Revista Espírita de 1866
Allan Kardec
Parte 12
Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1866, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1866 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Os
Espíritos, ainda que alcancem o grau máximo de perfeição, poderão igualar-se um
dia ao Criador?
B. É verdade
que a rainha Vitória, da Inglaterra, mantinha contato com o Espírito do
príncipe Alberto?
C. Qual a
explicação do caso Tom, um jovem cego de nascença, que surpreendeu o povo
americano com seu dom musical?
Texto para leitura
146. O Espírito
de Moki confirma que os Espíritos, mesmo chegados ao grau máximo de perfeição,
jamais poderão igualar-se ao Criador. Dois são os motivos: I) Até as ciências
reconhecem que a parte jamais poderá igualar o todo. II) A natureza de Deus é
um obstáculo intransponível a que isso se realize. (Págs. 248 e 249.)
147. A Revista
transcreve notícia do periódico Le Salut Public, de Lyon, de 3/6/1866,
segundo a qual a rainha Vitória, da Inglaterra, acreditando obedecer à voz do
falecido príncipe Alberto, tudo estava fazendo para evitar o conflito
austro-prussiano. Kardec lembra que em março de 1864 a Revista já havia
informado que, segundo notícia publicada na época por diversos jornais, a
rainha Vitória mantinha contato com o Espírito de Alberto e levava a sério os
conselhos que dele recebia. (Págs. 249 e 250.)
148. Dois
poemas mediúnicos, um assinado pelo Espírito de J. Méry e outro por Casimir
Delavigne, são transcritos pela Revista, cujo número de agosto de 1866 traz
como derradeira notícia referência a uma Cantata Espírita, letra e música de
conteúdo espírita, mas não mediúnicas. A 1 franco e 50, a venda da canção se
fazia em benefício dos pobres. (Pág. 255.)
149. A Revista
de setembro de 1866 se inicia relatando a passagem dos irmãos Davenport por
Bruxelas, onde suas apresentações ocorreram pacificamente, sem as cenas
lamentáveis que se registraram em Paris. Do jornal Office de Publicité,
de Bruxelas, Kardec transcreve dois artigos assinados pelo Sr. Bertram, publicados
nos dias 8 e 22 de julho. (Págs. 257 e 258.)
150. Com um tom
irônico, Bertram descreve o que viu, mas diz que, a seu ver, o que os Espíritos
têm dito nas sessões espíritas são coisas sabidas há muito tempo e para
obtê-las não haveria necessidade de evocar tantos mortos ilustres. Nada, porém,
escreveu contra a veracidade dos fenômenos. (Págs. 258 a 262.)
151. Depois, ao
transcrever carta de um leitor que fez vários elogios ao Espiritismo e à
mudança que ele produziu em sua vida, o Sr. Bertram declarou: “Jamais fiz
objeção à moral espírita; ela é pura. Os espíritas são honestos e benfeitores:
seus donativos para as creches mo provaram. Se se apegam aos seus Espíritos
superiores e inferiores, não vejo nisso inconveniente. É uma questão entre o
seu instinto e a sua razão”. (Págs. 262 a 264.)
152. Comentando
o fato, Kardec diz que se o Sr. Bertram houvesse lido os livros espíritas com a
atenção necessária saberia que os espíritas não são tão simplórios a ponto de
evocar o Judeu Errante e Dom Quixote (personagens sem existência real, a não
ser em livros). Quanto à ancianidade da moral dos Espíritos, o codificador não
vê nisso nada de surpreendente, visto que, não sendo a moral senão a lei de
Deus, essa lei deve ser de toda a eternidade, não havendo nada que o homem
possa acrescentar-lhe. (Págs. 265 a 267.)
153. Concluindo
seu comentário, Kardec concorda com a tese de que não é no armário dos irmãos
Davenport que encontraremos a doutrina espírita, embora suas demonstrações
houvessem feito com que muitos, inclusive o Sr. Bertram, falassem dos Espíritos,
mesmo sem acreditar neles. (Pág. 268.)
154. É um fato
constatado, diz Kardec na sequência, que a crítica ao Espiritismo, desde os
seus primórdios, mostrou a mais completa ignorância de seus princípios, ainda
os mais elementares, situação que começava a ser alterada naquele momento. “Não
o acham mais tão estranho e tão ridículo”, assevera o codificador, “porque o
conhecem melhor.” (Págs. 268 e 270.)
155. Em apoio a
essa ideia, Kardec transcreve um artigo publicado em maio de 1866 no jornal
Soleil, no qual o articulista trata o Espiritismo com maior profundidade e
respeito, como se pode ver no trecho seguinte: “Se jamais houve uma doutrina
consoladora, certamente é esta: a individualidade conservada além do túmulo, a
promessa formal de uma outra vida, que é realmente a continuação da primeira. A
família subsiste, a afeição não morre com a pessoa; não há separação. Cada
noite, no sul e no oeste da França, as reuniões espíritas atentas tornam-se
mais numerosas. Oram, evocam, creem. Gente que não sabia escrever, escreve; sua
mão é guiada pelo Espírito”. (Págs. 270 e 271.)
156. Apesar
dessas referências elogiosas, o artigo ironiza de certo modo a obra Os Quatro
Evangelhos, do Sr. Roustaing, embora lembre que o Sr. Renan, conhecido escritor
e autor dos Apóstolos, faz nessa obra numerosas alusões à nova doutrina, cuja
importância parecia não desconhecer. (Pág. 271.)
157. Não era,
porém, apenas na Europa que os jornais davam uma melhor acolhida aos fatos
espíritas. A 15 de junho de 1866 o jornal Progrès Colonial, de
Port-Louis, na Ilha Maurícia, publicou uma mensagem assinada pelo Espírito de
Lázaro, antecedida por uma nota em que o editor informa que seu jornal recebia
todos os dias duas ou três comunicações semelhantes, as quais só não haviam
sido publicadas porque o jornal não tinha ainda condições de consagrar um lugar
“a essa coisa extraordinária chamada Espiritismo”. (Pág. 273.)
158. Comentando
notícia divulgada pelo jornal Événement, de 2 de agosto de 1866, Kardec
recomenda mais uma vez que se deve evitar atribuir a uma causa oculta fatos
aparentemente espíritas. É preciso investigar todas as possibilidades, porque,
existindo uma causa material, sempre se pode descobri-la. A dúvida é em tais
casos, diz Kardec, “o partido mais sábio”. (Págs. 274 e 275.)
159. Toda a
cautela se fazia necessária, porque os adversários do Espiritismo, supondo que
ele se encontra inteiramente nos efeitos físicos e não pode viver sem isto,
imaginavam matá-lo desacreditando-o ou pondo-o em condições ridículas. Os
jornais da América não ficavam atrás nisso, como se pode ver no relato da
execução de um condenado à morte ocorrida em Cleveland, Ohio, o qual, antes de
morrer, falou sobre a imortalidade da alma e sobre o Espiritismo. Suas palavras
produziram profunda impressão sobre o auditório, do que teriam resultado
singulares efeitos, como visões do falecido relatadas com evidente exagero pelo
jornal Herald, de Cleveland. (Págs. 277 e 278.)
160. Outro fato
destacado pela imprensa americana é o caso de Tom, um jovem negro de 17 anos,
cego de nascença, dotado de um maravilhoso instinto musical. Tom viu pela
primeira vez um piano aos 4 anos e desde então, segundo o Harpers Weekly,
de Nova York, fez progressos tão rápidos e admiráveis que o piano se fez eco de
tudo o que ele ouvia. Agora, ele tocava a mais difícil música dos grandes
autores com uma delicadeza de toque, um poder e uma expressão raramente
ouvidas. (Pág. 279.)
161. Como em
Filadélfia, setenta professores de música, após ouvi-lo, admitiram formalmente
ser impossível explicar tal talento por qualquer das hipóteses que podem
fornecer as leis da arte e da ciência, Kardec esclarece que o fato encontra
explicação na doutrina da reencarnação, porquanto uma faculdade instintiva tão
precoce não poderia ser senão uma lembrança intuitiva de conhecimentos
anteriormente adquiridos. (Págs. 279 a 281.)
162. Pode um
sonho tornar grisalhos os cabelos de uma pessoa? O fato teria ocorrido na
Bretanha, segundo informou o Petit Journal de 14 de maio de 1866. Kardec
admite que isso ocorra em razão dos laços fluídicos que unem a alma ao corpo e
transmitem a este as impressões que a alma sinta quando dele esteja afastada.
Isso se verifica durante o sono, mas a alma não se dá conta dessa separação. Na
visão do engenheiro que teve os cabelos encanecidos, havia duas partes
distintas: uma, real e positiva, constatada pela exatidão da planta da mina
onde certamente esteve durante a noite; a outra, puramente fantástica: a do
perigo que correu. Esta poderia ser efeito da lembrança de um acidente real ou
uma advertência para o futuro. (Págs. 282 a 285.)
Respostas às questões propostas
A. Os
Espíritos, ainda que alcancem o grau máximo de perfeição, poderão igualar-se um
dia ao Criador?
Não. Segundo o
Espírito de Moki, isso não é possível e dois são os motivos: 1.) Até as ciências
reconhecem que a parte jamais poderá igualar o todo; 2.) A natureza de Deus é
um obstáculo intransponível a que isso se realize. (Revista Espírita de 1866,
pp. 248 e 249.)
De acordo com notícias veiculadas por diversos
jornais, sim. A rainha Vitória mantinha contato com o Espírito de Alberto e
levava a sério os conselhos que dele recebia. Reportando-se
ao fato, a Revista transcreve notícia do periódico Le Salut Public, de
Lyon, de 3/6/1866, segundo a qual a rainha Vitória, acreditando obedecer à voz
do falecido príncipe Alberto, tudo estava fazendo para evitar o conflito
austro-prussiano. (Obra citada, pp. 249 e 250.)
C. Qual a
explicação do caso Tom, um jovem cego de nascença, que surpreendeu o povo
americano com seu dom musical?
Primeiro,
lembremos que Tom, um jovem negro, cego de nascença, dotado de um maravilhoso
instinto musical, viu pela primeira vez um piano aos 4 anos de idade. De acordo
com o Harpers Weekly, de Nova York, ele fez progressos tão rápidos e
admiráveis que o piano se fez eco de tudo o que ele ouvia. Agora, aos 17 anos,
tocava a mais difícil música dos grandes autores com uma delicadeza de toque,
um poder e uma expressão raramente ouvidas. Na Filadélfia, setenta professores
de música, após ouvi-lo, admitiram formalmente ser impossível explicar tal
talento por qualquer das hipóteses que podem fornecer as leis da arte e da
ciência. O fato, que se assemelha muito com o caso Sibélius, encontra
explicação, segundo Kardec, na doutrina da reencarnação, porquanto uma
faculdade instintiva tão precoce não poderia ser senão uma lembrança intuitiva
de conhecimentos anteriormente adquiridos. (Obra citada, pp. 279 a 281.)
Observação:
Para
acessar a Parte 11 deste estudo, publicada na semana passada, clique
aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/10/revista-espirita-de-1866-allan-kardec_012009830.html
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