Entrevista com D. José Amigó y Pellícer, mártir do
Espiritismo
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Hoje
resolvi entrevistar o elevado Espírito D. José Amigó y Pellícer, autor da obra Roma
e o Evangelho, a ser reeditada breve pela Federação Espírita Brasileira.
Jó:
— Quando e onde o Sr. e sua equipe, composta de clérigos, filósofos,
cientistas, resolveram investigar os fenômenos espíritas, e qual era a intenção
do grupo?
Pellícer:
— Foi em Lérida, na Catalunha, que começamos nosso trabalho, assim que as
informações sobre as manifestações mediúnicas provindas de Paris chegaram à
Espanha. A intenção inicial era a de desmascarar o movimento espírita iniciado,
oficialmente, em Paris com a publicação d'O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec. Imaginava-se, mesmo,
ridicularizar as teorias e fenômenos espíritas.
Jó:
— Que resultou dessas pesquisas?
Pellícer:
— Ao contrário de teorias ilógicas, superstições e falsa moral, deparamo-nos
com uma filosofia racional e lógica, que viria ratificar, com base nos fatos,
os elevados ensinamentos de Jesus. Então, fundamos o Círculo Cristiano-Espiritista, decididos a divulgar publicamente o
resultado de nossas pesquisas e continuar esses estudos e práticas sob o pálio
da ciência experimental.
Jó:
— O Sr. não pensou nas consequências dessa corajosa iniciativa, num tempo em
que a Igreja imperava sobre o Estado e impunha ao mundo sua doutrina?
Pellícer: — Sabia que viriam represálias, que do exercício de nossa convicção conscienciosa e do dever da publicação dos resultados de nossos trabalhos resultariam represálias, mas não nos podíamos calar. Sacrificamos tudo às verdades que nos eram reveladas. "Como os primeiros cristãos, tivemos a fé precisa para desenrolar o divino estandarte dos ensinos de Jesus, ainda que houvéssemos de sucumbir à sua gloriosa sombra".
Jó:
— E quais foram as já esperadas consequências da publicação do livro Roma e
o Evangelho, além de outros trabalhos no gênero?
Pellícer:
— Alguns
meses após publicada essa obra, o Ministro da Instrução Pública na Espanha,
marquês de Orovio, suspendeu D. Domingo de Miguel do cargo de Diretor da Escola
Normal de Lérida e a mim, segundo professor dessa escola, em virtude de nossas
opiniões filosófico-religiosas divulgadas no Círculo Cristiano-Espiritista.
Jó:
— Essa represália o fez desistir de lutar pela divulgação da nova revelação do
Cristo?
Pellícer:
— Pelo contrário, deu-me mais coragem para continuar os trabalhos já iniciados
com a fundação do Círculo Cristiano-Espírita, que se expandiu de modo
considerável, graças à adesão de grande número de espanhóis e o apoio de
estudiosos de mente aberta à nova revelação cristã.
Jó:
— Quais são suas palavras finais ao nosso leitor?
Pellícer:
— Repito o que disse em "Quatro palavras ao leitor":
Quando
censuramos, referindo-nos ao clero ou às autoridades da Igreja, deve isso ser
entendido como dirigido aos erros e abusos, nunca porém aos indivíduos ou classes; pois que, se nos julgamos
autorizados a censurar mistificações, direitos, não presumimos ter de condenar
os que porventura veem o bom uso no abuso — e a verdade no erro.
E
como poderíamos condenar, se o princípio capital da nossa Doutrina é a caridade
e o perdão?
Tudo
tem sua razão de ser — e tudo contribui e coopera para o cumprimento da Lei que
preside à Criação.
Moisés
não podia deixar de preceder a Jesus, porque o povo hebreu, então grosseiro,
material e prevaricador, não estava em condições de receber o Evangelho.
Tampouco
Jesus não ensinou tudo o que sabia, porque a geração do seu tempo não
suportaria o peso de todas as verdades (João, 16:12).
Por
isto, Ele serviu-se de alegorias e de parábolas que, se no momento se prestavam
a errôneas interpretações, mais tarde deveriam ser entendidas em seu verdadeiro
sentido.
Quem,
entretanto, poderá com razão acusar Moisés, pela dureza das suas leis, e Jesus,
por haver falado ou dito em linguagem obscura o que não convinha revelar?
A
inspiração e a palavra de Deus são sucessivas, e a humanidade vai recolhendo-as
à medida das suas necessidades.
Por
conseguinte, não podemos culpar a Igreja
Romana por erros que não são seus, mas, sim, da miséria dos tempos e da
ignorância das gerações que se têm sucedido após a morte de Jesus.
Julgamos
ter manifestado com bastante clareza os nossos pensamentos: tudo pela ideia —
nada contra as pessoas (PELLÍCER, J. A. y. In: Roma e o Evangelho. 8.
ed. FEB, 1995).
Jó:
— É verdade, Amigó, as palavras que Jesus disse que ainda tinha de nos
revelar, em sua época, não podiam ser ditas. Por isso, ele retornou, e, através
do Espírito de Verdade, que preside, em seu nome, o Espiritismo, volta ao mundo
atual, para, acima de todo preconceito, má vontade e perseguição humana,
permanecer conosco para sempre. Siga em paz e continue, onde estiver, sua bela
obra em nome do Cristo.
Pellícer:
— ¡Adiós, amigo, salud y paz!
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