CINCO-MARIAS
Hora da história
EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
Livros não mudam o mundo, quem muda são as pessoas. Os livros só mudam
as pessoas. Mario Quintana
A criança estabelece uma relação imaginativa com o mundo a partir do
terceiro ano de vida. Essa relação persiste até, mais ou menos, os nove anos de
idade. Essa é a época apropriada aos contos de fadas, o contato regular com
conteúdos da literatura infantil que oferecem valores fundamentais à criança.
Acalentada pela voz do narrador (o pai ou a mãe), a criança que ouve
história tem linguagem e pensamento estimulados, despertando para o bem e o
belo, as forças morais: a coragem, a responsabilidade, a solidariedade, o senso
de justiça, a honestidade. Em cada conto, um ato aparentemente banal pode, por
exemplo, ser marcado por uma imensa generosidade:
“Assim que acordou, Elisa deixou a caverna e foi em busca das
urtigas. As folhas queimavam seus dedos ao colhê-las, mas ela não chorou, não
gritou, nem mesmo sussurrou um ai.” (*)
Nos dias de hoje, entre aceleração e ruído da tecnologia, a hora
da história é essencial para o bem-estar das crianças. Ouvir histórias
lhes estimula fantasia criativa, instrução e memória. Porque os enredos são
organizados de forma que conteúdos emocionais, por exemplo, possam ser
inferidos das ações dos personagens, o que favorece a construção da ética e da
cidadania nas crianças, embasando o caráter, a confiança na força do bem, o
entendimento sobre as nuances do mal.
Cinderela, Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho e
tantos outros personagens de contos de fadas nos acompanham desde as nossas
impressões de infância. São parte integrante de nossa cultura e formação como
leitores e, portanto, aptos a promover a nossa capacidade de imaginação, nosso
amor pelo livro, segundo um elaborar gradativo do pensar livre e crítico.
Toda criança tem direito à antologia dos Irmãos Grimm, às narrativas de
Hans Christian Andersen, e demais narrativas pertinentes à infância, porque os
contos de fadas tratam de valores e sentimentos humanos universais, ensinam que
o altruísmo não é ingenuidade, sinalizando que o egoísmo nunca nos levará à
felicidade...
Afortunada a criança que ouve histórias.
Abraços, uma alegre semana!
Notinha
Crie para o seu filho a "hora da história". Se na escola um
bom horário é após o recreio, em casa a hora ideal pode ser antes de a criança
dormir. Dê livros nos aniversários e em outras datas comemorativas. Leve seu
filho para passear em livrarias, para visitar bibliotecas. Estimule feira de
livros usados nas escolas, no bairro, nas instituições diversas, no município.
Afinal, “quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê”, já avisou Monteiro
Lobato de modo prudente.
*Cf. Os Cisnes Selvagens. In: Minhas
histórias de Andersen. Matheus, Andrew; Snow, Alan. Tradução de Eduardo
Brandão. SP: Cia das Letrinhas, 2012, p. 62.
*
Esta seção, cuja estreia neste blog ocorreu no dia 6 de janeiro deste
ano, traz sempre textos dedicados à infância, seus cuidados, sua educação. O
título – Cinco-marias – é uma alusão a um conhecido brinquedo
que integra um conjunto de brincadeiras e
atividades lúdicas conceituadas como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta
floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em
Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto Plantarum,
colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim Botânico
Plantarum (Nova Odessa-SP).
Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em
Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), está concluindo em São Paulo a
formação em Psicanálise.
Ministra cursos e palestras sobre educação ambiental
em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.
Seu contato no Instagram é @eugeniapickina
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