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sexta-feira, 9 de agosto de 2024




Comunicações mediúnicas entre vivos

 

Ernesto Bozzano

 

Parte 27 e final

 

Concluímos hoje o estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires e publicado pela Edicel.

Esperamos que este estudo tenha servido para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para leitura.

Este estudo foi publicado sempre às sextas-feiras.

 

Questões preliminares

 

A. Qual é, segundo Bozzano, a principal característica das comunicações mediúnicas entre vivos, isto é, entre indivíduos reencarnados? 

B. Que dedução pode ser extraída dessa ordem de fenômenos? 

C. Podemos dizer, assim, que tais manifestações servem para fortalecer a convicção de que é possível comunicar-nos mediunicamente com os chamados mortos?

 

Texto para leitura

 

377. Dissemos que os fenômenos das “manifestações mediúnicas entre vivos” se dividem em duas grandes categorias. Quanto à segunda das categorias indicadas, observou-se que ela é composta de manifestações que se diferenciam notavelmente entre si, de modo que pareceu indispensável dividi-las em seis subgrupos, nos quais foram consideradas, sucessivamente, as mensagens transmitidas inconscientemente  ao médium por pessoas imersas em sono e por pessoas em estado de vigília; depois as mensagens obtidas por expressa vontade do médium; outras transmitidas ao médium por vontade expressa de pessoas distantes; depois, os casos de transmissão em que o vivo comunicante estava moribundo e finalmente as mensagens mediúnicas entre vivos transmitidas com o auxílio de uma entidade espiritual. (Conclusões) 

378. Já no primeiro subgrupo, em que foram examinadas as mensagens inconscientemente transmitidas ao médium por pessoas imersas no sono, tivemos oportunidade de salientar uma das maiores aquisições teóricas trazidas à luz pela presente classificação, ou seja, que a característica das comunicações mediúnicas entre vivos consiste no fato de que o agente e o percipiente desenvolvem comumente longos diálogos, os quais demonstram que já não se trata de fenômeno de transmissão telepática do pensamento e sim de uma verdadeira e própria conversa entre duas personalidades integrais, ou espirituais, com as consequências teóricas que daí decorrem. (Conclusões) 

379. Os casos pertencentes ao segundo subgrupo, no qual foram consideradas as mensagens inconscientemente transmitidas ao médium por pessoas em estado de vigília, oferecem-nos ocasião de demonstrar a inexistência presumível de tal forma de comunicações, porquanto não se conhecem exemplos precisos e definidos que sirvam para demonstrar que uma pessoa em estado de vigília chegue, involuntariamente, a entrar em comunicação mediúnica com um sensitivo a distância, sem pensar nele. Como resultado do fato, dever-se-ia dizer, ao contrário, que para atingir tal fim é necessário pelo menos que a pessoa em estado de vigília e afastada pense no mesmo instante e mais ou menos intensamente no sensitivo. (Conclusões) 

380. Os casos do terceiro subgrupo, nos quais são consideradas as mensagens obtidas por vontade expressa do médium, revestem grande valor teórico. O modo de interpretá-los reflete sua influência sobre o modo de interpretar uma importante classe de casos de identificação espírita: a identificação fundada sobre os informes fornecidos pelos mortos a respeito de sua vida terrena. (Conclusões)

381. Seu valor teórico emerge da circunstância de que as comunicações entre vivos, quando determinadas por expressa vontade do médium, confirmam, na aparência, a hipótese pela qual os informes pessoais verídicos fornecidos pelos supostos espíritos, de mortos comunicantes por meio dos médiuns, são, ao contrário, retirados pelos médiuns nas subconsciências dos vivos que conheceram o morto que se afirma presente (telemnesia). (Conclusões) 

382. Contudo, ao contrário disso, surge a confirmação incontestável de que as comunicações mediúnicas entre vivos não consistem, absolutamente, em um processo telepático, de seleção inquiridora nas subconsciências alheias por parte dos médiuns, mas consistem, sim, em uma conversação entre duas personalidades integrais ou espirituais subconscientes, o que muda completamente os termos da questão, tornando-se insustentável a hipótese adversa. Abstenho-me de resumir as conclusões a que se chega a tal propósito, pois que a sua importância exorbita dos limites de uma síntese conclusiva e reclama ser desenvolvida à parte, o que faremos em breve. (Conclusões)

383. Os casos do quarto subgrupo, que se referem às mensagens transmitidas ao médium por expressa vontade de uma pessoa afastada, realizam-se muito raramente, enquanto que tal espécie de mensagens, com caráter espontâneo, é, ao contrário, bem frequente nos casos de sono notório ou disfarçado do agente e estes últimos são muito mais importantes do que o primeiro. (Conclusões)

384. No caso de mensagem transmitida ao médium por vontade expressa de uma pessoa que se acha a distância, trata-se, limitadamente, de um fenômeno de transmissão telepático-mediúnica e, portanto, de mensagem pura e simples, que não assume nunca o desenvolvimento de um diálogo. (Conclusões) 

385. No caso de uma pessoa em sono notório ou disfarçado, as manifestações tomam muitas vezes proporções de diálogos e, quando assumem tal caráter, isto significa que já não se trata de um fenômeno de transmissão telepático-mediúnica do pensamento, mas sim de uma conversação verdadeira e própria entre duas personalidades espirituais subconscientes, a menos que se trate de mensagem de vivo transmitida com o auxílio de uma entidade espiritual. (Conclusões) 

386. De qualquer modo, o significado dos casos pertencentes ao subgrupo em apreço não deixa, por sua vez, de confirmar a hipótese espírita, porque, se a vontade consciente de um espírito de vivo pode agir a distância sobre a mão de um médium psicógrafo de modo a ditar o seu próprio pensamento, nada impede que a vontade consciente de um espírito de morto consiga agir de maneira semelhante. (Conclusões) 

387. Do mesmo modo, se, com base nas comunicações mediúnicas entre vivos, em que é possível certificar-se da autenticidade do fenômeno, interrogando as pessoas colocadas nos dois extremos do fio, fica positivamente demonstrado que a mensagem mediúnica provinha de um espírito de vivo afastado, que se dizia presente no momento, então quando no outro extremo do fio se encontre uma entidade mediúnica que afirme ser um espírito de morto e o prove fornecendo dados ignorados dos presentes, torna-se teoricamente legítimo inferir daí que, no outro extremo do fio, deve achar-se efetivamente a entidade do morto que se afirma presente. (Conclusões) 

388. Em outras palavras, para ambas as categorias indicadas deve-se excluir a hipótese das “personificações subconscientes” da qual tanto se tem abusado atualmente. Nada, portanto, de personificações efêmeras de ordem onírico-sonambúlica em relação com as comunicações entre vivos e, em consequência disto, nada de semelhança com respeito às comunicações com a entidade do morto, que fornecem a prova precisa de identificação pessoal. (Conclusões)

389. No quinto subgrupo foram considerados os casos, por sua vez muito raros, em que a pessoa que se comunica mediunicamente morreu naquele momento ou se encontra moribunda. Esses casos representam a via de transição entre os fenômenos anímicos e espíritas, e isto porque, tratando-se de vivos no leito de morte, fica claro que a telepatia entre vivos por manifestação mediúnica aparece em semelhante circunstância como o último grau de uma longa escala de manifestações anímicas pela qual se chega ao limiar da grande fronteira, além da qual não pode haver senão manifestações telepáticas de mortos, demonstrando-se mais uma vez que não há solução de continuidade entre as modalidades pelas quais se dão as comunicações mediúnicas entre vivos e as dos mortos. Em outras palavras, mais uma vez somos levados a reconhecer que o Animismo prova o Espiritismo. (Conclusões)

390. Finalmente, no sexto subgrupo, no qual são examinadas as mensagens mediúnicas entre vivos, transmitidas com o auxílio de uma entidade espiritual, entra-se de velas soltas no grande oceano das manifestações transcendentais e pode-se demonstrar, a propósito, que a existência de semelhantes formas de comunicações mediúnicas entre vivos não pode ser contestada, porque se conhece uma longa série de experiências que não podem ser explicadas, absolutamente, nem pela telepatia nem pela clarividência telepática. (Conclusões)

391. Baseados no complexo inteiro das manifestações analisadas, observo que as comunicações mediúnicas entre vivos constitui uma das questões mais interessantes e sugestivas que surgem no campo das pesquisas metapsíquicas, porque por ele é possível chegar-se à certeza científica sobre o fato muito importante da possibilidade do eu integral subconsciente ou, em outros termos, para o espírito humano, de entrar em relação com outros espíritos de vivos, seja mediúnica, seja telepaticamente, ora separando-se temporariamente de seu próprio corpo somático (bilocação), ora comunicando-se ou conversando telepaticamente a distância, depois de ser estabelecida a “relação psíquica”. (Conclusões) 

392. Todas essas circunstâncias concorrem para fornecer as provas da independência que existe entre o espírito humano e o organismo corpóreo. E, em consequência disto, a demonstração de que o espírito humano pode passar sem o organismo corpóreo nas suas relações espirituais com outras pessoas desencarnadas, depois da crise da morte. (Conclusões) 

393. Além disto, pela lei da analogia, servem para desembaraçar o caminho de qualquer obstáculo teórico em relação à possibilidade de comunicar-se mediunicamente com espíritos de mortos, pois que, uma vez conseguida a certeza científica da realidade das comunicações mediúnicas entre vivos, então as comunicações análogas com entidade de mortos tornam-se o complemento natural das primeiras, salvo sempre a cláusula de que o morto comunicante demonstre a sua identidade pessoal, fornecendo a seu próprio respeito informes suficientes, do mesmo modo que os espíritos dos vivos os fornecem. (Conclusões) 

394. Seja dito tudo isto em tese geral, mas, para conferir toda eficácia às conclusões expostas, é necessário investigar posteriormente a questão dos limites em que se pode desenvolver a ação telepaticomediúnica entre pessoas vivas, a fim de determiná-los, eliminando qualquer perplexidade que porventura se possa suscitar a propósito da autenticidade espírita das comunicações análogas com as entidades de mortos. (Conclusões) 

395. Em nota, a Editora que publicou esta obra no idioma português lembra que as comunicações mediúnicas de pessoas vivas foram objeto de longa e minuciosa pesquisa de Allan Kardec na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em Paris. As comunicações obtidas foram publicadas na íntegra, pois sempre eram psicografadas, na seção Palestras Familiares de Além-túmulo, da Revue Spirite. Foram essas as primeiras pesquisas e as primeiras demonstrações históricas da independência do espírito em relação ao corpo. Toda a coleção da Revista Espírita, referente à fase dirigida por Kardec, num total da doze volumes, foi publicada pela Edicel na coleção das Obras Completas de Allan Kardec. Essas pesquisas, cuja natureza científica se evidencia nas publicações referidas, feitas pela Revista, receberam a sanção posterior de outros investigadores, como Bozzano, que foi um dos que mais compreenderam a importância científica e procuraram aprofundar a sua significação no campo do conhecimento. (Nota da Editora) 

(Fim)

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Qual é, segundo Bozzano, a principal característica das comunicações mediúnicas entre vivos, isto é, entre indivíduos reencarnados?  

A principal característica desse fenômeno consiste no fato de que o agente e o percipiente desenvolvem comumente longos diálogos, que demonstram que já não se trata de fenômeno de transmissão telepática do pensamento e sim de uma verdadeira e própria conversa entre duas personalidades integrais, ou espirituais, com as consequências teóricas que daí decorrem. (Conclusões) 

B. Que dedução pode ser extraída dessa ordem de fenômenos?  

As circunstâncias em que tais manifestações se dão concorrem para fornecer as provas da independência que existe entre o espírito humano e o organismo corpóreo. E, como consequência disso, a demonstração de que o espírito humano pode agir sem se valer do organismo corpóreo em suas relações espirituais com outras pessoas desencarnadas. (Conclusões) 

C. Podemos dizer, assim, que tais manifestações servem para fortalecer a convicção de que é possível comunicar-nos mediunicamente com os chamados mortos? 

Sim. Pela lei da analogia, elas servem para desembaraçar o caminho de qualquer obstáculo teórico em relação à possibilidade de comunicar-se mediunicamente com espíritos de mortos, pois que, uma vez conseguida a certeza científica da realidade das comunicações mediúnicas entre vivos, então as comunicações análogas com entidade de mortos tornam-se o complemento natural das primeiras, salvo sempre a cláusula de que o morto comunicante demonstre a sua identidade pessoal, fornecendo a seu próprio respeito informes suficientes, do mesmo modo que os espíritos dos vivos os fornecem. (Conclusões) 

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 26 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/08/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos.html

 

 

 

 

  

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