Comunicações
mediúnicas entre vivos
Ernesto
Bozzano
Parte
19
Damos
prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos,
de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J.
Herculano Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos
que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados
Clássicos do Espiritismo.
Cada
parte do estudo compõe-se de:
a)
questões preliminares;
b)
texto para leitura.
As
respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para
leitura.
Este
estudo será publicado sempre às sextas-feiras.
Questões
preliminares
A.
Qual a principal consequência das pesquisas metapsíquicas relativas às
comunicações mediúnicas entre vivos?
B.
Da certeza científica mencionada na questão anterior decorre outra importante
consequência. Qual é ela?
C.
Conhecida por suas faculdades mediúnicas, a célebre escritora inglesa Florence
Marryat também fez experiência com manifestações de vivos?
Texto
para leitura
282.
A apreciação feita pela Sra. Hester Travers-Smith está plenamente justificada.
As comunicações mediúnicas entre vivos constituem de fato uma das questões mais
interessantes e sugestivas que surgem no campo das pesquisas metapsíquicas,
porque com tais comunicações é dado chegar-se à certeza científica sobre o fato
capital da possibilidade do eu integral subconsciente ou, em outros termos, o
espírito humano entrar em relação com outros espíritos de vivos, quer
mediunicamente, quer telepaticamente, ora separando-se temporariamente do seu
próprio corpo somático (bilocação), ora se comunicando e conversando
telepaticamente a distância, desde que haja a “relação psíquica”. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
283.
Todas as circunstâncias que concorrem para fornecer prova da independência do
espírito humano quanto ao organismo corpóreo demonstram que se o espírito pode
passar algum tempo sem o mesmo organismo, também deve poder passar sempre sem
ele, depois da morte. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo F)
284.
Além disso, pela lei da analogia, demonstram essas circunstâncias que a
existência das comunicações mediúnicas com o espírito dos mortos é mais do que
provável, pois que uma vez conseguida a certeza científica da realidade das
manifestações dos vivos, com as consequências teóricas que dela resultam, então
as manifestações correspondentes, em tudo idênticas, dos mortos se tornam o
complemento natural das primeiras, salvo sempre a cláusula de que o morto
comunicante demonstre a sua própria identidade pessoal, fornecendo a seu
respeito informações suficientes do mesmo modo que as fornecem os espíritos dos
vivos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo
F)
285.
No caso precedente – Caso 27 – a afirmação de “Shamar”, segundo a qual é por
sua iniciativa que se manifestam espíritos de vivos, se mostra justificada pelo
seguinte:
1)
Em primeiro lugar, porque, segundo regra científica, não é possível isolar um
episódio para analisá-lo separadamente e nessa base estabelecer conclusões
gerais, mas deve-se considerá-lo em relação com o conjunto das manifestações em
que se acha integrado, pois só desta maneira pode-se ajuizar ponderadamente
sobre a sua gênese. Assim, neste caso, devem-se levar em conta as seguintes
circunstâncias: Que sob os auspícios da entidade “Shamar” foram obtidas
notáveis provas de identificação espírita e que a mesma entidade se demonstrou
verdadeira em suas promessas e, assim sendo, não se sabe por que deixaria de
ser sincera e leal quando anuncia a intenção de levar às sessões espíritos de
vivos.
2)
Em segundo lugar, não se deve esquecer de que, a cada manifestação de
personalidade de um vivo, “Shamar” o anunciava com antecedência, avisando que
era preciso fazer a sessão em alta hora da noite para aproveitar o sono do
vivo, coisa racional na hipótese que defendemos, ao passo que, de outro ponto
de vista, isso demonstra a existência de uma vontade extrínseca que dispõe as
coisas para o êxito. Ora, se no caso exposto não existissem provas diretas a
favor do auxílio prestado por uma entidade espiritual às dos vivos
comunicantes, existem provas indiretas suficientes para levar em consideração
as afirmativas de “Shamar”, que nada têm de inverossímil, tanto mais se se
consideram as provas em relação com os casos pertencentes ao segundo grupo das
manifestações que examinamos, nas quais, como já se disse, a intervenção de uma
entidade espiritual nas comunicações dos vivos parece muito real, como se verá
dentro em pouco. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo F)
286.
Caso 28 – A célebre escritora inglesa Florence Marryat, dotada de
notáveis faculdades mediúnicas, fez numerosas experiências com manifestações de
vivos. Tomo o episódio seguinte de seu livro There is no death, pág. 36,
no qual ela própria serviu de médium para as experiências de outrem. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
287.
Havendo-se mudado, com o seu filhinho, para beira-mar, para uma estação de
banhos, seus companheiros de experiências em Londres, os Srs. Helmore e
Colnaghi continuaram as sessões e numa delas deu-se o caso em questão. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
288.
Eis a sua narrativa:
Numa
noite de quinta-feira os Srs. Colnaghi e Helmore, reunidos em sessão, quando
discutiam sobre a possibilidade de se comunicarem com os espíritos de vivos,
ouviram, na mesinha, três golpes que afirmavam a possibilidade, golpes que
atribuíram a “Charlie”, o “guia espiritual” das sessões.
–
“Charlie”, pois que é possível, poderia trazer-nos algum espírito de vivo?
–
Fá-lo-ei com prazer.
–
Quem trará?
– A
Sra. Florence Marryat.
– E
levará muito tempo?
–
Quinze minutos.
Naquele
momento eu dormia. Meus amigos me disseram que esperavam impacientes o
resultado da experiência. Transcorreram exatamente quinze minutos e a mesinha
começou a agitar-se, ditando as seguintes palavras: “Sou Florence Marryat. Por
que me chamaram?” Procuraram desculpar-se e eu soube que estava muito agitada,
repetindo insistentemente: “Deixem-me voltar para casa. Um grave perigo ameaça
meu pequerrucho. Devo voltar para junto dele.” Tais palavras causaram grande
impressão aos meus amigos e, no dia seguinte, o Sr. Helmore escreveu-me
perguntando cautelosamente se tudo ia bem em minha família, mas sem especificar
coisa alguma. Aconteceu que na manhã de sexta-feira, ou seja, no dia seguinte
ao da sessão de Londres, meus sete filhos com as suas amas se achavam numa
pequena estalagem, quando meu cunhado, o Dr. Henrique Norris, que voltava com
os voluntários de tiro ao alvo, entrou na casa e, quando ensinava tiro aos
meninos, disparou inesperadamente na direção deles e a bala entrou na parede,
dois dedos acima da cabeça de minha filha maior, que estava sentada. Quando
contei o caso ao Sr. Helmore, respondeu ele com a narrativa da experiência de
Londres e reproduziu as palavras por mim proferidas. Eu me pergunto: “Como
poderia saber com antecedência o que deveria acontecer na manhã seguinte? Se
não era eu quem o sabia em sonho, devia sabê-lo “Charlie”. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
289.
No caso exposto, a probabilidade de que “Charlie” tenha sido o agente
determinante da manifestação da Sra. Marryat se depreende da circunstância de
que foi precisamente ele quem levou à sessão o espírito da referida senhora.
Depreende-se, ademais, do fato de que “Charlie”, em outras circunstâncias, se
encarregara de transmitir em pessoa mensagens de um círculo de experimentadores
a outro, com a particularidade importante de que os dois grupos não realizavam
ao mesmo tempo as suas sessões, mas em dias diferentes, condições de
experiência que demonstram a impossibilidade da manifestação direta de um ser
vivo, nem de uma transmissão telepática. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo F)
290.
Como se viu, há aqui um caso premonitório, mais notável porque se referia a um
infeliz acidente, rigorosamente imprevisível. Como já disse em meu volume sobre
os Fenômenos premonitórios, nada de mais notável que o eu integral
subconsciente da própria Sra. Marryat previsse o perigo que ameaçava um dos
seus filhos, pois numerosos fatos de tal natureza provam a possibilidade, ainda
que pareça misteriosa e inconcebível à nossa mente, circunscrita e obumbrada
pelos laços materiais. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo F)
291.
Caso 29 – Figura na mesma obra da Sra. Marryat (pág. 42), a qual assim
escreve:
O
meu velho amigo, ainda vivo, cujo espírito se manifestou a mim em sonho, pela
mediunidade da Sra. Fitzgerald, perdera uma irmã a quem queria muito, porém,
como tal houvesse acontecido antes de nos conhecermos, eu ignorava tudo a
respeito da mesma, exceto o nome.
Certa
noite se manifestou, tiptologicamente, uma entidade que me deu o nome da irmã
de meu amigo, escrevendo o seguinte:
–
Meu irmão regressou à Inglaterra e deseja saber o seu endereço. Escreva-lhe
para o Clube de Leamington, dizendo-lhe o dia em que poderá recebê-lo.
Respondi:
–
Seu irmão não me escreve há oito anos, o que prova que já me esqueceu. Não
quero ser a primeira a reatar nossas relações, sem a certeza de que ele também
o queira.
–
Ele não a esqueceu e continua a interessar-se por sua pessoa, de quem se lembra
nas suas preces. Deseja vivamente tornar a vê-la.
–
Farei o que deseja, mas na base de uma comunicação mediúnica, não me decido. Se
quiser renovar nossa velha amizade, que me escreva primeiro.
–
Porém ele não sabe o seu endereço, e eu não posso entrar em relação com ele.
–
Meu nome é bem conhecido, e se ele quiser, ser-lhe-á fácil achar o meu
domicílio.
O
espírito comunicante pareceu refletir um momento, e escreveu:
–
Espera, vou ver se o faço vir, e então se explicará.
Pouco
depois a mesinha voltou a mover-se, porém de modo diferente, ditando o nome de
meu velho amigo. Deu bastantes detalhes para se ver que se tratava dele mesmo e
a seguir escreveu: – “Apesar dos anos que nos separaram, o tempo não apagou as
recordações do passado. Não tenho deixado de lembrar-me de sua pessoa, em quem
pensava nas minhas preces, supondo que aí fazia o mesmo. Confirmo o que lhe
disse minha irmã, pois desejo vivamente ter notícias suas”.
Não
obstante a aparente ingenuidade da mensagem, minha teimosia não me permitia
escrever-lhe, porém, em noites consecutivas, a irmã insistiu e eu resolvi
agradá-la. Escrevi para o Clube de Leamington e pela volta do correio recebi a
resposta, com natural espanto, ao ver que a carta do meu amigo começava com as
mesmas palavras do parágrafo que me havia ditado mediunicamente.
Ante
tal resultado, pergunto ao Sr. Stuart Cumberland, como a tantos outros sábios,
que me expliquem quem foi a entidade mediúnica que se manifestou dez dias
antes, para ditar-me, palavra por palavra, uma frase que não podia estar ainda
formulada no cérebro de meu amigo, pois ele não havia ainda recebido a minha
carta. Estou sempre pronta a acolher toda explicação racional que os sábios me
derem sobre os fatos; porém, no momento, creio firmemente que não há no mundo
quem seja capaz de demonstrar-me, de maneira natural e convincente, que o fato
supracitado seja devido a um fenômeno de “cerebração inconsciente”. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
292.
Não me parece que a Sra. Marryat só tenha uma, mas cem razões para não admitir
que fatos de tal natureza possam explicar-se com a hipótese da “cerebração
inconsciente” em voga naquela época. Depois, outras hipóteses foram formuladas
para explicar tais casos, a começar pela “telepatia”, para terminar na recente
“criptestesia”, porém se tais hipóteses têm a sua razão de ser, isto não impede
que, do ponto de vista explicativo das comunicações mediúnicas com os vivos e
com os mortos, se mostrem impotentes. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo F)
293.
Observo finalmente, que até para o caso exposto as maiores possibilidades são
para a hipótese segundo a qual o espírito da irmã morta foi realmente o agente
que levou à sessão o espírito do irmão vivo. Tenha-se em conta que, antes da
manifestação deste, o espírito da irmã havia transmitido à Sra. Marryat o seu
domicílio exato, circunstância verídica e importante que se traduz numa boa
prova a favor da identidade pessoal do dito espírito, e como o propósito de
conduzir à sessão o espírito do vivo não fora premeditado, mas em consequência
da negativa daquela senhora em atender ao seu pedido de escrever-lhe, tudo isto
mais não faz que consolidar a hipótese indicada, pois se a manifestação em
referência foi determinada por uma imprevista decisão do momento, da qual havia
de excluir-se a vontade da Sra. Marryat e a do vivo comunicante, mais não resta
senão atribuir o fenômeno à vontade do espírito que se afirmava presente, como
responsável pelo desenvolvimento dos fatos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo F) (Continua no próximo número.)
Respostas
às questões preliminares
A.
Qual a principal consequência das pesquisas metapsíquicas relativas às comunicações
mediúnicas entre vivos?
Segundo
Bozzano, com tais comunicações é dado chegar-se à certeza científica sobre o
fato capital da possibilidade do eu integral subconsciente ou, em outros
termos, o espírito humano, entrar em relação com outros espíritos de vivos,
quer mediunicamente, quer telepaticamente, ora separando-se temporariamente do
seu próprio corpo somático (bilocação), ora se comunicando e conversando
telepaticamente a distância, desde que haja entre eles a necessária “relação
psíquica”. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo F)
B.
Da certeza científica mencionada na questão anterior decorre outra importante
consequência. Qual é ela?
As
circunstâncias que concorrem para fornecer prova da independência do espírito
humano quanto ao organismo corpóreo demonstram que, se o espírito pode passar
algum tempo sem o mesmo organismo, deve também poder passar sempre sem ele,
depois da morte. Além disso, pela lei da analogia, demonstram essas
circunstâncias que a existência das comunicações mediúnicas com o espírito dos
mortos é mais do que provável, pois que, uma vez conseguida a certeza
científica da realidade das manifestações dos vivos, com as consequências
teóricas que dela resultam, então as manifestações correspondentes, em tudo
idênticas, dos mortos tornam-se o complemento natural das primeiras, ressalvada
sempre a cláusula de que o morto comunicante demonstre sua própria identidade
pessoal, fornecendo a seu respeito informações suficientes do mesmo modo que as
fornecem os espíritos dos vivos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos
e à distância. Subgrupo F)
C.
Conhecida por suas faculdades mediúnicas, a célebre escritora inglesa Florence
Marryat também fez experiência com manifestações de vivos?
Sim.
Marryat fez numerosas experiências com manifestações de vivos e Bozzano descreve
neste livro dois interessantes casos relativos às experiências relatadas por
ela. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
Observação:
Para acessar a Parte 18 deste estudo, publicada na semana passada,
clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/06/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos.html
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