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sábado, 2 de janeiro de 2021

 



Casamento: não separar o que Deus uniu

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília-DF

 

Encontramos no capítulo 22, item 3 d'O Evangelho Segundo o Espiritismo, preciosa informação de Kardec sobre a união sexual: "[..] ao lado da lei divina material, comum a todos os seres vivos, há outra lei divina, imutável como todas as leis de Deus, exclusivamente moral: a lei do amor" (grifei). Esta lei é assim citada por Jesus: "[...] Portanto, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher [...]. Assim, não serão mais dois, mas uma só carne. Pois o que Deus juntou, não separe o homem" (Mateus, 19:5- 6).

Na obra Vida e Sexo, o Espírito Emmanuel, referindo-se ao relacionamento sexual, alimento hormonal e psíquico, necessário a uma união respeitosa entre dois seres que se amam, esclarece-nos o seguinte: "[...] Não proibição, mas educação. Não abstinência imposta, mas emprego digno, com o devido respeito aos outros e a si mesmo. Não indisciplina, mas controle. Não impulso livre, mas responsabilidade".

Infelizmente, o que ouvimos, por vezes, no relato de um ou outro membro de casal passa longe do entendimento do que o guia espiritual de Chico Xavier recomenda. Falta respeito a si mesmo e ao outro. Quando não é o homem que gosta de revelar as intimidades de seus relacionamentos sexuais, por vezes com a própria companheira, que deveria respeitar, é esta que, entre amigas, narra todas as suas aventuras dentro e fora do lar. Daí...

Hipocrisia maior é a dos que agem na surdina. Passam por verdadeiros santos ou santas entre os membros de sua igreja, templo ou centro espírita, mas ali mesmo já conheceram um, uma ou vários parceiros sexuais. Esse tipo de atitude, quando adotada por adeptos do Espiritismo, é apropriado para confirmar a definição de Allan Kardec sobre os tipos de espíritas imperfeitos: "[...] os que veem no Espiritismo mais do que os fatos; compreendem sua parte filosófica, admiram a moral daí decorrente, mas não a praticam", como lemos no capítulo terceiro, item 28 d'O Livro dos Médiuns.

Pior ainda age a pessoa que, descoberta em sua atitude de prevaricação (pois nada há encoberto que um dia não seja revelado), em vez de esforçar-se em se corrigir, quando perdoada, continua vulnerável às entidades espirituais inferiores e deduz da intimidade do casal motivo para realizar, fora do lar, desejos contrários às recomendações do Cristo. Aí está patente o predomínio duma das duas naturezas do ser humano citadas por Kardec, no item 6 da introdução d'O Livro dos Espíritos: a animal, em detrimento da espiritual.

Mikhail Bakhtin, filósofo russo do século XX, muito conhecido nos meios universitários, afirma que precisamos praticar a alteridade, ou seja, colocarmo-nos no lugar do outro, para cultivarmos seu afeto, haja vista ser o outro quem melhor nos conhece. Esta é uma grande verdade, mas esse exercício também nos permite o autoconhecimento, ao percebermos a reação doutrem ante o que fazemos.

No caso do casamento, o Espírito Emmanuel recomenda-nos casar diariamente. Com a mesma pessoa... O que significa reforçar aquele encanto do primeiro olhar, no primeiro encontro com o ser amado, que nos fez senti-lo tão diferente, que nada do que nos digam contra esse ser é levado a sério por nós.

Por essa pessoa, somos capazes de revirar o mundo. Por ela, fazemos coisas absurdas. E, por isso mesmo, perdoamos facilmente quaisquer dos seus pecados anteriores ao nosso relacionamento, pois uma força divina nos atrai um para o outro.

Então, por que não alimentarmos esse sentimento, o respeito, o comprometimento íntimo, não somente físico, como também moral e espiritual, por toda a existência? Por que não honrarmos essa cumplicidade celestial? Agindo assim, começaríamos a exercitar, no próprio lar, a ser enriquecido pelos filhos, o modelo de verdadeiros espíritas, ou espíritas cristãos, que Kardec nos propõe no capítulo citado d'O Livro dos Médiuns: os espíritas "[...] que não se contentam com admirar a moral espírita, que a praticam e lhe aceitam todas as consequências".

Desse modo, ainda que venhamos a agir com falta menos leve para com o outro, o que significa agredir a nós mesmos, o arrependimento sincero, a confissão, aliada ao desejo real e esforço para não mais magoar nosso companheiro ou companheira devem ser suficientes para que nossa consciência se acalme. Não há amor verdadeiro que se não deixe comover por arrependimento, conversa franca e pedido sincero de perdão. É nesse sentido que Jesus nos recomenda não separar o que Deus uniu.

           

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