Revista Espírita de
1864
Allan Kardec
Parte 23
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1864, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção
do ano de 1864 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan
Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada
parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a)
questões preliminares;
b) texto
para leitura.
As
respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões
preliminares
A. Que papel
Kardec teve na codificação do Espiritismo?
B. Qual é
o principal efeito do arrependimento?
C. Que
proveito podemos tirar das existências passadas se não lembramos o que fomos
nem o que fizemos?
Texto
para leitura
270.
Demonstrando o Espiritismo, não por hipótese, mas por fatos, a existência do
mundo invisível e o futuro que nos aguarda, ele dá ao homem a força moral, a
coragem e a resignação, porque todos passam a saber que não trabalham apenas
pelo presente, mas pelo futuro. O homem tem, assim, uma base sólida para o
estabelecimento da ordem moral na Terra, em que a solidariedade e a
fraternidade deixam de ser palavras vãs. E, imbuído dessas ideias, ele tende a
conformar a elas suas leis e suas instituições sociais. (P. 324)
271. Se
os detratores do Espiritismo – dizemos dos que militam pelo progresso social,
pela emancipação dos povos, pela liberdade e reforma dos abusos – conhecessem
as verdadeiras tendências do Espiritismo, em vez de o atacar, veriam nele a
mais poderosa alavanca para chegar-se à destruição dos abusos que combatem. (P.
325)
272. Tal
é, em resumo, o ponto de vista sob o qual se deve encarar o Espiritismo - disse
Kardec -, concluindo sua alocução dirigida aos espíritas da Bélgica, a quem
reiterou que seu papel não foi o de inventor, nem o de criador. “Vi, observei,
estudei os fatos com cuidado e perseverança; coordenei-os e lhes deduzi as
consequências: eis toda a parte que me cabe”, arrematou o Codificador do
Espiritismo. (P. 325)
273. Num
interessante artigo biográfico sobre Méry, publicado pelo Journal Littéraire
de 25-9-1864, Pierre Dangeau afirma que Méry acreditava firmemente ter vivido
várias vezes na Terra e se lembrava das menores circunstâncias de suas
existências precedentes. Kardec aproveita o ensejo para mostrar que a lei das
vidas sucessivas não é um fato circunstancial e isolado, mas abarca a todas as
pessoas e que, conforme Méry atestava em suas lembranças, nada do que
adquirimos em inteligência, em saber e em moralidade fica perdido. (PP. 326 a
328)
274.
Kardec reitera ainda, em seu comentário, os motivos que, segundo os Espíritos,
dão causa ao esquecimento de nossas existências passadas e afirma que, à medida
que o indivíduo se depura, os laços materiais são menos tenazes e o véu que
obscurece o passado é menos opaco. Desse modo, a faculdade da lembrança retrospectiva
segue também o desenvolvimento do Espírito. (P. 329)
276. Latour disse ainda, arrependido, que se
ele tivesse sido bem guiado na vida, não teria feito todo o mal que fizera.
Como seus instintos não haviam sido reprimidos, a eles obedeceu, pois não
conhecia freios. “Se todos os homens - afirmou Latour - pensassem bastante em
Deus, ou, pelo menos, se todos os homens nele acreditassem, semelhantes coisas
não mais seriam praticadas.” (P. 333)
277. Comentando as diversas comunicações de
Latour, Kardec destaca o valor do arrependimento para aquele que erra,
porquanto o Espírito não compreende realmente a gravidade de seus erros senão
quando se arrepende. O arrependimento traz o pesar, o remorso, sentimento
doloroso que é, todavia, a transição do mal para o bem, da doença moral para a
saúde moral. O caso Jaques Latour comprova essa assertiva. (P. 333)
278. Há,
no entanto, pessoas que perguntam que proveito pode ser tirado das existências
passadas, se a gente não se lembra do que foi nem do que fez. Essa questão -
diz o Codificador - está completamente resolvida. De fato, se o mal que
praticamos estiver apagado e nenhum traço dele reste, sua lembrança será
inútil. Se dele ainda restar algum vestígio, por não nos havermos corrigido
completamente, podemos conhecê-lo por nossas tendências atuais. Basta então
saber o que somos, sem que seja necessário saber o que fomos. (P. 334)
279.
Durante a vida, quando se sabe da reprovação que acompanha o culpado, deve-se
agradecer a Deus por haver lançado um véu sobre o nosso passado. Se Latour
tivesse sido condenado há muito tempo e, assim, resgatado seus débitos, seus
antecedentes criminais em nada o ajudariam ante a sociedade. Conquanto
arrependido, quem o teria admitido na intimidade? Ora, os sentimentos que
manifesta como Espírito arrependido nos dão a esperança de que, na próxima
existência terrena, será um homem honesto e considerado, e o véu lançado sobre
o passado lhe abrirá a porta da reabilitação. (P. 334)
280. A Revista
divulga três comunicações obtidas pela sra. Delanne em que o comunicante, o
Espírito de Pierre Legay, se exprime exatamente como fazia em vida, imaginando
que ainda estivesse entre os encarnados. Curiosamente, os Espíritos de Pierre
Legay e do Sr. Colbert, morto há trinta anos, se viam e conversavam como se
estivessem no corpo físico, sem se darem conta de sua situação. (PP. 336 a 341)
281.
Kardec informa que os que se acham em situação idêntica à de Pierre Legay
parecem mais numerosos do que se pensa, e não uma exceção. Temos, assim, em
redor de nós Espíritos que têm consciência da vida espiritual e uma porção de
outros que vivem, por assim dizer, uma vida semimaterial, julgando-se ainda
neste mundo. (PP. 340 e 341)
Respostas
às questões propostas
A. Que
papel Kardec teve na codificação do Espiritismo?
Falando
aos espíritas da Bélgica, Kardec disse que seu papel não foi o de inventor, nem
o de criador do Espiritismo. “Vi, observei, estudei os fatos com cuidado e
perseverança; coordenei-os e lhes deduzi as consequências: eis toda a parte que
me cabe”, arrematou o Codificador do Espiritismo. (Revista Espírita de 1864,
pág. 325.)
B. Qual é
o principal efeito do arrependimento?
Segundo
Kardec, o Espírito culpado não compreende realmente a gravidade de seus erros
senão quando se arrepende. O arrependimento traz-lhe então o pesar e o remorso,
sentimento doloroso que, no entanto, é a transição do mal para o bem, da doença
moral para a saúde moral. O caso Jaques Latour comprovou essa assertiva. (Obra
citada, p. 333.)
C. Que
proveito podemos tirar das existências passadas se não lembramos o que fomos
nem o que fizemos?
Essa
questão - diz Kardec - está completamente resolvida. De fato, se o mal que
praticamos estiver apagado e nenhum traço dele reste, sua lembrança será
inútil. Se dele ainda restar algum vestígio, por não nos havermos corrigido
completamente, podemos conhecê-lo por nossas tendências atuais. Basta então
saber o que somos, sem que seja necessário saber o que fomos. (Obra citada,
pág. 334.)
Observação:
Para acessar a Parte 22
deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/01/revista-espirita-de-1864-allan-kardec_02047072893.html
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