A Gênese
Allan Kardec
Parte 15
Continuamos o estudo metódico do livro “A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 36ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira, conforme tradução feita por Guillon Ribeiro.
Este estudo é publicado sempre às
quintas-feiras.
Eis as questões de hoje:
113. O "paraíso
terrestre" referido na Bíblia significa o quê, de acordo com o ensino
espírita?
O paraíso terrestre simboliza a figura do mundo ditoso onde vivera o
grupo de Espíritos que Adão e Eva personificam. A expulsão do paraíso marca o
momento em que esses Espíritos vieram encarnar entre os habitantes do mundo
terráqueo e a mudança de situação foi a consequência da expulsão. (A Gênese, cap. XII, item 23.)
114. Que ensinamento
podemos colher do relato da fuga de Caim e de seu casamento numa cidade
distante?
Segundo o relato bíblico, tendo-se retirado para outra região depois de
haver assassinado o irmão, Caim não tornou a ver seus pais, que de novo ficaram
isolados. Só muito mais tarde, na idade de 130 anos, foi que Adão teve um
terceiro filho, que se chamou Seth. Quando, pois, Caim foi estabelecer-se a
leste do Éden, somente havia na Terra três pessoas: seu pai, sua mãe e ele,
sozinho. Entretanto, Caim teve mulher e um filho. Que mulher podia ser essa e
onde pudera ele desposá-la? O texto hebreu diz que ali ele construiu uma cidade
em homenagem ao seu primeiro filho. Ora, uma cidade pressupõe a existência de
habitantes, visto não ser de presumir que Caim a fizesse para si, sua mulher e
seu filho, nem que a pudesse edificar sozinho. Dessa narrativa podemos, assim,
inferir que a região era povoada. Aliás, a presença de outros habitantes, além
da família de Adão, ressalta igualmente destas palavras de Caim: «Serei
fugitivo e vagabundo e quem quer que me encontre matar-me-á» e da resposta que
Deus lhe deu. Quem poderia ele temer que o matasse e que utilidade teria o
sinal que Deus lhe pôs para preservá-lo de ser morto, uma vez que ele a ninguém
iria encontrar? Uma única conclusão, então, se nos afigura razoável: - Se havia
na Terra outros homens afora a família de Adão, é que esses homens aí estavam
antes dele, donde se deduz esta consequência, tirada do texto mesmo da Gênese:
Adão não foi nem o primeiro, nem o único pai do gênero humano. (Obra citada,
cap. XII, item 25.)
115. Que significa o
vocábulo milagre, em seu verdadeiro sentido etimológico, e quais os seus
caracteres?
Na acepção etimológica, a palavra milagre (de mirari, admirar) significa admirável, coisa extraordinária,
surpreendente. A Academia definiu-a deste modo: Um ato do poder divino
contrário às leis da Natureza, conhecidas. Na acepção usual, portanto, essa
palavra perdeu, como tantas outras, a significação primitiva. De geral que era,
tornou-se de aplicação restrita a uma ordem particular de fatos. No entender
das massas, um milagre implica a ideia de um fato extranatural; no sentido
teológico, é uma derrogação das leis da Natureza, por meio da qual Deus
manifesta seu poder. Tal, com efeito, a acepção vulgar, que se tornou o sentido
próprio, de modo que só por comparação e por metáfora a palavra se aplica às
circunstâncias ordinárias da vida. (Obra citada, cap. XIII, itens 1 e 2.)
116. Que ensina o
Espiritismo acerca dos fatos ditos milagrosos?
O Espiritismo nos mostra que os fatos ditos milagrosos fazem parte da
própria Natureza e que, portanto, o milagre e o sobrenatural não existem. Longe
de ampliar o domínio do sobrenatural, o Espiritismo o restringe até os seus
limites extremos e lhe arrebata o último refúgio. Se é certo que ele faz crer
na possibilidade de alguns fatos, não menos certo é que, por outro lado, impede
a crença em diversos outros, porque demonstra, no campo da espiritualidade, o
que é possível e o que não o é. Todavia, como não alimenta a pretensão de haver
dito a última palavra seja sobre o que for, nem mesmo sobre o que é de sua
competência, ele não se apresenta como absoluto regulador do possível e deixa
de parte os conhecimentos que estão, obviamente, reservados para o futuro. (Obra
citada, cap. XIII, itens 4 e 8.)
117. Em que consistem os
fenômenos espíritas?
Os fenômenos espíritas consistem nos diferentes modos pelos quais se dá a
manifestação dos Espíritos – estejam encarnados ou desencarnados, isto é,
libertos do corpo físico. É pelas manifestações que produz que o Espírito ou
alma revela sua existência, sua sobrevivência e sua individualidade. Julga-se
dela pelos seus efeitos e são esses efeitos que constituem o objeto especial
das pesquisas e do estudo do Espiritismo, a fim de chegar-se a um conhecimento
tão completo quanto possível da natureza e dos atributos dos Espíritos, bem como
das leis que regem o princípio espiritual.
Os fenômenos espíritas são as mais das vezes espontâneos e se produzem
sem nenhuma ideia preconcebida de parte das pessoas com quem eles se dão e que,
em regra, são as que neles menos pensam. Alguns há que, em certas
circunstâncias, podem ser provocados pelos agentes denominados médiuns. No
primeiro caso, o médium é inconsciente do que é produzido por seu intermédio;
no segundo, age com conhecimento de causa, donde a classificação de médiuns
conscientes ou voluntários e médiuns inconscientes ou involuntários. (Obra
citada, cap. XIII, itens 9 e 13.)
118. Qual a variedade de
médiuns mais numerosa?
Os médiuns inconscientes ou involuntários são os mais numerosos e, com
frequência, encontrados entre os mais obstinados incrédulos, que praticam,
assim, o Espiritismo sem querer e sem o saber. (Obra citada, cap. XIII, item
12.)
119. Deus faz
milagres?
Não, Deus não faz milagres, porque, sendo perfeitas suas leis, não lhe é
necessário derrogá-las. Entendemos que, não sendo necessários os milagres para
a glorificação de Deus, nada no Universo se produz fora do âmbito das leis
gerais. Claro que, nada sendo impossível ao Criador, ele pode, sim, fazer
milagres. Mas por que os faria? Para atestar o seu poder, dizem. Mas o poder de
Deus não se manifesta de maneira muito mais imponente pelo grandioso conjunto
das obras da Criação, pela sábia previdência que essa criação revela, assim nas
partes mais gigantescas como nas menores, e pela harmonia das leis que regem o
mecanismo do Universo, do que por algumas pequeninas e pueris derrogações? (Obra
citada, cap. XIII, itens 15 e 16.)
120. O sobrenatural é o
fundamento de toda religião, inclusive do Cristianismo?
Se é, não deveria ser. Pretender que o sobrenatural seja o fundamento de
toda religião, que ele é o fecho da abóbada do edifício cristão, é sustentar
perigosa tese. Assentar exclusivamente as verdades do Cristianismo sobre a base
do maravilhoso é dar-lhe fraco alicerce, cujas pedras facilmente se soltam.
Essa tese, de que se constituíram defensores eminentes teólogos, leva-nos à
conclusão de que, em breve tempo, já não haverá religião possível, nem mesmo a
cristã, desde que se chegue a demonstrar que é natural o que antes se
considerava sobrenatural. O Espiritismo considera de um ponto mais elevado a
religião cristã; dá-lhe base mais sólida do que a dos milagres, ou seja, as
imutáveis leis de Deus, a que obedecem tanto o princípio espiritual como o
princípio material. (Obra citada, cap. XIII, item 18.)
Observação: Para acessar
a Parte 14 deste estudo, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/10/a-genese-allan-kardec-parte-14.html
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