CINCO-MARIAS
Amor inteligente
EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
A educação pelo medo deforma a alma. Henrique M. Coelho Neto
Um lindo bebê no colo de sua mãe, o pai contente com sua filhinha pela
mão. Essas cenas que se repetem pelos diversos lugares do vasto mundo nos fazem
refletir a necessidade da educação. Questão que se abre e desvenda
promessas, esperanças: que é educar?
Rousseau, filósofo e educador suíço, argumenta que educar se mescla com
a própria vida, à medida que desde o nascimento cada um de nós inicia um
processo constante de aprendizagem, que nos levará à humanização.
É por meio da educação que a criança ingressa de forma gradativa no
mundo, na sociedade. Por outro lado, ainda que nossa vida seja demasiadamente
breve para apreender-lhe o sentido, é principalmente por meio da educação que o
indivíduo tem acesso a recursos e ensaios que o ajudarão a melhorar-se e, com
isso, dominar virtudes e talentos colhidos no mais íntimo de si mesmo.
A criança está disponível à educação no ambiente doméstico. Ela deve ser
vista como um sujeito que está aprendendo o mundo, que precisa, por isso,
temporariamente, de um adulto para orientá-la. Por sua vez, o adulto que tem o
dever de orientar a criança necessita, na hora de educar, apoiar-se em um amor
inteligente, sem esquecer que na convivência familiar o respeito mútuo é
essencial.
O pai ou a mãe que move a orientação infantil com base no amor
inteligente, naturalmente responsável, sabe negar ao filho ou a filha o que
necessita ser negado, pois o “amor” que deseduca, que estrutura maus hábitos,
péssimos condicionamentos, é irresponsável, desvelando, na realidade, adultos
imaturos, levianos, mal informados.
Toda criança, especialmente no primeiro setênio, urge ser educada para a
autodisciplina, responsabilidade, cooperação, isto é, respeito por si mesma,
respeito às regras, respeito aos outros. O resultado de tudo isso será uma criança,
em casa, na escola, mais segura, mais tranquila, mais empática e, no futuro, um
adulto que não temerá dialogar, expressar emoções ou pontos de vista,
apresentando-se mais resiliente e preparado para solucionar seus problemas e
assumir sua trajetória com mais coragem, alegria e confiança.
Notinhas
Amor inteligente reivindica o respeito no processo da educação
da criança. Logo, no dia a dia, não cabem autoritarismo, agressão física ou
qualquer atitude que gere crueldade (física ou psíquica). De outro lado,
esse amor inteligente é capaz de dizer “sim, sim” e “não,
não”, recusando o adulto ser refém da vontade (imatura) da criança – assim, por
exemplo, é um ato leviano pôr coca-cola na mamadeira da criança (aliás
totalmente descabido refrigerante na infância) ou o uso de celular na
infância...
Respeito, derivado do latim “respectus”, de re (de novo)
e specere (olhar), traduz a necessidade de um segundo olhar e,
em consequência, a evitação de julgamentos e ações precipitadas. A presença do
respeito no cotidiano da criança estrutura nela, de modo progressivo, empatia,
compaixão, cooperação e responsabilidade – componentes fundamentais a uma
convivência ética, criativa e pacífica.
*
Esta seção, cuja estreia neste blog ocorreu no dia 6 de janeiro deste
ano, traz sempre textos dedicados à infância, seus cuidados, sua educação. O
título – Cinco-marias – é uma alusão a um conhecido brinquedo
que integra um conjunto de brincadeiras e
atividades lúdicas conceituadas como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta
floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em
Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto
Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim
Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).
Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em
Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), está concluindo em São Paulo a
formação em Psicanálise.
Ministra cursos e palestras sobre educação ambiental
em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.
Seu contato no Instagram é @eugeniapickina
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