JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Amiga leitora, estou
agora refletindo sobre legalidade e moralidade. A Justiça Desportiva entende
que a primeira vem antes da segunda; nós entendemos que só se for no
dicionário...
Nem tudo que é
legal é moral e, consequentemente, a recíproca é verdadeira. Quer um exemplo?
Quando Jesus esteve entre nós, afirmou peremptoriamente:
– Não vim destruir a lei, mas dar-lhe cumprimento.
No entanto,
também disse:
– Ouvistes o que foi dito: olho por olho, dente por dente. Eu,
porém, vos digo, não resistais ao mal; antes, porém, amai os vossos inimigos e,
ao que lhe bater na face direita, oferece também o lado esquerdo.
– Mas, Machado, onde
entram, nos casos citados, a lei divina e a lei humana?
– Ainda não
entendeu, dona Justa? Vamos, então, a novo exemplo, com base na fábula do lobo
e da ovelha. Certo dia, a ovelha bebia água no rio, tranquila e despreocupada,
quando o lobo se lhe aproximou e disse:
– Por que você
está bebendo água neste rio, não sabe que ele é meu?
Ao que respondeu
o ovino:
– Não sabia que o rio era seu; mas, se é assim,
prometo-lhe nunca mais beber dessa água.
– Além do mais –
disse o lobo – ouvi dizer que anda falando mal de mim.
– Como posso
estar falando mal do senhor se acabei de conhecê-lo?
– Se não foi
você, foi seu pai, foi sua mãe, seu avô ou um dos seus parentes. E nhac,
abocanhou a ovelha.
Moral da
história: contra a lei do mais forte, não existe argumento.
Essa é uma lei humana.
Vejamos o que
aconteceu, depois, com o lupino. Saindo dali com a barriga cheia, após devorar
inteiramente sua vítima, o lobo começou a sentir uma terrível cólica, rolou, no
chão, em terríveis convulsões e veio a falecer, em algumas horas, de indigestão.
Essa é uma lei
divina.
A lei humana é
manipulada pela força do poder, ou pelo poder da força. A lei divina é
resultante da chamada causa e efeito, ou “a cada um, segundo suas obras”.
Vou ainda
ilustrar com um caso folclórico, ocorrido na Atlântida.
Nesse país,
houve um torneio em que determinado time foi rebaixado da primeira para a
segunda e, em seguida, para a terceira divisão, da qual seria campeão. Essa equipe,
entretanto, conseguiu voltar novamente à primeira divisão, graças ao que se
chamou ali de “virada de mesa”, sem disputar a “segundona”.
Resultado, as
torcidas adversárias e a própria mídia não davam descanso a torcedores e clube,
que chamaremos de F*.
Passados treze
anos, a gozação continuava:
– Deve uma segunda
divisão, dizia um torcedor.
– Acaba de
chegar um oficial de justiça à sede do F* para lhe cobrar uma “segundona”, brincava
outro. E, assim por diante, as piadas continuavam implacáveis...
Mesmo quando o
time era legitimamente campeão da primeira divisão, os torcedores adversários
não perdoavam a antiga “virada de mesa” e diziam:
– Só foi campeão
porque os outros times são de terceira divisão. Então, não poupavam nem seu
próprio time...
Chegou um ano em
que a equipe F*, que fora campeã da primeira divisão, no ano anterior, teve
suas contas bloqueadas pela justiça comum. Desse modo, não pôde pagar salários
e muito menos prêmios aos seus atletas...
O time, então,
passou a jogar visivelmente desmotivado, sem contar que, ao se machucar, cada
seu atleta de ponta ficava tanto tempo no departamento médico que não mais
atuava durante grande número de jogos, senão em todo o resto do campeonato.
No último jogo
do torneio nacional, outro time, que chamaremos P**, escalou “equivocadamente”
um jogador impedido pela justiça desportiva de atuar naquela partida; e o time
F*, que novamente seria rebaixado à segunda divisão, tomou a posição do time P**,
rebaixado em seu lugar.
Antes de isso
ocorrer, entretanto, o clube C***, temendo seu rebaixamento, já andava
procurando “provas” na escalação pelo time P** (pura coincidência) de maior
número de jogadores contratados por P** a outros clubes do que o permitido no
regulamento, para rebaixar P** em seu lugar. Vendo, porém, que isso seria o
mesmo que procurar chifres
em cabeça de cavalo, C*** desistiu da ideia; mas P**,
coitado, ainda que não corresse mais perigo de rebaixamento, “descuidou-se” do
regulamento e escalou um jogador proibido na última partida, conforme dissemos
atrás.
E deu no que
deu...
Que lamentável,
não é, amiga?
Essa foi a justiça
dos homens.
– Aí tem dente
de coelho... Mas, e a justiça de Deus, Machado, qual foi?
– Um tsunami
varreu a Atlântida do globo terrestre.
Mas não falemos
mais de baseball, dona Justa.
_______
F* - Por certo que não é o
Fluminense, basta ler até o fim e você comprovará isso.
F* - Já lhe disse que não é o
Flu... Não insista!
P** - Não, leitora, não é a Lusa.
P** - Não seja teimosa, não é a
Portuguesa...
C*** - E quem lhe disse que é o
Coxa?
C*** - Pelo amor de Deus, tira o
Coritiba dessa lama.
Visite o blog Jorge, o sonhador: http://www.jojorgeleite.blogspot.com.br/
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