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sábado, 3 de fevereiro de 2024

 



Do materialismo ao Espiritismo:

carta de um leitor, publicada na Revista Espírita

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

 

Alma irmã, segundo o Espírito André Luiz (Opinião Espírita, capítulo 1), “Espírita que não progride durante três anos sucessivos permanece estacionário”. Essa frase veio-me à lembrança quando li a carta do leitor Michel remetida, ao fim de seis meses de seu estudo da então recente Doutrina Espírita, a Allan Kardec.

O documento foi publicado por Kardec na Revista Espírita de abril de 1863. A missiva é longa, mas em vista da profundidade do conteúdo, reproduzirei seus pontos principais.

Primeiro ponto: “O advento do Espiritismo no século dezenove, numa época em que o egoísmo e o materialismo parecem dividir o império do mundo, é um fato muito importante e muito extraordinário para não provocar a admiração ou o espanto das pessoas sérias e dos espíritos observadores”.

Segundo ponto: “Mas um fato não menos surpreendente é que se tenha encontrado nesta mesma época de incredulidade um homem bastante crente, bastante corajoso, para sair da multidão, abandonar a corrente e anunciar uma doutrina que devia pô-lo em desacordo com o maior número, pois seu objetivo é combater e destruir os preconceitos, os abusos e os erros do povo, e, enfim, pregar a fé aos materialistas, a caridade aos egoístas, a moderação aos fanáticos, a verdade a todos”.

Terceiro ponto: “Sem vos preocupar com o número e a força dos vossos adversários, descestes sozinho à arena e, aos gracejos injuriosos, opusestes uma inalterável serenidade; aos ataques e calúnias respondestes com a moderação”.

Quarto ponto: “Para o adepto fervoroso o fato não pode ser posto em dúvida, e o Espiritismo não pode ser obra de alguns cérebros dementes, como seus detratores tentaram demonstrar. É impossível que o Espiritismo seja uma obra humana; deve ser e é, com efeito, uma revelação divina (destaquei).

Quinto ponto: “Depois de dezoito séculos de existência, a doutrina do Cristo nos parece tão luminosa quanto na época de seu nascimento [...]. Sendo o Espiritismo a confirmação, o complemento dessa doutrina é justo dizer-se que se transformará num monumento indestrutível, visto ter Deus por princípio e a verdade por base”.

Sexto ponto: “[...] cheguei à conclusão de que o homem deve evitar cuidadosamente tudo quanto possa perturbar a sua consciência”.

Sétimo ponto: “Durante dois anos ouvi falar do Espiritismo sem lhe prestar uma atenção séria. Como diziam seus adversários, eu julgava que um novo charlatanismo se havia infiltrado entre os outros. Mas, enfim, cansado de ouvir falar de uma coisa, da qual não conhecia senão o nome, resolvi instruir-me. Então adquiri O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns. Li, ou melhor, devorei essas duas obras com tal avidez e satisfação que é impossível definir. Qual não foi minha surpresa, lançando os olhos sobre as primeiras páginas, ao ver que se tratava de filosofia moral e religiosa, quando eu esperava ler um tratado de magia, acompanhado de histórias maravilhosas! Logo a surpresa deu lugar à convicção e ao reconhecimento”.

Michel explica, por fim, que sendo médium intuitivo, assistiu a algumas sessões espíritas nas quais comparou sua mediunidade com a doutros médiuns. Então compreendeu a recomendação de Kardec sobre a importância de “ler, antes de ver, se se quiser ficar convencido”, tendo em vista que o que vira até então não seria suficiente para o convencimento de um incrédulo.

Desejava provas mais palpáveis, como as que Kardec obtivera na Sociedade Espírita de Paris. Então, convidou “médiuns escreventes, videntes e desenhistas” para um trabalho em conjunto. Só aí, diz com grande alegria, testemunhou os mais surpreendentes fatos e obteve as provas que o convenceram definitivamente sobre a “excelência e a sinceridade” do Espiritismo.

Durante mais de onze anos (janeiro de 1858 a março de 1869), Allan Kardec recebeu centenas de cartas, das quais selecionou e publicou muitas, como essa, na Revista Espírita. São testemunhos de pessoas antes descrentes, simples ou cultas que, superando preconceitos e intolerância cega, estudaram, observaram e creram nas manifestações dos espíritos conforme proposto pelo Codificador do Espiritismo.

Cabe a nós, que temos um pouco mais de seis meses de estudo do Espiritismo, aliado à prática, divulgá-lo intensamente, nesta época em que o materialismo volta com sua saga destruidora da fé, da esperança e da caridade. Então, o Espírito Cruz e Souza incentiva-nos com seu soneto intitulado:

 

Aos trabalhadores do Evangelho

 

Há uma falange de trabalhadores,

Espalhada nas sendas do Infinito,

Desde as sombras do mundo amargo e aflito

Aos espaços de eternos resplendores.

 

É a caravana de batalhadores

Que, no esforço do amor puro e bendito,

Rompe algemas de trevas e granito,

Aliviando os seres sofredores.

 

Vós que sois, sobre a Terra, os companheiros

Dessa falange lúcida de obreiros,

Guardai-lhe a sacrossanta claridade;

 

Não vos importe o espinho ingrato e acerbo,

Na palavra e nos atos, sede o Verbo

De afirmações da Luz e da Verdade.

 

(SOUZA, Cruz e – Espírito. In: Parnaso de Além-Túmulo. Psicografado por Chico Xavier.)

 

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