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sábado, 1 de julho de 2023

 



O professor e o soldado

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

 

Alma amiga, quando Eitel era mais jovem... agora já está um pouco mais idoso, ele e outros seis irmãos ficaram órfãos de pai no bairro da Penha, Rio de Janeiro. Moravam quase ao pé da Igreja da Penha, atualmente local muito perigoso. Então, cada um deles, para auxiliar a mãe viúva nas despesas de casa, começou a trabalhar aos 13 anos na loja de primo paterno. Exceção da única filha, a mais velha da prole, que estava na idade de 15 anos, quando o pai faleceu. Ali, Eitel trabalhou durante um ano.

Aos 14 anos, sua mãe inscreveu-o no curso de profissionalização do Senai, que era administrado pela Light, companhia de eletricidade do Rio. Após dois anos de estudo e aprendizagem no curso de torneiro mecânico lá, embora tenha sido aprovado, precisou estagiar em oficina doutra empresa, estágio que não concluiu, pois não possuía vocação para aquele trabalho.

Como precisava contribuir com sua parte de auxílio financeiro, nas despesas de casa, algum tempo depois conseguiu um emprego de jornaleiro e, aos 19 anos, foi convocado para o serviço militar obrigatório. Na época, precisou suspender seus estudos em escola particular de generoso deputado, chamado Rossini Lopes, quando cursava o segundo ano técnico de contabilidade, curso equivalente ao do ensino médio atual. As atividades militares não lhe ofereciam oportunidade de dar sequência aos conhecimentos sobre balanços e balancetes do curso.

O tempo passou, Eitel foi aprovado em curso de saúde no Exército e então, como sargento, residindo no quartel, em Salvador, BA, pois seu salário era insuficiente para pagar o aluguel de um simples quarto, após um ano no novo endereço, nosso amigo viajava à casa materna, no já saudoso Rio. Ao seu lado, um senhor distinto e simpático fez-lhe saber, de modo simples e despretensioso, ao longo de uma conversa amiga, que era professor, com título acadêmico, cuja importância enfatizava ao soldado falastrão, que não se cansava de exibir-lhe sua pseudo erudição, em virtude de haver lido algumas obras espíritas.

Nesse momento, Eitel lembrou-se da história do barqueiro que transportava um professor para a outra margem larga dum rio agitado. O mestre pergunta ao barqueiro se este sabia ler e, quando lhe foi respondido que não, informou ao condutor do barco que este perdera metade da vida. De repente, o barco virou. Agora era o barqueiro quem perguntava ao professor se este sabia nadar. Ao ouvir o não desesperado, o barqueiro tratou de se salvar e disse ao professor: — Pois o senhor acaba de perder a vida inteira.

Assim que Eitel acabou de contar a história ao douto companheiro de viagem, ouviu deste uma resposta que nunca mais esqueceu: — É desse jeito mesmo que agem as pessoas acomodadas com o pouco que sabem e que, por inveja daqueles que se esforçam em adquirir sabedoria, em anos de estudos e trabalhos voltados ao auxílio e esclarecimento dos ignorantes, ainda têm que ouvir um disparate deste.

O tempo passou, Eitel, que já naquele tempo possuía algum conhecimento da Doutrina Espírita, continuou seu autoaperfeiçoamento, atento à recomendação do Espírito de Verdade sobre as duas asas que nos elevam para o alto: o amor e a instrução que, aliados ao devotamento e à humildade, proporcionam-nos sabedoria. Então, nunca mais ousou desprezar ninguém. Aprendeu que sempre é tempo de amar e mesmo com os ignorantes sempre aprendemos algo. Por esse motivo, continua sua jornada na Terra esforçando-se em não julgar ninguém, mas em aprender sempre, haja vista que a simples habilidade em alguma atividade não nos dá o direito de deixar de socorrer quem não possua esse conhecimento.

Há uma frase de Allan Kardec, no item 2 do capítulo 25 d’O Evangelho Segundo o Espiritismo, que diz assim: “Ajuda-te, que o céu te ajudará”. O tempo passou e, naturalmente, as oportunidades de aprendizagem surgiram. Mesmo numa idade em que muitos já não pensam em títulos acadêmicos, nosso amigo concluiu dois deles, após ter concluído outros três, quando ainda era moço.

É bem verdade que já não é mais chamado a lecionar, como o fez por mais de duas décadas, mas foram seus conhecimentos acadêmicos que lhe deram a opção de deixar o serviço militar, ingressar no magistério e em cargo público relevante, que lhe permitiram viver modestamente, mas sem a pobreza de sua infância e adolescência.         Esses conhecimentos, aliados aos do Espiritismo cristão, que continua obtendo pela oportunidade de compartilhá-los com o próximo, permitem-no sentir-se útil e ativo enquanto viver, haja vista que seu lema é: “Viver é aprender, para melhor servir, e servir para vir a ser cada vez melhor”.

Em sua celeste sabedoria, disse-nos Jesus: “Não julgueis para não serdes julgados. Pois com o julgamento com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que medis sereis medidos” (Bíblia de Jerusalém, 7:1- 2). Foi isso que nosso amigo aprendeu e pede-me para compartilhar com você, alma amiga.

   

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