Revista Espírita de 1864
Allan Kardec
Parte 10
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1864, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de
1864 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a
dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do estudo,
que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Por que o
Espiritismo se serviu do vocábulo Espírito em vez de alma?
B. Que distinção
podemos fazer entre alma e Espírito?
C. Que diferença
havia, à época de Kardec, entre o Espiritismo na América e o Espiritismo na
Europa?
Texto para leitura
114. Kardec faz
ligeira alusão à obra A Vida de Jesus, escrita pelo Sr. Renan, cuja
dedicatória posta no topo do livro à sua irmã Henriette revela mais que um vago
pensamento espiritualista. As palavras dedicadas a Henriette - observa o
Codificador do Espiritismo - mostram que o Sr. Renan imagina que sua irmã
esteja a seu lado, que o pode ver e inspirar e se interessa por seu trabalho.
Há entre ele e a falecida uma troca de pensamentos, uma comunicação espiritual
e, sem o suspeitar, ele faz, como tantos outros, uma verdadeira evocação. (PP.
134 a 136)
115. Por que então o
Sr. Renan inclui a doutrina espírita entre as crenças supersticiosas? A causa é
conhecida: o Sr. Renan não admite o sobrenatural nem o maravilhoso. Ora, se ele
conhecesse o estado real da alma após a morte e as propriedades de seu
envoltório perispiritual, compreenderia que o fenômeno das manifestações
espíritas não foge às leis naturais e que para isto não é necessário recorrer
ao maravilhoso. (P. 136)
116. No final do
artigo, Kardec explica por que razão o Espiritismo se serviu do vocábulo
Espírito, em vez de alma. Três foram os motivos. Primeiro porque, desde as
primeiras manifestações, o vocábulo era usado, antes da criação da filosofia
espírita. Em segundo lugar, porque se o vocábulo Espírito era repulsivo para
algumas pessoas, constituía um atrativo para as massas e deveria contribuir
mais que o outro para popularizar a doutrina. O terceiro motivo é mais sério
que os dois outros. As palavras alma e Espírito, embora sejam sinônimos e
empregados indiferentemente, não exprimem exatamente a mesma ideia. (P. 138)
117. A alma é, a bem
dizer, o princípio inteligente, imperceptível e indefinido como o pensamento.
Não podemos concebê-lo isolado da matéria de maneira absoluta. Embora formado
de matéria sutil, o perispírito dela faz um ser definido, limitado e
circunscrito à sua individualidade espiritual. Assim, podemos dizer: A união da
alma, do perispírito e do corpo material constitui o HOMEM; a alma e o
perispírito separados do corpo constituem o ESPÍRITO. Nas manifestações não é,
pois, a alma que se apresenta só. Ela está sempre revestida de seu envoltório
fluídico. Portanto, nas aparições não é a alma que se vê, mas o perispírito, do
mesmo modo que, quando se vê um homem, vê-se o seu corpo, mas não o pensamento
ou o princípio que o faz agir. (PP. 138 e 139)
118. Em resumo, a
alma é o ser simples, primitivo; o Espírito é o ser duplo; o homem é o ser
triplo. (P. 139)
119. A Revista
publica o discurso que Kardec fez no dia 1º de abril de 1864 na Sociedade
Espírita de Paris, que completava então seis anos de existência. (P. 140)
120. Eis alguns dos
tópicos mais relevantes extraídos do referido discurso:
I) O sinal de
prosperidade da Sociedade de Paris estava inteiramente na progressão de seus
estudos, na consideração que conquistou, no ascendente moral que exerce lá fora
e no número de adeptos que se ligam aos princípios por ela professados.
II) Sendo a primeira
sociedade espírita regularmente constituída, a Sociedade de Paris foi a
primeira a alargar o círculo de seus estudos e abraçou todas as partes da
ciência espírita.
III) Quando o
Espiritismo mal saía do período da curiosidade e das mesas girantes, ela entrou
resolutamente no período filosófico, que, de certo modo, inaugurou.
IV) A força do
Espiritismo não reside na opinião de um homem ou de um Espírito, mas na
universalidade do ensino dado por estes últimos. O controle universal, como o
sufrágio universal, resolverá no futuro todas as questões litigiosas e fundará
a unidade da doutrina muito melhor que um concílio de homens.
V) A Sociedade de
Paris é estimada e considerada, não só pela natureza de seus trabalhos, mas
pelo bom conceito conquistado por suas sessões entre numerosos estrangeiros que
a visitaram.
VI) A Sociedade de
Paris tem, contudo, sobre as demais apenas autoridade moral, devida à sua
posição e aos seus estudos. Ela dá os conselhos que lhe pedem à sua
experiência, mas não se impõe a nenhuma. A única palavra de ordem que dá como
sinal de reconhecimento entre os verdadeiros espíritas é: Caridade para com todos,
mesmo para com os inimigos.
VII) A posição da
Sociedade de Paris é, pois, exclusivamente moral e ela jamais ambicionou outra.
Nossos antagonistas que dizem que todos os espíritas são seus tributários e que
ela se enriquece à sua custa, ou dão provas de má-fé ou da mais absoluta
ignorância daquilo de que falam.
VIII) Um incrédulo
que conheceu a doutrina espírita dizia que, com tais princípios, o espírita
necessariamente deveria ser um homem de bem. Estas palavras são verdadeiras,
mas, para serem completas, é preciso acrescentar que um verdadeiro espírita
deve ser, necessariamente, bom e benevolente para com os seus semelhantes, isto
é, praticar a caridade evangélica na sua mais larga acepção. (PP. 140 a 145)
121. Kardec
esclarece, no número de maio, por que a doutrina espírita não é a mesma na
Europa e na América do Norte e diz onde se encontram as diferenças. (P. 146)
122. Como se sabe, os
fenômenos espíritas ocorreram em todos os tempos, tanto na Europa como na
América, mas foi a extrema liberdade que existe nos Estados Unidos que
favoreceu a eclosão das ideias novas, e essa a razão pela qual os Espíritos
escolheram esse país para o primeiro teatro de seus ensinos. (P. 146)
123. Muitas vezes uma
ideia surge num país e se desenvolve em outro, como se vê nas ciências e na
indústria. A esse respeito o gênio americano deu suas provas e nada tem a
invejar à Europa. Contudo, se supera em tudo no que concerne ao comércio e às
artes mecânicas, não se pode recusar à Europa a primazia no campo das ciências
morais e filosóficas. Devido a essa diferença no caráter normal dos povos, o
Espiritismo experimental estava em seu terreno na América, ao passo que a parte
teórica e filosófica encontrava na Europa elementos mais propícios ao seu
desenvolvimento. Assim, foi lá, na América, que ele nasceu, mas foi na Europa
que cresceu e fez suas humanidades. (P. 146)
124. O que
particularmente distingue a escola espírita americana da escola europeia é a
predominância, na primeira, da parte fenomênica, e na segunda, da parte
filosófica. A filosofia espírita da Europa espalhou-se prontamente, porque
ofereceu, desde o começo, um conjunto completo e alargou o horizonte das
ideias. (P. 147)
125. De todos os
princípios da doutrina espírita o que encontrou mais oposição nos Estados
Unidos é o da reencarnação. Aliás, essa é a única divergência capital, pois as
outras dizem mais com a forma do que com o fundo. As razões disto é que os
Espíritos procedem em toda a parte com sabedoria e prudência e, para se fazerem
aceitar, evitam chocar muito bruscamente as ideias estabelecidas. Desse modo,
não irão dizer inconsideradamente a um muçulmano que Maomé é um impostor. (P.
147)
Respostas às questões propostas
A. Por que o
Espiritismo se serviu do vocábulo Espírito em vez de alma?
Três foram os
motivos. Primeiro porque, desde as primeiras manifestações, o vocábulo era
usado, antes da criação da filosofia espírita. Em segundo lugar, porque se o
vocábulo Espírito era repulsivo para algumas pessoas, constituía um atrativo
para as massas e deveria contribuir mais que o outro para popularizar a
doutrina. O terceiro motivo é mais sério que os dois outros. Os vocábulos alma
e Espírito, embora sejam sinônimos e empregados indiferentemente, não exprimem
exatamente a mesma ideia. (Revista Espírita de 1864, pág. 138.)
B. Que distinção
podemos fazer entre alma e Espírito?
A alma é o princípio
inteligente, imperceptível e indefinido como o pensamento. Não podemos
concebê-lo isolado da matéria de maneira absoluta. Formado de matéria sutil, o
perispírito faz dela um ser definido, limitado e circunscrito à sua
individualidade espiritual. Assim, pode-se dizer que a união da alma, do
perispírito e do corpo material constitui o HOMEM; a alma e o perispírito
separados do corpo constituem o ESPÍRITO. Nas manifestações não é, pois, a alma
que se apresenta só. Ela está sempre revestida do seu envoltório fluídico. Em
face disso, nas aparições espirituais não é a alma que se vê, mas o
perispírito, do mesmo modo que, quando se vê um homem, vê-se o seu corpo, mas
não o pensamento ou o princípio que o faz agir. Em resumo, a alma é o ser
simples, primitivo; o Espírito é o ser duplo; o homem é o ser triplo. (Obra
citada, pp. 138 e 139.)
C. Que diferença
havia, à época de Kardec, entre o Espiritismo na América e o Espiritismo na
Europa?
Diz Kardec que os
fenômenos espíritas ocorreram em todos os tempos, tanto na Europa como na
América, mas foi a extrema liberdade que existe nos Estados Unidos que
favoreceu a eclosão das ideias novas, e foi essa a razão pela qual os Espíritos
escolheram esse país para o primeiro teatro de seus ensinos. O Espiritismo
experimental estava em seu terreno na América, ao passo que a parte teórica e
filosófica encontraria na Europa elementos mais propícios ao seu desenvolvimento.
Assim, foi lá, na América, que ele nasceu, mas foi na Europa que cresceu e fez
suas humanidades. O que particularmente distingue a escola espírita americana
da escola europeia é a predominância, na primeira, da parte fenomênica, e, na
segunda, da parte filosófica. (Obra citada, pp. 146 e 147.)
Observação:
Para
acessar a Parte 9 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/10/revista-espirita-de-1864-allan-kardec_01390981316.html
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