Enquanto a Mãe cantar junto a um bercinho haverá esperança
ASTOLFO
O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De
Londrina-PR
Honrar
pai e mãe não consiste apenas em respeitá-los. É também assisti-los,
proporcionar-lhes repouso na velhice, cercá-los de cuidados como eles fizeram
conosco na infância. Nós, os filhos, não devemos a nossos pais apenas o
estritamente necessário, mas igualmente, na medida do que pudermos, os pequenos
nadas, ainda que supérfluos, as solicitudes, os cuidados amáveis...
E
neste dia especial em que todos festejamos o Dia das Mães, enviamos a elas nossa
singela homenagem sintetizada em dois textos que enaltecem com inteira justiça
o que a Mãe significa em nossa vida.
O
primeiro, de autoria de Don Ramon Angel Lara, intitula-se Retrato de Mãe:
“Uma
simples mulher existe que, pela imensidão de seu amor, tem um pouco de Deus; e
pela constância de sua dedicação, tem muito de anjo; que, sendo moça, pensa
como uma anciã e, sendo velha, age com as forças todas da juventude; quando
ignorante, melhor que qualquer sábio desvenda os segredos da vida e, quando
sábia, assume a simplicidade das crianças; pobre, sabe enriquecer-se com a
felicidade dos que ama, e rica, empobrecer-se para que seu coração não sangre
ferido pelos ingratos; forte, no entanto estremece ao choro de uma criancinha,
e fraca, entretanto se alteia com a bravura dos leões; viva, não lhe sabemos
dar valor porque à sua sombra todas as dores se apagam, e morta, tudo o que
somos e tudo o que temos daríamos para vê-la de novo e dela receber um aperto
de seus braços, uma palavra de seus lábios.
Não
exijam de mim que diga o nome dessa mulher, se não quiserem que ensope de
lágrimas este álbum, porque eu a vi passar no meu caminho.
Quando
crescerem seus filhos, leiam para eles esta página. Eles lhes cobrirão de beijos
a fronte, e dirão que um pobre viandante, em troca da suntuosa hospedagem
recebida, aqui deixou para todos o retrato de sua própria Mãe.”
O
segundo, de autoria de Giuseppe Ghiaroni, é o belo e conhecido poema intitulado
Dia das Mães:
Mãe,
volto a te ver na antiga sala
Onde
uma noite te deixei sem fala
Dizendo
adeus como quem vai morrer.
E
tu me viste sumir pela neblina,
Porque
a sina das mães é esta sina:
Amar,
cuidar, criar, depois... perder.
Perder
o filho é como achar a morte.
Perder
o filho quando, grande e forte,
Já
podia ampará-la e compensá-la.
Mas
nesse instante uma mulher bonita,
Sorrindo,
o rouba; e a velha mãe aflita
Ainda
se volta para abençoá-la.
Assim
parti, e nos abençoaste.
Fui
esquecer o bem que me ensinaste,
Fui
para o mundo me deseducar.
E
tu ficaste num silêncio frio,
Olhando
o leito que eu deixei vazio,
Cantando
uma cantiga de ninar.
Hoje
volto coberto de poeira
E
te encontro quietinha na cadeira,
A
cabeça pendida sobre o peito.
Quero
beijar-te a fronte, e não me atrevo.
Quero
acordar-te, mas não sei se devo,
Não
sinto que me cabe este direito...
O
direito de dar-te este desgosto,
De
te mostrar nas rugas do meu rosto
Toda
miséria que me aconteceu.
E
quando vires a expressão horrível
Da
minha máscara irreconhecível,
Minha
voz rouca murmurar: “Sou eu!”.
Eu
bebi na taberna dos cretinos,
Eu
brandi o punhal dos assassinos,
Eu
andei pelo braço dos canalhas.
Eu
fui jogral em todas as comédias,
Eu
fui vilão em todas as tragédias,
Eu
fui covarde em todas as batalhas.
Eu
te esqueci: as mães são esquecidas.
Vivi
a vida, vivi muitas vidas,
E
só agora, quando chego ao fim,
Traído
pela última esperança,
E
só agora quando a dor me alcança
Lembro
quem nunca se esqueceu de mim.
Não!
Devo voltar, ser esquecido.
Mas...
que foi? De repente ouço um ruído;
A
cadeira rangeu, é tarde agora!
Minha
mãe se levanta abrindo os braços
E,
me envolvendo num milhão de abraços,
Rendendo
graças, diz “Meu filho!”, e chora.
E
chora e treme como fala e ri,
E
parece que Deus entrou aqui,
Em
vez do último dos condenados.
E o
seu pranto rolando em minha face
Quase
é como se o céu me perdoasse,
Me
limpasse de todos os pecados.
Mãe!
Nos teus braços eu me transfiguro.
Lembro
que fui criança, que fui puro...
Sim,
tenho mãe! E esta ventura é tanta
Que
eu compreendo o que significa:
O
filho é pobre, mas a mãe é rica!
O
filho é homem, mas a mãe é santa!
Santa
que eu fiz envelhecer sofrendo,
Mas
que me beija como agradecendo
Toda
a dor que por mim lhe foi causada.
Dos
mundos onde andei nada te trouxe,
Mas
tu me olhas num olhar tão doce
Que,
nada tendo, não te falta nada.
Dia
das Mães é o dia da bondade
Maior
que todo o mal da humanidade
Purificada
num amor fecundo.
Por
mais que o homem seja um ser mesquinho,
Enquanto
a Mãe cantar junto a um bercinho
Cantará
a esperança para o mundo!
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