Comunicações
mediúnicas entre vivos
Ernesto
Bozzano
Parte
17
Damos
prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos,
de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J.
Herculano Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos
que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados
Clássicos do Espiritismo.
Cada
parte do estudo compõe-se de:
a)
questões preliminares;
b)
texto para leitura.
As
respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para
leitura.
Este
estudo será publicado sempre às sextas-feiras.
Questões
preliminares
A.
Quando um Espírito interfere na comunicação que o médium está recebendo de
outro Espírito, este chega a ver o intruso espiritual?
B.
Por que razão o comunicante não veria que outro Espírito esteja interferindo na
sua comunicação?
C.
São comuns os casos de comunicação no momento da morte ou na agonia?
Texto
para leitura
251.
O detalhe mais interessante deste episódio se contém numa observação feita pela
narradora, segundo a qual “Sunny” (que era a entidade comunicante) parece não
ter visto o espírito intruso que se intrometeu na comunicação. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo D)
252.
Tal observação é teoricamente importantíssima pelas seguintes razões: O Prof.
Hyslop, baseando-se em suas próprias experiências, sustentava a tese de que
certos erros aparentes, certas confusões, certas incoerências, quando ocorriam
nas comunicações mediúnicas e, sobretudo, certas intrusões de acidentes
completamente estranhos à personalidade do morto comunicante, eram
presumivelmente devidas a imprevistas ingerências de outras entidades
desencarnadas, que se davam sem que de tal se inteirasse o morto comunicante.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo D)
253.
O Prof. Hyslop o afirmava com base em suas experiências, mas quem poderia
aceitar tal explicação, que, além de parecer gratuita, não era cientificamente
confirmável? Compreende-se bem que a afirmativa de Hyslop não fosse levada em
consideração. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo D)
254.
Ora, o incidente referido linhas acima contém um exemplo de comunicações
mediúnicas entre vivos capaz de confirmar experimentalmente a hipótese do Prof.
Hyslop, levando-se em conta que desta vez não se trata de uma interferência não
verificável do além-túmulo, mas verificável aquém-túmulo. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo D)
255.
Ao mesmo tempo se observa que o espírito do morto comunicante não tinha
consciência do que estava acontecendo; percebeu apenas que se levantava para
ele uma dificuldade repentina e inexplicável de se comunicar mediunicamente com
o mundo dos vivos, precisamente como afirmava o Prof. Hyslop. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo D)
256.
Quanto às causas presumíveis que fazem um espírito comunicante ignorar a
presença de outro que procura servir-se simultaneamente do mesmo médium, já não
é de urgência teórica a sua elucidação. É lícito, porém, presumir que isto
aconteça porque as comunicações mediúnicas não implicam quase a “incorporação”
temporal do “espírito” no médium, podendo se dar o caso de uma transmissão
telepática do pensamento do primeiro, ao órgão cerebral do segundo. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo D)
257.
Isto posto, compreende-se que se um espírito estranho, percebendo a presença de
um médium, possa servir-se dele para transmitir aos vivos uma mensagem sua
(provavelmente ignorando, por sua vez, que outro se serve do mesmo naquele
momento), pode fazê-lo sem que o outro comunicante note a sua presença,
sentindo apenas uma repentina e inexplicável dificuldade em transmitir o seu
próprio pensamento, dificuldade esta proveniente da interferência de suas
vibrações psíquicas pessoais com outras vibrações estranhas. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo D)
258.
Casos de transição no momento da morte ou na agonia – Antes de tratar do grupo
em que se consideram as comunicações entre vivos, que aparecem efetivamente
transmitidas com o auxílio de uma entidade espiritual intermediária, será bom
relatar alguns casos de transição, porque se referem a incidentes em que o
agente que se comunica mediunicamente a distância é um moribundo que anuncia a
iminência de morte, ou bem uma pessoa falecida momentos antes de ocorrer a
comunicação. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo E)
259.
O que se disse para os casos do último subgrupo deve ser repetido aqui, ou
seja, que tais episódios são raros, de modo que só disponho de quatro deles, um
dos quais é de segunda mão e, portanto, deficiente como prova. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo E)
260.
Caso 23 – O maestro compositor Ernest Blum, que havia conhecido Victor
Hugo e Auguste Vacquerie, refere em sua autobiografia o que aconteceu com
Victor Hugo, nas suas experiências na ilha de Guernesey:
Victor
Hugo sempre declarou estar convencido das verdades do espírito. Igualmente o
estavam seus dois filhos e seus dois amigos Vacquerie e Paul Mérice. O próprio
Vacquerie me narrou o seguinte fato:
–
Certa noite de inverno em Guernesey se faziam experiências com o tripé. Estavam
presentes o grande poeta, seus dois filhos e Vacquerie. Servia de médium
Charles Hugo, que tomava conta das letras do alfabeto ditadas pela mesinha e
transmitia as respostas. Subitamente lançou ele um grito de dolorosa surpresa e
exclamou: “Os espíritos me participam a triste notícia de que neste momento
morreu a Sra. de Girardin”. Eram dez horas da noite.
Naquela
mesma noite havia Victor Hugo recebido uma carta da Sra. de Girardin na qual
lhe comunicava que iria passar uns dias em Guernesey, de modo que ele deveria
esperá-la de um momento para outro.
Dois
dias após chegou uma carta em que se participava a morte da referida senhora.
Ninguém em Guernesey podia saber de tal coisa, pois não havia telégrafo nem
telefone e, portanto, Charles Hugo o ignorava, como todos os demais. O mais
interessante, porém, é que ela havia falecido precisamente na noite da sessão
às 10 horas.
Confesso
que quando penso neste episódio sinto um calafrio, porque como pô-lo em dúvida
com tais testemunhas? (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo E)
261.
No caso citado, Charles Hugo assim se expressa: “Os espíritos me participam a
triste nova...”, do que se poderia concluir que não fosse precisamente a Sra.
de Girardin quem comunicasse a própria morte, mas algum espírito familiar ao
médium, o que pode ser certo. Como, porém, não é lícito admiti-lo baseando-nos
simplesmente em uma afirmação como a exposta, devemos apegar-nos à “hipótese
menos lata” aplicável ao caso que é a de uma comunicação da Sra. Girardin
moribunda ou recém-falecida. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e
à distância. Subgrupo E)
262.
Caso 24 – Emma Hardinge-Britten, em seu livro Modern American
Spiritualism, pág. 500, narra uma série de manifestações mediúnicas obtidas
na casa do Dr. Laird, com a mediunidade de sua própria esposa e em relação com
o seu filho e o do Dr. Marsden, os quais lutavam no front da Guerra de Secessão
norte-americana. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo E)
263.
Quando os dois jovens morreram na luta, manifestaram-se à médium por meio da
visão clarividente e o filho do Dr. Marsden se lhe manifestou quando ainda
jazia mortalmente ferido no campo de batalha. (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo E)
264.
A narradora, Sra. Hardinge-Britten, que tomou parte na experiência, assim se
expressa:
Nenhuma
notícia dos filhos... Pela noite, quando os desolados pais se reuniram em
sessão, caiu a Sra. Laird em sono mediúnico e, em tal condição, se manifestou o
espírito de James Marsden, que assim falou: “Avisa a meu pai que parta
imediatamente para Donaldsonville e uma vez ali, que chame o Cap. Somers,
comandante da minha companhia. Foi ele quem recebeu o encargo de entregar-lhe a
minha pobre crisálida dilacerada da qual a mariposa se evolou para a
eternidade.”
A
respeito da mensagem o Dr. Laird fez-me saber que ela adquire maior
significação porque o filho do Dr. Marsden tinha um caráter jovial,
despreocupado e um tanto volúvel, o que levara seus camaradas a dar-lhe por
gracejo o apelido de borboleta.
O
Dr. Marsden partiu logo para a localidade indicada e cinco semanas após
regressou com um ataúde que continha os restos mortais do rapaz. O Cap. Somers
lhe informou que seu filho caíra gloriosamente coberto de ferimentos,
achando-se ainda vivo quando fora transportado para um posto de socorro, onde
expirara lentamente.
Comparando-se
as datas pôde-se verificar que o seu espírito se manifestara à Sra. Laird
algumas horas antes de morrer, quando jazia moribundo na tenda-hospital.
Antes
de expirar, havia pedido ao Cap. Somers que informasse seus pais da sorte que
tivera e que o mandasse enterrar num lugar bem marcado a fim de facilitar ao
pai o trabalho de identificá-lo quando viesse buscar os despojos. O Cap. Somers
fizera-lhe a vontade, mas não chegou a escrever ao seu progenitor porque
adoecera gravemente. Quando viu este chegar, supunha que ignorasse tudo e
quando o velho lhe narrou todo o caso, informando-o do modo como soubera do
acontecimento, o capitão ficara profundamente impressionado... (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo E)
265.
O episódio narrado difere dos outros porque se deu pela “mediunidade vidente” e
apresenta muita analogia com os casos comuns de telepatia, salvo que em nosso
caso não se tratava de um percipiente em estado normal de vigília ou sono, e
sim de um médium em estado de “transe”. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo E)
266.
Ademais é notabilíssima a mensagem transmitida pelo fantasma telepático-mediúnico
porque encerra informações pessoais ignoradas de todos os presentes e
rigorosamente verificadas, compreendendo também a simbólica alma-borboleta que
da “crisálida dilacerada se evolara para a eternidade”. Tal comparação faria
também supor que quando o jovem herói se manifestara à médium, já estivesse
morto e assim o caso em exame se transformaria em ótimo exemplo de
identificação espírita. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo E)
267.
Caso 25 – Tomo-o do vol. I, pág. 376, do Journal of the S. P. R.,
o qual foi narrado pelo Prof. William Barrett. O episódio se contém em duas
cartas, uma de 29 de setembro de 1882 e a outra de 24 de março de 1885,
dirigidas àquele pelo Sr. Samuel Jennings. Extraio de tais cartas os seguintes
trechos:
Querido
professor:
Em
resposta à sua pergunta, relato-lhe um caso contado pelo próprio protagonista,
o Sr. Nelson, falecido há pouco. Tinha ele a faculdade de escrever
automaticamente por impulso de influências estranhas...
Aconteceu
certa vez que teve um sentimento de “presença espiritual” quando se achava no
trem, viajando de Kaneegunge para Calcutá. Pegou então uma folha de papel e um
lápis e esperou calmamente. É difícil escrever num trem em marcha, mas
conseguiu fazê-lo e obteve uma comunicação em que o agente era a própria filha
do Sr. Nelson, que se achava num colégio da Inglaterra. Dizia que acabara de
morrer naquele instante, de uma doença inesperada, descrevendo as
circunstâncias em que a sua morte se dera e as pessoas que a assistiram,
acrescentando que tinha querido manifestar-se a ele a fim de lhe dar o último
adeus.
A
mensagem produziu no Sr. Nelson a agitação que é de se supor, pois ignorava a
enfermidade da filha. Chegando em casa disse que estava muito preocupado com a
saúde de sua filha Bessie, porém só deu conhecimento da comunicação a uma filha
casada, pedindo-lhe que aguardasse até a chegada do correio da Inglaterra.
Quando esse chegou, tudo se confirmou em seus menores detalhes. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo E)
268.
O caso exposto é importante, mas, infelizmente, é referido em segunda mão.
Certo é, porém, que a autoridade do Prof. Barrett, que o recebeu e publicou,
constitui prova suficiente para a autenticidade do mesmo. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.) (Continua
no próximo número.)
Respostas
às questões preliminares
A.
Quando um Espírito interfere na comunicação que o médium está recebendo de
outro Espírito, este chega a ver o intruso espiritual?
O
fato narrado pela Sra. Fred. Maturin, autora do livro de revelações mediúnicas
Rachel Conforted – descrito nesta obra como o Caso 22 –, leva-nos a entender
que o intruso espiritual pode realmente não ser visto pelo Espírito em cuja
comunicação ele interferiu. Essa é a tese defendida pelo Prof. Hyslop, que,
baseando-se em suas próprias experiências, entende que certos erros aparentes,
certas confusões, certas incoerências, quando ocorrem nas comunicações
mediúnicas e, sobretudo, certas intrusões de acidentes completamente estranhos
à personalidade do morto comunicante, são presumivelmente devidos a ingerências
de outras entidades desencarnadas, que se davam sem que de tal se inteirasse o
morto comunicante. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo D)
B.
Por que razão o comunicante não veria que outro Espírito esteja interferindo na
sua comunicação?
Bozzano
presume que isso talvez aconteça porque as comunicações mediúnicas não implicam
quase a “incorporação” temporal do “espírito” no médium, podendo se dar o caso
de uma transmissão telepática do pensamento do primeiro, ao órgão cerebral do
segundo. Um espírito estranho, percebendo a presença de um médium, pode
servir-se dele para transmitir aos vivos uma mensagem sua, provavelmente
ignorando que outro esteja servindo-se do mesmo médium naquele momento. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo D)
C. São comuns os casos de comunicação no momento da morte ou
na agonia?
Há registros de fatos assim, mas diz
Bozzano que tais episódios são raros. Nesta obra, por exemplo, ele só relata
quatro casos, um dos quais é de segunda mão e, portanto, deficiente como prova.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo E)
Observação:
Para acessar a Parte 16 deste estudo, publicada na semana passada,
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