CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR
– Suas mãos são as mais lindas, mamãe.
Foram sempre essas as palavras usadas pelo filho
amoroso e companheiro. Mãos que enormemente o amparavam.
O garoto completara doze anos havia poucos dias.
Estava se tornando um rapazinho, mas se sabe que cada pessoa tem um caminho a
seguir e uma forma necessária para percorrê-lo.
A mãe se dedicava, por completo, ao pequeno
Jeremias; ele não tinha irmãos, então, o tempo lhe era camarada e sempre mais
prolongado. Seu pai trabalhava numa empreiteira do pequeno município; só à
noitinha chegava ao lar singelo demais e aconchegante.
Ele deixava as botas sujas do trabalho na
calçadinha de fora da casa. Lavava as mãos e braços e, agora mais asseado,
buscava ansioso a única entrada da morada. No canto direito do ambiente caseiro
de um só cômodo, encontrava-se o filho Jeremias sobre sua cama.
Os sorrisos se abriam: o do pai para o filho e
vice-versa. Do ângulo que o garoto olhava, o brilho dos seus olhos tornava-se
foco vivo de luz.
– Oi, meu filho! Como passou o dia? Está tudo
bem com você? – o pai perguntava, amoroso, em sua simplicidade.
Mas, de fato, a singeleza é puro bálsamo e
sabedoria.
O filho sorria e seus olhos respondiam com
alegria ao pai. Beijos eram selados no rosto, na cabeça, nos olhos, nas
mãozinhas do pequeno. Quanto amor! E a mãe observava a cena cotidiana, no
entanto, com emoção maior a cada novo dia.
Após o encontro de pai e filho, o marido agora
abraçou a esposa com toda admiração. Eram, os três, companheiros da jornada
para o progresso espiritual.
– Que bom estar de volta ao lar! – o pai e
marido falava.
Ele, antes de se banhar, fora fazer alguns
reparos no casebre visando sempre à melhoria para a família que tanto tempo
permanecia ali. Também estava construindo um pequeno carro de mão para levar o
filho a passear, sentir o vento no rosto, receber, pelo sol, ainda mais a luz
da vida. Sem um meio de locomoção para o filho, os passeios diários eram quase impossíveis.
Enquanto isso, a mãe cuidava do seu menino,
ajeitava-o para lhe dar a janta, uma sopinha preparada com o que era necessário
para o seu corpo. Cada colherada também estava repleta do alimento mais
benéfico e salutar: o amor.
E quando findava a comida, o filho sempre dizia:
– Suas mãos são as mais lindas, mamãe.
E aquelas mãos o limpavam, o acariciavam, o
protegiam, o mantinham vivo.
No meio da tarde seguinte, um pouco mais cedo
que o habitual, o pai chegou. Como sempre depois de toda doação ao filho,
finalmente, ele terminou o carro para levar o pequeno ao desejado passeio.
Pai e mãe pegaram o menino querido e com todo
cuidado o puseram no carrinho construído para ele.
Jeremias, depois de adequadamente colocado e
seguro no carro de madeira puxado pelo pai, sentiu o brilho da vida em seu
rosto tocando sua alma.
Para intensa alegria do filho, o pai acelerou os
passos dando maior emoção; a mãe de mão dada com o pequeno já corria tão alegre
só de ver sua felicidade.
Os três, naquela tarde, eram a realização do
compromisso assumido. Espíritos comprometidos entre si por um bem maior: o
amparo, o amadurecimento, a realização do amor.
E as flores passavam mais rápido, o céu avançava
mais veloz e o sorriso virava gargalhada feliz.
De repente...
– Filho...– foi o grito da mãe.
Sem perceber, o pai passara por uma pedra mais
saliente e lançara o filho para longe. Jeremias ficou ali caído sem se mexer,
pois seu estado não lhe permitia, ele sofria de uma grave doença degenerativa;
dependia de cuidado o tempo todo. Quando nasceu, os médicos informaram ao casal
que ele nunca falaria uma palavra sequer, não expressaria nenhuma emoção e que
não passaria de tenra idade.
Até agora, segundo os pais, ele sentia toda
emoção e demonstrava pelo olhar, também falava, mesmo que uma única frase, e já
completara doze anos.
Pai e mãe correram, desesperados, para acudir o
filho. Com cuidado viraram o menino... e seus olhos brilhosos estavam abertos e
sorrindo.
– Filho querido, meu amor, você está bem? – a
mãe perguntou, limpando-o da terra.
– Meu Deus! Meu filho! O que eu fiz? – o pai,
inconformado, pegou-o nos braços.
E assim foram até o casebre que os esperava de
portas abertas. A mãe preparara o banho morno e tudo mais de que Jeremias
necessitasse.
Em pouco tempo o susto havia passado e quase
tudo estava normalizado. O pai trouxera o carro para o quintal e a mãe
preparara um mingau de aveia do qual o filho tanto gostava.
Cada colherada levada à boca do pequeno era o
amor mais compreendido e aumentado. O pai estava sentadinho ao lado se
refazendo do susto e amando mais e mais aquele filho querido.
Depois de limpo e alimentado, em sua caminha
construída pelo pai, o filho, com olhos calmos e reluzentes, falou a única
frase que conseguia:
– Suas mãos são as mais lindas, mamãe e... “papai”.
A gratidão e o reconhecimento são o alicerce
para o amor se desenvolver e prosperar.
E os olhos de Jeremias mantinham o fulgor da
vida e a certeza de que o compromisso bem realizado desacata o desenvolvimento
da medicina e comprova que a lei divina é soberana e incomparável, dispensa
comentários e é operante nos recônditos menos prováveis da esfera da vida.