O Espiritismo perante a Ciência
Gabriel Delanne
Parte 16
Continuamos o estudo do clássico O Espiritismo perante a Ciência, de
Gabriel Delanne, conforme tradução da obra francesa Le Spiritisme devant la Science.
Nosso objetivo é que este estudo possa
servir para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do
Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas
encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Os fenômenos observados são
governados por uma inteligência?
B. O pensamento de que são os
Espíritos os causadores dos fenômenos partiu de quem?
C. Como se explica, no magnetismo, o
fenômeno da transmissão do pensamento?
Texto para leitura
400. Chevreul, o químico, não foi mais
feliz em suas tentativas. Ele publicou uma brochura intitulada La baguette divinatoire et les tables
tournantes – na qual expõe os princípios seguintes: 1º - Um pêndulo em ação,
suspenso ao lado de uma parede, comunica seu movimento de oscilação a um
segundo pêndulo suspenso do outro lado da parede. 2º - A fricção produzida na
extremidade de uma barra de ferro faz vibrar a outra extremidade. 3º - A
resultante das forças digitais de muitas pessoas, que atuam lateralmente, pode
vencer a inércia da mesa. Como se vê, é sempre a mesma teoria, sob nomes
diversos. Mas existem fatos, como mostrados por Crookes, inexplicáveis por tais
ideias, do que é força concluir que, não admitindo a Ciência o fluido
magnético, é ela incapaz de indicar a força que produz esses fatos
extraordinários.
401. Existe uma segunda categoria de
observadores que veem no movimento das mesas efeitos magnéticos que se exercem
de maneira desconhecida. Acha-se entre estes Thury, professor da Academia de
Genebra, e Gasparin, que publicaram obras cheias de observações curiosas.
Segundo Thury, os fatos verificados são devidos à influência de uma força que
ele chama ectênica, exercida a distância, e que pode produzir, sob a influência
da vontade, ruídos e deslocamentos de objetos, e, por consequência, manifestar
inteligência. Gasparin é dessa opinião.
402. Deixemos a palavra aos fatos,
porque, como o diz Alfred Wallace, “são eles coisas teimosas”.
403. Declara Crookes, em seguimento às
suas notas sobre as pancadas: “Questão importante se impõe aqui à nossa
atenção: Esses movimentos e esses ruídos são governados por uma inteligência?
Desde o princípio de minhas investigações, verifiquei que o poder causador
desses fenômenos não era simplesmente uma força cega; uma inteligência o
dirigia ou, pelo menos, lhe estava associada. Assim, os ruídos de que acabo de
falar foram repetidos um determinado números de vezes; tornaram-se fortes ou
fracos e, a meu pedido, ressoaram em diversos lugares. Por um vocabulário de
sinais, previamente convencionados, houve resposta a perguntas feitas e
mensagens apresentadas, com maior ou menor exatidão.”
404. Até aqui os partidários da força
ectênica ou psíquica (é a mesma coisa) podem em rigor explicar esses fenômenos.
Podem dizer que, quando se deseja vivamente alguma coisa, projeta-se uma
espécie de descarga nervosa que produz os ruídos desejados. Tal suposição é,
porém, dificilmente admissível quando se obtêm “gorjeios de pássaros”.
405. Continuando suas notas sobre os
fenômenos, aduziu William Crookes: “A inteligência que governa esses fenômenos
é, algumas vezes, manifestamente inferior à do médium e, muitas vezes, em
oposição direta com seus desejos. Quando se tomava uma determinação que podia
ser considerada como pouco razoável, vi darem-se instantes mensagens,
induzindo-nos a refletir de novo. Essa inteligência é, por vezes, de tal
caráter que somos forçados a crer que não emana de nenhum dos presentes.”
406. A última frase do texto acima
destrói a teoria de Thury, porque, se a força nervosa não é dirigida pela
vontade do operador e dos espectadores, é preciso admitir uma inteligência
estranha, isto é, a intervenção dos Espíritos. Ora, é incontestável que se a
mesa dá respostas sobre assuntos desconhecidos dos assistentes ou contrários
aos seus pensamentos, não é deles que partem as respostas. Como é preciso,
porém, que elas sejam dadas por alguém, atribuímo-las a uma inteligência oculta
que vem manifestar-se.
407. Essa concepção não é uma invenção
humana, porque, sempre que se manifestava uma inteligência e se lhe perguntava
quem era, ela constantemente respondia ser a alma de uma pessoa que habitara na
Terra.
408. Pode parecer ridículo colocar-se
alguém diante de uma mesa e acreditar que um dos seus finados parentes venha
conversar por meio desse móvel. É isto, porém, uma verdade, e entre os milhares
de fatos narrados pelos mais honoráveis homens de ciência citaremos a seguinte
carta de Alfred Wallace, não só por ser particularmente probante, como porque o
autor está acima de qualquer suspeita.
409. Eis a carta de Alfred Russel
Wallace dirigida ao editor do Times: “Senhor. Apontado por muitos de vossos
correspondentes como um dos homens de ciência que creem no Espiritismo, seja-me
permitido estabelecer, ligeiramente, as provas sobre as quais se funda minha
crença. Comecei minhas investigações há cerca de oito anos, e considero
circunstância feliz para mim que os fenômenos maravilhosos fossem, nessa época,
menos comuns e muito menos acessíveis que hoje; isto me levou a experimentá-los
em larga escala, na minha casa e em companhia de amigos, nos quais podia
confiar. Tive, assim, a satisfação de demonstrar, com o auxílio de grande
variedade de experiências rigorosas, a existência de ruídos e movimentos que
não podem ser explicados por nenhuma causa física conhecida ou concebível.
Assim, familiarizado com esses fenômenos, cuja realidade não deixa a menor
dúvida, estive em condições de compará-los com as mais poderosas manifestações
de médiuns de profissão e pude reconhecer a identidade de causa entre uns e
outros, em vista de semelhanças não muito numerosas, mas bastante
características. Consegui igualmente obter, graças a paciente observação,
provas certas da realidade de alguns fenômenos dos mais curiosos, que me
pareceram e ainda me parecem dos mais concludentes. Os pormenores dessas
experiências exigiriam um volume, mas talvez me fosse permitido descrever
sucintamente uma delas, pelas notas tomadas no momento, a fim de mostrar, por um
exemplo, como é possível evitar as fraudes de que o observador paciente é
vítima, muitas vezes, sem o suspeitar. Uma senhora, que nunca vira um desses
fenômenos, pediu-nos, a minha irmã e a mim, que a acompanhássemos a um médium
de profissão, bem conhecido Lá fomos e tivemos uma sessão particular, em plena
claridade, por um dia de verão. Depois de grande número de movimentos e
pancadas, como de hábito, nossa amiga perguntou se o nome da pessoa falecida,
com quem desejava comunicar-se, podia ser soletrado. Sendo afirmativa a
resposta, a senhora apontou, sucessivamente, as letras de um alfabeto impresso,
enquanto eu anotava as que correspondiam às três pancadas afirmativas. Nem
minha irmã nem eu conhecíamos o nome que nossa amiga desejava saber, como
ignorávamos o de seus defuntos pais; não pronunciara ela o próprio nome e nunca
havia visto o médium antes.”
410. Wallace descreveu, na sequência
da carta, o que se passou, alterando apenas o nome da família, por não ter
autorização para publicá-lo, e no final, após diversas considerações sobre o
tema tratado, finalizou nestes termos a missiva: “Para concluir (aviso a
Bersot), posso dizer que, apesar de ter ouvido falar em grande número de
embustes, nunca os descobri; e se a maior parte dos fenômenos extraordinários
são burlas, só podem ser produzidos por máquinas ou aparelhos engenhosos, e
estes ainda não foram descobertos. Não exagero declarando que os principais
fatos estão agora bem estabelecidos e são tão fáceis de estudar como qualquer
outro fenômeno excepcional da natureza, cuja lei ainda não se conhece. São
fatos de grande importância estes para a interpretação da História, cheia de
casos semelhantes, assim como para o estudo do princípio da vida e da
inteligência sobre o qual as ciências físicas lançam fraca e incerta luz. Creio
firme, convictamente, que cada ramo da filosofia deve ser permitido, até que
seja escrupulosamente examinado e tratado como constituindo parte essencial dos
fenômenos da natureza humana. Seu muito respeitador Alfred R. Wallace.”
411. Certo número de observadores, não
podendo negar os fenômenos nem as respostas inteligentes dadas pela mesa, mas
recusando categoricamente admitir uma intervenção espiritual, imaginaram que os
operadores emitem certa quantidade de fluido nervoso, o qual, concentrado na
mesa, lhe comunica o movimento. “É notório – diz um deles – que as respostas
das mesas não passam do eco das respostas mentais dos assistentes”, e Chevreul
acrescenta: “É fácil conceber que uma pergunta dirigida à mesa possa despertar,
na pessoa que o faz, um movimento cerebral, e este, que não é mais do que o do
fluido nervoso, possa propagar-se à mesa; daí resulta que se o impulso for
proporcionado, inteligente, a mesa o repetirá.”
412. Observaremos ao eminente químico
que o caso citado por Wallace está em oposição formal à sua explicação.
Supondo-se, mesmo, que a senhora que evocava o filho lhe tivesse invocado
mentalmente o nome, é impossível compreender como foi esse nome ditado em
sentido contrário, sem hesitação, e, sobretudo, como a ação não cessou, quando
a senhora declarara, à terceira letra, que era inútil continuar, por não terem
significação as letras apresentadas. Deve-se convir que Chevreul não é feliz
com suas explicações, proximamente aparentadas com as de Bersot.
413. A transmissão do pensamento é um
fenômeno que se opera do magnetizador ao magnetizado. Em certos casos, o
magnetizador não tem necessidade de enunciar mentalmente sua vontade para se
fazer obedecer; basta-lhe pensar e o sonâmbulo executa a ordem que recebeu, ou
responde à pergunta que se lhe fez. Aqui pode conceber-se o que se passa.
414. Estabelece-se, pela ação
magnética, uma corrente fluídica entre os dois sistemas nervosos, de sorte que
as vibrações emanadas do cérebro do magnetizador impressionam, de maneira
sensível, o do magnetizado e lhe fazem nascer no espírito as mesmas ideias do
operador. Tal é, pelo menos, a teoria apresentada para esse fato notável.
415. Nas mesas girantes, porém, não
são as mesmas as condições. Se supusermos muitas pessoas em torno da mesa, como
o narra Wallace, como se fará o acordo entre os fluidos e as vibrações de todos
esses cérebros? O da senhora evocadora achava o fenômeno impossível, enquanto o
de Wallace o supunha possível: em verdade, aquela suposta explicação é
inaceitável.
Respostas às questões preliminares
A. Os fenômenos observados são governados por uma
inteligência?
Segundo Crookes, sim. Eis o que ele
escreveu: “Desde o princípio de minhas investigações, verifiquei que o poder
causador desses fenômenos não era simplesmente uma força cega; uma inteligência
o dirigia ou, pelo menos, lhe estava associada. Assim, os ruídos de que acabo
de falar foram repetidos um determinado números de vezes; tornaram-se fortes ou
fracos e, a meu pedido, ressoaram em diversos lugares. Por um vocabulário de
sinais, previamente convencionados, houve resposta a perguntas feitas e
mensagens apresentadas, com maior ou menor exatidão”. (O Espiritismo perante a Ciência, Terceira Parte, Cap. II - As
teorias dos incrédulos e o testemunho dos fatos.)
B. O pensamento de que são os Espíritos os causadores dos
fenômenos partiu de quem?
De ninguém. Essa concepção não é uma
invenção humana, porque, sempre que se manifestava uma inteligência e se lhe
perguntava quem era, ela constantemente respondia ser a alma de uma pessoa que
habitara na Terra. Pode, obviamente, parecer ridículo colocar-se alguém diante
de uma mesa e acreditar que um dos seus finados parentes venha conversar por
meio desse móvel. É isto, porém, uma verdade. (Obra citada, Terceira Parte,
Cap. II - As teorias dos incrédulos e o testemunho dos fatos.)
C. Como se explica, no magnetismo, o fenômeno da
transmissão do pensamento?
Segundo Delanne, a transmissão do
pensamento é um fenômeno que se opera do magnetizador ao magnetizado. Em certos
casos, o magnetizador não tem necessidade de enunciar mentalmente sua vontade
para se fazer obedecer; basta-lhe pensar e o sonâmbulo executa a ordem que
recebeu, ou responde à pergunta que se lhe fez. Estabelece-se, pela ação
magnética, uma corrente fluídica entre os dois sistemas nervosos, de sorte que
as vibrações emanadas do cérebro do magnetizador impressionam, de maneira
sensível, o do magnetizado e lhe fazem nascer no espírito as mesmas ideias do
operador. Tal é, pelo menos, a teoria apresentada para esse fato notável. (Obra
citada, Terceira Parte, Cap. II - As teorias dos incrédulos e o testemunho dos
fatos.)
Observação:
Para acessar a parte 15 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/06/o-espiritismo-perante-ciencia-gabriel_26.html
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