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quarta-feira, 23 de outubro de 2024

 


Revista Espírita de 1866

 

Allan Kardec

 

Parte 13

 

Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1866, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

A coleção do ano de 1866 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.

Cada parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. A mediunidade de vidência é fato comum nas crianças?

B. Qual deverá ser a pedra angular da nova ordem social resultante da transformação do planeta?

C. Como o Espiritismo analisa o chamado fim do mundo?

 

Texto para leitura

 

163. Kardec menciona um exemplo da impressão que se pode conservar das sensações já experimentadas. Uma senhora quando passava em certa rua tinha a impressão de que seria jogada num abismo. A explicação: ela fizera parte de um grupo de pessoas que concorreram para a defesa da cidade contra os ingleses, quando todas haviam sido precipitadas nos fossos existentes então em Ruão. O fato é relatado na história dessa cidade. (Pág. 285.)

164. Um fato de vidência numa criança de quatro anos, verificado em Caen, motivou Kardec a informar que a mediunidade de vidência é muito comum nas crianças, e isto é providencial. “Ao sair da vida espiritual”, diz o codificador, “os guias da criança acabam de a conduzir ao porto de desembarque para o mundo terreno, como vêm buscá-la em seu retorno. A elas se mostram nos primeiros tempos, para que não haja transição muito brusca; depois se apagam pouco a pouco, à medida que a criança cresce e pode agir em virtude de seu livre-arbítrio.” (Págs. 286 e 287.)

165. A Revista de outubro inicia-se com um artigo intitulado “Os tempos são chegados”, em que Kardec diz que de todos os lados ouvia-se a informação de que grandes acontecimentos se realizariam para a obra de regeneração da Humanidade. Eis de forma resumida os pontos principais do referido artigo:

I) A Terra, como tudo o que existe, está submetida à lei do progresso. Fisicamente, ela progride pela transformação dos elementos que a compõem. Moralmente, pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes, o que leva à depuração dos Espíritos encarnados e desencarnados que a povoam.

II) Esses dois progressos se seguem e marcham em paralelo, porque a perfeição da habitação está em relação com o habitante.

III) O progresso se realiza de duas maneiras: uma lenta, gradativa e insensível; outra por mudanças mais bruscas, em que se opera um movimento mais rápido, que marca, por caracteres marcantes, os períodos progressivos da Humanidade.

IV) Esses movimentos, subordinados nos detalhes ao livre-arbítrio dos homens, são de certo modo fatais em seu conjunto, porque submetidos a leis.

V) O movimento progressivo da Humanidade é, pois, inevitável, porque está na natureza e, além disso, Deus vela incessantemente pela execução de suas leis e encarrega os Espíritos, seus ministros, dos detalhes, conforme as atribuições afetas ao seu grau de adiantamento.

VI) A Humanidade realizou ao longo dos séculos incontestáveis progressos, mas resta-lhe ainda fazer com que reine no mundo a caridade, a fraternidade e a solidariedade, para assim assegurar o seu bem-estar moral.

VII) Esse é o período em que o planeta vai entrar e que marcará uma das fases principais da história da Humanidade, porque não se trata de uma mudança parcial, limitada a um único país ou povo, mas um movimento universal que se opera no sentido do progresso moral.

VIII) O progresso individual e o progresso geral jamais são estéreis, porque aproveitam às gerações e às individualidades futuras, que não são outra coisa senão as individualidades passadas chegadas a um mais alto grau de adiantamento.

IX) Os homens não viverão felizes na Terra senão quando a solidariedade de todos para com todos e a fraternidade tiverem entrado em seus corações e em seus costumes, porque então sujeitarão a eles suas leis e instituições.

X) A fraternidade deve ser a pedra angular da nova ordem social, mas não existirá fraternidade real, sólida e efetiva se não for apoiada em base inabalável, que é a fé, não a fé em tais ou quais dogmas, mas a fé nos princípios fundamentais que todos podem aceitar: Deus, a alma, o futuro, o progresso individual indefinido, a perpetuidade das relações entre os seres.

XI) Nesse movimento regenerador, o Espiritismo tem um papel considerável. Pela prova que ele traz das verdades fundamentais, ele enche o vazio que a incredulidade faz nas ideias e nas crenças; pela certeza que dá de um futuro conforme à justiça de Deus, ele tempera os amargores da vida e evita os funestos efeitos do desespero.

XII) Ele não diz: Fora do Espiritismo não há salvação, mas apoiado no Cristo: Fora da caridade não há salvação, princípio de união e tolerância que ligará os homens num sentimento comum de fraternidade, em vez de os dividir em seitas inimigas.

XIII) Com este outro princípio: Não há fé inabalável senão a que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da Humanidade, destrói o império da fé cega, que aniquila a razão, e da obediência passiva, que embrutece.

XIV) Consequente consigo mesmo, não se impõe; diz o que é, o que quer, o que dá, e espera que a ele venham livremente, voluntariamente; quer ser aceito pela razão e não pela força. Respeita todas as crenças sinceras e não combate senão a incredulidade, o egoísmo, o orgulho e a hipocrisia, chagas da sociedade e os mais sérios obstáculos ao progresso moral.

XV) Não é o Espiritismo que cria a renovação social: é a maturidade da Humanidade que faz desta renovação uma necessidade. Por seu poder moralizador, por suas tendências progressivas, pela amplidão de suas vistas, pela generalidade das questões que abarca, o Espiritismo é, mais que qualquer outra doutrina, apto a secundar o movimento regenerador, e é por isso que é seu contemporâneo. (Págs. 289 a 301.)

166. Em seguida a esse artigo, a Revista transcreve duas comunicações mediúnicas obtidas em abril e setembro de 1866 versando o mesmo tema examinado por Kardec, das quais extraímos os pontos que se seguem:

I) Os acontecimentos se precipitam com rapidez; assim não dizemos mais, como outrora: “Os tempos estão próximos”; mas sim: “Os tempos estão chegados”.

II) Não olheis o céu, para aí buscar sinais precursores, pois não os vereis; mas olhai em torno de vós, entre os homens; é aí que os encontrareis.

III) Não acrediteis, entretanto, no fim do mundo material; a Terra deve progredir e não ser destruída.

IV) Chegada a um de seus períodos de transformação, a Terra vai elevar-se na hierarquia dos mundos. Não é, pois, o fim do mundo material que se prepara, mas o fim do mundo moral. É o velho mundo, o mundo dos preconceitos, do egoísmo, do orgulho, do fanatismo que se esboroa.

V) A Terra não será transformada por um cataclismo, que aniquilará subitamente uma geração. A geração atual desaparecerá gradualmente, e a nova a sucederá, sem que nada seja mudado na ordem natural das coisas, com uma única diferença: uma parte dos Espíritos que aí se encarnavam não mais nela se encarnarão.

VI) Essa exclusão atingirá apenas os Espíritos fundamentalmente rebeldes, aqueles que o orgulho e o egoísmo, mais que a ignorância, tornam surdos à voz do bem e da razão.

VII) Um dos caracteres distintivos da nova geração será a fé inata, fé raciocinada, que esclarece e fortifica, e une a todos num sentimento comum de amor a Deus e ao próximo.

VIII) O Espiritismo é a via que conduz à renovação, porque arruína os dois maiores obstáculos que a ela se opõem: a incredulidade e o fanatismo, e dá uma fé sólida e esclarecida, desenvolvendo todos os sentimentos e todas as ideias que correspondem às vistas da nova geração. Por isso, ele se tornará a base de todas as crenças, o ponto de apoio de todas as instituições.

IX) A regeneração da Humanidade não necessita, porém, da renovação integral dos Espíritos: basta uma modificação em suas disposições morais, o que se opera em todos os que a isto forem predispostos, quando subtraídos à influência perniciosa do mundo. (Págs. 301 a 311.)

167. As extraordinárias curas do zuavo Jacob, objeto de reportagem publicada pelo Écho de l’Aisne, de 1º de agosto de 1866, são relatadas pela Revista, que informa que as curas promovidas no campo de Châlons pelo Sr. Jacob foram também divulgadas pela Presse Illustrée e pelo Petit Journal. (Pág. 311.)

168. Segundo as notícias, os enfermos vinham de todos os lados e eram tratados em grupo de 25 a 30 por vez. À voz, ao olhar, ao toque do Sr. Jacob, que sempre recusou qualquer espécie de remuneração, subitamente os surdos ouviam, os mudos falavam, os coxos largavam suas muletas. (Pág. 312.)

169. Kardec, que conhecia pessoalmente o Sr. Jacob, explica o mecanismo dessas curas e, após afirmar que tal faculdade não é privilégio de um único indivíduo, pois muitos a possuem, junta aos seus comentários informações muito interessantes sobre os resultados obtidos pelo notável curador. Os dados lhe foram enviados pelo Sr. Boivinet, colega da Sociedade Espírita de Paris radicado em Aisne. O número de enfermos atendidos até então por Jacob era estimado em 4.000 pessoas, das quais 1.000 (1/4 do total) não obtiveram qualquer resultado, 750 foram curadas e 2.250 apenas aliviadas. (Págs. 313 a 315.)

 

Respostas às questões propostas

A. A mediunidade de vidência é fato comum nas crianças?

Sim. Segundo Kardec, a mediunidade de vidência é muito comum nas crianças, e isto é providencial. “Ao sair da vida espiritual”, explica o codificador, “os guias da criança acabam de a conduzir ao porto de desembarque para o mundo terreno, como vêm buscá-la em seu retorno. A elas se mostram nos primeiros tempos, para que não haja transição muito brusca; depois se apagam pouco a pouco, à medida que a criança cresce e pode agir em virtude de seu livre-arbítrio.” (Revista Espírita de 1866, pp. 286 e 287.) 

B. Qual deverá ser a pedra angular da nova ordem social resultante da transformação do planeta?

A fraternidade. Ela deverá ser a pedra angular da nova ordem social, mas – ressalva Kardec – não existirá fraternidade real, sólida e efetiva se não for apoiada numa base inabalável, que é a fé, não a fé em tais ou quais dogmas, mas a fé nos princípios fundamentais que todos podem aceitar: Deus, a alma, o futuro, o progresso individual indefinido, a perpetuidade das relações entre os seres. (Obra citada, pp. 289 a 301.)  

C. Como o Espiritismo analisa o chamado fim do mundo?

Conforme as palavras de Kardec, não ocorrerá o fim do mundo material. A Terra deverá progredir e não ser destruída. Chegada a um de seus períodos de transformação, ela vai elevar-se na hierarquia dos mundos. Não é, pois, o fim do mundo material que se prepara, mas o fim do mundo moral. É o velho mundo, o mundo dos preconceitos, do egoísmo, do orgulho, do fanatismo que se esboroa. (Obra citada, pp. 301 a 310.)  

 

Observação:

Para acessar a Parte 12 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/10/revista-espirita-de-1866-allan-kardec_0675666956.html

 

 

 

 

  

 

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