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sábado, 12 de dezembro de 2020

 



A ideia do nada e seus prejuízos

 


JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília-DF

 

— Amigo Jó, conheço pessoas de excelente coração, que vivem preocupadas com o bem-estar do próximo, que não fazem mal a ninguém, que são muito operosas e incansáveis leitoras, pois acreditam que é a cultura que libertará o ser humano da ignorância e da servidão. Apenas há um pormenor, péssimo para elas mesmas: em suas leituras, deixam-se fascinar pelas ideias de teóricos ateus. Não se dão conta de que a existência humana é um sopro divino cujo objetivo maior é o da busca da perfeição em inumeráveis lutas contra as paixões e suas más inclinações das quais o orgulho e o egoísmo são as piores. O niilismo, ou seja, a ideia do nada, segundo Kardec, que tanto esnobei em minha última jornada terrena, é terrível.

— Se fosse só isso, Machado, se a pessoa se sentisse bem imaginando que é vão tudo que alcançou, em suposta existência única, mas ocupasse seu tempo em incansável trabalho em prol de um mundo melhor, isso seria sublime, pois aí está presente o total desprendimento de seus próprios interesses. Infelizmente, porém, algumas dessas pessoas não refletem que, ao pregar a ideia do nada, após esses breves anos na Terra, estão fazendo um grande mal às almas que ainda estão na infância espiritual.

— Isso mesmo, Jó, é muito ruim quando se prega o oposto da crença: a descrença e a crítica às religiões como nocivas, em especial, às classes proletárias. Entretanto, ainda que tenhamos apenas fé em nós mesmos, ela é de suma importância. Desde que a humanidade saiu do estágio animalesco, é visível o progresso do mundo, mesmo que alguns prefiram viver como feras, matando-se em busca da supremacia do direito da força, menoscabando a força do direito. Consequências dessa visão distorcida são a destruição dos ideais do próximo, o incentivo à leitura das deturpadas ideias de mentes inteligentes, mas doentias, como o estímulo à luta de classes, a desilusão de um objetivo da vida...

— É esse terrível engano, Machado, que vem sendo cada vez mais desfeito pelos mensageiros divinos, com base em experiências que remontam a pelo menos 172 anos. Desde os fenômenos de Hydesville, nos Estados Unidos, à chamada "dança das mesas" ou "mesas girantes", que atraíram a atenção do mundo no século XIX, em especial de grandes sábios. E o professor Rivail (Kardec) dedicou os últimos quatorze anos de sua existência para divulgá-los ao mundo, no que foi seguido por Gabriel Delanne, Camille Flammarion, Ernesto Bozzano, Alexandre Aksakof, Léon Denis, William Crookes etc.

— O mais interessante, Jó, é que os Estados Unidos, que rejeitavam a própria denominação de Kardec: Espiritismo, substituindo-a por Moderno Espiritualismo, por rejeitarem a ideia da reencarnação, atualmente contam com grande número de cientistas que vêm confirmando muitos casos que demonstram claramente essa lei divina, expressa no dólmen de Allan Kardec: "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a Lei".

— Pena que algumas pessoas imaginam que tudo isso seja fruto de devaneios humanos, meu querido Bruxo do Cosme Velho. Mas também não se dão ao trabalho de estudar a Doutrina Espírita e investigar seus fenômenos.

— Voltemos ao que diz Kardec sobre a crença do nada, Jó, pois isso também me atormentou o pensamento enquanto estive encarnado no Rio de Janeiro. Estudando melhor a obra desse missionário do Cristo, li, no espaço, o item 62 do capítulo 28, d'O Evangelho Segundo o Espiritismo, estes esclarecimentos consoladores:

Que horrenda a ideia do nada! Quão de lastimar-se são os que acreditam que no vácuo se perde, sem encontrar eco que lhe responda, a voz do amigo que chora o seu amigo! Jamais conheceram as puras e santas afeições os que pensam que tudo morre com o corpo; que o gênio que com sua vasta inteligência iluminou o mundo é uma combinação de matéria, que, qual sopro, se extingue para sempre; que do mais querido ente, de um pai, de uma mãe, ou de um filho adorado não restará senão um pouco de pó que o vento irremediavelmente dispersará.

Como pode um homem de coração conservar-se frio a essa ideia? Como não o gela de terror a ideia de um aniquilamento absoluto e não lhe faz, ao menos, desejar que não seja assim? Se até hoje não lhe foi suficiente a razão para afastar de seu espírito quaisquer dúvidas, aí está o Espiritismo a dissipar toda incerteza com relação ao futuro, por meio das provas materiais que dá da sobrevivência da alma e da existência dos seres de além-túmulo. Tanto assim é que por toda a parte essas provas são acolhidas com júbilo; a confiança renasce, pois que o homem doravante sabe que a vida terrestre é apenas uma breve passagem conducente a melhor vida; que seus trabalhos neste mundo não lhe ficam perdidos e que as mais santas afeições não se despedaçam sem mais esperanças.

— Pois é, meu caro Machado, diante de tão sábias palavras do Codificador do Espiritismo, só nos resta agradecer a Deus e a Jesus pela presença do Consolador que este nos prometeu, para ficar eternamente conosco, como registrou João, no capítulo 14:15 a 17 do seu Evangelho. Muito obrigado por seu retorno ao nosso tête-à-tête. Grande e espiritual abraço.

— Adeus, querido amigo. Voltarei quando puder.

   

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