Fatalidade e determinismo são coisas
distintas
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
A diferença entre determinismo e fatalidade
situa-se na própria concepção e no significado desses dois termos.
Determinismo é um sistema filosófico que nega ao
homem o direito de agir livremente, isto é, de acordo com sua vontade. Mas,
conforme ensina o Espiritismo, não existe o determinismo absoluto que norteie a
vida do homem. Os constrangimentos à sua livre vontade resultam de infrações
cometidas pelo indivíduo em existências anteriores e que, por isso, em face da
Justiça Divina, necessitam de reparação.
Os Espíritos, no decorrer dos séculos, subordinam-se
a um livre-arbítrio relativo, que se expande ao longo do processo evolutivo, e
a um determinismo relativo, decorrente dos crimes, erros ou equívocos cometidos no passado.
Quanto à fatalidade, ensina o Espiritismo que ela decorre
da escolha que o Espírito, ao reencarnar, faz de enfrentar determinada prova ou
provas. Feita essa escolha, ele institui para si uma espécie de destino,
que é mera consequência da posição em que se acha colocado em face da escolha
feita.
Quem primeiro procurou afastar o homem da ideia de
um destino inexorável foram os filósofos gregos chamados sofistas. Segundo
eles, o homem não podia ficar inteiramente preso a um processo ou a leis de que
não pudesse desvencilhar-se. Parecia-lhes impossível que o homem não exercesse
certo efeito sobre o próprio destino. Sócrates também não aceitava tal domínio
sobre os homens. Para ele, o conhecimento constituiria sua realização suprema.
Alcançando o conhecimento, o homem agiria com acerto; sem o conhecimento,
corria o risco de agir com desacerto. Além dessa concepção tão clara, Sócrates
entendia que o homem pode, pelo conhecimento, ter certa influência sobre seu
destino na Terra e na vida futura.
Platão era, igualmente, defensor da liberdade. O
homem, dizia Platão, pode vencer e, de fato, vence os objetivos do mundo.
Embora sendo criatura do Criador divino, pode ordenar sua vida de modo a
vivê-la com espírito de justiça e sensatez.
A chamada fatalidade resulta, pois, de uma decisão
do próprio indivíduo quando, no exercício do livre-arbítrio, projeta as
chamadas provas que julga necessárias ao seu aprimoramento espiritual. Em face
dessa escolha, sofrerá o Espírito - fatalmente - todas as vicissitudes e todos
os arrastamentos a ela inerentes. Mas aí cessa a fatalidade, pois de sua
vontade depende ceder ou não às influências e aos arrastamentos a que
voluntariamente se sujeitou. Os pormenores dos acontecimentos ficam, portanto,
subordinados às circunstâncias que ele próprio cria com seus atos e atitudes.
Podemos, assim, concluir que existe fatalidade nos
acontecimentos que se apresentam, por serem consequência da escolha que o
Espírito fez de sua existência de encarnado, mas jamais existirá fatalidade nos
atos da vida moral, isto é, seu comportamento diante das vicissitudes que
enfrenta é inteiramente livre e, com certeza, indica o nível evolutivo a que
chegou.
Entenda-se, por fim, que na escolha feita pelo
Espírito são levados em conta os ditames da lei de causa e efeito, ocasião em
que determinadas situações poderão ser incluídas na chamada programação
reencarnatória, com vistas à expiação e à reparação de danos anteriormente
produzidos pelo reencarnante, o que explica por que deparamos na vida situações
aflitivas que, não fossem as luzes trazidas pelo Espiritismo, jamais
imaginaríamos terem sido solicitadas pela própria pessoa que as enfrenta.
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