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domingo, 13 de dezembro de 2020

 



A crença, a fé e a transformação

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

De Londrina-PR

 

Para muitas pessoas é a falta de conhecimento do Espiritismo que tem ocasionado as dificuldades e os desencontros que deparamos com frequência em nosso meio. Falta de conhecimento advém, obviamente, da falta de estudo doutrinário, seja o realizado individualmente no recesso do lar, seja o realizado coletivamente nas reuniões espíritas.

Com relação à necessidade do estudo é conhecida esta lição do Espírito de Verdade publicada no capítulo VI, item 5, d´O Evangelho segundo o Espiritismo:

 

“Sinto-me por demais tomado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa fraqueza imensa, para deixar de estender mão socorredora aos infelizes transviados que, vendo o céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai sobre as coisas que vos são reveladas; não mistureis o joio com a boa semente, as utopias com as verdades. Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam: ‘Irmãos! nada perece. Jesus-Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade’.”

 

Em outra obra – O Livro dos Médiuns, itens 31 e 32 – o Codificador chegou até mesmo a sugerir-nos um método de estudo, aduzindo que o melhor método do ensino espírita é dirigi-lo à razão antes de dirigi-lo à vista. “O estudo preliminar da teoria – explicou Kardec – tem uma outra vantagem, que é a de mostrar imediatamente a grandeza do objetivo e do alcance desta ciência; aquele que começa por ver uma mesa girar ou bater é mais levado à zombaria, porque dificilmente se persuade de que de uma mesa possa sair uma doutrina regeneradora da Humanidade. Começar pela teoria nos permite passar todos os fenômenos em revista, explicá-los, compreender-lhes a possibilidade, as condições sob as quais podem produzir-se e os obstáculos que poderão ser encontrados. Qualquer que seja a ordem sob a qual eles aparecem depois, nada terão que possa surpreender, poupando-se a quem quer trabalhar uma série de desenganos.”

É evidente que apenas conhecer não basta; é preciso aplicar o que estamos aprendendo. Essa é a razão pela qual o Espiritismo não transforma de imediato os adeptos mais fervorosos, como nos mostra o caso Xumene relatado no capítulo VII da 2ª Parte do livro O Céu e o Inferno.

Reportando-se ao Espírito de Xumene que acabara de se manifestar na sessão, o Guia espiritual recomendou à médium que tivesse coragem e perseverança. Xumene daria trabalho, mas o triunfo no final lhe pertenceria. “Não há culpados que se não possam regenerar por meio da persuasão e do exemplo – disse-lhe o instrutor espiritual –, visto como os Espíritos, por mais perversos, acabam por corrigir-se com o tempo.”

Finalizando a mensagem, o mentor esclareceu: “Mesmo a contragosto, as ideias sugeridas a esses Espíritos fazem-nos refletir. São como sementes que, cedo ou tarde, tivessem de frutificar. Não se arrebenta a pedra com a primeira marretada. Isto que te digo pode aplicar-se também aos encarnados e tu deves compreender a razão por que o Espiritismo não torna imediatamente perfeitos nem mesmo os mais crentes adeptos. A crença é o primeiro passo: vem em seguida a fé e a transformação por sua vez; mas, além disso, força é que muitos venham revigorar-se no mundo espiritual”.

O escritor inglês Harry Boddington, que estudou a mediunidade por cinquenta anos, diz-nos em um de seus livros que existem muitos médiuns que têm desenvolvido suas faculdades sem a mínima compreensão de suas responsabilidades e das implicações de seu trabalho, os quais somente depois de cometerem uma quantidade de erros facilmente evitáveis, e pondo em perigo a saúde, começam a estudar o assunto.

Aplicando essas observações ao conjunto das pessoas, não apenas aos que trabalham na área da mediunidade, podemos dizer que muitos de nós nos encontramos na primeira fase – a crença –, sem ter nem ao menos chegado à segunda fase – a fé –, o que indica que o terceiro e derradeiro passo – a transformação – se encontra ainda muito distante, o que explica as dificuldades e os desencontros que temos deparado no meio espírita.

 

 

 

 

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