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quinta-feira, 18 de junho de 2020




O Livro dos Médiuns

Allan Kardec

Parte 1

Iniciamos hoje o estudo metódico de “O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec, segunda das obras que compõem o Pentateuco Kardequiano, cuja primeira edição foi publicada em 1861.
Este estudo será publicado sempre às quintas-feiras.
Eis as questões de hoje:

1. Os progressos do Espiritismo aconteceram a partir de que momento?
O Espiritismo fez grandes progressos desde que surgiu, mas os fez sobretudo imensos logo que entrou no caminho filosófico, porque foi apreciado por pessoas esclarecidas. Hoje ele não é mais um espetáculo; é uma doutrina da qual não se riem mais os que zombaram das mesas girantes. Escreveu Kardec: “Ao esforçarmo-nos por conduzi-lo e mantê-lo neste terreno, temos a convicção de lhe conquistar mais partidários úteis do que provocando a torto e a direito manifestações das quais se poderiam abusar. Disso temos todos os dias a prova pelo número de adeptos conseguidos pela simples leitura d´O Livro dos Espíritos”. (O Livro dos Médiuns, Introdução.)
2. Para falar a alguém sobre Espiritismo é preciso primeiro uma base. Que base é essa?
Antes de entabularmos qualquer discussão espírita, importa-nos que averiguemos se o interlocutor admite a existência da alma e a de Deus. Essa é a base de todo o edifício. Se ele responde negativamente ou com evasivas ("Não sei; eu queria que fosse assim, mas não estou certo") às perguntas: Crês em Deus? Crês ter uma alma? Crês na sobrevivência da alma depois da morte? - seria totalmente inútil ir além, porque tal intento seria o mesmo que demonstrar as propriedades da luz a um cego. Ora, as manifestações espíritas não são outra coisa senão os efeitos das propriedades da alma. Se o indivíduo não admite a existência desta, estaremos perdendo tempo, a não ser que usemos uma outra ordem de ideias. (Obra citada, item 4.)
3. Que diz o Espiritismo acerca do sobrenatural e do maravilhoso?
Aos olhos dos que veem a matéria como a única potência da natureza, tudo o que não pode ser explicado pelas leis da matéria é maravilhoso ou sobrenatural. Para esses, maravilhoso é sinônimo de superstição e sobrenatural é o que é contrário às leis da natureza. O Espiritismo não aceita os fatos que são atribuídos ao maravilhoso e ao sobrenatural. Longe disso, demonstra a impossibilidade de muitos deles e o ridículo de certas crenças que são, propriamente falando, o efeito de uma superstição. Todos os fenômenos espíritas têm por princípio a existência da alma, sua sobrevivência ao corpo e suas manifestações. Esses fenômenos, fundados numa lei da natureza, não têm nada de maravilhoso nem de sobrenatural, no sentido vulgar dessas palavras. Os fatos verídicos reputados sobrenaturais só o são porque quem assim os julga não lhes conhece a causa. Determinando-lhes a causa, o Espiritismo os faz penetrar novamente no domínio dos fenômenos naturais. (Obra citada, itens 10, 13 e 14.)
4. Quais e quantas são as classes de espíritas?
Existem quatro classes principais:
1ª - os espíritas experimentadores, que creem pura e simplesmente nas manifestações e acham que o Espiritismo é uma simples ciência de observação;
2ª - os espíritas imperfeitos, que também compreendem a parte filosófica da doutrina e admiram a moral que dela decorre, mas não a praticam. A influência do Espiritismo sobre o caráter deles é insignificante ou nula; eles não mudam nada de seus hábitos e conservam a avareza, o orgulho, a inveja ou o ciúme que os caracterizavam antes;
3ª - os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos, que não se contentam com admirar a moral espírita, mas a praticam, aceitando-lhes todas as consequências. Convencidos de que a existência terrestre é uma prova passageira, trabalham por tirar proveito destes curtos instantes para caminharem pela via do progresso, esforçando-se por fazer o bem e reprimir seus maus pendores. A caridade é, em todas as coisas, a regra de sua conduta;
4ª - os espíritas exaltados, que aceitam facilmente e sem reflexão tudo o que provém do plano espiritual. Exagerados em sua crença, revelam uma confiança cega e, às vezes, pueril nas coisas do mundo invisível. Eles são os menos indicados para convencer, porque são de muito boa fé enganados, seja por Espíritos mistificadores, seja por pessoas que lhes exploram a credulidade. (Obra citada, item 28.)
5. Que papel incumbe ao espírita de verdade?
Ao espírita de verdade jamais faltará ocasião de fazer o bem; corações aflitos a aliviar, consolações a distribuir, desesperos a acalmar, reformas morais a operar – eis sua missão, na qual encontrará também sua verdadeira satisfação. (Obra citada, item 30.)
6. Para se ensinar Espiritismo, qual é o método melhor?
O melhor método do ensino espírita é dirigi-lo à razão antes de dirigi-lo à vista. É o que Kardec fazia com suas lições. O estudo preliminar da teoria tem uma outra vantagem que é a de mostrar imediatamente a grandeza do objetivo e do alcance da ciência espírita. Aquele que começa por ver uma mesa girar ou bater é mais levado à zombaria, porque dificilmente se persuade de que possa sair de uma mesa uma doutrina regeneradora da Humanidade. Começar pela teoria nos permite passar todos os fenômenos em revista, explicá-los, compreender-lhes a possibilidade, as condições sob as quais podem produzir-se e os obstáculos que poderão ser encontrados. Qualquer que seja a ordem sob a qual eles aparecem depois, nada terão que possa surpreender, poupando-se a quem quer trabalhar uma série de desenganos. (Obra citada, itens 31 e 32.)
7. Ao tempo da codificação do Espiritismo, surgiram vários sistemas de refutação à doutrina espírita. Quais são esses sistemas?
Ao todo, os sistemas criados para refutar o Espiritismo perfazem 13 títulos: sistemas de negação, isto é, os sistemas dos adversários do Espiritismo; sistema do charlatanismo, que atribuem os fenômenos a trapaças; sistemas de loucura; sistemas de alucinação; sistema do músculo que estala; sistema das causas físicas; sistema do reflexo; sistema da alma coletiva; sistema sonambúlico; sistema demoníaco; sistema otimista; sistema monospírita; e sistema da alma material. (Obra citada, itens 37 a 50.)
8. Quais são as consequências gerais do sistema polispírita ou multispírita?
Todos os 13 sistemas mencionados na questão precedente resultam de uma observação parcial dos fenômenos ou de sua má interpretação.
Eis as consequências gerais que foram deduzidas de uma observação completa e que constituem o ensino da universalidade dos Espíritos, a que Kardec chamou de sistema polispírita:
1) Os fenômenos espíritas são produzidos por inteligências extracorpóreas (os Espíritos);
2) Os Espíritos constituem o mundo invisível e estão em todos os lugares, inclusive ao nosso redor, em contato conosco;
3) Os Espíritos reagem sem cessar sobre o mundo físico e sobre o mundo moral;
4) Os Espíritos não são seres à parte na Criação: são as almas dos que viveram na Terra ou em outros mundos. As almas dos homens são Espíritos encarnados;
5) Há Espíritos de todos os graus de bondade e de malícia, de saber e de ignorância;
6) Estão todos submetidos à lei do progresso e podem chegar à perfeição, mas, como eles têm livre-arbítrio, alcançam-na num tempo mais ou menos longo, segundo seus esforços e sua vontade;
7) Eles são felizes conforme o bem ou o mal que tenham feito durante a vida e o adiantamento a que chegaram. A felicidade perfeita e sem sombras é partilhada apenas pelos Espíritos que chegaram ao grau supremo de perfeição;
8) Todos os Espíritos, em dadas circunstâncias, podem manifestar-se aos homens;
9) Os Espíritos se comunicam por intermédio dos médiuns, que lhes servem de instrumentos e intérpretes;
10) Reconhece-se o adiantamento dos Espíritos pela sua linguagem; os bons aconselham o bem e não dizem senão coisas boas; tudo neles atesta elevação. Os maus enganam e suas palavras trazem o selo da imperfeição e da ignorância. (Obra citada, item 49.)



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