CINCO-MARIAS
Brincar é aprender
EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
As crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade. Mario Quintana
Décadas de investigação e estudos comprovam a importância de brincar
para o desenvolvimento integral das crianças. Criança que brinca tem
oportunidade de explorar, estimular todos os aspectos do seu crescimento –
cognitivo, afetivo, motor e social.
Infelizmente, cada vez mais escutamos relatos sobre crianças que não
brincam ou brincam pouco, com a agenda da semana tomada por atividades
extracurriculares ou por uma excessiva orientação para o estudo intelectual por
parte da escola, que tem arrancado da criança tempo para brincar.
A criança brinca quando está em casa? Quanto tempo passa o menino de
seis anos diante das telas – TV, videogame, tablet,
o celular da mãe? Será que o pai sabe que durante esta atividade hipnótica a
criança absorve as histórias e fantasias de outras pessoas? E essa criança
perde a chance de exteriorizar as próprias histórias, resultando um dia um
adulto criativamente empobrecido, quiçá obeso, insatisfeito, incapaz de
solucionar problemas domésticos, uma escassa empatia no trabalho...
É certo que a criança nasce com uma enorme necessidade de desenvolver-se
e aprender. Mas o desejo de uma criança por aprender se relaciona estreitamente
com o prazer de brincar.
Quando as crianças brincam embaixo da mesa da sala, no quintal, no
parque, no jardim de infância, uma profunda sensação de bem-estar delas emana.
Apenas isto é razão suficiente para fomentar e proteger o brincar livre, pois a
investigação séria também aponta um importante número de benefícios e
habilidades cognitivas e socioemocionais que resultam da atividade dedicada
simplesmente a este brincar espontâneo, criativo.
As crianças não são máquinas. São seres humanos e estão governados por
processos internos. Acelerar a infância, exigindo da criança tarefas e ritmos
inadequados, só causará danos a vários aspectos de sua vida – físico, emocional
e mental, comprometendo tristemente sua biografia futura.
Especialmente no Brasil, onde, de um modo medíocre, estamos ocupados em
criar nossos filhos de modo “acelerado”, precisamos lembrar que é fundamental
deixar de apressar nossos filhos. Afinal, nossas crianças têm o direito de
crescer e amadurecer a um ritmo mais humano e isso depende de tempo para
brincar livre – mas tempo cotidiano, pois é muito injusto ser
criança apenas no fim de semana.
Notinhas
Infelizmente, cada vez mais estão desenvolvendo programas que situam as
crianças pequenas apartadas das brincadeiras, porque largamente a favor da
alfabetização precoce. No entanto, sem esquecer que brincar é aprender, há
aspectos relacionados ao desenvolvimento global que as crianças desde pequenas
necessitam: adultos que tenham manejo e cuidado com a própria linguagem;
músicas e cantigas infantis, brincadeiras com fantoches/marionetes; livros
lidos em voz alta, à medida que tudo isso estrutura a base de uma vida que
aprecia a linguagem e a leitura.
*
Esta seção, cuja estreia neste blog ocorreu no dia 6 de janeiro deste
ano, traz sempre textos dedicados à infância, seus cuidados, sua educação. O
título – Cinco-marias – é uma alusão a um conhecido brinquedo
que integra um conjunto de brincadeiras e
atividades lúdicas conceituadas como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta
floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em
Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto
Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim
Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).
Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em
Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), está concluindo em São Paulo a
formação em Psicanálise.
Ministra cursos e palestras sobre educação ambiental
em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.
Seu contato no Instagram é @eugeniapickina
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