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quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

 



Revista Espírita de 1864

 

Allan Kardec

 

Parte 24

 

Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1864, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

A coleção do ano de 1864 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.

Cada parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. A que se deve a ilusão que tantos Espíritos conservam de estarem ainda encarnados?

B. Essa ilusão de que continua encarnado pode ser também para o Espírito uma provação?

C. Que nos ensina Cárita com respeito aos infortúnios alheios?

 

Texto para leitura

 

282. Outro fenômeno que parece ainda mais original e faz sorrir os incrédulos é o dos objetos materiais que o Espírito julga possuir. Como pode o Sr. Pierre imaginar ter dinheiro e haver pago a passagem do trem que tomou para fazer uma viagem? O fenômeno - explica Kardec - encontra solução nas propriedades do fluido perispiritual, que não passa de uma concentração do fluido cósmico ou elemento universal, uma transformação parcial, que produz o objeto que se deseja. Tal objeto para nós é uma aparência, mas para o Espírito é uma realidade. (P. 341)

283. Tudo deve estar em harmonia no mundo espiritual, como no mundo material. Aos homens são necessários objetos materiais; aos Espíritos, cujo corpo é fluídico, são necessários objetos fluídicos. Querendo fumar, o Espírito criaria um cachimbo que para ele tem a realidade de um cachimbo terrestre. É assim que se explicam as vestimentas dos Espíritos, as insígnias e as várias aparências que podem tomar os desencarnados. (PP. 341 e 342)

284. A que se deve essa ilusão que tantos Espíritos conservam, crendo-se vivos? O assunto foi tratado pelo Espírito de Santo Agostinho, na Sociedade Espírita de Paris, em 21-7-1864, o qual disse, em síntese, o seguinte: I) Nem tudo é provação na existência humana. II) A vida do Espírito continua desde o nascimento até o infinito: a morte nada mais é que um acidente, que em nada influi no destino do que morre. III) A morte separa o Espírito do seu invólucro material, mas o envoltório perispiritual conserva, pelo menos em parte, as propriedades do corpo morto. IV) A ilusão mencionada para alguns dura muito tempo; tal estado é uma continuidade da vida terrena, um estado misto entre a vida corporal e a vida espiritual. V) Por que - se o indivíduo foi simples e prudente - sentiria o frio do túmulo? por que passaria bruscamente da vida à morte, da claridade do dia à noite? VI) Deus não é injusto e deixa aos pobres de espírito esse prazer, esperando que vejam o seu estado pelo desenvolvimento das próprias faculdades e passem, calmos, da vida material à vida real do Espírito. (P. 343)

285. Nem todos que morrem subitamente caem nesse estado - lembra Santo Agostinho. Mas não há um só cuja matéria não tenha de lutar com o Espírito que se encontra. (P. 343)

286. Diferentemente - ensina o iluminado Espírito - ocorre com aqueles para os quais a ilusão quanto ao seu estado é uma provação. Oh! como ela é penosa! Julgando-se vivos e bem vivos, creem possuir um corpo capaz de sentir e saborear os prazeres terrenos, mas, quando suas mãos os querem tocar, as mãos se dissolvem; quando querem aproximar os lábios de uma taça ou de uma fruta, os lábios se aniquilam; veem, querem tocar e nem podem sentir nem tocar. Como o paganismo apresenta uma bela imagem deste suplício em Tântalo, sentindo fome e sede e jamais podendo tocar os lábios na fonte de água, que sussurra ao seu ouvido, ou no fruto, que amadurece para ele! Que fizeram esses infelizes para suportarem tais sofrimentos? Perguntai a Deus: é a lei, que foi escrita por ele. Quem mata à espada morrerá pela espada; quem profanou o próximo, por sua vez será profanado. (PP. 343 e 344)

287. Um novo suicídio atribuído às ideias espíritas pelos jornais de Marselha foi, logo em seguida, esclarecido pelo Sr. Chavaux, doutor em Medicina, que contou a Kardec, em carta transcrita pela Revista, ter sido conhecido do infeliz e seu colega de loja maçônica. Segundo o dr. Chavaux, o industrial - que se matou motivado por dificuldades financeiras - jamais se ocupara de Espiritismo e não tinha lido nenhuma publicação sobre esta matéria. (PP. 344 e 345)

288. Em Lyon, a faculdade auditiva do capitão B... evitou que uma pessoa que ele mal conhecia se suicidasse. Foi o seu próprio filho desencarnado, do qual ele recebia frequentes comunicações, quem lhe murmurou no ouvido que determinado homem decidira suicidar-se. Arrastando-o para fora do estabelecimento onde se encontravam, o capitão revelou ao homem que sabia do seu intento e procurou, com as ideias espíritas, demovê-lo desse propósito. (PP. 345 e 346)

289. O infeliz, que fora ortopedista, agora com 76 anos de idade, tinha sido arruinado por um sócio, após o que caíra doente. Uma vez curado, ele se viu sem nenhum recurso, quando foi recolhido por uma operária pobre, criatura sublime que durante meses o alimentou. (P. 346)

290. Depois de fazer um resumo pungente do caso, o Espírito de Cárita mostra como é importante a ajuda que prestamos aos deserdados do bem-estar social. “Os pobres, amigos, são os enviados de Deus”, afirma Cárita. “Sorride ao infortúnio, ó vós que sois ricamente dotados de todas as qualidades de coração; ajudai-me em minha tarefa; não deixeis fechar-se esse santuário de vossa alma, onde mergulhou o olhar de Deus; e um dia, quando entrardes na mãe-pátria, quando, com o olhar incerto e o passo inseguro, buscardes o vosso caminho através da imensidade, eu vos abrirei de par em par a porta do templo onde tudo é amor e caridade e vos direi: Entrai, meus amados; eu vos conheço!” (PP. 346 e 347)

291. Kardec comenta o episódio e a mensagem, e indaga: “A quem fariam crer seja esta a linguagem do diabo?” Foi a voz do diabo que se fez ouvir ao ouvido do capitão, sob o nome de seu filho, para o advertir que o velho ia suicidar-se? (P. 347)

292. Publicada a história da pobre operária e do médico arruinado pelo sócio, vários donativos foram encaminhados a eles, através da Revista. Um deles foi enviado por um padre, que pediu ocultasse seu nome. Com o donativo, o padre enviou a Kardec uma carta. Eis um trecho desta: “À sua pergunta se nele eu reconhecia a linguagem do demônio, respondi que os nossos melhores santos não falam melhor”. “Senhor, sou um pobre padre, mas vos envio o óbolo da viúva, em nome de Jesus-Cristo, para essa brava e digna mulher.” (P. 348)

293. Kardec expõe, em um artigo especial, por que razão a Revista não assumia a periodicidade quinzenal ou mesmo semanal, como muitos lhe haviam proposto. O primeiro motivo era a multiplicidade dos trabalhos desenvolvidos pelo Codificador, cuja extensão era difícil de imaginar. O segundo motivo estava ligado à própria natureza da publicação, que era menos um jornal do que o complemento e o desenvolvimento de suas obras doutrinárias. Sendo a Revista uma obra pessoal, cuja responsabilidade ele assumira inteiramente, Kardec não desejava ser entravado por nenhuma vontade estranha, fato que forçosamente ocorreria se a periodicidade fosse alterada. (PP. 348 a 350)

 

Respostas às questões propostas

 

A. A que se deve a ilusão que tantos Espíritos conservam de estarem ainda encarnados?

O assunto foi tratado pelo Espírito de Santo Agostinho, na Sociedade Espírita de Paris em 21-7-1864. Segundo esse Espírito: I) Nem tudo é provação na existência humana. II) A vida do Espírito continua desde o nascimento até o infinito: a morte nada mais é que um acidente, que em nada influi no destino do que morre. III) A morte separa o Espírito do seu invólucro material, mas o envoltório perispiritual conserva, pelo menos em parte, as propriedades do corpo morto. IV) A ilusão mencionada para alguns dura muito tempo; tal estado é uma continuidade da vida terrena, um estado misto entre a vida corporal e a vida espiritual. V) Por que - se o indivíduo foi simples e prudente - sentiria o frio do túmulo? por que passaria bruscamente da vida à morte, da claridade do dia à noite? VI) Deus não é injusto e deixa aos pobres de espírito esse prazer, esperando que vejam o seu estado pelo desenvolvimento das próprias faculdades e passem, calmos, da vida material à vida real do Espírito. (Revista Espírita de 1864, pág. 343.)

B. Essa ilusão de que continua encarnado pode ser também para o Espírito uma provação?

Sim. E penosa é ela para aqueles que passam por semelhante provação. Julgando-se vivos e bem vivos, creem eles possuir um corpo capaz de sentir e saborear os prazeres terrenos, mas, quando suas mãos os querem tocar, as mãos se dissolvem; quando querem aproximar os lábios de uma taça ou de uma fruta, os lábios se aniquilam; veem, querem tocar e nem podem sentir nem tocar. O paganismo apresenta-nos uma imagem desse suplício em Tântalo, que sente fome e sede e jamais pode tocar os lábios na fonte de água, que sussurra ao seu ouvido, ou no fruto, que amadurece para ele! Que fizeram esses infelizes para suportarem tais sofrimentos? Perguntai a Deus: é a lei, que foi escrita por ele. Quem mata à espada morrerá pela espada; quem profanou o próximo, por sua vez será profanado. (Obra citada, pp. 343 e 344.)

C. Que nos ensina Cárita com respeito aos infortúnios alheios?

O Espírito de Cárita lembra, numa mensagem, como é importante a ajuda que prestamos aos deserdados do bem-estar social. “Os pobres, amigos, são os enviados de Deus”, afirma Cárita. “Sorride ao infortúnio, ó vós que sois ricamente dotados de todas as qualidades de coração; ajudai-me em minha tarefa; não deixeis fechar-se esse santuário de vossa alma, onde mergulhou o olhar de Deus; e um dia, quando entrardes na mãe-pátria, quando, com o olhar incerto e o passo inseguro, buscardes o vosso caminho através da imensidade, eu vos abrirei de par em par a porta do templo onde tudo é amor e caridade e vos direi: Entrai, meus amados; eu vos conheço!” (Obra citada, pp. 346 e 347.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 23 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/01/revista-espirita-de-1864-allan-kardec_01763812982.html

 

 

 

 

 

 

 

 

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terça-feira, 30 de janeiro de 2024

 



Deus e o autoconhecimento


CÍNTHIA CORTEGOSO

cinthiacortegoso@gmail.com

 

Há tanto mais de Deus para chegar a nós. Há tanta luz que quer nos iluminar. Há a compreensão que, amorosamente, está sempre disposta a nos esclarecer. Há as respostas para todos os questionamentos. Há a vida, diversa e infinita, a ser realmente vivida. Há o amor, a paz e a eternidade. Há o nosso espírito infinito. Há a beleza do nosso ser. Há o sentido de tudo. É necessário acessar o processo divino que está em toda criatura. É necessário, então, (auto)conhecermo-nos e muito será compreendido.

Há tempos que importantes afirmações são bastante mencionadas e uma delas é a de que estamos humanos, mas somos espíritos. Ou seja, esta vivência é, de fato, considerável, pois é a sequência de nossa evolução, porém não é o tudo. Estamos num ciclo de inúmeras existências e é mais do que a hora certa para um despertar, querer conhecer-se um pouco mais para usufruir o encanto que é viver e não mais sobreviver, de acessar as potencialidades para sentir Deus mais perto e a vida receber o seu verdadeiro significado.

Quanto mais nos conhecemos ‒ em todas as explorações ‒ também entendemos o outro e nos desenvolvemos empaticamente e compreendemos que a magnificência divina é tão incomparável, infinita e inédita que o nosso anseio ‒ único ‒ torna-se o de conhecermos mais, ou melhor, o de autoconhecermo-nos, pois somos um universo do Universo; somos da mesma energia de Sua grandeza; somos do início ao infinito; somos luz, vida e imortalidade. Somos a Sua criação. Como não nos admirarmos? Como não querermos o autoconhecimento? Como não nos emocionarmos se quem nos criou foi Deus? Como, então, não querermos conhecer um pouquinho do nosso Criador?

E conheceremos a autêntica alegria quando percebermos que com o autoconhecimento poderemos curar, amparar, criar, apaziguar, fortalecer, compreender, restaurar, energizar, transportar, aproximar, proteger, aprender e amar da forma mais verdadeira em esfera individual e coletiva, pois entraremos em contato com todas as nossas capacidades que ainda estão letárgicas, no entanto existem e só necessitam ser despertas, e valorizaremos cada segundo e reconheceremos a perfeição da vida.

O autoconhecimento é um entendimento atemporal, físico, mental, energético e espiritual, assim como a nossa composição. Ele expande dimensionalmente o nosso olhar e a nossa mente conecta-se com as informações existentes; naturalmente começamos a acessar e compreender a sabedoria ‒ se quer expandir-se busque a luz, livre-arbítrio.

E com esse mecanismo mais sublimado transporemos um vigoroso obstáculo, o da limitação, e estaremos certos de que como Suas criaturas, também somos ilimitados.

E assim nasce o espírito livre.

E assim esse espírito compreende a sua verdade.

E assim esse espírito, expansivo, se emociona em estar mais pertinho de Deus.

 

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/

 

 

 



 

 

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segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

 



O temor da morte

 

Hilário Silva

 

- Doutor Sales, a sua competência é a nossa esperança. O senhor já operou Paulina por duas vezes...

Narciso Meireles pedia o concurso do Dr. Sales Neto, distinto médico, para a mulher que experimentava parto difícil, em vilarejo distante.

- Por que deixaram ficar assim, tão longe? disse o médico, procurando esquivar-se.

- A crise apareceu de surpresa... O senhor prefere o avião? Dez minutos apenas...

- Nada disso. Perdi dois amigos de uma só vez na semana passada. Nada de voo...

- Um carro?

- A estrada é péssima. Não soube do desastre havido anteontem?...

- Um cavalo, doutor? Arranjo-lhe um cavalo...

- Era o que faltava! Não posso expor-me assim...

- Que sugere? roga o marido desapontado...

- Se quiserem - disse o médico -, tragam a parturiente aqui, como julgarem melhor. De minha parte, não me arrisco...

Em face da evidente má vontade do médico, o esposo aflito aquiesceu e partiu a galope, em busca do avião teco-teco. No outro dia, porém, quando a senhora Meireles chegou, abatida, na expectativa da intervenção, a residência do médico operador Doutor Sales estava cheia de gente.

O Dr. Sales Neto, naquela noite, havia morrido, no próprio leito, em consequência de uma trombose.

 

Do livro Ideias e Ilustrações, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

 

 

 



 

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domingo, 28 de janeiro de 2024

 



O caso Jacques Latour e o que ele nos ensina

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

 

Condenado pelo júri da cidade francesa de Foix por haver cometido vários crimes, Jacques Latour foi executado na guilhotina em setembro de 1864.

No dia 13 do mesmo mês, o Espírito de Latour comunicou-se em Bruxelas, Bélgica. Por meio de um dos médiuns e possuído de enorme agitação, ele desabafou: "Arrependo-me! arrependo-me!"

Em seguida, em resposta a uma pergunta feita pelo dirigente dos trabalhos, ele explicou por que comparecera ali: "Vi que, almas compassivas, teríeis piedade de mim, ao passo que outros ou me evocavam mais por curiosidade que por caridade, ou de mim se afastavam horrorizados."

Ato seguinte, iniciou-se uma cena indescritível que não durou mais de meia hora, na qual o médium, juntando os gestos e a expressão da fisionomia à palavra, deixava patente a identificação do Espírito com a sua pessoa. Às vezes, esses gestos de cruel desespero desenhavam vivamente seu sofrimento. O tom da sua voz era tão compungido, as súplicas tão veementes, que todos os presentes ficaram profundamente comovidos.

E Jacques Latour continuou, suplicando piedade: "Oh! sim, piedade... muito necessito dela... Não sabeis o que sofro... Não o sabeis, e não podereis compreendê-lo. É horrível! A guilhotina!... Que vale a guilhotina comparada a este sofrimento de agora? Nada! – é um instante. Este fogo que me devora, sim, é pior, porque é uma morte contínua, sem tréguas nem repouso... sem fim!... E as minhas vítimas ali estão ao redor, a mostrar-me os ferimentos, a perseguir-me com seus olhares... Aí estão, e vejo-as todas... todas... sem poder fugir-lhes! E este mar de sangue?! E este ouro manchado de sangue?! Tudo aí está... tudo... e sempre ante meus olhos! E o cheiro de sangue... Não o sentis? Oh! Sangue e sempre sangue! Ei-las que imploram, as pobres vítimas, e eu a feri-las sempre... sempre... impiedosamente!... O sangue inebria-me... Acreditava que depois da morte tudo estaria terminado, e assim foi que afrontei o suplício e afrontei o próprio Deus, renegando-O!... Entretanto, quando me julgava aniquilado para sempre, que terrível despertar... oh! sim, terrível, cercado de cadáveres, de espectros ameaçadores, os pés atolados em sangue!!... Acreditava-me morto, e estou vivo! Horrendo! horrendo! mais horrendo que todos os suplícios da Terra! Ah! se todos os homens pudessem saber o que há para além da vida, saberiam também quanto custam as consequências do mal! Certo não haveria mais assassínios, nem criminosos, nem malfeitores! Eu só quisera que todos os assassinos pudessem ver o que eu vejo e sofro... Oh! então não mais o seriam, porque é horrível este sofrimento! Bem sei que o mereci, oh! meu Deus, porque também eu não tive compaixão das minhas vítimas; repelia as mãos súplices quando imploravam que as poupasse... Sim, fui cruel, decerto, matando-as covardemente para roubá-las! E fui ímpio, e fui blasfemo também, renegando o vosso sacratíssimo Nome... Quis enganar-me, porque eu queria persuadir-me de que Vós não existíeis... Meu Deus, eu sou grande criminoso! Agora o compreendo. Mas... não tereis piedade de mim?... Vós sois Deus, isto é, a bondade, a misericórdia! Sois onipotente! Piedade, Senhor! Piedade! Eu vo-lo peço, não sejais inexorável; libertai-me destes olhares odiosos, destes espectros horríveis... deste sangue... das minhas vítimas... olhares que, quais punhaladas, me varam o coração.”

Depois desse comovente desabafo, os assistentes, sensibilizados, dirigiram-lhe palavras de conforto e consolação. Disseram-lhe, então, que Deus não é inflexível; apenas exige do culpado um arrependimento sincero, aliado à vontade de reparar o mal praticado.

Após várias palavras de conforto e elucidação dirigidas ao sofrido Espírito, fez-se uma prece e ouviu-se, então, mais uma manifestação de Jacques Latour, que, mais calmo, assim falou: "Obrigado, meu Deus!... Oh! obrigado! Tivestes piedade de mim... Eis que se afastam os espectros... Não me abandoneis, enviai-me os vossos bons Espíritos para me sustentarem... Obrigado.”

Os episódios ora reproduzidos podem ser vistos na obra de Allan Kardec intitulada O Céu e o Inferno, 2ª parte, cap. VI, que nos apresenta comunicações feitas por criminosos arrependidos e no mesmo capítulo outras manifestações do mesmo Espírito, que com o passar dos dias foi-se equilibrando e compreendendo perfeitamente, com os ensinamentos espíritas, como funciona a Justiça Divina.

Numa delas, Jacques Latour diz que se os culpados da Terra pudessem vê-lo ficariam apavorados com as consequências de seus crimes. E fez então uma observação que seria bom que todos lêssemos e nela meditássemos. “Que responsabilidade – disse Latour – assumem os que recusam a instrução às classes pobres da sociedade! Julgam que com a polícia e os guardas podem prevenir os crimes. Como estão errados!”

Arrependido sinceramente dos crimes cometidos, ele reconheceu e disse ainda que, se tivesse sido bem guiado na vida, não teria feito todo o mal que fizera. Como seus instintos não haviam sido reprimidos, a eles obedeceu, pois não conhecia freios. “Se todos os homens – acrescentou Latour - pensassem bastante em Deus, ou, pelo menos, se todos os homens nele acreditassem, semelhantes coisas não mais seriam praticadas.”

Essas observações, vindas de alguém que muito errou e sofreu duramente as consequências de seus atos, reforçam o entendimento espírita acerca da importância que tem no mundo em que vivemos a educação de nossos filhos, tarefa que deve iniciar-se o mais cedo possível e jamais postergada, com o falso argumento de que quando adultos eles saberão como se conduzir na vida.

Aos que pensam assim é importante lembrar que a Terra ainda é um mundo de provas de expiações e que nossas crianças já estiveram por aqui em outras oportunidades e tomaram um novo corpo, passando pela fase da infância, justamente para serem orientadas e, desse modo, não mais cometerem os erros e os equívocos do passado.

 

 


 

 

 

 

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sábado, 27 de janeiro de 2024

 



O Agricultor e sua lavra - II

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

 

Sucederá nos últimos dias, diz Deus, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões e vossos velhos sonharão. (BÍBLIA de Jerusalém. Atos dos Apóstolos, 2:17.)

 

Alma amiga, na última crônica, falei-lhe ainda sobre meu amigo Agricultor, mas ainda tenho algo a narrar do que ouvi ele dizer, não como lisonja ao seu ego, mas como demonstração a você sobre a incansável obra do meu amigo septuagenário.

É autor de meia dúzia de livros, dedica-se à edição semanal de crônica, faz pesquisas, elabora artigos para periódicos, realiza palestras e outros trabalhos literários e técnicos. Está agora aguardando a conclusão de sua nova obra, a ser publicada pela Editora Vozes, de Petrópolis, RJ.  

Caso isso ocorra antes, ou no início, do próximo semestre letivo, pensa propor à editora o lançamento do livro em sua terra natal, pois também, como eu, é carioca. Título da obra? Técnicas de redação e de pesquisa científica. Pretensioso, não?

Se convidado, estarei lá, com certeza.

Durante alguns anos, Agricultor foi contratado pelo CESPE/UnB para a correção de milhares de redações. Além disso, redigiu recursos para diversos candidatos, em concursos públicos. Segundo me informou, alguns desses candidatos, após obterem sucessos em seus pleitos, até hoje lhe são agradecidos.

Ele pediu-me que não me esquecesse de lhe dizer, alma amiga, que também é poeta e que aprendeu a gostar de poesia quando frequentava, em Rocha Miranda, Rio de Janeiro, a Mocidade Espírita Irmão Isaac. Morou dois anos em Salvador e aprendeu muito com André Luís Peixinho, Nílson de Sousa, Divaldo Franco, além de outras pessoas amigas do Centro Espírita Caminho da Redenção e outros amigos soteropolitanos.

Ah!, o Agricultor é também advogado, embora não atue na área... Sua lavoura é a literatura.

É tricolor de coração! Além de se ter tornado esforçado mesatenista, no Iate Clube de Brasília, onde já conquistou honroso terceiro lugar na faixa etária que ocupa atualmente: a dos septuagenários. Agora, pensa pedir ali a ampliação da faixa para quando ele for octogenário. Animado com a conquista anterior, obteve na Fit Pong, academia de mesatenistas de Brasília, o segundo lugar, após disputa com jovens bem mais novos...

Casado, sua família, como a minha, é formada pela esposa, há 45 anos, três filhos e seis netos. Muita coincidência comigo, não é mesmo?

Já ia concluir, quando soube de algo incrível ocorrido com meu amigo após seu relato, em crônica anterior, postada há duas semanas, quando disse ter sonhado que dois andares de um shopping o aplaudiram e ele conquistara a amizade dum magistrado. Uma jovem que ele não via há alguns anos, amiga de sua filha, perguntou à aniversariante: — Você já contou a seu pai o sonho que tive com ele?

Cris, a filha citada no primeiro parágrafo desta crônica, disse-lhe que não. Então sua amiga narrou ao pai da aniversariante seu sonho: Ela presenciava homenagem na escola onde Agricultor trabalhara durante 22 anos. Ali, a festa era para ele, e todos os alunos de diversos cursos o aplaudiam. Fora dali, muitos carros desfilavam em carreata que prosseguia homenageando o emérito professor.

Pode ser que você, alma irmã, diga que meu amigo enlouqueceu ou foi vítima de algum Espírito obsessor, para testar-lhe a humildade. Entretanto, pergunto-lhe se você também não sentiria vaidade e gratidão ante tal demonstração de carinho...

Como dizia um sábio professor na UnB, onde também Agricultor cursou francês durante algum tempo: “— A vida só é dura para quem é mole!”. Ao que completo: Ninguém é tão ignorante que não nos possa algo ensinar, nem tão idoso que nada mais possa aprender.

 

Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 



 

 

 

 

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sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

 



Comunicações mediúnicas entre vivos

 

  Ernesto Bozzano

 

Parte 3

 

Damos prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires e publicado pela Edicel.

Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para leitura.

Este estudo será publicado sempre às sextas-feiras.

 

Questões preliminares

 

A. Um sensitivo, projetando suas faculdades perceptivas a distância, pode influenciar as pessoas visualizadas, transmitindo-lhes os próprios pensamentos ou sugerindo-lhes a prática de uma determinada ação? 

B. O que demonstram fatos como o narrado pelo Sr. Barret, citado na questão precedente?  

C. Admitindo a realidade do fato acima narrado, que conclusões dele podemos extrair? 

 

Texto para leitura

 

Caso 3

36. Este caso foi transcrito da Light (1898, pág. 375) e, segundo Bozzano, trata-se de um caso muito instrutivo de “vontade sugestionante” e de “lucidez” desenvolvida em uma distinta escritora norte-americana. O narrador é o Sr. Harrison D. Barret, diretor de Banner of Light e presidente da National Spiritualist Association dos Estados Unidos da América do Norte. É longo o relatório e, conquanto o incidente que realmente interessa esteja em curto parágrafo, ele decidiu relatar um longo trecho, dado o valor teórico que os fatos apresentam. Escreve o Sr. Barret: 

Trata-se de uma jovem senhora a quem o relator teve a honra de ser recentemente apresentado. Nela se desenvolvem espontaneamente faculdades de clarividência, sem que conhecesse coisa alguma do que a propósito ensina o Ocultismo. Em grau menor existem as mesmas faculdades em dois outros membros da família, porém como os sentimentos destes últimos são contrários a tal sorte de manifestações, eles as reprimem sistematicamente.

É costume da senhora projetar as suas faculdades perceptivas em direção à irmã e ao irmão que residem nos “Midlands” e assim procedendo ela os percebe nas situações em que se acham na ocasião, situações essas que depois lhe são confirmadas em cartas.

Uma vez viu seu cunhado subindo numa escada a pregar na parede uma série de pregos nos quais dependurava outros tantos quadros. O fato a surpreendeu porque ela sabia que o seu cunhado não possuía os quadros que estava vendo, mas quando lhe escreveu veio a saber, pela resposta, que realmente ele estava colocando na parede os mesmos quadros que ela vira, quadros que obtivera em virtude de um legado.

Por meio da sugestão mental conseguiu que um membro da família interrompesse uma carta que estava escrevendo, a pusesse de lado e escrevesse outra carta que ela ditou mentalmente. E ele escreveu até o fim a segunda carta, meteu-a no envelope, pôs o endereço e selou, depois voltou a escrever a carta que havia interrompido. Tudo isso ocorreu sem a troca de uma única palavra e só três horas depois é que revelou tudo ao seu parente, o qual ficou um pouco contrariado e pediu que lhe fosse devolvida a carta que ela lhe havia ditado por sugestão, mas era tarde porque já fora posta no correio.

Quando projeta as suas faculdades perceptivas a distância ela pode influenciar as pessoas visualizadas, transmitindo-lhes os próprios pensamentos ou sugerindo-lhes a prática de uma determinada ação. Assim, por exemplo, ela lhe sugere que a venha visitar numa hora preestabelecida, o que nunca se deixa de realizar. Quando transmite ordens mentais, percebe os pensamentos das pessoas com as quais está em afinidade, como se conversasse de viva voz com elas, mas não fica certa do êxito da experiência enquanto não se verifica a ação sugerida. A projeção das suas próprias faculdades perceptivas em direção ao paciente determina um “circuito” de retorno que reage sobre ela e, dessa forma, é informada do êxito da experiência.

Quando deseja comunicar-se com pessoa de longe, começa por suprimir qualquer relação com o ambiente exterior, fechando os olhos e sobrepondo-lhes as mãos. Depois concentra intensamente o pensamento sobre a pessoa que deseja ver, evitando rigorosamente deixar-se colher pela mínima distração. Se pensar no ambiente em que se acha a pessoa que deseje ver ou em coisas que a mesma lhe sugere, falhará a experiência. Algumas vezes atinge o alvo imediatamente, outras vezes tem que sustentar a prova por uns vinte minutos. Enquanto não vê a pessoa visualizada, abstém-se de transmitir a mensagem e, quando o fato se realiza, sente-se na presença da pessoa. Algumas vezes tem tentado tocá-la e a vê reagir imediatamente. Em geral as pessoas sobre as quais projeta o pensamento tomam conhecimento de sua presença ou pelo menos pensam nela. Ela não distingue o ambiente em que se acha a citada pessoa a menos que se proponha vê-lo como também não percebe a paisagem que tem de atravessar para chegar à pessoa visualizada. Com respeito a esta última circunstância o relator obteve dela a promessa de tentar visualizar os detalhes das paisagens interpostas de caminhos percorridos, pessoas encontradas, etc.

O esforço que ela faz nessas circunstâncias a esgota sensivelmente e algumas vezes sente dor de cabeça. Vivendo só, procura a companhia dos parentes, recorrendo às suas faculdades de vidente, as quais desenvolveu tanto que agora funcionam espontaneamente, sem intenção alguma de sua parte. Ocorreu-lhe isso algumas vezes enquanto guiava a sua caleça,[i] o que se torna um inconveniente muito sério, porque durante esse estado fica inconsciente do ambiente que a cerca, de modo que por duas vezes o cavalo se desviou, indo esbarrar na cerca da estrada, onde ela caiu, despertando-se bruscamente para a vida normal, de forma bem pouco agradável. Ela é de opinião que em tais condições de clarividência realiza-se a projeção a distância de seu próprio “duplo”, e isto porque vê o seu próprio corpo deitado no divã.

Além disso distingue repetidas vezes os “duplos” de outras pessoas vivas, algumas das quais vinham visitá-la em seu quarto, como também distingue e comunica-se mentalmente com pessoas mortas, separando facilmente os fantasmas de vivos e de mortos pelo grau diverso de densidade com que lhe aparecem: os fantasmas dos vivos são muito mais densos do que os dos mortos. Ela conserva lembrança de suas experiências, conquanto se realizem evidentemente durante uma “segunda condição” de sensitiva. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento: caso 3.)

 37. Este é o mais interessante caso referido pelo diretor da revista Banner of Light, que o comenta brevemente, nas seguintes palavras:

Este caso demonstra, de modo absoluto, que o “controle mediúnico” consiste na transmissão telepática do pensamento e não em uma encarnação temporária do espírito comunicante no organismo do médium. O mesmo se diga dos fenômenos de “obsessão” e “possessão”, que, baseados no caso exposto, deveriam ser considerados como determinados pelo fato de o paciente ser dominado por uma ideia. Quer dizer que a mente do paciente, achando-se temporariamente em condições de ideação negativa, torna-se fácil presa de uma ideia sugestionante de origem extrínseca, ideia essa que pode dominá-lo e obsidiá-lo, degenerando numa representação monoideística. Este caso demonstra também que a chamada “presença de um espírito” não implica, de modo algum, a ideia de que ele se ache efetivamente presente. Antes, a uniformidade das leis naturais tenderia a fazer presumir que as manifestações espíritas sejam consequência de uma projeção de força ou de pensamento da entidade comunicante, conforme se verifica no caso exposto. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento: caso 3.)

38. Estas são as considerações racionais e instrutivas que o relator faz do interessante caso referido, cujo valor técnico é notabilíssimo, não porque encerre modalidades novas de manifestação, mas pelo desenvolvimento completo que nele assumem alguns episódios. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento: caso 3.) 

39. Começando pelo incidente que diretamente nos interessa, não se pode negar que o fato de conseguir-se, pela transmissão do pensamento, que uma pessoa interrompa uma carta que estava escrevendo, a fim de começar outra que lhe é ditada por uma vontade extrínseca, sem que a pessoa sugestionada tenha conhecimento de se haver tornado instrumento passivo em mão de outrem – não se pode negar, repita-se, que um completo incidente de tal natureza seja um tanto raro nos anais dos fenômenos magnéticos e hipnóticos. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento: caso 3.) 

40. Recordamos um episódio semelhante ao narrado, o qual se encontra no livro do Prof. Flournoy, Esprits et Mediums, pág. 90. Neste, a Sra. Prell sonha que está fazendo uma visita à sua amiga, a Sra. Zora, dotada de mediunidade escrevente, e que lhe faz certo discurso. Em tal momento, a Sra. Zora, que acabava de levantar-se e estava absorvida no trabalho, é tomada por um impulso de escrever automaticamente e, assim procedendo, manifesta-se-lhe a sua amiga Sra. Prell, que lhe dita longo discurso, idêntico no conteúdo, senão na forma, ao discurso do sonho. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.) 

41. Do ponto de vista do paralelismo entre os fenômenos anímicos e espíritas, tais episódios são altamente sugestivos porque valem para tornar mais inteligíveis as modalidades em que se realizam as comunicações com os mortos, pois que, se a vontade de um vivo pode ditar mentalmente uma carta, palavra por palavra, servindo-se do cérebro e mãos de outrem, ou pode transmitir a distância o conteúdo de um longo discurso, nada impede que se acolham, como legítimas e verdadeiras, as explicações dadas em tal sentido pelas personalidades dos mortos, que afirmam transmitir as suas mensagens agindo telepaticamente pela sua vontade sobre o cérebro dos médiuns. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.) 

42. Bozzano destaca ainda as seguintes passagens:  

“Quando transmite ordens mentais, ela percebe os pensamentos das pessoas com as quais está em relação, como se estas conversassem com ela, de viva voz.”

“Geralmente as pessoas sobre as quais projeta o seu pensamento têm consciência de sua presença, ou pelo menos pensam nela.”

 “Ela é de opinião que em tais condições de clarividência realiza-se a projeção, a distância, do seu próprio ‘duplo’, e isto porque ela vê o seu próprio corpo deitado, inerte, no divã.” (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.)

43. As passagens citadas nos levam a presumir que, na sensitiva em questão, as faculdades de transmissão telepática do pensamento se alternam muitas vezes com os fenômenos de “bilocação” ou projeção a distância do seu corpo fluídico. Em tal caso, porém, não devem ser tomadas ao pé da letra as impressões da vidente, isto é, que as pessoas por ela visualizadas conversem com ela, de viva voz. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.) 

44. Tais pessoas, indubitavelmente, não se portariam desse modo, pois que não existem exemplos de tal natureza em toda a casuística do gênero, conquanto seja verdade que as pessoas que recebem um impulso telepático, muitas vezes se tornam conscientes de uma presença ou pensam na pessoa que, naquele momento, se acha em relação psíquica com elas. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.) 

45. Deve-se presumir, portanto, que as conversações de que se trata ocorrem entre as personalidades integrais subconscientes dos protagonistas e, como isso não faz diferença para os videntes, os quais desenvolvem os seus diálogos com as pessoas visualizadas, é natural que neles se produza a ilusão de uma conversa de viva voz, ilusão ou alucinação tão viva e infalível que constitui a regra em tais experiências. O próprio William Stainton Moses a ela se sujeitava. Este, certo dia, resolveu pedir explicação a tal respeito ao seu guia “Imperator” e isto por ocasião de um incidente desse gênero, em que ele estava convencido de ter conversado de viva voz com pessoas distantes, que vira num cortejo fúnebre. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.) 

46. Moses perguntou: “Em tais circunstâncias (do desdobramento fluídico) poderia tornar-me visível aos presentes?” O guia “Imperator” respondeu:  

“Não estarias visível a olhos humanos, se bem que a presença de teu espírito pudesse impressionar a mente de alguns dos presentes que pensassem em ti, como dizeis vós outros. Muitas vezes isto se verifica por efeito da vontade dos espíritos que atraem o pensamento das pessoas com as quais se acham em relação. Referindo-me ao teu caso, observo que, como no cortejo não havia pessoas com as quais estivesses vinculado espiritualmente pela lei de afinidade, não terias podido tornar-te visível, mesmo que nós o houvéssemos desejado. Afirmas ter dirigido a palavra a alguém no cortejo, recebendo resposta, mas em verdade exercitaste as faculdades espirituais de transmissão e leitura do pensamento, faculdades de que se servem os espíritos para conversar entre si. Estavas em condições transitórias de desencarnado e por isso exercitaste as faculdades espirituais que em raras circunstâncias são exercitadas também pelos vivos em forma de clarividência. Em conclusão, não conversaste realmente com pessoa alguma, porém não deixa por isso de ser verdade o que afirmas.” (William Stainton Moses, Spirit Teachings, 2ª série, pág. 85). (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.) (Continua na próxima edição.)


 [i]    Caleça – Carruagem de quatro rodas e dois assentos, puxada por uma parelha de cavalos. (Dicionário Aurélio Século XXI)

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Um sensitivo, projetando suas faculdades perceptivas a distância, pode influenciar as pessoas visualizadas, transmitindo-lhes os próprios pensamentos ou sugerindo-lhes a prática de uma determinada ação? 

A experiência diz que sim, como mostra o depoimento dado pelo Sr. Harrison D. Barret, diretor de Banner of Light e presidente da National Spiritualist Association dos Estados Unidos da América do Norte, segundo o qual uma sensitiva conseguiu, por meio da sugestão mental, que um membro da família interrompesse uma carta que estava escrevendo, a pusesse de lado e escrevesse outra carta que ela ditou mentalmente. Bozzano, que transcreveu o caso, comentou-o em seguida. (Comunicações mediúnicas entre vivos - 1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento: caso 3.)

B. O que demonstram fatos como o narrado pelo Sr. Barret, citado na questão precedente?  

Esse fato demonstra, de modo absoluto, que o “controle mediúnico” consiste na transmissão telepática do pensamento e não em uma encarnação temporária do espírito comunicante no organismo do médium. O mesmo se diga dos fenômenos de “obsessão” e “possessão”, que, baseados no caso exposto, deveriam ser considerados como determinados pelo fato de o paciente ser dominado por uma ideia. E demonstra também que a chamada “presença de um espírito” não implica, de modo algum, a ideia de que ele se ache efetivamente presente. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento: caso 3.)

C. Admitindo a realidade do fato acima narrado, que conclusões dele podemos extrair? 

As observações são de Ernesto Bozzano: Se a vontade de um vivo pode ditar mentalmente uma carta, palavra por palavra, servindo-se do cérebro e mãos de outrem, ou pode transmitir a distância o conteúdo de um longo discurso, nada impede que se acolham, como legítimas e verdadeiras, as explicações dadas em tal sentido pelas personalidades dos mortos, que afirmam transmitir as suas mensagens agindo telepaticamente pela sua vontade sobre o cérebro dos médiuns. (1ª Categoria: Mensagens experimentais no mesmo aposento.)

 

 

Observação:

Para acessar a 2ª Parte deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/01/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos_0874258711.html

 

 

 

 

 

 

 

 


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