quinta-feira, 31 de agosto de 2023

 



CINCO-MARIAS

 

A criança e a raiva

 

EUGÊNIA PICKINA

eugeniapickina@gmail.com

Quando eu digo controlar emoções, me refiro às emoções realmente estressantes e incapacitantes. Sentir as emoções é o que torna a nossa vida rica. Daniel Goleman

 

Em momentos de contrariedade, quem tem criança em casa já presenciou, vez ou outra, crise de choro, explosão de gritos, empurrões...

A raiva é uma emoção humana e por isso fazem parte do desenvolvimento infantil episódios de choro, gritos, pontapés. E os motivos que provocam crises de raiva na infância são diversos, ainda que o gatilho mais comum para esse tipo de reação intempestiva seja a frustração que a criança sente quando não consegue o que quer ou quando é convocada a fazer algo de que não gostaria.

Claro que não é fácil assistir a uma criança passando por um episódio de raiva. Contudo, nesse momento, é importante lembrar que é o adulto quem deve atuar com sabedoria, ajudando a criança a lidar com a situação. Atitudes violentas no propósito de controlar a raiva infantil não são educativas e tendem a reforçar o comportamento descontrolado da criança.

Sentir raiva é normal, mas comportar-se mal é sempre inaceitável.

No meio da tarde seu filho teve um acesso de raiva? Em primeiro lugar, saia de perto do seu filho, permitindo que ele fique um pouco sozinho. Aguarde para que ele possa acalmar-se. Em certas circunstâncias, o silêncio é bastante pedagógico. Em segundo lugar, quando ele estiver mais tranquilo, sente-se com ele para conversar, ajudando-o a entender o que aconteceu para deixá-lo tão descontrolado. Como ele se sentiu com isso? Como ele reagiu? Qual a melhor opção para enfrentar essa frustração (inevitável)? Procure incentivá-lo a expressar o que o incomoda, pois desse modo os ataques de raiva poderão tornar-se mais facilmente administráveis.

Hoje cedo seu filho, em um momento de raiva, teve uma reação violenta? Chutou e empurrou a irmã? Em face dessa situação, mantenha a autoridade, converse com seu filho, mas evitando demonstrar uma atitude impetuosa. Converse de forma firme e amigável sobre como ele está se sentindo e faça-o falar sobre esse sentimento quando se acalmar.

De outro lado, como chutar e empurrar são condutas violentas, sem esquecer de ser coerente, defina uma punição para seu filho, pois ele precisa compreender que maus comportamentos têm consequências. Embora ninguém aprecie ser privado de algo – jogar videogame, por exemplo – isso ajudará a criança a entender a diferença entre um comportamento aceitável e um comportamento inaceitável, preparando-a também para a vida em sociedade.

No dia a dia, claro que é difícil para os pais manter o autocontrole. Porém, é fundamental pôr em prática a paciência durante os episódios de raiva infantil, porque reagir violentamente só corrobora o comportamento negativo da criança.

 

Notinhas

 

Na hora da raiva, procure escutar o que está incomodando a criança, permitindo que ela desabafe. A depender da idade da criança, peça que ele registre a causa da sua raiva por escrito.  Se ainda não souber escrever, sugira que ela faça um desenho para expressar a razão de sua frustração/insatisfação.

Ensine a criança a respirar fundo na hora da raiva. Um exercício simples e que ajuda quando não estamos bem e que os pais podem ensinar aos filhos e desde pequenos: respire profundamente, segure o ar por três segundos e solte por completo, devagar. Repetir por três minutos.

 

*

 

Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).

Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), ministra cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.

Seu contato no Instagram é @eugeniapickina

 

 

 

 


 

Como consultar as matérias deste blog? Se você não o conhece, clique em Espiritismo Século XXI e verá como utilizá-lo e seus vários recursos.

 

 


quarta-feira, 30 de agosto de 2023

 


 Revista Espírita de 1864


Allan Kardec

 

Parte 2

 

Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1864, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

A coleção do ano de 1864 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.

Cada parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. Por que os médiuns passistas têm necessidade de trabalhar seu melhoramento moral?

B. Na desobsessão é suficiente a ação magnética?

C. A caridade é requisito importante numa reunião espírita?

 

Texto para leitura

 

14. Prosseguindo seus comentários sobre a ação magnética e seus resultados, Kardec escreveu:

I) Para curar pela ação fluídica, os fluidos mais depurados são os mais saudáveis.

II) Ora, desde que esses fluidos benéficos são dos Espíritos superiores, então é o concurso destes que é preciso obter.

III) Por isto, a prece e a invocação são necessárias, mas, para orar com fervor, é preciso fé.

IV) Para que a prece seja escutada, é preciso seja feita com humildade e dilatada por um real sentimento de benevolência e de caridade. Ora, não há verdadeira caridade sem devotamento, nem devotamento sem desinteresse.

V) Sem estas condições, o magnetizador - privado da assistência dos bons Espíritos - fica reduzido às próprias forças. Daí, para os médiuns dedicados a essa tarefa, a necessidade de trabalhar o seu melhoramento moral. (P. 9)

15. Os médiuns curadores tendem a multiplicar-se, com o objetivo de propagar o Espiritismo, pela impressão de que esta nova ordem de fenômenos não deixará de produzir nas massas, porque não há quem não ligue para sua saúde. (P. 10) (N.R.: Vê-se que Kardec chamava de “médiuns curadores” aos que hoje, usualmente, chamamos de “médiuns passistas”.)

16. Ao concluir seu relato a respeito do caso de possessão da srta. Júlia, Kardec afirma que, se há um gênero de mediunidade que exija uma superioridade moral, é, sem contradita, o trato da obsessão, pois é preciso ter o direito de impor sua autoridade ao Espírito. (P. 11)

17. No caso de Júlia e em todos os casos análogos, o magnetismo simples, por mais enérgico que fosse, seria insuficiente. Era preciso agir sobre o Espírito obsessor, para o dominar, e sobre o moral da doente. (P. 12)

18. Constitui também erro dos mais graves não ver na ação magnética mais que simples emissão fluídica, sem levar em conta a qualidade íntima dos fluidos. Na maioria dos casos, o sucesso repousa inteiramente nestas qualidades. (P. 13)

19. A magnetização pode, em certos casos, ser até mesmo funesta, como Hahnemann disse a Kardec no caso da srta. Júlia. Erasto confirmou o ensinamento, reafirmando que, naquela circunstância, era necessária uma ação material e moral e, ainda, uma ação puramente espiritual. (P. 16)

20. Asseverou Erasto: “Isto vos demonstra o que deveis fazer d’agora em diante, nos casos de possessão manifesta. É indispensável chamar em vossa ajuda o concurso de um Espírito elevado, gozando ao mesmo tempo de força moral e fluídica, como o excelente cura d’Ars”. (P. 16)

21. O ponto essencial, como observa Kardec, era levar o Espírito obsessor a emendar-se, o que necessariamente deveria facilitar a cura. E foi o que se fez, evocando-o e lhe dando conselhos. (PP. 16 e 17)

22. Dois diálogos mantidos com o Espírito de Fredegunda mostram como a oração, quando feita pelo próprio Espírito, auxilia o tratamento espiritual. Em nota aposta no final do segundo diálogo, Kardec afirma que nos casos de fascinação a dificuldade do tratamento é muito maior do que na subjugação. (P. 20)

23. Aludindo a mais um grupo espírita constituído em Lyon, a Revista informa que ele surgiu com um duplo objetivo: a instrução e a beneficência. Relativamente à instrução, o grupo se propõe consagrar uma parte menor às comunicações mediúnicas, dedicando mais tempo às instruções orais, com vistas a desenvolver e explicar os princípios espíritas. No tocante à beneficência, a sociedade se propõe a auxiliar pessoas necessitadas, por meio de dádivas in natura e visitas domiciliares aos pobres doentes. (P. 24)

24. A caridade e a fraternidade - lembra Kardec - se reconhecem pelas obras e não pelas palavras. Pedra de toque do Espiritismo, quando se fala de caridade, sabe-se que não se fala apenas daquela que dá, mas também da que esquece e perdoa, que é benevolente e indulgente e que repudia todo sentimento de ciúme e rancor. “Toda reunião espírita que não se fundar sobre o princípio da verdadeira caridade, será mais prejudicial que útil à causa, porque tenderá a dividir, em vez de unir”, acrescenta o Codificador. (P. 25)

25. Falando sobre as primeiras encarnações dos Espíritos, Kardec diz que os próprios Espíritos ignoram as condições em que elas ocorrem. Sabe-se apenas que as almas são criadas simples e ignorantes, tendo todas o mesmo ponto de partida, e que o livre-arbítrio se desenvolve pouco a pouco, após numerosas evoluções na vida corpórea. (P. 26)

26. É um erro admitir que as primeiras encarnações humanas ocorram na Terra. “A Terra foi, mas não é mais, um mundo primitivo; os mais atrasados seres humanos encontrados na sua superfície já se despojaram dos primeiros cueiros da encarnação e os nossos selvagens estão em progresso”, afirma Kardec. (PP. 26 e 27)

 

Respostas às questões propostas

 

A. Por que os médiuns passistas têm necessidade de trabalhar seu melhoramento moral?

A razão é simples. Sem determinadas qualidades, como a humildade, a benevolência e a caridade, o magnetizador – privado da assistência dos bons Espíritos – fica reduzido às próprias forças, o que torna necessário para esses médiuns trabalhar seu melhoramento moral. (Revista Espírita de 1864, pág. 9.)

B. Na desobsessão é suficiente a ação magnética?

Não. Reportando-se ao caso da possessão da srta. Júlia e a todos os casos análogos, Kardec diz que o magnetismo simples, por mais enérgico que seja, é insuficiente para a obtenção da cura. É preciso agir sobre o Espírito obsessor, para o dominar, e sobre o moral da doente. A propósito do assunto, asseverou Erasto: “Isto vos demonstra o que deveis fazer d’agora em diante, nos casos de possessão manifesta. É indispensável chamar em vossa ajuda o concurso de um Espírito elevado, gozando ao mesmo tempo de força moral e fluídica, como o excelente cura d’Ars”. O ponto essencial em casos assim, segundo Kardec, é levar o Espírito obsessor a emendar-se, o que necessariamente facilita a cura. E foi o que se fez, evocando-o e lhe dando conselhos. (Obra citada, págs. 12 a 17.)

C. A caridade é requisito importante numa reunião espírita?

Sim. Pedra de toque do Espiritismo, quando se fala de caridade, não se fala apenas daquela que dá, mas também da que esquece e perdoa, que é benevolente e indulgente e que repudia todo sentimento de ciúme e rancor. “Toda reunião espírita que não se fundar sobre o princípio da verdadeira caridade, será mais prejudicial que útil à causa, porque tenderá a dividir, em vez de unir”, ensina o Codificador. (Obra citada, pág. 25.)

 

 

Observação:

Para acessar a 1ª parte deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/08/revista-espirita-de-1864-allan-kardec.html

 

 

 




 

Como consultar as matérias deste blog? Se você não o conhece, clique em Espiritismo Século XXI e verá como utilizá-lo e seus vários recursos.

 



terça-feira, 29 de agosto de 2023

 



Delimitações alheias não devem ser consideradas

 

CÍNTHIA CORTEGOSO

cinthiacortegoso@gmail.com

 

O nível de consciência determinará a forma de uma pessoa sentir e viver o grau de sua felicidade ou insatisfação. Quanto mais se autoconhecer, mais possibilidades positivas estarão no caminho, pois haverá melhores pensamentos e, consequentemente, ações mais acertadas ocorrerão. Outro fator também muito favorável com o autoconhecimento é que outra pessoa não poderá delimitar o seu crescimento nem a maneira de seguir adiante. À medida que esse conhecimento se desenvolve, a segurança tende a aparecer porque há mais tempo para observação, análise e discernimento ‒ tudo aqui se baseia a partir da vontade de melhoria e o reconhecimento do progresso.

A liberdade é companheira e admiradora do conhecimento e da disciplina ‒ mas como da disciplina? ‒, pois assim que se compreendem os deveres, naturalmente os direitos são prevalecidos. Criar a sua própria opinião e conquistar o critério de escolhas favoráveis é um padrão inteiramente de liberdade. E ainda não deixar que impressões e julgamentos alheios direcionem a própria vida, sem dúvida, é degrau maravilhoso conquistado.

A preocupação com a crítica alheia é uma das mais retrógradas e perturbadoras formas de sofrimento. O que o outro pensa pertence, exclusivamente, a ele, e nunca prejudicará alguém se, assim, não houver a permissão.

Há inúmeras pessoas que passam uma existência inteira preocupadas com o pensamento alheio a seu respeito ou concedendo a sua completa intromissão. Será que nunca pensaram que há uma vida infinitamente ampla e mais leve sem esses padrões de sofrimento? Infelizmente ainda são prisioneiras de prisões sem grades, ou seja, criadas por elas mesmas por meio da falta de amor, respeito, valor e consideração próprios. No entanto a qualquer momento tudo pode ser reformulado e reescrito com mais leveza e alegria.

Deve haver a consciência de que a nossa vida é regida por nosso próprio pensamento e nunca por outro; tudo o que nos ocorre foi nossa permissão no presente ou resquícios de ações em tempos pretéritos. Não há como continuarmos delimitados sendo que a infinitude é a verdade dos planos; não há limites para o nosso crescimento, sabemos que devemos crescer e assim será.

As crianças, continuamente, são doutoras nessa arte, elas são o que desejam ser com tanta naturalidade, pois em seu universo não há as limitações criadas pelos adultos.

E podemos ser o peixe no mar, a flor do campo, o animalzinho brincalhão, o vento, o sol, o orvalho, a esperança, o amor, a mais linda versão de nós mesmos. Podemos ser a luz e o esplendor, o que quisermos ser sem nenhuma delimitação, pois somos eternos espíritos criados por Deus.

E com a consciência avivada, há somente motivos para agradecimento, e quanto ao pensamento alheio, ele só existe para quem o criou.

 

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/

 

 

 



 


Como consultar as matérias deste blog? Se você não o conhece, clique em Espiritismo Século XXI e verá como utilizá-lo e seus vários recursos.

 

 

 

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

 



Assuntos

 

Meimei

 

É verdade.

Por mais que silencies e por mais que a prudência te assinale as manifestações, a vida te exige relacionamento. E o relacionamento te pede falar.

Surgem aqueles que se referem ao tempo e às dificuldades do mundo.

Outros se reportam aos fatos da época em que vives, comentando ocorrências que a imprensa divulga.

E, em muitas ocasiões, anotas a inconveniência e a infelicidade dos apontamentos expostos.

Quando isso acontecer, respeita as qualidades e os créditos daqueles que comandam as notas que o boato acalenta e modifica a situação.

Todo diálogo assemelha-se à estrada de que se pode retirar esse ou aquele ramal para determinados fins.

À vista disso, quando a conversação ambiente se te mostre indesejável, usa tato e caridade e improvisa um ramal para o trânsito de novas ideias.

Feito isso, tanto quanto possível e se possível, auxilia aos circunstantes, falando de Jesus.

 

Do livro Cura, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

 

 

 



 

 



Como consultar as matérias deste blog? Se você não o conhece, clique em Espiritismo Século XXI e verá como utilizá-lo e seus vários recursos.

 

 

domingo, 27 de agosto de 2023

 



Como se dá a influência espiritual em nossa vida e como neutralizá-la

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

 

A influência que os Espíritos exercem sobre nossos pensamentos e ações no dia a dia é muito maior do que imaginamos. O assunto é tratado na questão 459 d’ O Livro dos Espíritos: – Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos? “Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto que, de ordinário, são eles que vos dirigem.”

A Revista Espírita de 1858 apresenta-nos um exemplo desse fato com o caso do Sr. F., moço instruído, de educação esmerada e caráter suave e benevolente, vítima de um processo de fascinação que só chegou ao fim com a ajuda dos bons Espíritos. Inspirado pelo Espírito de seu pai, o moço foi até Kardec e procurou seguir o conselho dos Espíritos, que lhe recomendaram entregar-se a um trabalho rude que não lhe deixasse tempo para ouvir as sugestões más. Ao fim do tratamento, o Espírito que atuava sobre F., que se identificou com o nome de François Dillois, acabou confessando-se vencido e exprimiu o desejo de progredir.

Comentando o caso, Kardec fez na Revista Espírita as seguintes observações:

1. Os Espíritos exercem sobre os homens uma influência salutar ou perniciosa; não é preciso, para isto, ser médium.

2. Não havendo a faculdade, eles agem de mil e uma maneiras.

3. A influência dos Espíritos sobre nós é constante, e todos acham-se expostos a ela, quer acreditem ou não.

4. Três quartas partes de nossas ações más e de nossos maus pensamentos são frutos dessa sugestão oculta.

5. Não há outro critério, senão o bom senso, para discernir o valor dos Espíritos. Qualquer fórmula dada para esse fim pelos próprios Espíritos é absurda e não pode emanar de Espíritos superiores.

6. Os Espíritos inferiores receiam os que lhes analisam as palavras, desmascaram-lhes as torpezas e não se deixam prender por seus sofismas.


A influência espiritual só se concretiza em virtude da sintonia que se estabelece entre nós e os Espíritos

Conforme os ensinamentos espíritas, a influência espiritual sobre nós pode ser boa ou má, oculta ou ostensiva, fugaz ou duradoura, mas em toda e qualquer situação só se concretiza em virtude da sintonia que se estabelece entre nós e eles.

Em muitos dos pensamentos que temos, surgem-nos às vezes ideias diferentes e mesmo contraditórias acerca do mesmo assunto. Provavelmente nesses momentos estejamos sendo alvo da influenciação dos Espíritos, fato que nem todos percebemos, especialmente quando ela se dá de forma sutil e oculta, como se verificou no conhecido caso Custódio Saquarema, que Humberto de Campos (Espírito) relatou em seu livro Cartas e Crônicas, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier.

Custódio Saquarema fora na Terra importante advogado e, conforme suas próprias palavras, ajuntou muita consideração e ganhou muito dinheiro na derradeira existência, retornando, porém, à vida espiritual muito mais pobre do que quando partira, no rumo da reencarnação.

Ele havia nascido num lar espírita, mas, como sucede à maioria dos reencarnados, trazia consigo, jungidos ao seu clima psíquico, alguns sócios de vícios e extravagâncias do passado que, sem o veículo de carne, se valiam dele para se vincularem às sensações do plano terrestre.

Seu programa reencarnatório era excelente, mas seus vampirizadores, ardilosos e inteligentes, agiam à socapa, sem que ele, nem de leve, lhes pressentisse a influência. E o faziam através de simples considerações íntimas.

Tão logo se viu saído da adolescência, com boa dose de raciocínios lógicos na cabeça, os instrutores amigos o exortaram, por meio de seus pais, a cultivar o reino do espírito, referindo-se com isso a estudo, abnegação, aprimoramento, mas dentro dele as vozes de seus acompanhantes surgiam da mente, como fios d'água fluindo de minadouro, dando-lhe a falsa ideia de que falava consigo mesmo: "Coisas da alma, Custódio? Nada disso. A sua hora é de juventude, alegria, sol... Deixe a filosofia para depois..."

Essas considerações se repetiram ao longo da existência, mudando apenas de forma. Ao concluir a faculdade, as advertências do lar se fizeram mais altas, conclamando-o ao dever; entretanto, seus seguidores invisíveis revidavam com a zombaria inarticulada: "Agora? Não é ocasião oportuna. De que maneira harmonizar a carreira iniciante com assuntos de religião? Custódio, Custódio!... Observe o critério das maiorias, não se faça de louco!..."

Anos depois, Custódio casou-se e, em seguida, os chamados à espiritualização recrudesceram. Seus solertes exploradores, contudo, comentaram, vivazes: "Não ceda, Custódio! E as responsabilidades de família? É preciso trabalhar, ganhar dinheiro, obter posição, zelar por mulher e filhos..."

Quando na idade madura, ele ainda recebia os avisos dos bons Espíritos, por intermédio de companheiros dedicados, requisitando-o à elevação moral pela execução dos compromissos assumidos; mas na casa mental se empoleiravam os argumentos de seus obsessores inflexíveis: "Custódio, você tem mais quefazeres... Como diminuir os negócios? E a vida social? Pense na vida social... Você não está preparado para a seara de fé..."

Chegaram, por fim, a velhice e a doença. Custódio passou, então, a sofrer e a desencantar-se e os derradeiros convites da Espiritualidade Maior ainda insistiam a que se consagrasse às coisas sagradas da alma, ao passo que os gritos de seus antigos vampirizadores se altearam, irônicos, assoprando-lhe sarcasmo, como se fora ele mesmo a ridicularizar-se: "Você, velho Custódio?! Que vai fazer você com Espiritismo? É tarde demais... Profissão de fé, mensagens de outro mundo... Que se dirá de você, meu velho? Seus melhores amigos falarão em loucura, senilidade... Não tenha dúvida... Seus próprios filhos interditarão você, como sendo um doente mental, inapto à regência de qualquer interesse econômico... Você não está mais no tempo disso..."

Note-se, conforme o próprio Custódio Saquarema observou, que seus perseguidores não lhe seviciaram o corpo, nem lhe conturbaram a mente. Acalentaram apenas o seu comodismo e, com isso, impediram-lhe qualquer passo renovador. Ele fora vítima, ao longo da existência, de uma espécie de obsessão disfarçada.


Os Espíritos infelizes, de mente ultrajada, vivem mais com os companheiros encarnados do que se supõe

Muitos perguntam de que forma é possível distinguir os nossos pensamentos dos que nos são sugeridos. Essa tarefa não é simples e, em verdade, não é relevante. O que é relevante é entender que, independentemente de sofrermos ou sugestões, a responsabilidade pelo que fazemos é nossa, cabendo-nos o mérito pelo bem que daí resultar, ou o demérito, se a ação for negativa.

Diz-nos Rodolfo Calligaris, em seu livro Páginas de Espiritismo Cristão, que “pensar é vibrar, é entrar em relação com o Universo espiritual que nos envolve, e, conforme a espécie das emissões mentais de cada ser, elementos similares se lhe imanizarão, acentuando-lhe as disposições e cooperando com ele em seus esforços ascensionais ou em suas quedas e deslizes”.

Não podemos, diz Calligaris, descuidar da nossa casa mental e seguir vida afora arrastados pela ação maléfica dos Espíritos atrasados. “Os Espíritos infelizes, de mente ultrajada, vivem mais com os companheiros encarnados do que se supõe”, acentua Calligaris. Eles misturam-se em nossas atividades comuns, perambulam no ninho doméstico, participam das conversas, seguem com os comensais, quando deles dependem em processo legítimo de vampirização. “Perturbam-se e perturbam. Sofrem e fazem sofrer. Odeiam e geram ódios. Amesquinhados em si mesmos, amesquinham os outros. Infelicitados, infelicitam.”

O que, com respeito ao assunto, aprendemos com a doutrina espírita

O Espiritismo nos ensina que é possível neutralizar as influências espirituais perturbadoras e, para isso, indica-nos uma receita simples, porém infalível: a prática do bem e a fé em Deus.

Eis o que, a respeito do assunto, ensinaram os Espíritos Superiores na questão 469 de O Livro dos Espíritos:

 

“Fazendo o bem e pondo a vossa confiança em Deus, repelireis a influência dos Espíritos inferiores e destruireis o domínio que sobre vós tentam exercer. Guardai-vos de escutar as sugestões dos Espíritos que vos suscitam maus pensamentos, que vos insuflam a discórdia e que vos induzem às más paixões. Desconfiai sobretudo dos que exaltam o vosso orgulho, pois que vos apanham pelo ponto fraco. Por isso Jesus vos faz repetir na Oração Dominical: Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”.

 

O fundamento desse ensinamento encontra-se na lição contida no item 122 da mesma obra, que adiante resumimos:

1. O livre-arbítrio de que gozamos, apanágio do Espírito humano, se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo.

2. As influências espirituais que nos cercam fazem parte das leis da vida. As tentações decorrem disso: uns cedem a elas; outros resistem.

3. As boas influências procedem dos bons Espíritos. As más influências vêm dos Espíritos imperfeitos, que procuram apoderar-se da criatura e dominá-la, e rejubilam quando o conseguem.

4. Foi esse fato que deu origem a duas figuras bíblicas: a queda do homem e Satanás.

5. Essa influência só se exerce sobre o Espírito em sua origem? “Não. Ela o acompanha na sua vida de Espírito, até que haja conseguido tanto império sobre si mesmo, que os maus desistem de obsidiá-lo.”

Conseguir império sobre si mesmo significa: elevar-se moralmente, elevar o chamado padrão vibratório, o que se consegue com bons pensamentos, bons sentimentos e bons atos, isto é, a prática constante do bem e da caridade.

 

 

 

 



Como consultar as matérias deste blog? Se você não o conhece, clique em Espiritismo Século XXI e verá como utilizá-lo e seus vários recursos.

 

 


sábado, 26 de agosto de 2023

 



Os sete pecados capitais e seu antídoto conforme Machado

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

 

Há algum tempo, Machado não me visitava os devaneios. Ontem à noite, preocupado com a revisão duma obra literária, que espero ver publicada nos próximos dias, adormeci muito tarde. Tão tarde, que já era hoje, pois fechei os olhos às duas horas. Foi então que o Bruxo do Cosme Velho apareceu-me e, após as saudações iniciais correspondidas, disse-me que gostaria de dialogar comigo sobre os sete pecados capitais e seu antídoto capital... Agradeci-lhe a proposta e ele começou a falar, não segundo a importância, mas na ordem alfabética de cada um:

— A cada um desses vícios, contrapõe-se uma virtude. Começo pela avareza. Também chamada usura, ela é o excessivo apego ao dinheiro. Seu antídoto é a generosidade. Mas ninguém é avaro só por ser rico e, sim, pelo apego exagerado ao que tem. A avareza, como disse o Papa Gregório I, é mãe de sete transgressões: dureza de coração, fraude, inquietude, mentira, perjúrio, traição e violência. É pecado próprio do egoísta.

— Qual é o segundo pecado, Machado? Perguntei-lhe emocionado pela alta distinção de sua visita.

— O segundo pecado é o da concupiscência ou luxúria, ou seja, o desejo excessivo de prazeres sensuais e de bens materiais, corrompedores dos costumes. Opõe-se a ela a castidade.

— E o terceiro, mestre?

— Mestre, mesmo, é Jesus Cristo, amigo Jó. O terceiro pecado de nossa lista é a gula. Seu antídoto é a temperança. Desejo incontido por alimento e bebida, a gula é causa de muitos males orgânicos.

— Certo, ó guru! Vamos, então, para o quarto pecado.

— É a inveja, desejo exacerbado pelas posses, habilidades, status, ou seja, por tudo o que outrem possui e o invejoso não tem. Opõe-se à caridade. Ao sentir-se mal pelo que o outro tem e ele ou ela não tem, tal pessoa não se conforma com isso. Por isso, recomendo-lhe discrição em relação às suas posses, mesmo que sejam ínfimas...

— Sigamos para o quinto pecado, a ira ou cólera, certo?

— Sim, Jó. Opõe-se à paciência. Sentimento de raiva e vontade de vingar-se, costuma impulsionar os povos aos conflitos bélicos.

— O sexto é o orgulho ou soberba. Já sei que o amigo vai dizer-me que seu oposto é a humildade, não é mesmo?

— Certo. Vejo que você se antecipa com acerto ao que lhe falaria, querido Jó. O orgulho, pior dos pecados capitais, é tido como a fonte de todos os vícios humanos.

— Por fim, aparece a preguiça em nossa lista, generoso mentor.

— Se não fosse Jesus, nosso modelo e guia, que nos afirmou que o Pai trabalha, e ele também trabalha, não teríamos a perfeita noção de quanto nos é prejudicial esse pecado, que se opõe à diligência, ao trabalho. A moleza tem sido empecilho a que pessoas inteligentes não prosperem. Por isso mesmo, uma de minhas frases conhecidas é a de que o trabalho move o mundo.

Muito feliz, agradeci a visita de Machado. Ele sorriu, despediu-se e, ao reentrar em sua nave piramidal para partir, sugeriu-me concluir esta crônica com o poema do espírito Maria Dolores, verdadeiro antídoto contra quaisquer pecados:

 

Riqueza mais alta

 

Dizes-te, às vezes, pobre e sem recursos,

Que ninguém te sorri...

Entretanto, não vês que trazes, ao dispor,

Um tesouro de vida superior,

Que podes espalhar, começando de ti.

 

Ergue-se de teu verbo o ensejo santo

De transmitir o bem a quem te escuta

Exterminando o mal... Guardas, portanto,

A magia do Céu e o doce encanto

Da voz que estende a paz e extingue a luta.

 

Tens nos olhos e ouvidos sentinelas,

De modo a ver em ti e, em derredor,

Os males a vencer, rixas e bagatelas,

Na construção do bem pelo qual te desvelas,

Em louvor do melhor.

 

Tens nas mãos duas harpas prodigiosas

Capazes de entoar a melodia

Da beleza, do amor e da alegria,

Criando arte e cultura, luz e rosas

Ao sol de cada dia.

 

Dizes-te, às vezes, pobre e sem recursos,

Que ninguém te sorri...

No entanto, tens contigo, seja em qualquer lugar,

A bênção de servir e trabalhar,

A riqueza mais alta que já vi...

 

DOLORES, Maria (Espírito). Alma e Vida. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. São Paulo: Cultura Espírita União, 1984.

 

Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 

 

 

 


 


Como consultar as matérias deste blog? Se você não o conhece, clique em Espiritismo Século XXI e verá como utilizá-lo e seus vários recursos.