Revista Espírita de
1864
Allan Kardec
Parte 24
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1864, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção
do ano de 1864 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan
Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada
parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a)
questões preliminares;
b) texto
para leitura.
As
respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões
preliminares
A. A que
se deve a ilusão que tantos Espíritos conservam de estarem ainda encarnados?
B. Essa
ilusão de que continua encarnado pode ser também para o Espírito uma provação?
C. Que
nos ensina Cárita com respeito aos infortúnios alheios?
Texto
para leitura
282.
Outro fenômeno que parece ainda mais original e faz sorrir os incrédulos é o
dos objetos materiais que o Espírito julga possuir. Como pode o Sr. Pierre
imaginar ter dinheiro e haver pago a passagem do trem que tomou para fazer uma
viagem? O fenômeno - explica Kardec - encontra solução nas propriedades do
fluido perispiritual, que não passa de uma concentração do fluido cósmico ou
elemento universal, uma transformação parcial, que produz o objeto que se
deseja. Tal objeto para nós é uma aparência, mas para o Espírito é uma
realidade. (P. 341)
283. Tudo
deve estar em harmonia no mundo espiritual, como no mundo material. Aos homens
são necessários objetos materiais; aos Espíritos, cujo corpo é fluídico, são
necessários objetos fluídicos. Querendo fumar, o Espírito criaria um cachimbo
que para ele tem a realidade de um cachimbo terrestre. É assim que se explicam
as vestimentas dos Espíritos, as insígnias e as várias aparências que podem
tomar os desencarnados. (PP. 341 e 342)
284. A
que se deve essa ilusão que tantos Espíritos conservam, crendo-se vivos? O
assunto foi tratado pelo Espírito de Santo Agostinho, na Sociedade Espírita de
Paris, em 21-7-1864, o qual disse, em síntese, o seguinte: I) Nem tudo é
provação na existência humana. II) A vida do Espírito continua desde o
nascimento até o infinito: a morte nada mais é que um acidente, que em nada
influi no destino do que morre. III) A morte separa o Espírito do seu invólucro
material, mas o envoltório perispiritual conserva, pelo menos em parte, as
propriedades do corpo morto. IV) A ilusão mencionada para alguns dura muito
tempo; tal estado é uma continuidade da vida terrena, um estado misto entre a
vida corporal e a vida espiritual. V) Por que - se o indivíduo foi simples e
prudente - sentiria o frio do túmulo? por que passaria bruscamente da vida à
morte, da claridade do dia à noite? VI) Deus não é injusto e deixa aos pobres
de espírito esse prazer, esperando que vejam o seu estado pelo desenvolvimento
das próprias faculdades e passem, calmos, da vida material à vida real do
Espírito. (P. 343)
285. Nem
todos que morrem subitamente caem nesse estado - lembra Santo Agostinho. Mas
não há um só cuja matéria não tenha de lutar com o Espírito que se encontra.
(P. 343)
286.
Diferentemente - ensina o iluminado Espírito - ocorre com aqueles para os quais
a ilusão quanto ao seu estado é uma provação. Oh! como ela é penosa!
Julgando-se vivos e bem vivos, creem possuir um corpo capaz de sentir e
saborear os prazeres terrenos, mas, quando suas mãos os querem tocar, as mãos
se dissolvem; quando querem aproximar os lábios de uma taça ou de uma fruta, os
lábios se aniquilam; veem, querem tocar e nem podem sentir nem tocar. Como o
paganismo apresenta uma bela imagem deste suplício em Tântalo, sentindo fome e
sede e jamais podendo tocar os lábios na fonte de água, que sussurra ao seu
ouvido, ou no fruto, que amadurece para ele! Que fizeram esses infelizes para
suportarem tais sofrimentos? Perguntai a Deus: é a lei, que foi escrita por
ele. Quem mata à espada morrerá pela espada; quem profanou o próximo, por sua
vez será profanado. (PP. 343 e 344)
287. Um
novo suicídio atribuído às ideias espíritas pelos jornais de Marselha foi, logo
em seguida, esclarecido pelo Sr. Chavaux, doutor em Medicina, que contou a
Kardec, em carta transcrita pela Revista, ter sido conhecido do infeliz e seu
colega de loja maçônica. Segundo o dr. Chavaux, o industrial - que se matou
motivado por dificuldades financeiras - jamais se ocupara de Espiritismo e não
tinha lido nenhuma publicação sobre esta matéria. (PP. 344 e 345)
288. Em
Lyon, a faculdade auditiva do capitão B... evitou que uma pessoa que ele mal
conhecia se suicidasse. Foi o seu próprio filho desencarnado, do qual ele
recebia frequentes comunicações, quem lhe murmurou no ouvido que determinado
homem decidira suicidar-se. Arrastando-o para fora do estabelecimento onde se
encontravam, o capitão revelou ao homem que sabia do seu intento e procurou,
com as ideias espíritas, demovê-lo desse propósito. (PP. 345 e 346)
289. O
infeliz, que fora ortopedista, agora com 76 anos de idade, tinha sido arruinado
por um sócio, após o que caíra doente. Uma vez curado, ele se viu sem nenhum
recurso, quando foi recolhido por uma operária pobre, criatura sublime que
durante meses o alimentou. (P. 346)
290. Depois
de fazer um resumo pungente do caso, o Espírito de Cárita mostra como é
importante a ajuda que prestamos aos deserdados do bem-estar social. “Os
pobres, amigos, são os enviados de Deus”, afirma Cárita. “Sorride ao
infortúnio, ó vós que sois ricamente dotados de todas as qualidades de coração;
ajudai-me em minha tarefa; não deixeis fechar-se esse santuário de vossa alma,
onde mergulhou o olhar de Deus; e um dia, quando entrardes na mãe-pátria,
quando, com o olhar incerto e o passo inseguro, buscardes o vosso caminho
através da imensidade, eu vos abrirei de par em par a porta do templo onde tudo
é amor e caridade e vos direi: Entrai, meus amados; eu vos conheço!” (PP. 346 e
347)
291.
Kardec comenta o episódio e a mensagem, e indaga: “A quem fariam crer seja esta
a linguagem do diabo?” Foi a voz do diabo que se fez ouvir ao ouvido do
capitão, sob o nome de seu filho, para o advertir que o velho ia suicidar-se?
(P. 347)
292.
Publicada a história da pobre operária e do médico arruinado pelo sócio, vários
donativos foram encaminhados a eles, através da Revista. Um deles foi enviado
por um padre, que pediu ocultasse seu nome. Com o donativo, o padre enviou a
Kardec uma carta. Eis um trecho desta: “À sua pergunta se nele eu reconhecia a
linguagem do demônio, respondi que os nossos melhores santos não falam melhor”.
“Senhor, sou um pobre padre, mas vos envio o óbolo da viúva, em nome de
Jesus-Cristo, para essa brava e digna mulher.” (P. 348)
293.
Kardec expõe, em um artigo especial, por que razão a Revista não assumia a
periodicidade quinzenal ou mesmo semanal, como muitos lhe haviam proposto. O
primeiro motivo era a multiplicidade dos trabalhos desenvolvidos pelo
Codificador, cuja extensão era difícil de imaginar. O segundo motivo estava
ligado à própria natureza da publicação, que era menos um jornal do que o
complemento e o desenvolvimento de suas obras doutrinárias. Sendo a Revista uma
obra pessoal, cuja responsabilidade ele assumira inteiramente, Kardec não
desejava ser entravado por nenhuma vontade estranha, fato que forçosamente
ocorreria se a periodicidade fosse alterada. (PP. 348 a 350)
Respostas
às questões propostas
A. A que
se deve a ilusão que tantos Espíritos conservam de estarem ainda encarnados?
O assunto
foi tratado pelo Espírito de Santo Agostinho, na Sociedade Espírita de Paris em
21-7-1864. Segundo esse Espírito: I) Nem tudo é provação na existência humana.
II) A vida do Espírito continua desde o nascimento até o infinito: a morte nada
mais é que um acidente, que em nada influi no destino do que morre. III) A
morte separa o Espírito do seu invólucro material, mas o envoltório
perispiritual conserva, pelo menos em parte, as propriedades do corpo morto.
IV) A ilusão mencionada para alguns dura muito tempo; tal estado é uma
continuidade da vida terrena, um estado misto entre a vida corporal e a vida
espiritual. V) Por que - se o indivíduo foi simples e prudente - sentiria o
frio do túmulo? por que passaria bruscamente da vida à morte, da claridade do
dia à noite? VI) Deus não é injusto e deixa aos pobres de espírito esse prazer,
esperando que vejam o seu estado pelo desenvolvimento das próprias faculdades e
passem, calmos, da vida material à vida real do Espírito. (Revista Espírita
de 1864, pág. 343.)
B. Essa
ilusão de que continua encarnado pode ser também para o Espírito uma provação?
Sim. E
penosa é ela para aqueles que passam por semelhante provação. Julgando-se vivos
e bem vivos, creem eles possuir um corpo capaz de sentir e saborear os prazeres
terrenos, mas, quando suas mãos os querem tocar, as mãos se dissolvem; quando
querem aproximar os lábios de uma taça ou de uma fruta, os lábios se aniquilam;
veem, querem tocar e nem podem sentir nem tocar. O paganismo apresenta-nos uma
imagem desse suplício em Tântalo, que sente fome e sede e jamais pode tocar os
lábios na fonte de água, que sussurra ao seu ouvido, ou no fruto, que amadurece
para ele! Que fizeram esses infelizes para suportarem tais sofrimentos?
Perguntai a Deus: é a lei, que foi escrita por ele. Quem mata à espada morrerá
pela espada; quem profanou o próximo, por sua vez será profanado. (Obra citada,
pp. 343 e 344.)
C. Que
nos ensina Cárita com respeito aos infortúnios alheios?
O
Espírito de Cárita lembra, numa mensagem, como é importante a ajuda que
prestamos aos deserdados do bem-estar social. “Os pobres, amigos, são os
enviados de Deus”, afirma Cárita. “Sorride ao infortúnio, ó vós que sois
ricamente dotados de todas as qualidades de coração; ajudai-me em minha tarefa;
não deixeis fechar-se esse santuário de vossa alma, onde mergulhou o olhar de Deus;
e um dia, quando entrardes na mãe-pátria, quando, com o olhar incerto e o passo
inseguro, buscardes o vosso caminho através da imensidade, eu vos abrirei de
par em par a porta do templo onde tudo é amor e caridade e vos direi: Entrai,
meus amados; eu vos conheço!” (Obra citada, pp. 346 e 347.)
Observação:
Para acessar a Parte 23
deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/01/revista-espirita-de-1864-allan-kardec_01763812982.html
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