CINCO-MARIAS
A importância dos limites
EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
Ouça e você esquece; veja e você lembra; faça e você entende. R. Steiner
Tudo começa em casa – ao dar exemplo, organizando o cotidiano da
criança, os pais oferecem amor e cuidado com os filhos. Pois todo pai ou toda
mãe que deixa a criança “livre e solta” atua de maneira leviana, agindo tão
irresponsavelmente quanto aquele pai que faz uso da violência para criar o
filho.
Ora. Criar pessoas dá trabalho, exige esforço, demanda sacrifício.
Porque educar é tarefa primordial dos pais. E, por isso, dar limites aos filhos
é essencial à convivência familiar, pois não podemos deixar uma criança crescer
confundindo direitos com desejos.
Se não houver limites, as crianças não têm como balizar suas ações. Mas
como estabelecer limites?
Em primeiro lugar, os pais precisam ser coerentes. Todo limite oferecido
causa frustração, e não apenas para a criança que tem que respeitar a norma
sinalizada, mas também para os pais. Se o adulto não tiver firmeza suficiente
para sustentar o limite estabelecido, dificultará que a criança o aceite e o
interiorize (gradualmente).
Em segundo lugar, os pais devem exercer o controle combinando afeto,
firmeza e segurança. Se as figuras mais importantes e influentes para a
criança, seus pais, a tratam com respeito e carinho, reconhecendo seus direitos
e seus deveres, ela se sentirá segura mesmo na hora de ser corrigida,
abrindo-se à oportunidade de aprender a aceitar a realidade.
Independentemente do estilo disciplinar adotado pelos pais, a
flexibilidade é traço também que deve estar presente na rotina da vida
doméstica. De outro lado, os pais necessitam ser consistentes e conscientes de
que são eles que guiam os filhos, e não o contrário – os filhos não podem
mandar nos pais.
Não tem a menor graça uma criança tirana e sem limite. Logo, dizer ao
filho de sete anos que não é adequado assistir à televisão no lugar de fazer a
tarefa escolar, por exemplo, ensina-lhe, e desde cedo, noções sobre a realidade
e o mundo.
Se somos responsáveis pela educação de uma criança, precisamos assumir o
fato de que ela não dispõe de condições para ser autônoma e por isso necessita
ser guiada enquanto cresce e se desenvolve em direção à vida adulta. Educar com
amor implica, portanto, não aceitar tudo. Pois o amor que aceita tudo é um amor
irresponsável, que impede a criança de ter acesso a normas e critérios que a
ajudem a aprender a viver de uma maneira saudável e responsável por seus atos.
Infelizmente, e para muita gente, muitas vezes estamos tão ocupados para
dar aos nossos filhos o que não temos (bens materiais, no geral), que não nos
sobra tempo para dar a eles o que temos – amor, presença e limites.
Notinhas
A infância implica um amor exigente, que compreende que toda criança
precisa de amor, atenção e disciplina. Ora, disciplina, termo que deriva do
latim, significa “instrução, conhecimento, matéria a ser ensinada”.
Os pais, frente aos filhos, às crianças, são transmissores de um saber, de um
conhecimento, e, por isso, respondem pela organização cotidiana da vida da
criança.
Os pais são também professores dos filhos. Como tais, é dever ensinar
aos filhos o que é adequado (escovar os dentes, pedir por
favor, ser honesto, guardar os brinquedos etc.) e o que é
inadequado (maltratar o colega, mentir, comer doce em vez do almoço,
não fazer a tarefa etc.), por exemplo, e comunicar critérios de comportamento e
valores de modo claro e coerente.
Cabe castigo? Mario Sergio Cortella avisa: “sempre. Mas não o castigo
que agride ou machuca, mas aquele que serve como alerta. Não é colocar a
criança ajoelhada no milho, é a responsabilização por seus atos. Os castigos
variam com a idade da criança e de acordo com a circunstância. Não adianta
dizer a uma criança de dois anos: sábado você não vai ao cinema. Ela ainda não
tem a noção de tempo, portanto, sábado é algo que não faz sentido. Com essa
criança, devemos trabalhar com o ‘agora’: Agora você não vai assistir à
televisão. Ela tem que entender que toda ação corresponde a uma
responsabilidade.” Mas bater nunca!
*
Esta seção, cuja estreia neste blog ocorreu no dia 6 de janeiro deste
ano, traz sempre textos dedicados à infância, seus cuidados, sua educação.
Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta
floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em
Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto
Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim
Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).
Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em
Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), está concluindo em São Paulo a
formação em Psicanálise. Ministra cursos e palestras sobre educação ambiental
em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.
Seu contato no Instagram é @eugeniapickina
Como consultar as matérias deste
blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/h85Vsc, e verá como utilizá-lo. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário