Fatos Espíritas
William Crookes
Parte 1
Iniciamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do clássico Fatos Espíritas, de William Crookes, obra publicada em 1874, cujo título no original inglês é Researches in the phenomena of the spiritualism.
Nosso propósito é que este estudo
sirva para o leitor como uma forma de iniciação ao estudo dos chamados
Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas
encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Que contém esta obra?
B. Quais foram os sábios, além de Crookes, que pesquisaram
os fatos espíritas?
C. Os médiuns deram a William Crookes o necessário apoio em
suas pesquisas?
Texto para
leitura
1. Observação
preliminar – Embora esteja dito no preâmbulo que o livro que ora estudamos
é uma tradução de Researches in the
Phenomena of Spiritualism, essa informação não é inteiramente exata. Em
verdade, ele contém um capítulo inteiro, o último da obra de Crookes, capítulo
esse intitulado "Notes of an Enquiry into the Phenomena Called
Spiritual". Os demais vêm de outras fontes, embora sejam igualmente de
autoria de Crookes. Como o leitor verá, o livro em exame contém também
comentários de diferentes pesquisadores, mas obedece a um plano original feito
por seu tradutor, Oscar D´Argonnel, que é, pois, não somente tradutor mas
também o organizador da obra.
2. Prefácio de Oscar
D´Argonnel – Publicando este livro temos em vista tão somente tornarem-se
conhecidos aos leitores de língua portuguesa os fatos espíritas examinados
rigorosamente à luz da ciência por um dos mais eminentes sábios do século –
William Crookes. Deixamos de apresentar os rigorosos processos científicos
adotados pelo ilustre experimentador, porque temos certeza de que as pessoas
que os desejarem conhecer irão lê-los na obra original. Esses admiráveis
fenômenos devem encher de júbilo os espiritualistas e entristecer profundamente
todos quantos só acreditavam na força e na matéria.
3. Os fenômenos espíritas têm sido objeto de atenção dos
sábios mais ilustres do mundo, tais como Crookes, Gully, Elliotson, Lodge,
Challis, Morgan, Wallace, Varley, Lombroso, Zöellner, Carl du Prel, Charles
Richet, Aksakof, Rochas e muitos outros. Como vemos, são os mais distintos
físicos, químicos, matemáticos, astrônomos, fisiologistas, criminalistas, etc.,
os homens que atestam a realidade dos fatos do Espiritismo.
4. Essa atestação é um golpe mortal vibrado na escola
materialista. A existência da alma, que era apresentada como um dogma de fé por
todas as religiões e que a filosofia nos mostrava por palavras, é hoje, graças
ao Espiritismo, uma verdade científica. Atualmente os sábios dizem que a alma
existe porque a veem e tocam, conversam com ela e lhe tiram o retrato.
5. A prova científica da existência da alma e da sua
comunicação conosco é o legado mais brilhante que o século 19 vai deixar ao
vindouro.
6. Introdução –
Antes de apresentar os fatos espíritas observados rigorosamente à luz da
ciência por William Crookes, julgamos necessário fazer o leitor conhecer quem é
esse eminente sábio que, estudando o Espiritismo para saber de que lado se
achava a verdade, se com os espiritualistas ou com os materialistas, não temeu,
achando-a com os primeiros, tornar públicas as suas conclusões.
7. Para isso traduzimos resumidamente as seguintes palavras
do Doutor Paul Gibier(1): “Aos 20 anos, Crookes publicava interessantes memórias
sobre a luz polarizada; depois, foi um dos primeiros, na Inglaterra, a estudar,
com o auxílio do espectroscópio, as propriedades dos espectros solar e
terrestre. Devem-se a ele sérios trabalhos sobre a medida da intensidade da luz
e engenhosos instrumentos: o fotômetro de polarização e o microscópico
espectral, por exemplo. Os seus escritos sobre a química geral foram muito
apreciados desde o momento em que apareceram”.
8. Eis outras informações extraídas do texto de Paul
Gibier: É ele o autor de um tratado de análises químicas (Méthodes Choisies),
hoje clássico. Devem-se-lhe numerosas pesquisas em Astronomia e principalmente
sobre a fotografia celeste. Em 1855-56, a Sociedade Real de Londres, que o
admitiu no número de seus membros ativos – em primeira votação – decretou-lhe
um auxílio monetário para prosseguir em seus trabalhos sobre a fotografia da
Lua. O governo da Rainha o enviou ultimamente a Orara para observar um eclipse.
9. Acrescentamos que ele, além disso, se ocupou de medicina
e de higiene, do que dão testemunho os seus trabalhos sobre a peste bovina,
entre outros. Mas duas descobertas têm sobretudo classificado Crookes entre os
mestres da ciência moderna: o ilustre sábio era já distinto pela sua descoberta
de um processo de amalgamação com o auxílio do sódio, processo que é empregado
hoje na Austrália, na Califórnia e na América do Sul pela indústria metalúrgica
do ouro, quando fez conhecer um novo corpo simples metálico: o Tálio.
10. Aprecia-se o valor de semelhante descoberta quando se
sabe que o número de corpos simples conhecidos na série dos metais se elevava a
cerca de cinquenta. Ele foi conduzido a essa preciosa descoberta pelos seus
trabalhos sobre a análise espectral. Foi assim, de fato, que foram insulados o
césio, o rubídio e o índio.
11. A segunda descoberta de Crookes vem corroborar o que
avançamos; queremos falar da matéria radiante. A matéria aparece aos nossos
sentidos sob três estados bem diferentes: sólido, líquido e gasoso. Existe,
provavelmente, uma infinidade de estados da matéria, mas não conhecemos senão
três. Crookes nos fez entrever um quarto. Por uma série de experiências, feitas
com rara exatidão, demonstrou ele o estado entrevisto por Faraday,
denominando-a matéria radiante.
12. Não queremos fazer o histórico dessas experiências tão
importantes sob o ponto de vista filosófico da Química, da Física e do estudo
da matéria em geral; em resumo, resulta disso que a matéria, em sua essência,
deve ser una e que os corpos variados que caem sob os nossos sentidos imperfeitos
não são senão um agrupamento, uma estrutura molecular especial da matéria,
segundo a opinião do celebre químico Boutlerow, de São Petersburgo, que
confirmou o que pôde verificar das experiências de Crookes sobre a força
psíquica.
13. Crookes repetiu suas experiências sobre a matéria
radiante em 1879 (setembro), no Congresso da Associação Britânica para o
adiantamento das ciências, e em 1880, na Escola de Medicina de Paris e no
observatório, a convite do Professor Würtz e do Almirante Mouchez. Os efeitos
produzidos pela matéria nesse estado foram os mais surpreendentes e de uma
força formidável, valendo um grande êxito para Crookes.
14. As poucas linhas precedentes darão, segundo esperamos,
uma ideia do alto valor científico do homem que não temeu enfrentar o estudo
dos fenômenos espíritas. Por isso, quando o ilustre membro da Sociedade Real
anunciou no Quartely Journal que se
ia ocupar dos fenômenos chamados espíritas, foi um grito geral: “Enfim! vamos
pois saber como havemos de pensar”.
15. Mas desde os primeiros artigos, quando se viu Crookes
admitir a realidade dos fenômenos e declarar que os tinha observado, pesado,
medido, registrado, etc., o caso mudou de figura. Houve, sem dúvida, grande
número de pessoas que tinham o assunto como julgado; mas nem todo o mundo quis
render-se e palavras de reprovação mais ou menos sinceras se fizeram ouvir. Não
será esse um dos incidentes menos curiosos da história do Espiritismo.
16. Crookes tinha, entretanto, mostrado a maior severidade
na série das suas pesquisas; mas as pessoas que se achavam desconcertadas no
momento da digestão tranquila dos seus conhecimentos adquiridos ficaram
irritadas por ver pronunciar-se contra elas um juiz do qual tinham
antecipadamente aceito as conclusões, mas com a condição, implicitamente
formulada, de que seriam conformes com as suas ideias.
17. Ver-se-á, entretanto, que essas pesquisas foram
empreendidas com espírito verdadeiramente científico:
“O espiritualista – diz Crookes – fala de corpos pesando 50
ou 100 libras, que se elevam ao ar sem a intervenção de força conhecida; mas o
químico está habituado a fazer uso de uma balança sensível a um peso tão
pequeno que seriam necessários 10.000 deles para perfazer um grão. Ele tem base
para pedir a esse poder, que se diz guiado por uma inteligência que suspende ao
teto um corpo pesado, que faça mover, sob condições determinadas, a sua balança
tão delicadamente equilibrada.
“O espiritualista fala de pancadas que se produzem nas
diferentes partes de um quarto, quando duas ou mais pessoas estão
tranquilamente sentadas ao redor de uma mesa. O experimentador científico tem o
direito de pedir que essas pancadas se produzam sobre a membrana esticada de
seu fonautógrafo.
“O espiritualista fala de quartos e de casas sacudidas por
um poder sobre-humano, mesmo até a ponto de ficarem danificadas. O homem de
ciência pede simplesmente que um pêndulo colocado sob uma campânula de vidro e
repousando em sólida alvenaria seja posto em vibração.
“O espiritualista fala de pesados trastes em movimento de
um aposento a outro sem ação do homem. Mas o sábio construiu instrumentos que
dividem uma polegada em um milhão de partes; e tem, portanto, o direito de
duvidar da exatidão das observações efetuadas se a mesma força é impotente para
fazer mover de um simples grau o indicador de seu instrumento.
“O espiritualista fala de flores molhadas pelo orvalho
fresco, de frutos, mesmo de seres vivos, trazidos através de janelas fechadas e
mesmo através de sólidas muralhas de tijolo. O investigador científico pede,
naturalmente, que um peso adicional (ainda que não tenha mais que a milésima
parte de um grão) seja depositado em uma das conchas da sua balança quando a
caixa estiver fechada à chave. E o químico pede que se introduza a milésima
parte de um grão de arsênico através das paredes de um tubo de vidro, no qual
está água pura hermeticamente fechada.
“O espiritualista fala das manifestações de uma força equivalente
a milhares de libras e que se produz sem causa conhecida. O homem de ciência,
que crê firmemente na conservação da força e que pensa que ela nunca se produz
sem um esgotamento correspondente de alguma coisa para substituí-la, pede que
as ditas manifestações se produzam no seu laboratório, onde ele as poderá
pesar, medir e submeter a seus próprios ensaios.”
18. Foi com esses sentimentos que Crookes enfrentou o
estudo dos fenômenos cujo exame, no seu entender, se impunha à ciência, sem que
ela pudesse protelar por mais tempo.
19. Logo depois de ter feito essa espécie de profissão de
fé científica, o autor acrescenta, em uma nota, a observação seguinte:
“Para ser justo a esse respeito, devo estabelecer que,
expondo estes intentos a vários espiritualistas eminentes e a médiuns entre os
mais dignos de confiança da Inglaterra, eles manifestaram perfeita confiança
nos êxitos da pesquisa, se fosse lealmente prosseguida do modo pelo qual
indiquei aqui, oferecendo-se para me ajudar com todo o poder ao seu alcance e
pondo à minha disposição as suas faculdades particulares. Até ao ponto aonde
cheguei, posso acrescentar que as experiências preliminares têm sido
satisfatórias.”
(1) O Espiritismo
(Faquirismo Ocidental), tradução portuguesa. Edição da Federação Espírita
Brasileira.
Respostas às
questões preliminares
A. Que contém
esta obra?
Ela apresenta os fatos espíritas que foram examinados
rigorosamente à luz da ciência por William Crookes, um dos mais eminentes
sábios do século 19, e por inúmeros outros investigadores dos fenômenos
mediúnicos, que, com justa razão, devem encher de júbilo os espiritualistas e
entristecer profundamente todos quantos, até então, só acreditavam na força e
na matéria. (Fatos Espíritas,
Prefácio de Oscar D´Argonnel.)
B. Quais foram
os sábios, além de Crookes, que pesquisaram os fatos espíritas?
Os fenômenos espíritas foram objeto de atenção no século 19
dos sábios mais ilustres do mundo, tais como Gully, Elliotson, Lodge, Challis,
Morgan, Wallace, Varley, Lombroso, Zöellner, Carl du Prel, Charles Richet,
Aksakof, Rochas e muitos outros. Físicos, químicos, matemáticos, astrônomos e
fisiologistas atestaram a realidade dos fatos do Espiritismo, o que representou
um golpe mortal na escola materialista. A existência da alma, que era
apresentada como um dogma de fé por todas as religiões e que a filosofia nos
mostrava por palavras, é hoje, graças ao Espiritismo, uma verdade científica.
(Obra citada, Prefácio de Oscar D´Argonnel.)
C. Os médiuns
deram a William Crookes o necessário apoio em suas pesquisas?
Sim. Ele próprio a isso se referiu seguinte nota: “Para ser
justo a esse respeito, devo estabelecer que, expondo estes intentos a vários
espiritualistas eminentes e a médiuns entre os mais dignos de confiança da
Inglaterra, eles manifestaram perfeita confiança nos êxitos da pesquisa, se
fosse lealmente prosseguida do modo pelo qual indiquei aqui, oferecendo-se para
me ajudar com todo o poder ao seu alcance e pondo à minha disposição as suas
faculdades particulares. Até ao ponto aonde cheguei, posso acrescentar que as
experiências preliminares têm sido satisfatórias.” (Obra citada, Introdução.)
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