Crença e
fé parecem termos sinônimos, mas exprimem
coisas distintas
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
Por exprimirem coisas distintas, pode-se dizer que existe substancial diferença
entre crença e fé.
O termo “fé” tem várias acepções.
No sentido comum, significa a confiança do
indivíduo em si mesmo, pois os que disso são dotados são capazes de realizações
que pareceriam impossíveis àqueles que de si duvidam. Dá-se
também o nome de fé à crença nos dogmas dessa ou daquela religião, casos em que
recebe adjetivação específica: fé cristã, fé judaica, fé católica etc.
No livro O Consolador, obra mediúnica psicografada
por Chico Xavier, Emmanuel diz que crer diz respeito à crença. Mas, diferentemente
da simples crença, a fé tem o mérito de despertar numa pessoa todos os
instintos nobres que encaminham o homem para o bem e, nesse sentido, é a base
da regeneração.
Idêntico
ensinamento encontramos no cap. VII, 2ª Parte, do livro O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, no qual o guia da médium que
serviu de intermediário no caso Xumene diz que a crença é o primeiro passo; a
fé vem em seguida e, por último, a transformação, mas para isso é preciso que
muitos tenham de revigorar-se no mundo espiritual.
É possível
comunicar a fé a alguém por meio da imposição?
Não.
Segundo Kardec, a fé não se impõe nem se prescreve, a fé se adquire, e não
existe ninguém que esteja impedido de possuí-la. Para crer é preciso compreender,
porquanto – adverte o Codificador do Espiritismo – a fé cega já não tem lugar
em nosso mundo.
A
importância da fé em nossa vida foi destacada, entre outros, por Jesus de
Nazaré. “Tudo é possível àquele que tem fé”, afirmou Jesus, consoante lemos em
Marcos, 9:23.
Sobre a fé
Emmanuel escreveu na obra a que nos reportamos linhas acima:
–
Poder-se-á definir o que é ter fé?
Ter fé é
guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito
da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de
realização divina da personalidade.
Conseguir
a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer “eu creio”, mas afirmar “eu
sei”, com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento. Essa fé não
pode estagnar em nenhuma circunstância da vida e sabe trabalhar sempre,
intensificando a amplitude de sua iluminação, pela dor ou pela
responsabilidade, pelo esforço e pelo dever cumprido.
Traduzindo
a certeza na assistência de Deus, ela exprime a confiança que sabe enfrentar
todas as lutas e problemas, com a luz divina no coração, e significa a
humildade redentora que edifica no íntimo do espírito a disposição sincera do
discípulo, relativamente ao “faça-se no escravo a vontade do Senhor”. (O Consolador, pergunta 354.)
– A
esperança e a fé devem ser interpretadas como uma só virtude?
A
esperança é a filha dileta da fé. Ambas estão uma para outra, como a luz
reflexa dos planetas está para a luz central e positiva do Sol. A esperança é
como o luar que se constitui dos bálsamos da crença. A fé é a divina claridade
da certeza. (O Consolador, pergunta 257.)
Concluindo,
pensamos que poucos textos são capazes de exprimir melhor a importância da fé
do que este lindo poema escrito por Cármen Cinira (Espírito), uma das pérolas
literárias que compõem a obra Parnaso de
Além-Túmulo, livro psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier:
O viajor e a Fé
Cármen
Cinira
— “Donde vens, viajor triste e cansado?”
— “Venho da terra estéril da ilusão.”
— “Que trazes?”
— “A miséria do pecado,
De alma ferida e morto o coração.
Ah! quem me dera a bênção da esperança,
Quem me dera consolo à desventura!”
Mas a fé generosa, humilde e mansa,
Deu-lhe o braço e falou-lhe com doçura:
— “Vem ao Mestre que ampara os pobrezinhos,
Que esclarece e conforta os sofredores!...
Pois com o mundo uma flor tem mil espinhos,
Mas com Jesus um espinho tem mil flores!”
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