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domingo, 13 de outubro de 2024

 



Fatalidade e determinismo são coisas distintas

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

 

Há em nosso meio quem entenda que os termos fatalidade e determinismo são sinônimos e, portanto, tratam de um mesmo assunto, o que não é verdade.

A diferença entre determinismo e fatalidade situa-se na própria concepção e no significado desses dois termos.

Determinismo é um sistema filosófico que nega ao homem o direito de agir livremente, isto é, de acordo com sua vontade. Mas, conforme ensina o Espiritismo, não existe o determinismo absoluto que norteie a vida do homem. Os constrangimentos à sua livre vontade resultam de infrações cometidas pelo indivíduo em existências anteriores e que, por isso, em face da Justiça Divina, necessitam de reparação.

Os Espíritos, no decorrer dos séculos, subordinam-se a um livre-arbítrio relativo, que se expande ao longo do processo evolutivo, e a um determinismo relativo, decorrente dos crimes, erros ou equívocos cometidos no passado.

Quanto à fatalidade, ensina o Espiritismo que ela decorre da escolha que o Espírito, ao reencarnar, faz de enfrentar determinada prova ou provas. Feita essa escolha, ele institui para si uma espécie de destino, que é mera consequência da posição em que se acha colocado em face da escolha feita.

Quem primeiro procurou afastar o homem da ideia de um destino inexorável foram os filósofos gregos chamados sofistas. Segundo eles, o homem não podia ficar inteiramente preso a um processo ou a leis de que não pudesse desvencilhar-se. Parecia-lhes impossível que o homem não exercesse certo efeito sobre o próprio destino. Sócrates também não aceitava tal domínio sobre os homens. Para ele, o conhecimento constituiria sua realização suprema. Alcançando o conhecimento, o homem agiria com acerto; sem o conhecimento, corria o risco de agir com desacerto. Além dessa concepção tão clara, Sócrates entendia que o homem pode, pelo conhecimento, ter certa influência sobre seu destino na Terra e na vida futura.

Platão era, igualmente, defensor da liberdade. O homem, dizia Platão, pode vencer e, de fato, vence os objetivos do mundo. Embora sendo criatura do Criador divino, pode ordenar sua vida de modo a vivê-la com espírito de justiça e sensatez.

A chamada fatalidade resulta, pois, de uma decisão do próprio indivíduo quando, no exercício do livre-arbítrio, projeta as chamadas provas que julga necessárias ao seu aprimoramento espiritual. Em face dessa escolha, sofrerá o Espírito - fatalmente - todas as vicissitudes e todos os arrastamentos a ela inerentes. Mas aí cessa a fatalidade, pois de sua vontade depende ceder ou não às influências e aos arrastamentos a que voluntariamente se sujeitou. Os pormenores dos acontecimentos ficam, portanto, subordinados às circunstâncias que ele próprio cria com seus atos e atitudes.

Podemos, assim, concluir que existe fatalidade nos acontecimentos que se apresentam, por serem consequência da escolha que o Espírito fez de sua existência de encarnado, mas jamais existirá fatalidade nos atos da vida moral, isto é, seu comportamento diante das vicissitudes que enfrenta é inteiramente livre e, com certeza, indica o nível evolutivo a que chegou.

Entenda-se, por fim, que na escolha feita pelo Espírito são levados em conta os ditames da lei de causa e efeito, ocasião em que determinadas situações poderão ser incluídas na chamada programação reencarnatória, com vistas à expiação e à reparação de danos anteriormente produzidos pelo reencarnante, o que explica por que deparamos na vida situações aflitivas que, não fossem as luzes trazidas pelo Espiritismo, jamais imaginaríamos terem sido solicitadas pela própria pessoa que as enfrenta.

 

 

 

 

 

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