Fatos Espíritas
William Crookes
Parte 6
Damos prosseguimento nesta edição ao estudo metódico e sequencial do clássico Fatos Espíritas, de William Crookes, obra publicada em 1874, cujo título no original inglês é Researches in the phenomena of the spiritualism.
Nosso propósito é que este estudo
sirva para o leitor como uma forma de iniciação ao estudo dos chamados
Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas
encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. A suposta inteligência que produzia as manifestações deu
a William Crookes outras provas de sua existência e de sua presença no recinto?
B. Com Kate Fox também se produziam fenômenos de
transporte?
C. Que fenômeno produzido pelo Sr. Home intrigou de modo
especial o autor desta obra?
Texto para
leitura
105. Caso talvez mais surpreendente é
o seguinte: durante uma sessão com o Sr. Home, uma pequena régua atravessou a
mesa para vir a mim, em plena luz, e deu-me uma comunicação, batendo-me em uma
das mãos. Eu soletrava o alfabeto e a régua batia nas letras necessárias; a
outra extremidade da régua repousava na mesa, a certa distância das mãos do Sr.
Home.
106. As pancadas eram tão claras e tão
precisas e a régua estava tão evidentemente sob a influência de um poder
invisível que lhe dirigia os movimentos, que eu disse: “A inteligência que
dirige os movimentos desta régua pode mudar o caráter dos seus movimentos e
dar-me por meio de pancadas, em minha mão, uma comunicação telegráfica com o
alfabeto Morse?”
107. Tenho todos os motivos para crer
que o alfabeto Morse era inteiramente desconhecido das pessoas presentes e eu
mesmo não o conhecia perfeitamente. Mal acabei de pronunciar aquelas palavras,
o caráter das pancadas mudou; mas a comunicação continuou da maneira que eu
tinha pedido. As letras foram-me dadas rapidamente, de modo que não pude
apanhar senão uma ou outra palavra, e, por conseguinte, essa comunicação se
perdeu; mas eu tinha visto o bastante para convencer-me de que na outra
extremidade da régua havia um bom operador de Morse, qualquer que ele fosse.
108. Um outro exemplo: uma senhora
escrevia automaticamente por meio da prancheta; experimentei descobrir o meio
de provar que o que ela escrevia não era devido à ação inconsciente do cérebro.
A prancheta, como o fazia sempre, afirmava que, ainda que fosse posta em
movimento pela mão e pelo braço dessa senhora, a inteligência que a dirigia era
a de um ser invisível, que se servia do cérebro da senhora como de um
instrumento de música e fazia, assim, mover-lhe os músculos.
109. Estabeleceu-se, então, o seguinte
diálogo entre mim e essa inteligência:
– Vês o que há neste aposento?
– Sim – escreveu a prancheta.
– Vês este jornal e podes lê-lo? –
acrescentei, colocando o dedo sobre um número do Times que estava em uma mesa atrás de mim, mas sem olhá-lo.
– Sim – respondeu a prancheta.
– Bem – disse eu –, se podes vê-lo,
escreve a palavra que está agora coberta por meu dedo e dar-te-ei crédito.
A prancheta começou a mover-se
lentamente, e com alguma dificuldade escreveu a palavra “however”. Voltei-me e
vi que a palavra however estava
coberta pela extremidade do meu dedo.
110. Quando fiz essa experiência,
tinha evitado, de propósito, olhar para o jornal, sendo impossível à senhora,
embora o tentasse, ver uma só das palavras impressas, porque estava assentada
perto de uma mesa, além de que o jornal estava sobre outra, que se achava atrás
de mim, e o meu corpo interceptava-lhe a vista.
111. Manifestações diversas de caráter complexo – Sob esse título me
proponho fazer conhecer algumas das manifestações que, por causa do seu caráter
complexo, não podem ser classificadas diferentemente. Entre mais de doze fatos,
escolherei dois. O primeiro produziu-se em presença da Sra. Kate Fox e para
torná-lo inteligível é preciso que entremos em alguns pormenores.
112. A Sra. Fox tinha-me prometido dar
uma sessão em minha casa, numa noite de primavera do ano passado; enquanto eu a
esperava, uma senhora nossa parenta e os meus dois filhos mais velhos, um de
catorze anos e o outro de onze, achavam-se na sala de jantar, onde as sessões
sempre se realizavam, e eu mesmo me achava só na minha biblioteca, ocupado em
escrever.
113. Ouvindo uma carruagem parar e a
campainha tocar, abri a porta à Sra. Fox, e conduzi-a logo para a sala de
jantar, porque me disse ela que, não podendo demorar-se muito, não subiria.
Colocaram numa cadeira o seu chapéu e o xale. Dirigindo-me então para a porta
da sala de jantar, mandei que meus dois filhos fossem para a biblioteca estudar
as suas lições; fechei a porta, dei volta à chave e, conforme meu hábito
durante as sessões, meti a chave no bolso. Sentamo-nos.
114. A Sra. Kate Fox ficou à minha
direita e a outra senhora à esquerda. Recebemos logo uma comunicação alfabética
convidando-nos a apagar o gás; apagamo-lo, ficando em escuridão completa e
durante a qual mantive, em uma das minhas, as mãos da Sra. Fox. Quase no mesmo
instante uma comunicação nos foi dada nestes termos: “Vamos produzir um
fenômeno que vos dará a prova do nosso poder” e, quase imediatamente depois,
ouvimos todos o tilintar de uma campainha, não estacionária, mas que ia e vinha
de todos os lados, na sala: ora perto da parede, ora outra vez em um canto
distante; ora me tocava na cabeça, em seguida batia no soalho; depois de ter
assim soado, na sala, durante pelo menos cinco minutos, a campainha caiu sobre
a mesa, muito perto das minhas mãos.
115. Enquanto durou o fenômeno,
ninguém se moveu e as mãos da Sra. Fox ficaram perfeitamente imóveis. Eu
pensava que não podia ser a minha campainha que tocava, pois a tinha deixado em
minha biblioteca. (Pouco tempo antes da chegada da Sra. Fox, tive necessidade
de um livro, que se achava no canto de uma prateleira; a campainha estava sobre
o livro e eu a tinha posto de lado para poder retirá-lo. Esse pequeno incidente
me assegurava que a campainha estava na biblioteca.) O gás iluminava vivamente
o corredor para o qual dava a porta da sala de jantar, de tal maneira que essa
porta não podia abrir-se sem deixar a luz penetrar na sala onde nos achávamos;
ademais, para abri-la, havia só uma chave e eu a tinha no bolso.
116. Acendi uma vela. Não havia
dúvida; era realmente uma campainha que estava sobre a mesa, diante de mim. Fui
direto à biblioteca; de um relance vi que a campainha não estava mais onde
devia achar-se. Perguntei, então, a meu filho mais velho: – Sabes onde está minha
campainha? Meu filho respondeu: – Sim, papai, ei-la – e apontou o lugar onde eu
a tinha deixado.
117. Logo que pronunciou essas
palavras, ele levantou os olhos e continuou assim:
– Não, ela não está ali, mas estava há
bem pouco tempo.
– Que queres dizer? Que alguém veio
buscá-la?
– Não – disse ele –, ninguém entrou;
mas tenho certeza de que ela estava ali, porque logo que nos fizestes sair da
sala de jantar, a fim de virmos para aqui, J... (o mais moço de meus filhos)
começou a tocá-la com tanta força que eu não podia estudar minhas lições, e lhe
disse que parasse.
118. J..., meu outro filho, confirmou
essas palavras e acrescentou que depois de ter tocado a campainha a tinha
colocado no mesmo lugar.
119. O segundo caso verificou-se à
luz, em um domingo à noite, em presença do Sr. Home e de alguns membros de
minha família. Minha mulher e eu tínhamos passado o dia no campo e trouxemos de
lá algumas flores que havíamos colhido. Chegando a casa, entregamo-las à criada
para pô-las na água. O Sr. Home chegou logo depois e todos nos dirigimos para a
sala de jantar. Quando nos sentamos, a criada trouxe as flores que tinha posto
em um vaso; coloquei-as no meio da mesa, cuja toalha tinha sido retirada: era a
primeira vez que o Sr. Home via essas flores.
120. Depois de obtidas muitas
manifestações, a conversa veio cair sobre certos fatos que pareciam não se
poderem explicar senão admitindo que a matéria podia realmente passar através
de uma substância sólida. A esses propósitos a comunicação que se segue nos foi
dada alfabeticamente: “É impossível a matéria passar através da matéria, mas
vamos mostrar o que podemos fazer”.
121. Esperamos em silêncio; uma
aparição luminosa foi logo vista pairando sobre o ramalhete de flores; depois,
à vista de todos, uma haste de erva da China, de 15 polegadas de comprimento,
que ornamentava o centro do ramalhete, elevou-se lentamente do meio das outras
flores e, em seguida, desceu à mesa defronte do vaso, entre este e o Sr. Home;
chegando à mesa, essa haste não se demorou, mas atravessou-a em linha reta, e
todos a vimos muito bem até passar por completo.
122. Logo depois da desaparição da
erva, minha mulher, que estava sentada ao lado do Sr. Home, viu, entre ela e
ele, mão estranha que vinha de debaixo da mesa e que segurava a haste da erva
com a qual lhe bateu duas ou três vezes sobre os ombros, com um ruído que todos
ouviram; depois depositou a erva no soalho e desapareceu. Só duas pessoas viram
a mão, porém todos os assistentes perceberam o movimento da erva.
123. Enquanto isso se passava, podiam
todos ver as mãos do Sr. Home colocadas tranquilamente sobre a mesa, que estava
diante dele. O lugar em que a erva desapareceu ficava a 18 polegadas daquele em
que estavam as suas mãos; a mesa era uma das de sala de jantar, com molas,
abrindo-se por meio de um parafuso: não era elástica e a reunião das duas
partes formava uma estreita fenda no meio; foi através dessa fenda que a erva
passara; medi-a e achei que tinha apenas 1/8 de polegada de largura. A haste da
erva era demasiadamente grossa para que pudesse passar através da fenda sem se
quebrar; entretanto todos a tínhamos visto passar por ali, sem dificuldade,
docemente, e examinando-a em seguida, vimos que ela não oferecia a mais ligeira
marca de pressão ou de arranhão.
Respostas às
questões preliminares
A. A suposta inteligência que produzia as manifestações deu
a William Crookes outras provas de sua existência e de sua presença no recinto?
Sim. Uma dessas provas foi dada no
episódio que ele narrou assim: Crookes colocou o dedo sobre um exemplar do
jornal Times, que estava atrás dele,
numa mesa. Ele o fez sem olhar o jornal. Em seguida, pediu ao agente invisível
que escrevesse a palavra que ele encobria com o dedo. A prancheta moveu-se e
escreveu a palavra “however”. Crookes voltou-se e viu que a palavra however
estava coberta pela extremidade do seu dedo, e mesmo assim fora vista pela
inteligência invisível. (Fatos Espíritas
– Casos particulares parecendo indicar a ação de uma inteligência exterior.)
B. Com Kate Fox também se produziam fenômenos de
transporte?
Sim. Um dos casos ocorreu na própria
residência de William Crookes, na presença dele e de uma senhora sua parenta.
Kate Fox ficou à sua direita e a outra senhora à esquerda. Iniciada a sessão,
ouviu-se o tilintar de uma campainha, não estacionária, que ia e vinha de todos
os lados, na sala: ora perto da parede, ora outra vez em um canto distante; ora
o tocava na cabeça, em seguida batia no soalho. Depois de ter assim soado, na
sala, durante pelo menos cinco minutos, a campainha caiu sobre a mesa, muito
perto das suas mãos. Enquanto durou o fenômeno, ninguém se moveu e as mãos da
Sra. Fox ficaram perfeitamente imóveis. A campainha estava, antes do fenômeno,
na biblioteca de Crookes, em cima de um livro, e fora vista por ele e por dois
filhos que estudavam naquela oportunidade naquele recinto. (Obra citada –
Manifestações diversas de caráter complexo.)
C. Que fenômeno produzido pelo Sr. Home intrigou de modo
especial o autor desta obra?
O fato ocorreu em plena luz, num
domingo à noite, com presença de vários membros da família de Crookes. Depois
de obtidas muitas manifestações, a conversa veio cair sobre certos fatos que
pareciam não se poderem explicar senão admitindo que a matéria podia realmente
passar através de uma substância sólida. A esse propósito a comunicação que se
segue foi dada alfabeticamente: “É impossível a matéria passar através da
matéria, mas vamos mostrar o que podemos fazer”. Pouco depois uma aparição
luminosa foi vista pairando sobre um ramalhete de flores. Em seguida, à vista
de todos, uma haste de erva da China, de 15 polegadas de comprimento, que
ornamentava o centro do ramalhete, elevou-se lentamente do meio das outras
flores e, em seguida, desceu à mesa defronte do vaso, entre este e o Sr. Home.
Chegando à mesa, essa haste atravessou-a em linha reta, e todos a viram muito
bem até passar por completo. Logo depois da desaparição da erva, a mulher de
Crookes, que estava sentada ao lado do Sr. Home, viu, entre ela e ele, uma mão
estranha que vinha de debaixo da mesa e segurava a haste da erva com a qual lhe
bateu duas ou três vezes sobre os ombros, com um ruído que todos ouviram;
depois depositou a erva no soalho e desapareceu. (Obra citada – Manifestações
diversas de caráter complexo.)
Observação:
Para acessar a Parte 5 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/06/blog-post_25.html
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