A Gênese
Allan Kardec
Parte 14
Continuamos o estudo metódico do livro “A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 36ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira, conforme tradução feita por Guillon Ribeiro.
Este estudo é publicado sempre às
quintas-feiras.
Eis as questões de hoje:
105. Adão é o pai da
espécie humana?
Não. Adão não pode ser considerado o pai da espécie humana. De acordo com
o ensino dos Espíritos, foi uma colônia de Espíritos, vindos de outra esfera,
que deu origem à raça simbolizada na pessoa de Adão e, por essa razão mesma,
chamada raça adâmica. Quando eles aqui chegaram, a Terra já estava povoada desde
tempos imemoriais, como a América, quando aí chegaram os europeus. Mais
adiantada do que as que a tinham precedido neste planeta, a raça adâmica foi,
com efeito, a mais inteligente e a que impeliu ao progresso todas as outras. O
Gênesis no-la mostra, desde os seus primórdios, industriosa, apta às artes e às
ciências, pois na verdade ela se compunha de Espíritos que já tinham progredido
bastante. Como sabemos, segundo o Gênesis, Adão e seus descendentes, desde a
segunda geração, constroem cidades, cultivam a terra, trabalham os metais, e
são rápidos e duradouros seus progressos nas artes e nas ciências.
A raça adâmica apresenta todos os caracteres de uma raça proscrita. Os
Espíritos que a integram foram exilados para a Terra, já povoada de homens
primitivos, imersos na ignorância, que aqueles tiveram por missão fazer
progredir, levando-lhes as luzes de uma inteligência desenvolvida. Sua
superioridade intelectual prova que o mundo donde vieram os Espíritos que a
compõem era mais adiantado do que a Terra. Havendo entrado aquele mundo em uma
nova fase de progresso e não tendo tais Espíritos querido, pela sua obstinação,
colocar-se à altura desse progresso, foram, em consequência, desterrados de lá
e substituídos por outros que isso mereceram. (A Gênese, cap. XI, itens 38 a 41 e 45.)
106. Como os mundos
progridem?
Os mundos progridem, fisicamente, pela elaboração da matéria e,
moralmente, pela purificação dos Espíritos que os habitam. Sua felicidade está
na razão direta da predominância do bem sobre o mal, e a predominância do bem
resulta do adiantamento moral dos Espíritos. (Obra citada, cap. XI, itens 43 a
45.)
107. Como o Espiritismo
explica a doutrina dos "anjos decaídos" e a "perda do
paraíso"?
São duas alegorias, que têm sua origem nas emigrações coletivas de
Espíritos para mundos inferiores àqueles que habitavam anteriormente, conforme
se deu com a chamada raça adâmica. Que serão tais seres, entre essas outras
populações ainda na infância da barbárie, senão anjos ou Espíritos decaídos?
Não é, precisamente, para eles, um paraíso perdido o mundo de onde foram
expulsos? Esse mundo não lhes era um lugar de delícias, em comparação com o
meio ingrato onde passaram a viver? (Obra citada, cap. XI, itens 43 a 49.)
108. Considerando que a
Gênese mosaica e a ciência não estão de pleno acordo entre si, qual é a causa
dos erros manifestos existentes na Gênese mosaica?
A causa principal desses erros é uma só: a Gênese mosaica reflete o
pensamento do seu autor, que, evidentemente, baseou-se nas ideias cosmogônicas
da época em que viveu. Já a ciência, valendo-se do método experimental, não se
funda em ideias preconcebidas mas, sim, na comprovação. (Obra citada, cap. XII,
itens 3, 4, 9 e 10.)
109. Que significa a
alegoria da mulher sendo formada de uma costela de Adão?
Essa alegoria, aparentemente pueril se admitida ao pé da letra, mas
profunda quanto ao sentido, tem por fim mostrar que a mulher é da mesma
natureza que o homem e igual a ele perante Deus e não uma criatura à parte,
feita para ser escravizada e tratada como uma pessoa de ínfima condição.
Tendo-a como saída da própria carne do homem, a imagem da igualdade é bem mais
expressiva do que se ela fora tida como formada, separadamente, do mesmo limo.
Equivale a dizer ao homem que ela é sua igual e não sua escrava, que ele a deve
amar como parte de si mesmo. (Obra citada, cap. XII, item 11.)
110. Tendo em vista os
erros contidos na Gênese mosaica, o Espiritismo propõe-nos que a
rejeitemos?
Não. Não devemos rejeitá-la, mas estudá-la, como se estuda a história da
infância dos povos. Trata-se de uma época rica de alegorias, cujo sentido
oculto se deve pesquisar, as quais se devem comentar e explicar com o auxílio
das luzes da razão e da ciência. Evidentemente, no mesmo passo que devemos
ressaltar suas belezas poéticas e seus ensinamentos velados pela forma
imaginosa, cumpre se lhe apontem expressamente os erros, no próprio interesse
da religião. Esta será muito mais respeitada quando esses erros deixarem de ser
impostos à fé como verdade, e Deus parecerá maior e mais poderoso quando não
lhe envolverem o nome em fatos de pura invenção. (Obra citada, cap. XII, item
12.)
111. Que falta tão
grande cometida por Adão e Eva acarretou a punição de todos os seus
descendentes?
Nenhum teólogo a pôde definir logicamente, porque todos, apegados à
letra, giraram dentro de um círculo vicioso. Sabemos hoje que essa falta não
foi um ato isolado, pessoal, de um indivíduo, mas que compreende, sob um único
fato alegórico, o conjunto das prevaricações de que a Humanidade da Terra,
ainda imperfeita, pode tornar-se culpada e que se resumem nisto: infração da
lei de Deus. Eis por que a falta do primeiro homem, simbolizando este a
Humanidade, tem por símbolo um ato de desobediência. Mas o que constitui para a
Teologia um beco sem saída, o Espiritismo o explica sem dificuldade e de
maneira racional, pela anterioridade da alma e pela pluralidade das
existências, lei sem a qual tudo é mistério e anomalia na vida do homem.
Admitamos que Adão e Eva já tivessem vivido e tudo logo se justifica.
Deus não lhes fala como a crianças, mas como a seres em estado de o
compreenderem e que o compreendem, porque trazem aquisições anteriormente
realizadas. Admitamos, ainda, que hajam vivido em um mundo mais adiantado e
menos material do que o nosso, onde o trabalho do Espírito substituía o do
corpo; que, por se haverem rebelado contra a lei de Deus, figurada na
desobediência, tenham sido afastados de lá e exilados, por punição, para a
Terra, onde o homem, pela natureza do globo, é constrangido a um trabalho
corporal, e reconheceremos que a Deus assistia razão para lhes dizer: «No mundo
onde, daqui em diante, ides viver, cultivareis a terra e dela tirareis o
alimento, com o suor da vossa fronte»; e, à mulher: «Parirás com dor», porque
tal é a condição do nosso mundo, especialmente naquela época.
O paraíso terrestre, cujos vestígios têm sido inutilmente procurados na
Terra, era, por conseguinte, a figura do mundo ditoso onde vivera Adão, ou,
antes, o grupo de Espíritos que ele personifica. A expulsão do paraíso marca o
momento em que esses Espíritos vieram reencarnar entre os habitantes do mundo
terráqueo e a mudança de situação foi a consequência da expulsão. (Obra citada,
cap. XII, itens 19 a 23.)
112. De acordo com o
Espiritismo, Adão e Eva representam que tipo de povo?
Adão e Eva simbolizam um grupo de Espíritos que, por se haverem rebelado
contra a lei de Deus, foram exilados para o nosso planeta, fato que deu origem
a várias alegorias como a perda do paraíso, a doutrina dos anjos decaídos e
aquele que a Igreja mais tarde estabeleceu como dogma – o pecado original.
Punidos por sua rebeldia, eles expiaram na Terra seus erros e, ao mesmo tempo,
contribuíram para o progresso material e intelectual do planeta. (Obra citada, cap.
XII, itens 22 e 23.)
Observação: Para acessar
a Parte 13 deste estudo, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/10/a-genese-allan-kardec-parte-13.html
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