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sábado, 10 de outubro de 2020

 


Verdade, caridade e fraternidade

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília-DF

 

No dia 4 de outubro de 2020, o papa Francisco lançou nova encíclica intitulada Fratelli Tutti (todos irmãos). Nessa data, foram escolhidos cem jovens, de diferentes crenças, para integrar o Comitê da Fraternidade Humana.

Diversas personalidades ecumênicas manifestaram sua grata satisfação nos comentários que fizeram sobre o tema. Falou-se na busca da "harmonia individual e coletiva em favor das leis universais", que não excluem ninguém. Condenaram-se as perseguições por motivos étnicos e religiosos e foi lembrado que a pandemia atual de coronavírus proporciona-nos a reorganização do nosso modo de vida.

Nas palavras do cardeal Pietro Parolin, precisamos buscar a paz, combater a miséria aguda e mudar o conceito do "é preciso" para o do "eu preciso". Esse vigário do Cristo reforçou nosso dever de demonstrar a supremacia do Evangelho de Jesus, pelo exemplo, sem distinção de religião, sexo e raça. Dito isso, enalteceu a encíclica papal sobre a necessidade da harmonia entre ciência e fé. Essa seria uma abertura sem precedentes entre os seguidores de diferentes religiões e não religiosos.

Anna Rowlands lembrou a Parábola do bom samaritano. E reforçou as orientações da encíclica papal de que as religiões devem unir-se a serviço da fraternidade no mundo e "procurar Deus com o coração sincero". Recordou, também, que a mensagem papal é a de que todos somos irmãos e irmãs, ninguém fica excluído. A fraternidade proposta por Francisco é a que envolve as pessoas de diferentes crenças, mas também "os não crentes", a meu ver eufemismo utilizado para evitar a pronúncia da palavra ateus.

Por fim, o cardeal Miguel Angel reforçou a mensagem da encíclica papal sobre a necessidade da "construção de sociedades mais saudáveis e justas", "baseadas na benevolência e misericórdia". Não basta a tolerância, disse, é preciso "convivência fraternal", repúdio a todo tipo de violência, sem que para tal precisemos "renunciar à nossa própria identidade".

Isso nos faz evocar o conceito de caridade, segundo Jesus, contido na resposta à questão 886 d'O Livro dos Espíritos: "Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas". Ao que Kardec comenta: "O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejaríamos que nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos" (destaquei).

Como previu Allan Kardec, inspirado pelo Espírito de Verdade, representante de Jesus no advento do Espiritismo, tudo começa com a caridade. Tanto isso é verdade que o Codificador do Espiritismo acrescentou à máxima "Fora da caridade não há salvação" estoutra: "Fora da caridade não há verdadeiro espírita", em mensagem aos espíritas de Lyon e Bordeaux, em suas viagens pela Europa, publicadas pela Federação Espírita Brasileira, em 2005, na obra Viagens espíritas em 1862 e outras viagens de Kardec. É o que lemos no capítulo intitulado Discursos pronunciados nas reuniões gerais dos espíritas de Lyon e Bordeaux, página 54.

Como o verdadeiro espírita é igualmente discípulo do Cristo, também se pode dizer que, sem a prática dos ensinamentos de Jesus, não há "verdadeiro cristão" e muito menos fraternidade.

 

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