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sexta-feira, 30 de outubro de 2020

 



O Espiritismo perante a Ciência

 

Gabriel Delanne

 

Parte 33

 

Continuamos o estudo do clássico O Espiritismo perante a Ciência, de Gabriel Delanne, conforme tradução da obra francesa Le Spiritisme devant la Science.

Nosso objetivo é que este estudo possa servir para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 


Questões preliminares

 

A. O estado do Espírito livre é diferente do estado do mesmo Espírito quando encarnado?

B. Existe relação entre o grau de adiantamento do Espírito e os elementos que constituem seu invólucro fluídico?

C. Que são médiuns escreventes?


Texto para leitura

 

766. O estudo das ciências é, em geral, muito longo, porque é preciso reunir grande número de observações antes de descobrir as relações que as ligam entre si ou antes de notar as leis que as regem; mas o estudo dos fatos espiríticos é complicado por outra razão. Estamos aqui, é preciso não esquecer, em campo inteiramente diverso do das ciências puramente materiais. Nestas, podem-se inverter as condições experimentais, porque, sendo inerte a matéria, os resultados não mudam, dadas as mesmas circunstâncias. É o que já não acontece no estudo do Espiritismo, onde é preciso ter sempre em conta as individualidades que intervêm na manifestação; esta influência é muito variável e, as mais das vezes, independente de nossa vontade.

767. Os Espíritos há trinta anos ensinaram-nos a unidade da matéria e o mundo científico estava então pouco inclinado a adotar essa ideia; hoje ela generalizou-se; isto nos é de bom augúrio para o perispírito que, esperamo-lo, será logo reconhecido como uma das partes essenciais do homem.

768. Vimos que o estado do Espírito livre é totalmente diferente do encarnado; ele experimenta, em sua vida nova, sensações que não tinha com o corpo; vê a natureza sob outro aspecto e seus sentidos mais aperfeiçoados, mais delicados, são capazes de se deixarem influenciar por vibrações mais sutis que aquelas que atuam comumente sobre nós. A sensibilidade é desenvolvida, no Espírito, pela natureza fluídica do seu invólucro, que possui uma constituição molecular muito rarefeita, mas, apesar disso, uma forma bem determinada. Como o Espírito pode, à vontade, tomar a forma que lhe convenha, deve-se admitir que a causa da agregação perispiritual reside no Espírito, que age, sem cessar, por meio da vontade.

769. As propriedades do perispírito são perfeitamente explicáveis, conforme já estudamos. O invólucro da alma é invisível, porque seu movimento vibratório molecular é muito rápido para que suas ondulações sejam perceptíveis ao olho, mas, se por qualquer meio, diminui-se esse movimento, o ser torna-se visível, não só para um médium como também para todos os assistentes.

770. No estado normal, pode o Espírito locomover-se em nossa atmosfera e à superfície do globo sem que nada lhe estorve a marcha; sua natureza lhe permite atravessar nossa matéria grosseira, como a luz atravessa os corpos diáfanos; numa palavra, ele pode ir a toda parte, sem encontrar obstáculo material.

771. Conforme o grau de adiantamento do Espírito, os fluidos que compõem seu invólucro serão mais ou menos puros, sua ação aumentada ou diminuída em razão de seu estado mais ou menos radiante. É evidente que os fluidos grosseiros, materiais, que se aproximam dos gases terrestres, são menos aptos às operações da vida espiritual que os dos Espíritos superiores, de alguma sorte quintessenciados.

772. A influência do moral sobre o físico é ainda mais acentuada no espaço que na Terra. Podemos aqui viciar nosso invólucro, por forma a que ele se torne impróprio às funções da vida; assim também, as más paixões, fixando no perispírito fluidos grosseiros, prejudicam o progresso da alma e, por consequência, seu bem-estar.

773. O que dizemos se aplica indistintamente a todos os Espíritos, de sorte que o mundo espiritual é, em todos os pontos, comparável ao nosso, mas a hierarquia se estabelece sobre uma única base, a do adiantamento moral.

774. Suponhamos, agora, que um Espírito queira comunicar-se e procuremos compreender os sucessivos fenômenos que se vão desenrolar. Há duas alternativas: ou o Espírito sabe comunicar-se ou não sabe. No primeiro caso, quando são boas as suas intenções, um Espírito mais instruído o dirige e lhe mostra como deve agir; se for para o mal, ele nada consegue, na maior parte das vezes, porque não encontra um Espírito um tanto elevado que o queira auxiliar na tarefa.

775. O Espírito que sabe comunicar-se é ainda obrigado a procurar um médium – um ser humano cuja constituição seja tal que lhe possa ceder parte do seu fluido vital. Tendo-o encontrado, eis como opera, então, o Espírito. Por sua vontade ele projeta um raio fluídico sobre o perispírito do médium, penetra-o com seu fluido, estabelecendo, assim, comunicação direta com o encarnado. É por esse cordão que o fluido vital do homem é atraído pelo Espírito. Essa dupla corrente fluídica pode ser comparada aos fenômenos de endosmose, isto é, à troca que se produz entre dois líquidos de densidades diferentes, através de uma membrana. Aqui, os líquidos são substituídos pelos fluidos e a membrana pelo corpo.

776. Estabelecida a comunicação, o Espírito pode agir sobre o médium, produzindo efeitos diversos, que se traduzem pela visão, audição, escrita, tiptologia etc. São essas diferentes manifestações que vamos estudar detalhadamente nos capítulos seguintes.

777. Em suma, vê-se que são necessárias algumas circunstâncias adequadas para obter-se uma comunicação, e daí não nos devermos admirar dos insucessos que acompanham quase sempre as primeiras tentativas. Eis as condições indispensáveis: 1º - É preciso que o Espírito evocado possa ou queira atender à evocação; 2º -  que a evocação seja sincera, com o fim de instruir e não de divertimento ou de proveito material; 3º -      que o Espírito evocado tenha também o desejo de fazer o bem; 4º - que saiba o que deve fazer para manifestar-se; 5º -      que encontre um médium apto a reproduzir-lhe o pensamento ou a fornecer-lhe os fluidos necessários, que variam conforme o gênero de manifestação; 6º - finalmente, que nenhuma ação exterior contrarie o Espírito em suas manifestações.

778. Muito importante sobretudo é esta parte, porque se trata de verdadeiro magnetismo espiritual, e sabe-se quanto, nas ações magnéticas, podem vontades estranhas perturbar o bom resultado do fenômeno. Não falamos do estado de saúde do médium, das influências exercidas pelos agentes físicos, luz, calor, eletricidade, porque lhes ignoramos a maneira de agir, mas não deixam eles de ter grande influência, o que seria útil determinar, de futuro.

779. Como se vê, é preciso um concurso de circunstâncias favoráveis para as relações com o mundo espiritual, e os reveses numerosos a que nos expomos, por inobservância dessas prescrições, mostram que o fenômeno está longe de depender do acaso e deve ser estudado com muito método, se lhe queremos descobrir as leis.

780. Não é, portanto, depois de um jantar e de libações que podemos encontrar as condições necessárias para a prática do Espiritismo, e não será de espantar que os Espíritos recusem manifestar-se, quando os querem exibir como animais curiosos, à guisa de sobremesa, aos convidados para a festa.

781. Vejamos algo sobre os médiuns escreventes, que são os que transmitem pela escrita os pensamentos dos invisíveis; sem dúvida, são os mais úteis instrumentos de comunicação com os Espíritos. Essa faculdade é a mais simples, a mais cômoda e a mais completa. Para ela devem tender os esforços dos neófitos, porque lhes permite corresponder-se com os Espíritos de maneira regular e continuada. Deve-se a ela afeiçoar-se mormente porque por esse meio os espíritas revelam a sua natureza e o grau de seu aperfeiçoamento ou de sua inferioridade.

782. Pela facilidade que se lhes oferece de exprimir-se, os Espíritos podem fazer-nos conhecer seus pensamentos íntimos, colocando-nos, assim, nas condições de julgá-los e apreciá-los em seu próprio valor. É indispensável estudar essa faculdade, pacientemente, porque é ela a mais suscetível de desenvolver-se pelo exercício.

783. Os médiuns escreventes podem ser: mecânicos, semimecânicos ou intuitivos.

784. A mediunidade mecânica é caracterizada pela passividade absoluta do médium durante a comunicação. O Espírito que se manifesta age indiretamente sobre a mão, pelos nervos que lhe correspondem; dá-lhe um impulso completamente independente da vontade do médium, e a mão age sem interrupção, enquanto o Espírito tem o que dizer e não se detém senão quando ele terminou. Os movimentos da pessoa que recebe a mensagem são puramente automáticos; assim é que já vimos médiuns desse gênero sustentar conversa, enquanto a mão escrevia maquinalmente.

785. A inconsciência, nesse caso, constitui a mediunidade mecânica ou passiva, e não pode deixar dúvida quanto à independência do pensamento de quem escreve. Os movimentos são, algumas vezes, violentos e convulsivos, porém, as mais das vezes, calmos e comedidos. Os bruscos sobressaltos observados podem provir da imperfeição ou da inexperiência do Espírito que se manifesta.

786. Os Espíritos, por sua vontade, colhem, nos médiuns, o fluido vital que lhes é necessário para estabelecer a harmonia entre seu perispírito e o do médium. Há mistura e troca dos dois fluidos. Formam uma espécie de atmosfera fluídica, que envolve o cérebro do médium, e que termina no seu próprio perispírito por uma espécie de cordão fluídico. Há, pois, a partir desse momento, um intermediário entre eles e o encarnado; é por meio desse condutor que transmitem ao cérebro seu pensamento e sua vontade; de sorte que para ditar uma comunicação basta-lhes querer. A atmosfera fluídica de que falamos pode ser comparada à camada elétrica que se acumula lentamente em um condensador. O médium representa o papel de instrumento e o Espírito o de operador.

787. Poder-se-ia estranhar ver um cordão fluídico servir de veículo às vibrações perispirituais determinadas pelo pensamento, mas convém não esquecer que esse fenômeno é análogo ao que se produz no fotófono imaginado por Graham Bell. O célebre inventor americano construiu um aparelho no qual a luz serve de veículo ao som. No telefone o movimento da placa vibratória diante da qual se fala muda o magnetismo de um ímã. Essa modificação determina um movimento elétrico que, reagindo sobre o ímã do aparelho receptor, aciona por sua vez a placa cujas vibrações reproduzem um som idêntico ao que foi emitido na embocadura do aparelho transmissor. Mas no fotófono não há mais o fio de comunicação; ele é substituído por um raio luminoso, o qual, deformando-se na embocadura, transporta as vibrações da voz à lâmina vibrante do receptor, que reproduz um som idêntico ao emitido na outra estação.

788. Compreendemos, assim, como uma vibração, partida do Espírito, se propaga por meio de um cordão fluídico até o aparelho receptor, que é o perispírito do encamado. Aí chegadas, as vibrações atuam no cérebro do encamado, pela forma comum.

789. Vejamos, agora, o que se passa com o médium. Ele é, logo que o fenômeno começa, absolutamente inconsciente. Momentaneamente, seu cérebro fica quase todo à disposição do Espírito, que dele se serve sem que o encarnado tenha consciência das ideias que ali se agitam. É uma verdadeira ação reflexa, determinada por uma influência espiritual, e por intermédio do fluido nervoso. Assim se explica por que certos Espíritos dão comunicações com erros ortográficos ou de estilo, quando não os cometiam em vida. É que não encontram no cérebro do médium um instrumento com a perfeição capaz de lhes transmitir as ideias.

790. Sabemos, pelas experiências de Schiff, que as impressões sensoriais estão localizadas em certas partes da camada cerebral dos hemisférios, e que as células são tanto mais sensíveis quanto mais se desenvolvem, pelo estudo, as faculdades do espírito; de sorte que, quanto maior for a instrução do médium, mais impressionável será seu cérebro e, ao contrário, quanto mais desprezada for sua cultura intelectual, menos apto será ele para transmitir as inspirações dos guias.

791. Suponhamos que o Espírito manifestante queira exprimir esta frase: “Deus é a causa eficiente do Universo.” Ele fará vibrar as células nervosas dos hemisférios cerebrais do médium, mas se o encarnado não fixou em seu cérebro a palavra eficiente, ele a substituirá por outra equivalente e poderá dizer: “Deus é causa atuante do Universo”. Se essa operação reproduzir-se grande número de vezes, o Espírito poderá ditar uma bela comunicação, mas será ela mal transmitida pelo órgão. Se um grande músico só tiver à sua disposição um instrumento imperfeito, nunca chegará, apesar de todo seu talento, a fazer ouvir uma pura melodia.

792. Prevemos uma objeção: Têm-se visto, muitas vezes, médiuns receberem comunicações em línguas que lhes são desconhecidas, como o inglês, por exemplo, e escreverem, mesmo, páginas inteiras nesse idioma. Para responder, diremos que o médium deve ter, em encarnação anterior, habitado o país em que se emprega a língua de que o Espírito se serve; ele guardou em seu perispírito o traço dessa passagem. São as reminiscências inconscientes de que o Espírito, por instantes, faz uso. Isso está de acordo com o que observamos no capítulo do perispírito, relativamente aos progressos rápidos de que certas crianças dão exemplos; nós os atribuímos às faculdades adquiridas, guardadas no perispírito em estado latente. É preciso, também, levar em conta, nesse gênero de manifestação, a maleabilidade do médium, ou seja, a aptidão de transmitir certas ideias. Se o Espírito encontra um cérebro bem mobiliado, pode desenvolver seu pensamento. Temos exemplos de encarnados que recebem comunicações, apesar de sua ignorância na arte de escrever, mas estes são raros e os Espíritos preferem servir-se de bons instrumentos.

 

Respostas às questões preliminares

 

A. O estado do Espírito livre é diferente do estado do mesmo Espírito quando encarnado?

Sim. Quando desencarnado, ele experimenta sensações que não tinha durante a encarnação, vê a natureza sob outro aspecto e seus sentidos mais aperfeiçoados, mais delicados, são capazes de se deixarem influenciar por vibrações mais sutis que aquelas que atuam comumente sobre nós. (O Espiritismo perante a Ciência, Quinta Parte, Cap. I – Algumas observações preliminares.)

B. Existe relação entre o grau de adiantamento do Espírito e os elementos que constituem seu invólucro fluídico?

Certamente. Conforme o grau de adiantamento do Espírito, os fluidos que compõem seu invólucro serão mais ou menos puros e sua ação aumentada ou diminuída em razão de seu estado mais ou menos radiante. A influência do moral sobre o físico é ainda mais acentuada no espaço que na Terra. (Obra citada, Quinta Parte, Cap. I – Algumas observações preliminares.)

C. Que são médiuns escreventes?

Médiuns escreventes são os que transmitem pela escrita os pensamentos dos invisíveis. Essa faculdade é a mais simples, a mais cômoda e a mais completa. Para ela devem tender os esforços dos neófitos, porque lhes permite corresponder-se com os Espíritos de maneira regular e continuada. Os médiuns escreventes podem ser: mecânicos, semimecânicos ou intuitivos. (Obra citada, Quinta Parte, Cap. II – Os médiuns escreventes.)

 

 

Observação:

Para acessar a parte 32 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/10/o-espiritismo-perante-ciencia-gabriel_23.html

 

 

 

 

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