Como é o clima nas cidades
espirituais?
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
Sabemos que o
assunto não é tratado nas obras fundamentais da doutrina espírita, mas somente,
e de forma indireta, em alguns textos e livros de natureza mediúnica, como
podemos encontrar, por exemplo, no livro O mundo em que eu vivo, do
Espírito de Silveira Sampaio, psicografado por Zíbia M. Gasparetto, e em obras de
André Luiz, psicografadas por Chico Xavier.
Em tais
livros há referência ao chamado repouso e às opções de lazer que existem nas
chamadas cidades espirituais mais próximas da crosta terrestre. Quanto às
localidades em que vivem entidades desencarnadas mais evoluídas, nada ou muito
pouco, pelo que sabemos, existe na literatura espírita.
Excursões ao
Bosque das Águas, as harmonias do Campo da Música, as palestras ao ar livre, a
notícia pertinente aos Campos de Repouso – eis referências que as pessoas que
leram o livro Nosso Lar conhecem perfeitamente.
Eis, na
sequência, algumas informações extraídas da obra de André Luiz que nos parecem
suficientes para dirimir a dúvida que nos foi formulada:
1
Clarêncio,
que se apoiava num cajado de substância luminosa, deteve-se à frente de grande
porta encravada em altos muros, cobertos de trepadeiras floridas e graciosas.
Tateando um ponto da muralha, fez-se longa abertura, através da qual
penetramos, silenciosos. Branda claridade inundava ali todas as coisas. Ao
longe, gracioso foco de luz dava a ideia de um pôr do sol em tardes primaveris.
À medida que avançávamos, conseguia identificar preciosas construções, situadas
em extensos jardins. (Nosso Lar, cap. 3.)
2
Envolvendo os
dois enfermeiros na vibração do meu reconhecimento, esforcei-me por lhes
dirigir a palavra, conseguindo dizer por fim:
– Amigos, por
quem sois, explicai-me em que novo mundo me encontro... De que estrela me vem,
agora, esta luz confortadora e brilhante?
Um deles
afagou-me a fronte, como se fora conhecido pessoal de longo tempo e acentuou:
– Estamos nas
esferas espirituais vizinhas da Terra, e o Sol que nos ilumina, neste momento,
é o mesmo que nos vivificava o corpo físico. Aqui, entretanto, nossa percepção
visual é muito mais rica. A estrela que o Senhor acendeu para os nossos
trabalhos terrestres é mais preciosa e bela do que a supomos quando no círculo
carnal. Nosso Sol é a divina matriz da vida, e a claridade que irradia provém
do Autor da Criação. (Nosso Lar, cap. 3.)
3
No dia
imediato, após reparador e profundo repouso, experimentei a bênção radiosa do
Sol amigo, qual suave mensagem ao coração. Claridade reconfortante atravessava
ampla janela, inundando o recinto de cariciosa luz. Sentia-me outro. Energias
novas tocavam-me o íntimo. Tinha a impressão de sorver a alegria da vida, a
longos haustos. Na alma, apenas um ponto sombrio – a saudade do lar, o apego à
família que ficara distante. Numerosas interrogações pairavam-me na mente, mas
tão grande era a sensação de alívio que eu sossegava o espírito, longe de
qualquer interpelação. (Nosso Lar, cap. 4.)
4
Aqui, em
verdade, a lei do descanso é rigorosamente observada, para que determinados
servidores não fiquem mais sobrecarregados que outros; mas a lei do trabalho é
também rigorosamente cumprida. No que concerne ao repouso, a única exceção é o
próprio Governador, que nunca aproveita o que lhe toca, nesse terreno. (Nosso
Lar, cap. 11.)
5
Deslumbrou-me
o panorama de belezas sublimes. O bosque, em floração maravilhosa, embalsamava
o vento fresco de inebriante perfume. Tudo em prodígio de cores e luzes
cariciosas. Entre margens bordadas de grama viçosa, toda esmaltada de azulíneas
flores, deslizava um rio de grandes proporções. A corrente rolava tranquila,
mas tão cristalina que parecia tonalizada em matiz celeste, em vista dos
reflexos do firmamento. Estradas largas cortavam a verdura da paisagem.
Plantadas a espaços regulares, árvores frondosas ofereciam sombra amiga, à
maneira de pousos deliciosos, na claridade do Sol confortador. Bancos de
caprichosos formatos convidavam ao descanso.
Notando o meu
deslumbramento, Lísias explicou:
– Estamos no
Bosque das Águas. Temos aqui uma das mais belas regiões de "Nosso
Lar". Trata-se de um dos locais prediletos para as excursões dos amantes,
que aqui vêm tecer as mais lindas promessas de amor e fidelidade, para as
experiências da Terra. (Nosso Lar, cap. 10.)
6
Nos círculos
religiosos do planeta, ensinam que o Senhor criou as águas. Ora, é lógico que
todo serviço criado precisa de energias e braços para ser convenientemente
mantido. Nesta cidade espiritual, aprendemos a agradecer ao Pai e aos seus
divinos colaboradores semelhante dádiva. Conhecendo-a mais intimamente, sabemos
que a água é veículo dos mais poderosos para os fluidos de qualquer natureza.
Aqui, ela é empregada sobretudo como alimento e remédio. Há repartições no
Ministério do Auxílio absolutamente consagradas à manipulação de água pura, com
certos princípios suscetíveis de serem captados na luz do Sol e no magnetismo
espiritual. Na maioria das regiões da extensa colônia, o sistema de alimentação
tem aí suas bases. (Nosso Lar, cap. 10 – explicações dadas por Lísias.)
7
Sorriu a
senhora Laura, parecendo mais encorajada, e asseverou:
– Tenho
solicitado o socorro espiritual de todos os companheiros, a fim de manter-me
vigilante nas lições aqui recebidas. Bem sei que a Terra está cheia da grandeza
divina. Basta recordar que o nosso Sol é o mesmo que alimenta os homens; no
entanto, meu caro Ministro, tenho receio daquele olvido temporário em que nos
precipitamos. Sinto-me qual enferma que se curou de numerosas feridas... Em
verdade, as úlceras não mais me apoquentam, mas conservo as cicatrizes.
Bastaria um leve arranhão, para voltar a enfermidade. (Nosso Lar,
cap. 47.)
*
Em face de
tantas e tão expressivas informações, cremos que aqueles que ora nos leem têm
em mãos a resposta à pergunta a que inicialmente nos reportamos.
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