Realizamos
ontem à noite no Centro Espírita Nosso Lar mais uma etapa do estudo metódico do
livro O Tesouro dos Espíritas, de
Miguel Vives y Vives, conforme tradução de J. Herculano Pires, publicada pela
EDICEL.
Eis as
questões propostas inicialmente para debate:
1. Qual a
principal obrigação do espírita?
2. Que pensar
dos que dizem que as obras de Kardec não trazem novidades e que há obras mais
interessantes?
3. É o
Espiritismo religião?
Em seguida
foi feita a leitura do texto – abaixo reproduzido – que serviu de base aos
estudos da noite, verificando-se, a cada item lido, os comentários pertinentes:
151. Se Jesus
nos trouxe a mensagem redentora do Evangelho e prometeu que nos enviaria o
Consolador é que temos de conhecer o Evangelho e conhecer o Espiritismo. “Os
cristãos estudam a Lei Nova, que está no Novo Testamento. Os espíritas, que são
os cristãos renascidos da água e do espírito, devem estudar as obras de Kardec,
que são a Codificação do Espiritismo, a Nova Revelação.” (P. 166)
152. Há
espíritas que se deixam levar pelos falsos profetas, encarnados e
desencarnados, que enchem o nosso mundo de novidades absurdas e perturbam o
movimento doutrinário, impedindo a boa divulgação da luz. Acreditam eles que
Kardec está superado e que portanto a obra de Kardec não tem mais nada a nos
ensinar. “Ah, como se enganam esses pobres irmãos, levados por ilusões
momentâneas!” (P. 167)
153. Alguns
confrades dizem: as obras de Kardec não
trazem novidades; há outros livros que nos falam de coisas mais interessantes,
contando-nos fatos desconhecidos, dando-nos ensinamentos novos. “Ah, pobres
irmãos que não fazem conta da promessa do Senhor, que menosprezam a sua dádiva!
Então o Senhor e Mestre nos promete o Consolador e no-lo envia, para agora o
deixarmos de lado e corrermos como loucos atrás dos falsos profetas, dos falsos
Cristos, dos falsos Kardecs, que enxameiam na vaidade humana?” (PP. 168 e 169)
154. Não
temos o direito de pensar assim. O Espiritismo é a Verdade Maior que podemos
conhecer, nesta fase evolutiva da Terra. O seu aparecimento foi preparado pelo
Alto. Antes de Kardec encarnar-se, para cumprir a sua missão, já numerosos
fatos espíritas ocorreram no mundo, predispondo-nos à compreensão do trabalho
do Codificador. (P. 169)
155. O
próprio Codificador viveu cinquenta anos preparando-se, adquirindo cultura e
experiência, conquistando toda a ciência do seu tempo, antes de receber do Alto
a incumbência de investigar os fenômenos e organizar a Doutrina, embora fosse
um dos mais lúcidos discípulos de Jesus, que este enviou à Terra para cumprir a
promessa do Consolador. E queremos, por acaso, ser mais do que ele e do que o
Espírito da Verdade, que o assistia e guiava? (P. 169)
156. Outros
irmãos alegam: o Espiritismo é muito
simples, é o ABC da Espiritualidade; temos maiores instruções na Teosofia ou
com os Rosa-Cruzes. “Deviam antes pensar, diz Irmão Saulo, que necessitamos justamente
do ABC, pois somos ainda analfabetos espirituais. O Espiritismo não tem a
pretensão de tudo saber e tudo ensinar. Porque as doutrinas que tudo ensinam,
na verdade nada sabem.” (P. 170)
157. Não
pensemos, porém, que o Espiritismo é doutrina estática, que não quer ir além.
Pelo contrário, ele é doutrina dinâmica e avança sempre. Mas avança na medida
do possível e do conveniente, com os pés na terra, para evitar a vertigem das
alturas. “Na proporção em que crescermos moralmente – prestemos bem atenção a
esta palavra: moralmente – o próprio Espiritismo, dentro das próprias obras de
Kardec, desvelará novos mundos e novos ensinos aos nossos olhos. Mas, então,
estaremos em condições de compreendê-los.” (P. 172)
158. Em
conclusão: O espírita deve estudar constantemente as obras de Kardec, que são o
fundamento do Espiritismo, e não deixar-se levar por fascinações da vaidade ou
da ambição de saber o que não pode. (PP. 172 e 173)
159. O
Espiritismo é a Religião em espírito e verdade, de que Jesus falou à mulher samaritana.
Mas há espíritas que não compreendem isso e negam a religião espírita. “É
possível tirarmos do Espiritismo a fé em Deus e a lei da caridade?” (P. 174)
160. Todo o
problema, que tanta celeuma tem levantado entre alguns irmãos intelectuais, se
resume na falta de compreensão do que seja religião. Os confrades
antirreligiosos gastam tinta e papel em quantidade por quererem provar um absurdo.
“Alegam que Kardec se recusou a chamar o Espiritismo de religião. Mas o
próprio Kardec explicou por que o evitou – não se recusou, mas apenas evitou –
chamar o Espiritismo de religião: não queria confundir uma doutrina de luz e
liberdade com as organizações dogmáticas e fanáticas do mundo religioso.” (PP.
174 e 175)
161. Todo
homem de cultura hoje compreende que religião não é igreja, mas sentimento.
Henri Bergson ensinou que há dois tipos de religião: a social, que é dogmática
e estática, e a individual, que é livre e dinâmica. Assim pensava também
Henrique Pestalozzi, para quem a religião verdadeira é a Moralidade. Vemos aí
um dos motivos por que Kardec dizia que o Espiritismo tem consequências morais,
em vez de referir-se a consequências religiosas. “Hoje em dia, o Codificador não teria dúvida
em falar de religião, porque o conceito atual de religião é muito mais amplo.”
(PP. 175 e 176)
162. O
Espiritismo tem três aspectos, como sabemos: o científico, no qual ele se
apresenta como ciência de observação e investigação, tratando dos fenômenos
espíritas; o filosófico, no qual procura interpretar os resultados da
investigação científica e dar-nos uma visão nova do mundo; e o religioso, no
qual nos ensina como aplicar, na vida prática, os princípios da filosofia
espírita. “Queremos, acaso, ficar apenas nos princípios, sem aplicá-los?” (P.
176)
Completando o
estudo, foram lidas e comentadas as respostas dadas às perguntas propostas:
1. Qual a principal obrigação do espírita?
A obrigação
principal do espírita, diz Irmão Saulo, é zelar pelo seu tesouro: a Doutrina
Espírita. Para isso, temos de estudá-la e conhecê-la bem, pois, do contrário,
como poderemos zelar por ela? “O Espiritismo – lembra ele – não é apenas uma
eclosão mediúnica, não é somente manifestações de espíritos. É a Doutrina do
Consolador, do Espírito da Verdade, do Paráclito, prometida e enviada pelo Cristo
para nos orientar.” (O Tesouro dos
Espíritas, 2ª Parte, Marcha para o Futuro, pp. 165 e 166.)
2. Que pensar dos que dizem que as obras de
Kardec não trazem novidades e que há obras mais interessantes?
A respeito
deles, diz Irmão Saulo: “Ah, pobres irmãos que não fazem conta da promessa do
Senhor, que menosprezam a sua dádiva! Então o Senhor e Mestre nos promete o
Consolador e no-lo envia, para agora o deixarmos de lado e corrermos como
loucos atrás dos falsos profetas, dos falsos Cristos, dos falsos Kardecs, que
enxameiam na vaidade humana?” Não temos o direito de pensar assim. O
Espiritismo é a Verdade Maior que podemos conhecer, nesta fase evolutiva da
Terra. O seu aparecimento foi preparado pelo Alto. Antes de Kardec encarnar-se,
para cumprir a sua missão, já numerosos fatos espíritas ocorreram no mundo,
predispondo-nos à compreensão do trabalho do Codificador. (Obra citada, pp. 168 e 169.)
3. É o Espiritismo religião?
Sim. O
Espiritismo é a Religião em espírito e verdade, de que Jesus falou à mulher
samaritana. Mas há espíritas que não compreendem isso e negam a religião
espírita. “É possível tirarmos do Espiritismo a fé em Deus e a lei da
caridade?” Todo o problema, que tanta celeuma tem levantado entre alguns irmãos
intelectuais, se resume na falta de compreensão do que seja religião. Os
confrades antirreligiosos gastam tinta e papel por quererem provar um absurdo.
“Alegam que Kardec se recusou a chamar o Espiritismo de religião. Mas o
próprio Kardec explicou por que o evitou – não se recusou, mas apenas evitou –
chamar o Espiritismo de religião: não queria confundir uma doutrina de luz e
liberdade com as organizações dogmáticas e fanáticas do mundo religioso.” (Obra citada, pp. 174 a 176.)
Quanto à questão do Espiritismo ser religião ou não, entre outros aspectos que poderia elencar para defender a posição religiosa, Kardec tenteou evitar a institucionalização da Doutrina. Quando o cristianismo se institucionalizou, com a criação da igreja católica, simultaneamente, morreu. E não foi somente naquele conhecido artigo de 1868 que Kardec defendeu a Doutrina como religião. Na Revista Espírita de dezembro de 1861 ele é muito claro quanto à forma pretendida por ele de organização do movimento, estrutura que ia contra a institucionalização. Ali, em momento alguém ele fala de Religião, mas uma análise mais profunda dos dois textos, demonstrará que estão ambos interligados.
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