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sábado, 23 de novembro de 2013

Pérolas literárias (63)


Cego

Bastos Tigre


Sempre que nega o ateu que Deus exista,
Contra a blasfêmia se revolta o crente.
Mostra-lhe a “obra” que requer o “Artista”,
Mundos e sóis onde o Criador se sente!

– Fita o mar! Para o céu estende a vista!
Olha em ti! Não descobres Deus presente?...
Mas o ateu nada vê: materialista,
Com a matéria se afaz e está contente.

Não me revolta o ateu. Se ele diz: – Nego!
Lamento-o como se lamenta a um cego
Que nem sabe para onde se conduz.

Nasceu sem vista: é justa essa descrença,
Não tem, acaso, o cego de nascença
Direito de negar que exista a luz?



Bastos Tigre nasceu em Recife (PE) no ano de 1882. O soneto acima, que ele fez em homenagem a Frederico Figner, foi publicado na revista Reformador em 1933.




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