Como
se dá a influência espiritual em nossa vida e como neutralizá-la
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA
FILHO
aoofilho@gmail.com
A influência que os Espíritos exercem
sobre nossos pensamentos e ações no dia a dia é muito maior do que imaginamos. O
assunto é tratado na questão 459 d’ O Livro dos Espíritos: – Influem os
Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos? “Muito mais do que imaginais.
Influem a tal ponto que, de ordinário, são eles que vos dirigem.”
A Revista
Espírita de 1858 apresenta-nos um exemplo desse fato com o caso do Sr. F., moço
instruído, de educação esmerada e caráter suave e benevolente, vítima de um
processo de fascinação que só chegou ao fim com a ajuda dos bons Espíritos. Inspirado
pelo Espírito de seu pai, o moço foi até Kardec e procurou seguir o conselho
dos Espíritos, que lhe recomendaram entregar-se a um trabalho rude que não lhe
deixasse tempo para ouvir as sugestões más. Ao fim do tratamento, o Espírito
que atuava sobre F., que se identificou com o nome de François Dillois, acabou
confessando-se vencido e exprimiu o desejo de progredir.
Comentando o
caso, Kardec fez na Revista Espírita as seguintes observações:
1. Os Espíritos
exercem sobre os homens uma influência salutar ou perniciosa; não é preciso,
para isto, ser médium.
2. Não havendo a
faculdade, eles agem de mil e uma maneiras.
3. A influência
dos Espíritos sobre nós é constante, e todos acham-se expostos a ela, quer
acreditem ou não.
4. Três quartas
partes de nossas ações más e de nossos maus pensamentos são frutos dessa
sugestão oculta.
5. Não há outro
critério, senão o bom senso, para discernir o valor dos Espíritos. Qualquer
fórmula dada para esse fim pelos próprios Espíritos é absurda e não pode emanar
de Espíritos superiores.
6. Os Espíritos
inferiores receiam os que lhes analisam as palavras, desmascaram-lhes as
torpezas e não se deixam prender por seus sofismas.
A influência
espiritual só se concretiza em virtude da sintonia que se estabelece entre nós
e os Espíritos
Conforme os
ensinamentos espíritas, a influência espiritual sobre nós pode ser boa ou má,
oculta ou ostensiva, fugaz ou duradoura, mas em toda e qualquer situação só se
concretiza em virtude da sintonia que se estabelece entre nós e eles.
Em muitos dos
pensamentos que temos, surgem-nos às vezes ideias diferentes e mesmo
contraditórias acerca do mesmo assunto. Provavelmente nesses momentos estejamos
sendo alvo da influenciação dos Espíritos, fato que nem todos percebemos,
especialmente quando ela se dá de forma sutil e oculta, como se verificou no
conhecido caso Custódio Saquarema, que Humberto de Campos (Espírito) relatou em
seu livro Cartas e Crônicas, psicografado pelo médium Francisco Cândido
Xavier.
Custódio
Saquarema fora na Terra importante advogado e, conforme suas próprias palavras,
ajuntou muita consideração e ganhou muito dinheiro na derradeira existência,
retornando, porém, à vida espiritual muito mais pobre do que quando partira, no
rumo da reencarnação.
Ele havia nascido
num lar espírita, mas, como sucede à maioria dos reencarnados, trazia consigo,
jungidos ao seu clima psíquico, alguns sócios de vícios e extravagâncias do
passado que, sem o veículo de carne, se valiam dele para se vincularem às
sensações do plano terrestre.
Seu programa
reencarnatório era excelente, mas seus vampirizadores, ardilosos e
inteligentes, agiam à socapa, sem que ele, nem de leve, lhes pressentisse a
influência. E o faziam através de simples considerações íntimas.
Tão logo se viu
saído da adolescência, com boa dose de raciocínios lógicos na cabeça, os
instrutores amigos o exortaram, por meio de seus pais, a cultivar o reino do
espírito, referindo-se com isso a estudo, abnegação, aprimoramento, mas dentro
dele as vozes de seus acompanhantes surgiam da mente, como fios d'água fluindo
de minadouro, dando-lhe a falsa ideia de que falava consigo mesmo: "Coisas
da alma, Custódio? Nada disso. A sua hora é de juventude, alegria, sol... Deixe
a filosofia para depois..."
Essas
considerações se repetiram ao longo da existência, mudando apenas de forma. Ao
concluir a faculdade, as advertências do lar se fizeram mais altas,
conclamando-o ao dever; entretanto, seus seguidores invisíveis revidavam com a
zombaria inarticulada: "Agora? Não é ocasião oportuna. De que maneira
harmonizar a carreira iniciante com assuntos de religião? Custódio,
Custódio!... Observe o critério das maiorias, não se faça de louco!..."
Anos depois,
Custódio casou-se e, em seguida, os chamados à espiritualização recrudesceram.
Seus solertes exploradores, contudo, comentaram, vivazes: "Não ceda,
Custódio! E as responsabilidades de família? É preciso trabalhar, ganhar
dinheiro, obter posição, zelar por mulher e filhos..."
Quando na idade
madura, ele ainda recebia os avisos dos bons Espíritos, por intermédio de
companheiros dedicados, requisitando-o à elevação moral pela execução dos
compromissos assumidos; mas na casa mental se empoleiravam os argumentos de
seus obsessores inflexíveis: "Custódio, você tem mais quefazeres... Como
diminuir os negócios? E a vida social? Pense na vida social... Você não está
preparado para a seara de fé..."
Chegaram, por
fim, a velhice e a doença. Custódio passou, então, a sofrer e a desencantar-se
e os derradeiros convites da Espiritualidade Maior ainda insistiam a que se
consagrasse às coisas sagradas da alma, ao passo que os gritos de seus antigos
vampirizadores se altearam, irônicos, assoprando-lhe sarcasmo, como se fora ele
mesmo a ridicularizar-se: "Você, velho Custódio?! Que vai fazer você com
Espiritismo? É tarde demais... Profissão de fé, mensagens de outro mundo... Que
se dirá de você, meu velho? Seus melhores amigos falarão em loucura, senilidade...
Não tenha dúvida... Seus próprios filhos interditarão você, como sendo um
doente mental, inapto à regência de qualquer interesse econômico... Você não
está mais no tempo disso..."
Note-se, conforme
o próprio Custódio Saquarema observou, que seus perseguidores não lhe
seviciaram o corpo, nem lhe conturbaram a mente. Acalentaram apenas o seu
comodismo e, com isso, impediram-lhe qualquer passo renovador. Ele fora vítima,
ao longo da existência, de uma espécie de obsessão disfarçada.
Os Espíritos
infelizes, de mente ultrajada, vivem mais com os companheiros encarnados do que
se supõe
Muitos perguntam
de que forma é possível distinguir os nossos pensamentos dos que nos são
sugeridos. Essa tarefa não é simples e, em verdade, não é relevante. O que é
relevante é entender que, independentemente de sofrermos ou sugestões, a
responsabilidade pelo que fazemos é nossa, cabendo-nos o mérito pelo bem que
daí resultar, ou o demérito, se a ação for negativa.
Diz-nos Rodolfo
Calligaris, em seu livro Páginas de Espiritismo Cristão, que “pensar é
vibrar, é entrar em relação com o Universo espiritual que nos envolve, e,
conforme a espécie das emissões mentais de cada ser, elementos similares se lhe
imanizarão, acentuando-lhe as disposições e cooperando com ele em seus esforços
ascensionais ou em suas quedas e deslizes”.
Não podemos, diz
Calligaris, descuidar da nossa casa mental e seguir vida afora arrastados pela
ação maléfica dos Espíritos atrasados. “Os Espíritos infelizes, de mente ultrajada,
vivem mais com os companheiros encarnados do que se supõe”, acentua Calligaris.
Eles misturam-se em nossas atividades comuns, perambulam no ninho doméstico,
participam das conversas, seguem com os comensais, quando deles dependem em
processo legítimo de vampirização. “Perturbam-se e perturbam. Sofrem e fazem
sofrer. Odeiam e geram ódios. Amesquinhados em si mesmos, amesquinham os
outros. Infelicitados, infelicitam.”
O que, com
respeito ao assunto, aprendemos com a doutrina espírita
O Espiritismo nos
ensina que é possível neutralizar as influências espirituais perturbadoras e,
para isso, indica-nos uma receita simples, porém infalível: a prática do bem e
a fé em Deus.
Eis o que, a
respeito do assunto, ensinaram os Espíritos Superiores na questão 469 de O
Livro dos Espíritos:
“Fazendo o bem e
pondo a vossa confiança em Deus, repelireis a influência dos Espíritos
inferiores e destruireis o domínio que sobre vós tentam exercer. Guardai-vos de
escutar as sugestões dos Espíritos que vos suscitam maus pensamentos, que vos
insuflam a discórdia e que vos induzem às más paixões. Desconfiai sobretudo dos
que exaltam o vosso orgulho, pois que vos apanham pelo ponto fraco. Por isso
Jesus vos faz repetir na Oração Dominical: Não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal”.
O fundamento
desse ensinamento encontra-se na lição contida no item 122 da mesma obra, que
adiante resumimos:
1. O
livre-arbítrio de que gozamos, apanágio do Espírito humano, se desenvolve à
medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo.
2. As influências
espirituais que nos cercam fazem parte das leis da vida. As tentações decorrem
disso: uns cedem a elas; outros resistem.
3. As boas
influências procedem dos bons Espíritos. As más influências vêm dos Espíritos
imperfeitos, que procuram apoderar-se da criatura e dominá-la, e rejubilam
quando o conseguem.
4. Foi esse fato
que deu origem a duas figuras bíblicas: a queda do homem e Satanás.
5. Essa
influência só se exerce sobre o Espírito em sua origem? “Não. Ela o acompanha
na sua vida de Espírito, até que haja conseguido tanto império sobre si mesmo,
que os maus desistem de obsidiá-lo.”
Conseguir império
sobre si mesmo significa: elevar-se moralmente, elevar o chamado padrão
vibratório, o que se consegue com bons pensamentos, bons sentimentos e bons
atos, isto é, a prática constante do bem e da caridade.
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