A sublime arte

 

CÍNTHIA CORTEGOSO

cinthiacortegoso@gmail.com

De Londrina-PR

 

O Sumi-e – uma técnica ancestral de pintura que prioriza o essencial – é uma arte linda e sensível que propicia ao artista autonomia sem muitas reflexões sobre o que se expressa aproveitando a inspiração momentânea, mas ao mesmo tempo é rígida quanto à impossibilidade de aperfeiçoar ou retocar os traços e tonalidades. E a vida que também abriga o Sumi-e e todas as outras artes é tão grandiosa que, além de apresentar-nos uma maravilhosa tela em branco para ser preenchida, admite reconsiderações, renovações, recomeços, retoques, pois o Criador confia em sua criação e sabe que ela será, mais cedo ou tarde, luz e arte completa.

Quantos traços são mudados, quantas cores são aperfeiçoadas, paisagens e figuras são desenhadas com calma, cenários criados e em seguida mudados, personagens tristes que se tornaram felizes, outros felizes que ficaram tristes, mas voltaram a sorrir. E a vida segue para que possamos crescer.

Nem mesmo o mais belo e notável artista humano seria – em mínima porcentagem – capaz de tamanha versatilidade e generosidade com que a vida nos abraça. Se num dia, muita coisa não deu certo, a noite revigorará o coração para a partir do novo amanhecer fazer tudo melhor. Há as palavras “desculpe, obrigado, por favor” e as emoções de “amor, perdão e esperança” que transformam a vida em mais abençoada a cada dia, basta que as usemos de coração e com frequência.

Se hoje choramos amanhã podemos sorrir, se nos comportamos de maneira reprovável podemos compreender que essa forma não se deva mais repetir. Se ontem fomos melhores do que hoje amanhã podemos nos superar e assim sentirmos o nosso ser mais pleno. A tela branca deseja ser preenchida pela arte da experiência e do desenvolvimento com benevolência, e ainda ela é muito mais paciente do que ansiosa e precipitada e deseja tantas belas pinturas.

É inegável que tanto o Sumi-e quanto tantas outras belas artes são indiscutíveis acerca de suas características e sensibilidade. No entanto nenhuma arte se compara à arte de viver, aprimorar, renovar, aprender, sentir, desenvolver até ascender ao estágio de paz e felicidade.

A vida... a vida é a mestra das artes e a oportunidade plena para o espírito que tanto deseja libertar-se.

 

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