A ciência espírita
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Bom dia, amigos!
No ano passado, concluí um estágio pós-doutoral
cultural na Universidade Estadual da Bahia, Campus II – Alagoinha. Título do meu
projeto: Clamores de Cruz e Sousa: arte daqui e d’além dum (ex-)emparedado, aprovado após memoráveis e boas lives dialógicas com o cultíssimo
coordenador à época, que, desde o início do curso, admiro e prezo como amigo.
Osmar é defensor radical do materialismo, cujas ideias defendo até a morte,
como recomenda Voltaire, ainda que não concorde com elas, pois o Espiritismo é minha praia
predileta. Por seu lado, ainda que ele também discorde de minhas ideias, sempre
as respeitou, o que muito lhe agradeço. Reforço, portanto, que o Espiritismo
não violenta as ideias de ninguém, seja as dos ateus ou as de adeptos doutras
crenças.
Por falar acima em lives dialógicas,
faço aqui um parêntese: o criador do dialogismo foi o russo Mikhail Bakhtin
(1895-1975), que é muito exaltado em determinados cursos acadêmicos. Uma colega
acadêmica, entretanto, há poucos dias
ficou espantada com a citação que lhe fiz sobre a obra intitulada Bakhtin
desmascarado, de Jean-Paul Bronckart e Cristian Bota, São Paulo: Parábola,
2012, que comprei na extinta Livraria Cultura, em Brasília, DF. Nada contra o
teórico, acusado de plágio nessa obra, mas lembro aqui uma recomendação do
espírito Erasto, que está n'O livro dos médiuns, cap. 20, item 230:
"Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só
teoria errônea".
Em capítulo de minha obra final,
proposta por Osmar, anoto que Allan Kardec ressalta que o Espiritismo nunca se
propôs substituir qualquer religião, pois não é religião, como é entendido o
conceito usual de religiosidade. É filosofia de consequências morais,
plenamente de acordo com o que pregou e exemplificou Jesus, e é ciência
experimental e de observação.
Como ciência, possui métodos
próprios, tais como os possuem as diversas ciências humanas. Sua teoria adota o
método experimental e da observação dos fatos. É filosofia por tirar conclusões
morais decorrentes dos fatos repetidamente observados. Como disse um dos muitos
espíritos superiores a Allan Kardec e este anota no capítulo 19, item 12 d'O
Evangelho Segundo o Espiritismo:
No homem, a fé é o sentimento inato de seus
destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas
depositadas em germe no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe
cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação de sua vontade.
Até o presente, a fé não foi compreendida senão
pelo lado religioso, porque o Cristo a preconizou como poderosa alavanca e
porque o têm considerado apenas como o chefe de uma religião.
Allan Kardec, portanto, sempre
deixou muito clara a sua ideia de que o Espiritismo não é religião e, sim,
Filosofia espiritualista com base no Cristianismo. Não adota o sacerdócio
organizado, não pratica rituais, não utiliza incensos, vestes sacerdotais e não
cobra dízimos aos que assistem suas reuniões. Sua moral deriva dos ensinamentos
das entidades espirituais, atestadamente presentes em suas diversas
manifestações.
Kardec publicou, após longo estudo e
experimentação, cinco obras, conhecidas como pentateuco kardequiano, além da Revista
Espírita, publicada por ele de
1858 a 1869, quando desencarnou. No estudo dessas obras, verificamos que os
fenômenos mediúnicos não podem ser reproduzidos em laboratório, pois não dependem
da nossa vontade e sim da entidade desencarnada querer e poder manifestar-se a nós. Em vista disso,
Kardec reiterou, em diversas ocasiões, que o Espiritismo não é uma ciência
baseada nos fenômenos materiais reproduzidos em laboratório, como ocorre com a
química e a biologia. É a ciência do espírito, que nos instrui sobre as consequências
morais de nossos atos. O Espiritismo, portanto, embora possa ser visto como
tal, não é religião constituída, ou seja, não se baseia em trabalho
remunerado e demais características das demais religiões, como expus acima.
Seus adeptos e médiuns nada cobram por seus trabalhos, obedientes à
recomendação de Jesus de oferecer de graça o que de graça recebemos, que é a
iluminação interior, a elevação moral, a prática da caridade, em suma, nosso
objetivo é a evolução espiritual, para cujo fim apenas nos basta o necessário
em recursos materiais.
Entre outros notáveis esclarecimentos, Kardec
informa-nos o seguinte, sobre o caráter da revelação espírita, em A gênese, capítulo 1, item 7:
No sentido especial da fé religiosa, a revelação se
diz mais particularmente das coisas espirituais que o homem não pode descobrir
por meio da inteligência, nem com o auxílio dos sentidos; e esse conhecimento
lhe dão Deus ou seus mensageiros, quer por meio da palavra direta, quer pela
inspiração.
E ainda na obra citada acima, item 13, diz o codificador do Espiritismo que: "Numa
palavra, o que caracteriza a revelação espírita é ser divina a sua origem e da
iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem".
Daí concluirmos que a metodologia da ciência
espírita, ciência do espírito, também com base na observação dos fenômenos
naturais pouco conhecidos de grande número de pesquisadores, é idêntica ao método experimental das
ciências positivas, mas o objeto primacial não é a matéria e, sim, o espírito. Por
isso, diz Allan Kardec, no item 14 desse capítulo: “Fatos novos se apresentam
que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; o Espiritismo os observa,
compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege;
depois, deduz-lhes as consequências e busca as aplicações úteis.”
O Espiritismo é, pois, uma "ciência de
observação e não produto da imaginação", pois contrariamente ao que
imaginava a ciência materialista, o método experimental também se aplica aos
conhecimentos metafísicos, diz o mestre lionês, como é também conhecido Kardec,
que nasceu em Lyon, na França.
Por fim, no item 16 desse capítulo, ele acrescenta:
“Assim como a ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do
princípio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis
do princípio espiritual.”
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