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sexta-feira, 9 de julho de 2021

 



Fatos Espíritas


William Crookes


Parte 7

 

Damos prosseguimento nesta edição ao estudo metódico e sequencial do clássico Fatos Espíritas, de William Crookes, obra publicada em 1874, cujo título no original inglês é Researches in the phenomena of the spiritualism.

Nosso propósito é que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação ao estudo dos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. Quantas teorias foram propostas para explicar os fenômenos observados?

B. Qual é exatamente a diferença entre a sétima e a oitava teorias?

C. Em face de tantas suposições, o que parecia a Crookes indiscutível?

 

Texto para leitura

 

124. Teorias expostas para explicar os fenômenos observadosPrimeira teoria: Os fenômenos são todos resultantes de fraudes, de hábeis disposições mecânicas ou de prestidigitação; os médiuns são impostores e os assistentes são imbecis.

125. É evidente que essa teoria não pode explicar senão muito pequeno número de fatos observados. Admito de boa vontade que, entre os médiuns que têm aparecido diante do público, existam muitos impostores consumados, que se aproveitam do gosto do público para as sessões espíritas, a fim de encher a bolsa de dinheiro, ganho sem dificuldade; que haja outros que, não tendo para enganar nenhum interesse pecuniário, sejam levados à fraude pelo único desejo, parece, de adquirir notoriedade. Achei-me em presença de vários desses embustes: alguns eram muito engenhosos; outros eram tão grosseiros que não há uma pessoa testemunha de fenômenos reais que se deixasse enganar.

126. Um investigador desses gêneros de fatos que no começo de suas pesquisas encontra uma dessas burlas, desgosta-se e é natural que, ou em particular ou pela voz da imprensa, emita suas opiniões, e englobe na mesma condenação toda espécie de “médiuns”.

127. Com um médium verdadeiro acontece que os primeiros fenômenos que se observam parecem geralmente provenientes de ligeiros movimentos da mesa e de fracas pancadas sob os pés ou as mãos do médium; esses efeitos, concordo, são muito fáceis de imitar pelo médium ou por qualquer outra pessoa sentada à mesa.

128. Se, como acontece algumas vezes, não se produz nada, o observador céptico retira-se firmemente convencido de que, já tendo com a sua penetração sem igual descoberto que o médium enganava, este tem receio de praticar outras fraudes em sua presença. Escreverá, pois, aos jornais; explicará a fraude e, provavelmente, expandir-se-á em sentimentos de comiseração à vista do triste espetáculo de pessoas que, inteligentes em aparência, se deixam levar pelo erro que ele descobriu ao primeiro golpe de vista.

129. Há enorme diferença entre as sortes de um escamoteador de profissão que, cercado de aparelhos, auxiliado por certo número de pessoas ocultas e de comparsas, iludem pela destreza e ligeireza de mãos, em seu próprio teatro, e os fenômenos que se produzem em presença do Sr. Home, em plena luz, num aposento particular que, até ao começo da sessão, foi ocupado sem interrupção por mim e por meus amigos, que não somente não teriam favorecido a menor fraude, mas ainda observavam a distância tudo o que se passava.

130. Ainda mais: o Sr. Home foi muitas vezes examinado antes e depois das sessões, a seu próprio pedido. Durante as manifestações mais notáveis eu lhe segurava por vezes as mãos e colocava os meus pés sobre os seus. Não propus uma só vez modificar as disposições para tornar a fraude menos possível, sem que ele não consentisse imediatamente e, muitas vezes mesmo, chamou a atenção para os meios de controle que se podiam empregar.

131. Falo sobretudo do Sr. Home, porque tem muito mais força que os outros médiuns com os quais fiz experiências; mas com todos tomei precauções suficientes para que a fraude fosse riscada da lista das explicações possíveis.

132. Não podemos esquecer que uma explicação, para ser admissível, deve satisfazer a todas as condições do problema; não é lógico, pois, que uma pessoa, que talvez só tenha visto alguns fenômenos inferiores, diga: “suponho que tudo isso é burla”, ou mais: “tenho visto como essas peloticas podem ser executadas”.

133. Segunda teoria – As pessoas que assistem a uma sessão são vítimas de uma espécie de loucura ou de ilusão e se persuadem de que se produzem fenômenos que não existem realmente.

134. Terceira teoria – Tudo isso é o resultado da ação consciente e inconsciente do cérebro. Esta teoria e a precedente só podem, evidentemente, abraçar uma parte muito pequena dos fenômenos; e elas mesmas não os explicam senão de maneira improvável, podendo ser refutadas em poucas palavras.

135. Chego agora às teorias “espirituais”. É preciso lembrar que a palavra espírito é empregada em um sentido muito vago pelo maior número de pessoas.

136. Quarta teoria – Os fenômenos produzidos são resultantes do espírito do médium, que se associa talvez ao espírito de todas as pessoas presentes ou de algumas somente.

137. Quinta teoria – São devidos à ação dos maus espíritos, ou demônios, que se manifestam como querem e da maneira como lhes apraz, a fim de destruírem o Cristianismo e de perderem as almas dos homens.

138. Sexta teoria – São produzidos por certa classe de seres que vivem na Terra, mas imateriais, invisíveis aos nossos olhos, e todavia capazes, em certos casos, de manifestar a sua presença. Em todos os países e em todas as épocas, têm sido conhecidos sob o nome de gênios (o que não quer dizer que sejam necessariamente maus), gnomos, fadas, duendes, diabretes, anões etc.

139. Sétima teoria – As manifestações são devidas à intervenção dos mortos: é a teoria espiritual por excelência.

140. Oitava teoria – É a teoria da força psíquica, que é antes um complemento das teorias 4, 5, 6 e 7 do que uma teoria por si mesma. Segundo ela, supõe-se que o médium ou o círculo das pessoas reunidas para formar um todo possui uma força, um poder, uma influência, uma virtude ou um dom, por meio dos quais seres inteligentes podem produzir os fenômenos observados. Quanto ao que podem ser esses seres inteligentes, é matéria para outras teorias.

141. O que há de certo é que um médium possui uma qualquer coisa que um ser comum não possui. Dai um nome a essa qualquer coisa; chamai-lhe X, se quiserdes, embora o Sr. Serjeant Cox a denomine força psíquica.

142. Esses assuntos têm sido tão mal compreendidos que julgo acertado dar a explicação seguinte, servindo-me das próprias palavras do Sr. Serjeant Cox:

“A teoria da força psíquica nada mais é do que a simples verificação do fato quase indiscutível atualmente: o de que, em certas condições, ainda imperfeitamente fixadas e a certa distância ainda indeterminada, promana do corpo de certas pessoas, dotadas de uma organização nervosa especial, uma força que, sem o contato dos músculos ou do que a eles se ligue, exerce uma ação à distância, produz visivelmente o movimento de corpos sólidos e neles faz vibrar sons. Como a presença de uma tal organização é necessária à produção dos fenômenos, é razoável concluir que essa força procede desta organização por um meio ainda desconhecido. Assim como o próprio organismo é movido e dirigido interiormente por uma força que é a alma, ou é governado pela Alma, Espírito ou Inteligência (dai-lhe o nome que quiserdes) que constitui o ser individual a que chamamos homem; também é razoável concluir que a força que produz o movimento, além dos limites do corpo, é a mesma que o executa dentro dos seus limites. E, assim como se veem muitas vezes a força exterior dirigida por uma inteligência, também é razoável concluir que a inteligência que dirige a força exterior é a mesma que a governa interiormente. É a essa força que dei o nome de força psíquica, porque esse nome define bem a energia que, em minha opinião, tem sua fonte na Alma ou Inteligência do homem. Quase inteiramente de acordo com aqueles que adotam esta teoria da força psíquica, como sendo o agente pelo qual os fenômenos se produzem, eu não pretendo afirmar que tal força não possa ser algumas vezes captada e dirigida por alguma outra Inteligência que não seja a da força psíquica.”

143. Os mais fervorosos espiritualistas admitem em realidade a existência da força psíquica sob o nome de todo impróprio de magnetismo, com o qual ela não tem a menor relação, pois eles afirmam que os espíritos dos mortos não podem executar os atos que se lhes atribui senão por meio da força magnética do médium, isto é, dessa força psíquica.

144. A diferença entre os partidários da força psíquica e a do espiritualismo consiste nisto: – que sustentam aqueles não se ter ainda provado, senão de maneira insuficiente, que existe um outro agente de direção que não a inteligência do médium e que se trata dos espíritos dos mortos; ao passo que os espiritualistas aceitam como artigo de fé, sem pedir mais provas, que são os espíritos dos mortos os únicos agentes da produção de todos os fenômenos.

145. Assim, a controvérsia se reduz a uma pura questão de fato, que não se poderá resolver senão por laboriosa série de experiências e pela reunião de grande número de fatos psicológicos: será esse o primeiro dever que terá a cumprir a Sociedade de Psicologia atualmente em organização. (1) 

 

(1) Ao publicar em 1931 seu livro Animismo ou Espiritismo?, Ernesto Bozzano resolveu de vez essa questão, ao propor que há fatos espíritas e fatos anímicos; portanto, nem o Animismo nem o Espiritismo explicam, sozinhos, o conjunto dos fatos observados por pesquisadores do porte de William Crookes e outros.

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Quantas teorias foram propostas para explicar os fenômenos observados?

William Crookes menciona nesta obra oito teorias. A sétima teoria atribui as manifestações à intervenção dos mortos. É a teoria espiritual por excelência. A oitava teoria atribui as manifestações a uma força psíquica, sem associá-la necessariamente à intervenção dos Espíritos. (Fatos Espíritas – Teorias expostas para explicar os fenômenos observados.)

B. Qual é exatamente a diferença entre a sétima e a oitava teorias?

A diferença entre os partidários da força psíquica e a do espiritualismo consiste nisto: – os primeiros sustentam não se ter ainda provado, senão de maneira insuficiente, que existe um outro agente de direção que não a inteligência do médium e que se trata dos espíritos dos mortos; ao passo que os espiritualistas aceitam como artigo de fé, sem pedir mais provas, que são os espíritos dos mortos os únicos agentes da produção de todos os fenômenos. (Obra citada – Teorias expostas para explicar os fenômenos observados.)

C. Em face de tantas suposições, o que parecia a Crookes indiscutível?

Ele assim se expressou: “O que há de certo é que um médium possui uma qualquer coisa que um ser comum não possui. Dai um nome a essa qualquer coisa; chamai-lhe X, se quiserdes, embora o Sr. Serjeant Cox a denomine força psíquica". Essa qualquer coisa citada por Crookes é o que o Espiritismo chama de faculdade mediúnica. (Obra citada – Teorias expostas para explicar os fenômenos observados.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 6 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/07/blog-post_02.html

 

 


 

 

 

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