritas. Quem são eles?
B. Como a Academia e os jornais franceses
se referiram, naquela fase, à doutrina e às manifestações espíritas?
C. Os cientistas ingleses tiveram
comportamento igual ao que se verificou na França?
Texto para leitura
354. As meninas Fox, que os autores
das pancadas acompanhavam de casa em casa, acabaram estabelecendo-se em
Rochester, cidade importante do Estado de Nova York, onde milhares de pessoas
vieram visitá-las e procuraram, em vão, descobrir se havia alguma impostura no
caso.
355. O fanatismo religioso irritou-se
com essas manifestações de além-túmulo, e a família Fox foi atormentada. A
Senhora Hardinge, que se fez defensora do Espiritismo na América, conta que nas
sessões públicas dadas pelas filhas da Sra. Fox correram elas os maiores
perigos.
356. Nomearam-se três comissões para
examinar os fenômenos e essas comissões afirmaram que a causa do ruído lhes era
desconhecida. A última sessão pública foi a mais tempestuosa e, se não fora a
dedicação de um qualquer, as pobres meninas teriam perecido, linchadas por uma
multidão em delírio.
357. A nova do descobrimento se
espalhou rapidamente e houve em toda parte manifestações espirituais. Um
cidadão, Isaac Post, teve a ideia de recitar o alfabeto em alta voz e convidar
o Espírito a indicar, por meio de pancadas dadas no justo momento em que as
pronunciasse, as letras que deviam compor as palavras que ele quisesse ditar.
Nesse dia estava descoberta a telegrafia espiritual.
358. Pouco tempo depois, os próprios
batedores indicaram novo modo de comunicação. Bastava, simplesmente, se
reunirem as pessoas em torno de uma mesa, porem as mãos em cima, e a mesa,
levantando-se, enquanto se soletrasse o alfabeto, daria uma pancada no justo
momento que se pronunciasse cada uma das letras que o Espírito quisesse
designar. Este processo, apesar de muito lento, produziu excelentes resultados,
e foi assim que apareceram as mesas girantes e falantes.
359. É preciso dizer que a mesa não se
limitava a levantar-se num pé, para responder às perguntas que lhe faziam:
agitava-se em todos os sentidos, girava sob os dedos dos experimentadores,
algumas vezes se elevava no ar, sem que se pudesse ver a força que a mantinha
assim suspensa. Outras vezes, as respostas eram dadas por estalos, que se
ouviam no interior da madeira.
360. A par dos levianos, que viviam a
interrogar os Espíritos sobre a pessoa mais amorosa da sociedade ou sobre um
objeto perdido, pessoas sérias, sábias, pensadores, em vista do ruído que se
fazia em torno desses fenômenos, resolveram estudá-los cientificamente, a fim
de premunirem seus concidadãos contra o que chamavam de loucura contagiosa.
361. Em 1856, o juiz Edmonds,
jurisconsulto eminente, que gozava incontestável autoridade no Novo Mundo,
publicou um livro em que afirmava a realidade dessas surpreendentes
manifestações. Mapes, professor de química, na Academia Nacional dos Estados
Unidos, entregou-se a rigorosa investigação e concluiu pela intervenção dos
Espíritos. O que produziu, porém, o maior efeito foi a conversão às novas
ideias de Robert Hare, célebre professor da Universidade de Pensilvânia, que
estudou cientificamente o movimento das mesas e consignou suas experiências, em
1856, num volume intitulado – Experimental
investigations of the spirit manifestation.
362. Empenhou-se, desde então, a
batalha entre incrédulos e crentes. Escritores, sábios, oradores, eclesiásticos
lançaram-se na peleja, e para dar uma ideia do desenvolvimento da polêmica,
basta lembrar que, já em 1854, uma petição, assinada por 15.000 nomes, tinha
sido apresentada ao Congresso, solicitando que se nomeasse uma comissão, a fim
de estudar o neoespiritualismo (é este o nome que, na América, se dava ao
Espiritismo). O pedido foi repelido pela Assembleia, mas estava dado o impulso;
surgiram sociedades que fundaram periódicos e neles continuou a guerra contra
os incrédulos.
363. Enquanto esses fatos se produziam
no Novo Mundo, a velha Europa não ficava inativa. As mesas girantes tornaram-se
uma interessante atualidade e nos anos de 1852 e 1853 muitos, em França, se
ocuparam em fazê-las girar. Em todas as classes sociais só se falava dessa
novidade; fazia-se a todos essa pergunta sacramental: já fez girarem as mesas?
Depois, como tudo que é moda, após o momento de interesse, as mesas deixaram de
ocupar a atenção e tratou-se de outros assuntos.
364. Aquela mania teve, entretanto, um
resultado importante, o de fazer muitas pessoas refletirem sobre a
possibilidade da relação entre mortos e vivos. Pela leitura se descobriu que
aquilo que se chama a crença no sobrenatural era tão antiga como o Globo. A
história de Urbano Grandier e das religiosas de Loudun, dos tremedores das
Cevenas, dos convulsionários jansenistas provava que muitos fatos históricos
mereciam ser esclarecidos, e, para citar apenas os mais célebres, o demônio de
Sócrates e as vozes de Joana d'Arc, que a levaram a salvar a França, são ainda
mistérios para os sábios.
365. A narrativa da possessão de
Louviers, a história dos iluminados martinistas, dos swedenborguenses, das
estigmatizadas do Tirol e, há apenas 50 anos, a do padre Gassner e da vidente
de Prevorst conduziram os homens sérios a examinar os fenômenos novos.
Comparou-se o Espírito de Hydesville ao que revolucionou o presbitério de
Cydeville e uma teoria geral nasceu do exame de todos esses fatos. Ela está
exposta nas obras de Allan Kardec.
366. As mesmas cóleras que
acompanharam as manifestações espirituais na América renovaram-se em França. Os
jornais, as revistas científicas e as Academias esgotaram os sarcasmos para com
a nova doutrina. Chamavam, gratuitamente, os seus partidários de loucos,
idiotas, impostores. Acusavam-nos de querer fazer voltar o mundo aos maus dias
da superstição da Idade Média; pedia-se, mesmo, aos tribunais, que impedissem a
exploração vergonhosa da credulidade pública. Os padres trovejavam do alto do
púlpito contra os fenômenos espiritistas, que eles diziam ser obra do diabo.
Enfim, como remate, um bispo em Barcelona mandou queimar em praça pública as
obras de Allan Kardec, por contaminadas de feitiçaria!
367. É preciso uma doutrina como a
nossa, que brilha por sua simplicidade e sua lógica, para conduzir os Espíritos
às grandes verdades que se chamam Deus e a alma. Nossa filosofia, em sua forma
primitiva, sintetiza as crenças mais elevadas dos pensadores, mas ela tem a
mais por si o fato, que se impõe por si mesmo, como o Sol, o rei do dia. Mas é
dever nosso afastar de nossas experiências qualquer suspeita. Indispensável é
que procuremos destruir as prevenções e mostrar como são falsas, mesquinhas e
incompletas, comparadas às nossas, as explicações aventadas para os fenômenos
espíritas.
368. Na França a opinião pública
habituou-se a confiar inteiramente em algumas sumidades literárias ou
científicas, quanto aos seus julgamentos sobre os homens e as coisas, de sorte
que, se essas notabilidades têm qualquer interesse em enterrar uma questão, a
maior parte do público as acompanha e faz-se o silêncio, o vazio em torno das
matérias em litígio. É para protestar contra esse ostracismo que reproduzimos
as afirmativas de sábios da Grã-Bretanha; ver-se-á quanto esses homens íntegros
pouco se inquietaram do que se diria e com que honestidade enérgica proclamaram
sua opinião, solidamente baseada nos fatos.
369. Comecemos por citar as memoráveis
palavras pronunciadas por William Thompson, no discurso inaugural, lido em
1871, na Associação Britânica de Edimburgo: “A Ciência é obrigada, pela eterna
lei da honra, a encarar de face, e sem temor, qualquer problema que lhe seja
francamente apresentado”.
370. Tal sentimento é partilhado por
grande número de homens de ciência. À frente deles, William Crookes, químico
eminente, a quem se deve o descobrimento do tálio e que, em Westminster,
demonstrou a existência de um quarto estado da matéria, que chamou, segundo
Faraday, de matéria radiante.
371. Esse químico ilustre, esse físico
de gênio, Crookes, submeteu a estudo as manifestações espíritas, não com ideias
preconcebidas, mas com o desejo firme de instruir-se e de só apoiar o seu
julgamento na evidência.
372. Disse ele: “Em presença de
semelhantes fenômenos, os passos do observador devem ser guiados por uma
inteligência tão fria e pouco apaixonada, quanto os instrumentos de que faz
uso. Tendo a satisfação de compreender que está na trilha de uma verdade nova,
esse único objetivo deve animá-lo a prosseguir, sem considerar se os fatos que
se lhe apresentam são naturalmente possíveis ou não”.
373. Com tais ideias, começou ele seus
estudos sobre o Espiritismo; duraram perto de 10 anos e foram publicados com o
título Recherches sur les phénomènes du
Spiritualisme, traduzido do inglês por J. Alidel. Nesse livro, ele declara
lealmente os resultados do seu inquérito, tal como se lhe apresentaram; não
contente do testemunho dos sentidos, construiu instrumentos delicados, que
medem matematicamente as ações espirituais.
374. Longe de temer o ridículo,
Crookes assim responde aos que o induziam a dissimular a fé, para não se
comprometer: “Tendo-me assegurado da realidade desses fatos, seria uma covardia
moral recusar-lhes meu testemunho, só porque minhas precedentes publicações
foram ridicularizadas por críticos e pessoas que nada conhecem do assunto, além
de cheios de preconceitos para verem e julgarem por si próprios. Direi,
simplesmente, o que vi e que me foi demonstrado por experiências repetidas e
fiscalizadas, e preciso ainda que me provem não ser razoável o esforço por
descobrir a causa dos fenômenos inexplicados”.
375. Poder-se-ia acreditar que Crookes
foi uma brilhante exceção; seria erro grosseiro supô-lo, e se afirmação de tal
homem é inestimável para a nossa causa, ainda é ela aumentada, consolidada pela
de outros sábios que se deram ao trabalho de estudar o Espiritismo.
376. Citaremos, em primeiro lugar,
Cromwell Varley, engenheiro chefe das companhias de telegrafia internacional e
transatlântica, inventor do condensador elétrico. É ainda um físico, cuja
assertiva não é menos nítida que a de Crookes. Ele fez experiências em sua
casa, com as mais rigorosas condições de fiscalização, e sua convicção é
absoluta. Numa de suas cartas, ele escreveu: “Não fazemos mais do que estudar o
que foi objeto das pesquisas dos filósofos, há dois mil anos; se uma pessoa bem
versada no conhecimento do grego e do latim, ao mesmo tempo a par dos fenômenos
que, em tão grande escala, se produzem, desde 1848, quisesse traduzir
cuidadosamente a escrita daqueles grandes homens, o Mundo logo saberia que tudo
o que se passa agora é nova edição de velha face da história; estudada por
espíritos ousados, chegou ela a um grau que diz bem alto do crédito desses
velhos sábios clarividentes, porque se elevaram acima dos acanhados
preconceitos do século e, ao que parece, estudaram o assunto em proporções,
que, sob vários aspectos, ultrapassam, de muito, nossos conhecimentos atuais”.
377. Outro sábio, célebre naturalista,
que descobriu, ao mesmo tempo em que Darwin, a lei de seleção, Alfred Russel
Wallace, faz também profissão de fé espírita, em carta dirigida ao Times, que
nós relataremos ao expor os fatos sobre os quais se baseia nossa convicção.
Narremos somente em que condições ele foi levado a ocupar-se com as
manifestações dos Espíritos.
378. Existe em Londres,
independentemente da Sociedade Real, que é a Academia de Inglaterra, um grêmio
de sábios – a Sociedade Dialética; conta ela homens notáveis como Thomas H.
Huxley, Sir John Lubbock, Henry Lewes e outros.
379. Esta sociedade resolveu, em 1869,
estudar os pretendidos fenômenos espíritas, a fim de esclarecer o público.
Nomeou-se uma comissão de 30 membros e, 18 meses depois, apresentou ela o seu
relatório, inteiramente favorável às manifestações espíritas. Segundo o hábito,
a Sociedade, vendo suas ideias desmentidas pelos fatos, recusou imprimir as
conclusões dos seus comissários. Assim, também a Academia de Medicina repeliu o
trabalho de Husson sobre o magnetismo animal, o que prova que as corporações
sábias são as mesmas em todos os países; elas se compõem de ilustres
mediocridades, que empenam, aterrorizadas, diante de todas as novidades.
380. Quando uma novidade, como o
Espiritismo, se manifesta de maneira anormal e força a atenção pública, pela
singularidade dos seus processos, logo se eleva um clamor de reprovação e
procura-se sufocar oficialmente as teorias que tiveram a irreverência de
produzir-se fora dos laboratórios diplomados desses senhores.
381.
Felizmente, para honra do gênero humano, encontram-se ainda homens que
não recuam diante da verdade e Wallace é desse número. Membro da junta de
investigação, pôde observar uma série de fatos que o convenceram, e publicou um
livro, Miracle and modern Spiritualism,
onde suas experiências são relatadas por extenso.
Respostas às questões preliminares
A. Nos primórdios do Espiritismo, três vultos eminentes da
América converteram-se às ideias espíritas. Quem são eles?
O juiz Edmonds, jurisconsulto
eminente, que publicou um livro em que afirmava a realidade das manifestações
espíritas; o professor de química Mapes, que na Academia Nacional dos Estados
Unidos entregou-se a rigorosa investigação e concluiu pela intervenção dos
Espíritos, e o professor Robert Hare, da Universidade de Pensilvânia, que
estudou cientificamente o movimento das mesas e consignou suas experiências, em
1856, num volume intitulado – Experimental
investigations of the spirit manifestation. (O Espiritismo perante a Ciência, Terceira Parte, Cap. I - Provas da
imortalidade da alma pela experiência.)
B. Como a Academia e os jornais franceses se referiram,
naquela fase, à doutrina e às manifestações espíritas?
Os jornais, as revistas científicas e
a Academia esgotaram os sarcasmos para com a nova doutrina e chamavam,
gratuitamente, seus partidários de loucos, idiotas, impostores, acusando-os de
querer fazer voltar o mundo aos maus dias da superstição da Idade Média. (Obra
citada, Terceira Parte, Cap. I - Provas da imortalidade da alma pela
experiência.)
C. Os cientistas ingleses tiveram comportamento igual ao
que se verificou na França?
Não. Eles debruçaram-se sobre os
fenômenos e não tiveram receio de publicar o resultado de suas pesquisas.
William Crookes, por exemplo, longe de temer o ridículo, assim respondeu aos
que o induziam a dissimular a fé, para não se comprometer: “Tendo-me assegurado
da realidade desses fatos, seria uma covardia moral recusar-lhes meu
testemunho, só porque minhas precedentes publicações foram ridicularizadas por
críticos e pessoas que nada conhecem do assunto, além de cheios de preconceitos
para verem e julgarem por si próprios. Direi, simplesmente, o que vi e que me
foi demonstrado por experiências repetidas e fiscalizadas, e preciso ainda que
me provem não ser razoável o esforço por descobrir a causa dos fenômenos
inexplicados”. (Obra citada, Terceira Parte, Cap. I - Provas da imortalidade da
alma pela experiência.)
Observação:
Para acessar a parte 13 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/06/o-espiritismo-perante-ciencia-gabriel_12.html
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